Um dia, uma garota chamada Victória tinha um grande sonho de ser modelo. Ela sempre assistia os desfiles na televisão de sua casa. Ela também gostava bastante de tirar várias fotos e postar nas redes sociais, ela até ficava vendo as fotos das blogueirinhas mirins e ia para quase todos os eventos que elas iam.
Mas existia um problema: Victória não se achava bonita, várias pessoas já tinham dito que ela era linda, mas Victória não acreditava.
Victória era uma menina comum, que ia para a escola como todos e também era bem alegre e risonha, adorava brincar com seus amigos.
Victória sempre foi muito vaidosa, ela adorava se maquiar, sair perfumada, de cabelo arrumado, com as roupas da moda. Ela se importava muito com isso.
A inspiração da garota sempre foi Gisele Bundchen, ela queria ser uma modelo tão bonita e famosa como ela.
Em um belo dia Victória estava passeando no shopping com sua mãe e seus irmãos e veio uma mulher perguntar se ela queria entrar em uma agência de modelos, porque ela tinha muito talento. Como era o sonho dela, ela aceitou. Ela fez várias
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Victoria percebeu como ela estava famosa. Ela estava sendo convidada para fazer muitas coisas, ela ganhou muitos seguidores nas redes sociais e ela desfilou bastante. Então chegou o grande dia que ela ia conhecer a Gisele e ainda ia desfilar com ela. Ela estava muito feliz.
Nunca desista dos seus sonhos. Você pode ser o que quiser, basta acreditar!
APRECIAÇÃO
Na sua segunda história de ficção, Melissa continua optando pela escolha de um narrador observador. Mantém o planejado na constituição da protagonista, porém não menciona os personagens secundários que ela anuncia em seu planejamento (os pais e a irmã), substituindo-os pela aparição da modelo famosa e sua sobrinha. Também não faz qualquer menção ao lugar de moradia da personagem, informado no planejamento.
A história se desenvolve em um tempo cronológico, com o uso de poucos marcadores, que assumem a função de manter indefinida a época em que se passa. O contraponto está na descrição detalhada das características psicológicas da personagem. Além disso, diferentemente do primeiro texto, constrói um enredo com ausência de situações de conflito e de elementos fantásticos, sendo, portanto, uma história mais realista, ou passível de acontecer na realidade. A título de inovação, insere uma mensagem ao final do texto, dirigindo-se diretamente ao leitor, com a seguinte lição: “Nunca desista dos seus sonhos! Você pode ser o que quiser, basta acreditar!”.
Em função de seu perfil contraditório (pouca afinidade com a escrita e o discurso de que não gosta de ler), consideramos que Melissa poderia trazer ainda mais contribuições para a pesquisa e a selecionamos para compor o grupo de sujeitos participantes das conferências com os colegas.
Apesar de ter clareza da finalidade da conferência com os colegas e de como iríamos proceder, Melissa apresentou, desde o início do encontro, um comportamento inesperado. Primeiramente, resistiu em fazer a leitura do texto
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para os colegas, afirmando já saber que o texto teria um “monte de erros” e que estava envergonhada (o que, de fato, pareceu ser uma desculpa para não ler).
Tendo sido convencida a participar da atividade, Melissa, mais uma vez, demonstra mínima apreciação pelo exercício de escrita. Isso fica bem evidenciado em sua resposta à questão que se lhe fez sobre seu texto: se lhe parecia satisfatório. Ela assim rebate: “Eu não quero mudar mais nada porque eu não gosto dele, não quero melhorar e eu gosto da mensagem que ele passa. Só isso. Mas do jeito que ele está escrito, não.”
Apesar do seu “manifesto”, os colegas presentes (Raíssa e Diego) sugeriram que ela poderia desenvolver mais a sua história, assim como fez em O
Portal dos pesadelos. Diego questionou a forma repentina como a sua
personagem foi convidada para fazer parte da agência de modelos. Foi sugerido também que ela poderia contar mais sobre o encontro da personagem com o ídolo, Gisele Bündchen, e sobre como passou a ser a vida da personagem após alcançar a fama.
Avessa às recomendações, Melissa continuou sustentando sua posição, afirmando que desenvolveu mais a primeira história porque tinha gostado dela. E sem ceder à insistência do grupo voltou a reafirmar que não queria mudar nada para gostar do texto, queria deixá-lo “ruim mesmo”, e não queria ser escritora igual a Lygia Bojunga.
Não obstante a aparente rebeldia de Melissa em relação à tarefa proposta, reconhecemos que ela estava exercendo o seu direito de escritora, de não se identificar, de não querer dedicar-se mais à sua obra. O seu segundo texto, portanto, não é revisitado por ela, de modo que as sugestões apresentadas na conferência não “tiveram chance” de ser incluídas. Melissa praticamente repetiu o comportamento supostamente representado por Lygia Bojunga, em
Fazendo Ana Paz: a escritora engaveta seu texto e quer desistir dele.
Deixando à parte o ocorrido, Melissa se dispôs a ajudar os colegas nas sessões de revisão dos textos; estes, porém, optaram por aprimorá-los sozinhos ou estabelecendo parcerias com outros colegas.
Como se já não tivesse nos surpreendido o suficiente, Melissa mais uma vez apresenta um comportamento inesperado. Nos últimos dias de aula, quando fazíamos as últimas revisões dos textos que iriam compor o livro de memórias da
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turma, ela teve a iniciativa de nos pedir para incluir mais um trecho em seu texto referente às memórias de leitura:
No 5º ano, li o livro Fazendo Ana Paz, também de Lygia Bojunga. Eu gostei muito desse livro, porque achei diferente o jeito que a autora contava como criou a personagem Ana Paz. Gosto bastante da forma como Lygia escreve, deixando um gostinho de quero mais (LIMA, et al., 2017, p. 82).
O depoimento de Melissa revela a recepção que ela fez da obra lida e a apropriação do estilo como Lygia Bojunga escreve. O fato de ela ter a iniciativa de incluir, na sua lista de vivências marcantes, a leitura de Fazendo Ana Paz é uma comprovação do quanto foi significativo para ela viver essa experiência.
E assim, Melissa, a menina que julgava não gostar de ler, termina as suas memórias de leitura do referido livro lançado pelo 5º ano: “Então essa é uma parte do meu caso de amor com a leitura. É só uma parte porque o meu amor com a leitura nunca vai acabar!”.
3.2.6 Histórias de Raíssa
Raíssa é uma menina autônoma, responsável e autêntica. Demonstra uma capacidade argumentativa bem desenvolvida, acima do que é esperado para a sua idade. Identifica-se como alguém que tem gosto pela leitura, mas não tem a prática de criar histórias (segundo ela, escreve apenas para atender às necessidades escolares). Apesar dessa percepção, Raíssa consegue escrever com clareza e fluência. Sua fala e seus textos escritos costumam ser alvo de apreciação dos colegas de sala, que reconhecem suas habilidades. Segue a primeira história produzida na intervenção, antes da leitura do livro Fazendo Ana
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PRIMEIRA HISTÓRIA