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Se mesmo para definir um conceito de internacionalização existe um sortimento de critérios, como já exposto, para a composição de uma métrica ou grau de internacionalização não é diferente. Por isso, a despeito de uma dimensão única ou escala amplamente aplicada, a literatura revela diferentes composições conceituais definidas para explicar problemas específicos (Hassel, Höpner, Kurdelbusch, Rehder, e Zugehör, 2003).

A definição de uma medida única, mesmo que composta por diversas variáveis e ponderações, despertou uma discussão – e grande repercussão - em 1996, quando após 26 anos de edição, pela primeira vez, uma pesquisa publicada no Journal of Business Studies foi replicada para validar conceitos teóricos propostos dois anos antes, especificamente sobre a mensuração do grau de internacionalização da empresa. Sullivan (1994) avaliou nove atributos de 74 multinacionais americanas do setor de manufatura e concluiu que apenas cinco fatores seriam suficientes para definir um coeficiente confiável, chamado de Grau de Internacionalização (GI) da empresa.

Dois anos depois, Ramaswamy, Kroeck, e Renforth (1996) argumentaram que o fenômeno da internacionalização é mais complexo do que o exposto, e consequentemente um refinamento teórico seria necessário antes da construção de um índice. Os autores sustentam que as variáveis utilizadas por Sullivan (1994) corresponderiam a características com impactos muito distintos no processo de organização e administração das multinacionais e por isso não poderiam ser agregadas.

Seguidores de Ramaswamy et al. (1996) passaram então a considerar que a definição de métricas de internacionalização devem ser contingentes a problemas específicos a serem investigados. Entretanto, os pesquisadores concordaram que uma forma confiável de medir a internacionalização ainda era um grande problema a ser vencido.

No contexto da adequação das métricas à investigação, problemas com base teórica comportamentalista tendem a ponderar modos de entrada nos mercados externos de forma diferente, considerando uma escala entre vendas para o exterior, atividades exteriores de distribuição e produção no exterior. Em um caso prático de pesquisa, essa abordagem valorizaria mais a quantidade de funcionários no exterior, como indicação de produção, do que as exportações, como indicação de vendas para outros países, por exemplo (Johanson e Vahlne, 1990; Johanson e Vahlne, 2006).

Entretanto, Hassel et al. (2003) criticam a presunção de hierarquia derivada da premissa comportamentalista ao considerar que o número de pessoas alocadas em subsidiárias

não significa a mesma coisa em países diferentes. Uma das razões apontadas é que a eficiência do trabalho não é homogênea e multinacionais não mantêm a mesma relação entre ativos e pessoas em todas as subsidiárias.

Outra é a dependência do tamanho dos países destino e origem, já que multinacionais de pequenos países tendem a ter mais funcionários no exterior que empresas de grandes países, por exemplo. Apesar disso, os autores consideram que ativos no exterior e renda do exterior podem ser agregados (Hassel et al., 2003).

Ainda no contexto da adequação das métricas à investigação, problemas com base teórica no enfoque econômico tendem a valorizar a dispersão geográfica, uma vez que o efeito líquido da diversificação seria um desempenho superior. Esse enfoque tem sido o predominante na linha de estudos que busca resultados empíricos na relação entre internacionalização e criação de valor (Bobillo, López-Iturriaga e Tejerina-Gaite, 2010).

Li (2007) fez uma revisão de estudos empíricos e concluiu que mesmo após duas décadas de evolução teórica, a utilização de razões entre faturamentos interno e externo - e suas variações - ainda predominavam como proxy de medida de internacionalização. No contexto da correlação entre internacionalização e performance, o autor encontrou quatro dimensões convergentes entre os estudos que utilizaram múltiplas variáveis para compor uma medida de internacionalização.

São as dimensões encontradas por Li (2007): (1) performance operacional (p. ex. quociente de faturamento externo por faturamento total); (2) estrutura operacional (p. ex. quociente de ativos no exterior por ativos totais); (3) atributos atitudinais (p. ex. orientação internacional da alta direção); e (4) estrutura de propriedade (p. ex. proporção de ações pertencentes a estrangeiros).

Em um esforço para compilar as direções conceituais e problemas dos diversos índices compostos para medir internacionalização, Ietto-Gillies (2010) avaliou as quatro principais perspectivas da internacionalização relacionadas com: (1) o nível de agregação; (2) a modalidade de internacionalização; (3) a configuração das atividades; (4) outros elementos da internacionalização no nível da empresa.

Em termos de conceito, a autora classificou três dimensões distintas: (a) intensidade; (b) extensão; e (c) concentração geográfica. A pesquisadora também considerou as diversas possibilidades de composição de índices, entre univariáveis, multivariáveis, compostos e possíveis combinações entre os anteriores, somando ainda as considerações de vieses e escolhas pelos diferentes pesquisadores (Ietto-Gillies, 2010).

As Nações Unidas têm mantido um centro de estudos para assuntos de empresas transnacionais desde 1975 e que foi incorporado à estrutura da United Nations Conference on

Trade and Development (UNCTAD) em 1993. Este centro edita anualmente suas pesquisas

no World Investment Report e utiliza um índice composto para medir a internacionalização de multinacionais desde 1995, conhecido como Índice de Transnacionalização da UNCTAD. Trata-se da média simples de três variáveis racionais: (i) razão entre vendas externas e vendas totais; (ii) razão entre ativos no exterior e ativos totais; e (iii) razão entre empregados no exterior e empregados totais (UNCTAD, 1995).

A principal crítica ao índice de transnacionalização da UNCTAD é sua incapacidade de absorver as diferenças entre países, entretanto é inegável que sua simplicidade tem garantido consistência metodológica ano após ano desde 1995 (Hassel et al., 2003).

No contexto das empresas brasileiras, Fleury, Borini, Fleury, e Oliveira Júnior (2008) utilizaram a relação entre faturamento do exterior e faturamento total para pesquisar a relação entre internacionalização e desempenho de 118 empresas industriais brasileiras. Com esse critério, os pesquisadores classificaram a amostra em não-exportadoras (20%), exportadoras (62%) e multinacionais (18%) e concluíram que as empresas brasileiras aumentam suas exportações apenas após vencer uma barreira de 15% desse índice.

Mais ainda, os autores identificaram uma dificuldade das empresas nacionais em vencer a barreira de Investimento Estrangeiro Direto e concluíram que as empresas brasileiras diminuem suas performances no momento em que tornam-se multinacionais (Fleury et al., 2008).

Um esforço para medir o grau de internacionalização de empresas brasileiras também foi empregado por Barcellos, Cyrino, Oliveira Júnior e Fleury (2010), que utilizaram indicadores de internacionalização atitudinais, de performance e estruturais para pesquisar o desempenho das operações internacionais de empresas brasileiras.

Para mensurar internacionalização esses autores pesquisaram a proporção de receita, ativos, funcionários e atividade da cadeia de valor no exterior, a experiência internacional da diretoria, o controle estrangeiro, a dispersão geográfica do mercado, a listagem em bolsa estrangeira e o tempo de experiência internacional de 73 empresas brasileiras. Suas conclusões revelaram que as empresas menos internacionalizadas tiveram maiores desempenhos uma vez que as subsidiárias de multinacionais brasileiras tiveram menores performances que as operações domésticas (Barcellos et al., 2010).