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4.3 O USO DAS ESTRATÉGIAS NÃO-PRONOMINAIS VERSUS AS

4.3.7 Grau de indeterminação

No que diz respeito ao grau de indeterminação, também retomando os resultados da rodada anterior, os resultados mostraram-se os mesmos, havendo preferência pela indeterminação parcial, no caso das estratégias inovadoras, em detrimento da indeterminação completa, que fica a cargo das estratégias mais tradicionais. Isso ainda será retomado mais adiante, principalmente ao tratar das particularidades de cada estratégia em relação às demais.

Tabela 14 - Aplicação das variantes inovadoras em relação ao grau de indeterminação.

Grau de indeterminação Apl./T. % P.R.

Indeterminação parcial com

referência explícita no contexto 137/301 45,5 0.718 Indeterminação parcial com

referência implícita no contexto 17/30 56,7 0.561

Indeterminação completa 94/414 22,7 0.332

A tabela 14 evidencia que indeterminação parcial com referência explícita (peso relativo 0.718) e de referência implícita (peso relativo 0.561) favorecem a indeterminação do sujeito, enquanto a indeterminação completa desfavorece.

O exemplo a seguir, inserido em todo o contexto de uso, no qual é possível identificar marcas que estabelecem algum tipo de ideia sobre o possível sujeito, registrando-o a alguma pessoa da cidade de Santo Estevão, embora não especifique:

(106) “Nós, Senhor Redactor, em summa | não nos daremos ao trabalho de mais de- | fesas para provar a muito regular con- | ducta do Juiz de Paz de Santo Estevão; [...]” (Carta de Leitor - Recopilador Cachoeirense 12/12/1832).

4.3.8 Função da indeterminação

A função da indeterminação, embora não tenha sido a primeira a ser selecionada pelo GoldVarb X, trouxe um resultado quase igual à rodada anterior. O descomprometimento do sujeito da oração ainda lidera como a função que mais favorece o uso das variantes inovadoras, com peso relativo de 0.741, conforme constatado na tabela 15:

Tabela 15 - Aplicação das variantes inovadoras em relação à função da indeterminação.

Função da indeterminação Apl./T. % P.R.

Descomprometimento 75/135 55,6 0.741

Exemplificação 59/209 28,2 0.538

Desfocalização do sujeito 91/277 33,5 0.472

Ocultação do sujeito 17/89 19,1 0.272

Economia linguística 6/40 15,0 0.202

Esta variável se diferencia da rodada anterior porque apresenta favorecimento também quando há a função de exemplificação (cf. exemplo 107), ou seja, quando o escritor relata uma situação considerada genérica (peso relativo 0.538). As demais funções desfavorecem as variantes inovadoras.

(107) “Esses dois senhores, dignissimos estu- | dantes de direito, moços que, pela car- | reira que abraçam, devem collocar a lei | acima de tudo, foram os primeiros a con- | culcarem-n’a, trazendo para o terreno | da chalaça as entidades do actual gover- | nador do estado, malbaratada com a deno- | minação de <<homem esperança>> e de um | moço bastante conhecido em nosso meio, | cujo nome deixo de declinar por amor | ao respeito que Ø devemos tributar a quem | quer que seja.” (Carta de Leitor - Jornal de Noticias 17/06/1896)

Nesse exemplo, o leitor faz uso de uma estratégia de indeterminação para mostrar que qualquer pessoa deve respeitar a qualquer outra pessoa, sendo uma situação bastante genérica.

4.3.9 Flexão do verbo

Quando a questão é a flexão verbal, há um leve favorecimento dos verbos finitos (cf. exemplo 108), em detrimento dos verbos no infinitivo ou gerúndio, equiparando-se, mais uma vez, à rodada anterior.

(108) “Mais ella bem qui tem sua rezão, gente... ói qui a gente vive só no labuto do trabaio de dia e de noite sem tê um forguedozinho pra sá

divirti, é o diaxo. Condo há puraqui corqué ferrobodó, Calú, nem qué quella vá.” (Personagem Euzebio em “Como se casa um matuto” de Jacintho d’Almeida Sampaio – 1930).

Ao analisar a tabela 16, percebe-se que o peso relativo de 0.526 desta rodada é praticamente o mesmo da rodada anterior para os verbos finitos, sendo mais um indício da possível relação entre as estratégias pronominais e não-pronominais com as formas consideradas inovadoras e tradicionais.

Tabela 16 - Aplicação das variantes inovadoras em relação à flexão do verbo.

Flexão do Verbo Apl./T. % P.R.

Finito 232/634 36,6 0.526

Gerúndio 7/28 25,0 0.378

Infinitivo 9/51 17,6 0.269

4.3.10 Tipos de oração

Os tipos de oração parecem exercer alguma forma de influência nos usos das estratégias inovadoras, principalmente no que diz respeito às orações principal e subordinada (cf. tabela 17).

Tabela 17 - Aplicação das variantes inovadoras em relação aos tipos de oração.

Tipos de Oração Apl./T. % P.R.

