• Nenhum resultado encontrado

2.2 Deposição por evaporação catódica (Sputtering)

2.2.2 Granada de ítrio e ferro (YIG)

Um dos materiais magnéticos mais utilizados e amplamente conhecidos é a granada de ítrio e ferro (Y3Fe5O12), ou YIG (Ytrium Iron Garnet). Este material ferrimagnético possui propriedades

únicas e essenciais para o desenvolvimento da spintrônica atual, devido à sua versatilidade magnética. Entre suas características mais marcantes e interessantes para a spintrônica podemos destacar: (i) Um parâmetro de amortecimento de Gilbert extremamente baixo, da ordem de 10−5, que como veremos, favorece a injeção de corrente de spin [11]; (ii) Alto comprimento de difusão de spin (da ordem de centímetros) [76], [77], o que favorece a investigação de propagação de ondas de spin no YIG. (iii) Possui alto gap de energia (entre banda de valência e de condução) da ordem de ~3 eV [78]–[81], o que o torna isolante. Esta característica é desejável quando queremos nos livrar de efeitos galvanomagnéticos, tais como magnetorresistência anisotrópica e efeito Hall etc., que muitas vezes são mais intensos do que efeitos típicos de spintrônica, tais como o efeito spin Hall; (iv) Temperatura de Curie de 545 K [82] a qual permite o estudo experimental à temperatura ambiente. Portanto uma das tarefas essenciais desta tese foi a obtenção de YIG de alta qualidade cristalográfica e magnética, crescido por sputtering.

O YIG possui uma estrutura cristalina cúbica de corpo centrado contendo 80 átomos por célula unitária [83]. Por conta do íon Y3+ ser diamagnético, a propriedade ferrimagnética do YIG vem dos

íons Fe3+. Como vemos na Figura 2-8 (obtida em [84]), dos cinco íons de ferro na estequiometria

Y3Fe5O12 dois se encontram nos sítios octaédricos (ciano) enquanto os outros três nos sítios tetraédricos (magenta). Os íons de cada sub-rede se alinham paralelamente entre si, porém devido à interação de super-exchange através do íon de O2+, os íons de ferro das duas sub-redes se orientam antiparalelamente, formando, assim, sua estrutura ferrimagnética. Cada íon Fe3+ carrega um momento magnético de 5𝜇𝐵, devido às suas sub-redes antiparalelas, o momento magnético total do

YIG é de 5𝜇𝐵 [83]. Sua estrutura cristalina possui um parâmetro de rede de 𝑎 = 1.2376 nm e pertence ao grupo espacial Oh(1) − Ia3̅d [85].

A fabricação de YIG por sputtering se deu a partir de sua deposição sobre o substrato de granada de gadolínio e gálio (GGG - Gadolinium Gallium Garnet = Gd3Ga5O12) de 0.5 𝑚𝑚 de espessura

com orientação 111. O substrato de GGG é essencial para o crescimento epitaxial do YIG, pois este possui mesma estrutura cristalina e parâmetro de rede de 𝑎 = 1.2383 nm [86], facilitando assim o crescimento do YIG com sua estrutura desejada. A deposição ocorreu em atmosfera de Ar com os parâmetros mostrados na Tabela 2-2. Após sua

deposição, sua estrutura ainda não é monocristalina, condição necessária para que o material apresente baixas perdas magnéticas. Para obter a cristalização do filme de YIG submete-se o filme a um tratamento térmico de 850°C durante 4h em um forno tubular com fluxo constante de O2, as taxas

de aquecimento e resfriamento são respectivamente 10°/min e 1°/min [81], [87].

