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CAPÍTULO II – Programas de investigação na linguística do século XX:

2.2 A gramática gerativa nos anos 1950-1960

A gramática gerativa foi desenvolvida como um programa de correspondência na caracterização da historiografia da linguística, segundo o qual o uso da língua corresponde a estados cerebrais ou mentais, a serem representados por sistemas computacionais captáveis em uma linguagem formal. Na década de 1960, Chomsky e o programa gerativa são aproximados das ciências naturais, distanciando a linguística das ciências humanas.

Tais distanciamentos e aproximações não ocorreram sem controvérsias. As teses da gramática gerativa entraram em choque com as ideias dominantes nas décadas de 1950 pertencentes ao programa estruturalista. A resposta do gerativismo foi partir dos

produtos externos da produção linguística para as capacidades internas dos falantes naturais. Chomsky estipula o que é fazer linguística no programa gerativista como diferente do que era feita até então. Tais convicções já eram expostas no fim da década de 1940 quando Chomsky tinha 18 anos.

Durante a década de 1950 os integrantes do gerativismo utilizaram uma retórica revolucionária para defender suas ideias. Os estudiosos desse programa eram jovens, ocupando novas vagas de trabalho oferecidas na ampliação do sistema universitário americano da época com financiamento do governo. Essa situação possibilitou que novos grupos fossem estabelecidos por esses jovens pesquisadores. O MIT, por exemplo, com um currículo que dava destaque maior à tecnologia do que às humanidades, serviu como instituição para que Chomsky trabalhasse com esses novos professores e o programa gerativista encontrou um solo fértil para crescer.

Nesse período de crescimento Chomsky não convenceu os líderes da linguística da sua época, mas persuadiu os jovens na graduação (NEWMEYER, 1986, p.83). Então, durante a expansão do ensino superior norte-americano na década de 1960, as novas posições abertas podiam ser preenchidas por esses estudiosos em universidades com seus recém-formados departamentos. Como foi dito acima, a expansão da gramática gerativa não ocorreu sem críticas da comunidade científica. McCawley (1976, p.25) mostra a crítica sobre o financiamento do governo na expansão das universidades e a associação desse investimento com as novidades do dia, por força de serem ideias frescas e por atraírem jovens alunos e professores sem o controle de qualidade por parte da comunidade acadêmica. Esse cenário teria favorecido a gramática gerativa em detrimento de outros programas de investigação.

Assim, houve uma criação de imagem de vanguarda associada ao gerativismo e de revolucionários científicos associados aos seus membros. Ocorreu uma nova demarcação na linguística com tons polêmicos, advogando mudanças radicais e importantes para o avanço da ciência. Essa retórica de programa revolucionário foi usada durante boa parte da história do gerativismo, não só no início do programa (NEWMEYER, 1986, p.66). A tarefa era redefinir o que era fazer linguística.

A história interna da gramática gerativa possui um líder inequívoco, Noam Chomsky (BORGES NETO, 2004). Ao se considerar os períodos de tenacidade na manutenção

dos preceitos do programa, e na proliferação na competição com os dissidentes, a gramática gerativa cresceu como um programa de pesquisa com um núcleo de presunções e uma heurística de trabalho. Os objetivos do programa amadurecem na década de 1950 com um conjunto de proposições adotadas, um ponto de vista sobre a linguagem e definições de termos científicos, sendo que os objetivos constitutivos sobre a base da linguística continuam nos 50 anos subsequentes (BORGES NETO, 2004). O começo da gramática gerativa se dá em 1957, data da publicação de Syntactic Structures. Apesar de ideias e trabalhos acadêmicos feitos por Chomsky, contendo ideias que viriam a desenvolver-se na gramática gerativa, terem sido publicadas anteriormente, a obra Syntactic Structures é aquela que alcançou um grande público, principalmente entre linguistas.

Esse livro de Chomsky era baseado em um apanhado de notas para um curso que Chomsky ministrava no MIT, essas notas e a obra não constituíam o real estágio de teorização do pensamento gramatical gerativo da época. Um ponto importante sobre a publicação de Syntactic Structures é que a divergência declarada com o estruturalismo já delineava a natureza do programa de pesquisa de correspondência entre mente, cérebro e enunciados.

A mudança também ocorre em função do ambiente daquele momento histórico. Trabalhando em centros tecnológicos e aproximando-se das ciências naturais, os pesquisadores estipulam modelos explicativos, indo além da descrição, organizados em um aparato formal e computacional.

No primeiro momento do gerativismo, década de 1950, a oposição ao estruturalismo é limitada. Diz-se que o modelo proposto por Chomsky adiciona um nível de descrição linguística. A outra alteração é a concepção de uma teoria de fundo para a linguística, ausente no estruturalismo.

No começo do trabalho de Chomsky, a proposta de trabalho era distinta nos dois programas, mas a forma de se fazer análise era praticamente a mesma. Por isso que um novo modelo de descrição é desenvolvido e uma teoria associada a este modo diferente também. Ocorre uma disputa por espaço e adeptos na academia entre os programas

estruturalista e gerativista e, nos anos da década de 1960, a “batalha estava ganha” na América do Norte para o lado da gramática gerativa (BORGES NETO, 2004).

A obra Aspects of the Theory of Syntax (1965) é uma condensação de dez anos de desenvolvimento da teoria e dos embates com os estruturalistas. Sendo que os princípios e as premissas do programa são apresentados de maneira clara e explícita em conjunto pela primeira vez no capítulo inicial da obra.

O momento histórico da publicação de Aspects é um período de consolidação da gramática gerativa e da divergência com o estruturalismo. Trata-se de um período de amadurecimento da teoria e do desdobramento do arcabouço formal que seria elaborado posteriormente conforme vários idiomas seriam analisados e o formalismo associado é concebido para dar conta das línguas em questão. Nessa conjuntura, Chomsky se destaca como o líder intelectual do programa de investigação e, as contribuições, os exames e as inovações passam pelo seu crivo antes de serem aceites largamente.

O trabalho de Chomsky, desde a publicação de Syntactic Structures, tem sido descrito como uma mudança radical e das mais importantes na história da linguística (BATISTA, p.44, 2007). O tratamento chomskiano revolucionou o estudo da língua, e a pesquisa sobre sintaxe se definiu na medida em que aceitava, recusava ou utilizava elementos das proposições chomskianas, sendo impossível ignorar a gramática gerativa nesse domínio.

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