Principal 106/249 42,6 0.595

Subordinada 51/153 33,3 0.552

Absoluta 24/66 36,4 0.451

Coordenada 67/277 24,2 0.398

Esta variável não foi selecionada na rodada anterior, o que não permite uma comparação, porém o resultado servirá para compreender cada estratégia em rodadas isoladas que serão vislumbradas nos próximos passos.

4.3.11 Gênero textual

Eis mais um indício da equiparação com as variantes pronominais versus não- pronominais fatores da rodada anterior. O gênero textual apresentou também maior favorecimento no que diz respeito às epístolas (cf. tabela 18).

Tabela 18 - Aplicação das variantes inovadoras em relação ao gênero textual.

Gênero Textual Apl./T. % P.R.

Cartas de Leitores 83/193 43,0 0.616

Cartas de Redatores 72/222 32,4 0.524

Peças Teatrais 93/330 28,2 0.415

Nessa tabela, os pesos relativos atribuídos às cartas de leitores (0.616) e cartas de redatores (0.524) estão muito próximos aos obtidos na rodada anterior.

Assim como na análise anterior, o cruzamento das variáveis “gêneros textuais” e o “período” de publicação dos textos foi realizado a fim de se perceber o comportamento das variantes tidas como inovadoras e tradicionais (cf. tabela 19).

Tabela 19 - Cruzamento das variáveis gêneros textuais e o período de publicação em relação às variantes inovadoras versus tradicionais.

Gêneros textuais Período Variável dependente 1801-1850 1851-1900 1901-1950 1951-2000

Apl./T % Apl./T % Apl./T % Apl./T %

Cartas de Leitores Inovadoras 31/66 47 28/76 37 7/21 33 17/30 57 Tradicionais 35/66 53 48/76 63 14/21 67 13/30 43 Cartas de Redat. Inovadoras 1/49 2 43/130 33 17/27 63 11/16 69 Tradicionais 48/49 98 87/130 67 10/27 27 5/16 31 Peças Teatrais Inovadoras 4/79 5 20/109 18 19/68 28 50/74 68 Tradicionais 75/79 95 89/109 82 49/68 72 24/74 32

As cartas de leitores apresentaram os dados equilibrados, com leve aumento no uso das formas inovadoras e um leve decréscimo das tradicionais com o avanço do tempo. Contudo, os dados das cartas de redatores e das peças teatrais apresentaram um aumento considerável das estratégias inovadoras e uma diminuição das consideradas tradicionais do primeiro período do século XIX ao segundo período do século XX.

4.3.12 Transitividade verbal

A transitividade verbal foi o último grupo de fator selecionado no que diz respeito à aplicação das variantes consideradas inovadoras versus as tradicionais, a qual não foi selecionada na outra rodada no que diz respeito às formas não- pronominais versus pronominais.

Os verbos de ligação (cf. exemplo 109) se destacam com peso relativo de 0.774, talvez por serem eles responsáveis em relacionar as características de um possível sujeito preenchido, que pode ser um pronome ou, até mesmo, um sintagma nominal.

(109) “[...] Foi só um desmaio. Quando pensa que não, ói Collor de novo. Collor é poderoso. E cadê que ninguém tem provas? Eles são insistentes, mas vão sair sem muita conversa. [...]” (Personagem Dona Edna em “Bai bai, Pelô” de Márcio Meirelles – 1995).

Tabela 20 - Aplicação das variantes inovadoras em relação ao grau de indeterminação.

Transitividade Verbal Apl./T. % P.R.

Ligação 15/26 57,7 0.774

Intransitivo 8/30 26,7 0.581

Transitivo 225/689 32,7 0.485

O resultado da tabela 20 ainda apresenta os verbos intransitivos (cf. exemplo 110 a seguir) como favorecedores também, com peso relativo 0.581. Somente os verbos transitivos não favorecem as variantes inovadoras.

(110) “[...] Então, aproveitando-se do ensejo, / Um homem, que alli stava, deshonrou-a!...” (Personagem Calabar em “Calabar” de A. S. Menezes - 1888).

Ao realizar os dois tipos de rodadas distintas: uma com a variável dependente composta por variantes não-pronominais versus variantes pronominais, e outra com a variável dependente formada por variantes tradicionais versus variantes consideradas inovadoras, esperava-se que tal divisão pudesse ser equiparada, e isso foi confirmado.

Quando as rodadas selecionaram as mesmas variáveis, a saber: função da indeterminação, grau de indeterminação, período de publicação das cartas/peças teatrais, gênero textual e flexão do verbo, percebeu-se que os dados foram praticamente os mesmos, com leves diferenças.

Assim, tratar das estratégias pronominais é, de fato, tratar de inovação, como também o verbo na terceira pessoa do singular e os sintagmas nominais. Contrariamente, falar da estratégia que envolve a partícula “se”, bem como o verbo na terceira pessoa do plural e o infinitivo impessoal, é caracterizar a tradição no que diz respeito à indeterminação do sujeito, confirmando também com as descrições das gramáticas normativas contempladas no primeiro capítulo.