Com esses parâmetros foi possível obter um crescimento cristalino do YIG com espessuras tão finas quanto 50 nm. Como mostrado na Figura 2-9 a), o padrão de raio-x de alta resolução mostra as posições dos picos do YIG e do GGG, e as oscilações de Laue indicam uma alta uniformidade do filme. O padrão XRD (X-ray diffraction) indica: reflexões somente na família dos planos cristalinos (111) e nenhuma formação de fases espúrias; total crescimento pseudomorfológico; e uma interface lisa e regular entre o filme de YIG e o substrato de GGG. No inset da Figura 2-9 temos a rocking

curve do XRD medida a 2𝜃 = 51.254°, correspondente ao primeiro pico à direita do pico principal do GGG(444). Pelo ajuste gaussiano foi possível obter uma largura à meia altura de 0.013°, demostrando sua excelente qualidade cristalina do YIG depositado por sputtering.

A espessura (𝑡) e a rugosidade superficial (𝜎) foram estimadas através da medida de refletividade de raio-X (X-ray reflectivity - XRR), usando um difratômetro Bruker D8, com radiação 𝐾𝛼1,2 do cobre mostrado na Figura 2-9 b). As oscilações ocorrem devido à interferência dos feixes de R-X refletidos na 1ª superfície e na interface filme/substrato. Estas oscilações dependem da espessura da amostra de YIG. A partir do ângulo crítico (ângulo em que as oscilações se iniciam) podemos estimar a densidade do filme, enquanto pela inclinação da curva estima-se a rugosidade. As oscilações de Kiessig bem definidas confirmam que a superfície e interface são planas e com rugosidades desprezíveis. A curva vermelha representa o melhor ajuste (como discutido logo abaixo), confirmando os valores de densidade, rugosidade superficial e espessura do YIG em ~5.2 g/cm3,

Figura 2-8: Estrutura cristalina cúbica de corpo centrado do YIG, aqui contendo 160 átomos.

2.0 nm e 87.0 nm respectivamente. A espessura foi possível ser estimada através dos máximos valores de refletividade nas posições (2𝜃) das franjas. Os máximos valores podem ser expressos por sen2𝛼 = sen2𝛼𝑐+ (𝜆 2𝑡⁄ )𝑛2, onde 𝑛 é a ordem dos picos, 𝜆 o comprimento de onda do R-X, 𝑡 a

espessura do filme, 𝛼 e 𝛼𝑐 são o ângulo refletido e ângulo crítico, respectivamente. O inset da Figura

2-9 b) mostra a relação linear entre sen2𝛼 𝑣𝑠 𝑛2, a espessura calculada corresponde a 85.7 nm, em

concordância com o ajuste das franjas.

Uma boa estrutura cristalina não é parâmetro suficiente para a confirmação da qualidade magnética do YIG. A confirmação da qualidade magnética dos filmes fabricados de YIG foi realizada através de medidas de curvas de magnetização e de ressonância ferromagnética. A Figura 2-9 c) mostra a curva de absorção por FMR, como vimos na seção anterior na equação 2-20, a largura de linha é proporcional à perda magnética no filme. As larguras de linha obtidas variam de 6 a 10 Oe, demonstrando uma baixa perda magnética. Na Figura 2-9 d), temos a curva de histerese da

Figura 2-9: a) Padrão de difração XRD da estrutura GGG/YIG, o inset mostra a rocking curve do filme de YIG. b) Franjas de Kiessig obtidas por medida de refletividade, possibilita determinar a espessura e

magnetização do filme de YIG obtida por VMS, na qual vemos outra boa característica, sua baixa coercividade. Estes resultados demonstram a boa qualidade das amostras fabricadas, ponto essencial para o estudo de conversão e injeção de correntes de spin.

Usando os parâmetros de crescimento e cristalização descritos acima, foi possível fabricar amostras de YIG tão finas quanto 50 nm, sobre substratos de GGG. Pelo fato de o GGG ser translúcido e o YIG possuir baixa espessura, foi possível a realização de medidas ópticas, de absorção magneto- óptica. Utilizando a montagem experimental mostrada na figura 1 do apêndice A, foi observado um deslocamento Zeeman gigante, à temperatura ambiente, nas transições óticas no orbital 3d do ferro, este controle da transição de energia ópticas para campos baixos, pode ser útil para a criação e funcionalização de novos dispositivos magneto-ópticos [81].