• Nenhum resultado encontrado

Gravidez na adolescência: partilhar experiências

5.2 Desenvolvimento e vivência de atividades educativas com um grupo

5.2.1 Gravidez na adolescência: partilhar experiências

No quinto encontro do grupo de mulheres, iniciamos o debate sobre as temáticas em saúde da mulher. Foi importante ocorrerem esses quatro encontros anteriores, para que o grupo se fortalecesse e as participantes criassem vínculos e confiança entre si, além do estabelecimento de novas amizades que ocorreram naturalmente no grupo. Nesse encontro, para nossa surpresa compareceram duas novas participantes, Safira e Rubi, convidadas por Citrino e Esmeralda. As novatas foram bem acolhidas pelo grupo.

O primeiro tema eleito como prioritário foi gravidez na adolescência, pois, entre as participantes, havia três mulheres (Diamante, Pérola e Citrino) que já tinham filhos adolescentes e acharam importante aprender mais sobre esse tema, para ajudá-las na educação dos filhos adolescentes, mais mulheres que foram mães na adolescência e vivenciaram essa situação (Diamante, Citrino e Ágata). Para discutir esse tema, as participantes sugeriram a utilização de um vídeo. Assim, utilizamos o documentário “Meninas” (ANEXO F) como uma ferramenta que proporcionava informação inicial, introduzindo a temática no grupo, para, em seguida, produzir uma discussão e uma reflexão sobre o problema no contexto e realidade de cada uma. A fotografia 5 apresenta o grupo reunido para assistir ao filme “Meninas”.

Fotografia 5 – Assistindo ao filme “Meninas” sobre gravidez na adolescência.

Ao final do documentário, discutimos sobre o tema, mediante o diálogo entre as participantes. Vejamos um pouco dessa conversa:

PARTICIPANTE: No vídeo, uma menina falou que sempre quando tinha relação com o namorado dela, ela pegava preservativo no posto e fazia com preservativo, mas nem sempre tinha. Então numa dessas vezes, foi que aconteceu a gravidez (ESMERALDA).

PESQUISADORA: E essa questão que traz no vídeo, ela é da nossa realidade?

PARTICIPANTE: Eu já fui algumas vezes no posto e não tinha não preservativo (SAFIRA).

PARTICIPANTE: Mas isso aí, é uma coisa que é responsabilidade dos pais, eu acredito que uma filha com 12 anos grávida, está tendo ausência dos pais aí... (TURQUESA)

PARTICIPANTE : Eu já acho diferente, eu acho que os pais não têm tanta culpa...eu gostei muito do vídeo e vi que sofrem muito, principalmente na hora de ter... (OPALA)

PARTICIPANTE: Não é só ter, o difícil é criar e acaba a juventude também. Perde tudo, às vezes você tem um canto pra ir e não vai por causa do menino, comigo aconteceu isso (ÁGATA).

PARTICIPANTE: Nas áreas humildes, os pais não conversam com os filhos, e as adolescentes não têm muita perspectiva de vida (OPALA).

PARTICIPANTE: Eu acho que hoje quanto mais se puder ocupar a mente dos seus filhos, a mente dos adolescentes é melhor... muitas vezes os pais são ausentes de conversar, de botar os filhos pra fazer alguma coisa... (TURQUESA).

A discussão fluiu naturalmente no grupo. As mulheres opinaram sobre o tema, enfatizando as responsabilidades cabíveis aos pais e aos filhos. Em seguida indagamos sobre quem do grupo havia sido mãe na adolescência e gostaria de relatar sua história. Nesse momento, duas participantes do encontro (Citrino e Ágata) contaram suas histórias de vida, apresentadas a seguir.

Eu tinha 13 anos, eu nem sei, eu era tão nova, que eu não sabia era de nada, pra mim tanto fazia, como não. Eu não estudei, fiz só até a 5ª série, separei com 18 anos... mas estão aqui meus filhos lindos e maravilhosos (CITRINO).

O meu foi com 15 anos, deixei de fazer muita coisa, de estudar, de fazer curso, muita coisa, né? Porque eu era quem cuidava dos filhos, mas hoje, graças a Deus tenho duas filhas, mas no começo foi triste, foi horrível mesmo. Eu aconselho muito minha sobrinha que tem 15 anos, digo que a minha vida é uma escola pra ela (ÁGATA).

Prosseguimos com a conversa, indagando das participantes sua opinião sobre os modos como os pais podem ajudar os filhos a prevenir a gravidez na adolescência. Elas acreditam que o diálogo entre pais e filhos influencia muito no desenvolvimento dos filhos e contam suas experiências na formação deles. Vejamos as falas.

Eu acho que a conversa influi muito, por que os meus eu converso e ensino, dou os exemplos das amigas dela, da família pra ela ver o caminho certo e o errado, não proíbo de fazer nada, mas converso (PÉROLA).

Eu converso com os meus, eu digo que quando ele for fazer alguma coisa por aí, ele bote camisinha, ele não traga menino pra mim (CITRINO).

A conversa continuou no grupo, tendo a participação mais ativa das mulheres que já faziam parte do grupo; aquelas que participavam do encontro pela primeira vez ficaram mais tímidas em expor seus pensamentos e permaneceram mais caladas durante toda a discussão. Esta postura adotada pelas duas novas participantes é algo comum na vivência de grupo, pois, ao ingressar em um grupo já existente, o novo membro encontra um processo em construção, portanto, já com evidências de interação e participação entre as pessoas.

As mulheres dialogaram entre si, expondo suas ideias, relatando suas experiências e refletindo sobre a gravidez na adolescência. O vídeo serviu para introduzir esse tema no grupo, com base na realidade de adolescentes grávidas no filme. Concluída a discussão, solicitamos que as participantes relatassem algo que aprenderam no encontro e elas comentaram o seguinte:

Pra mim, tudo isso é muito válido, porque eu tenho uma filha, que apesar de ser criança, mas pra mim toda experiência é válida pra eu trabalhar em cima dela (TURQUESA).

Eu aprendi que nada melhor do que o diálogo e a presença dos pais na criação dos filhos (OPALA).

O amor e o carinho, a atenção dos pais e acompanhar os filhos (SAFIRA). Eu aprendi melhor, porque já vivi tudo isso (ÁGATA).

No final, recorremos ao “caderninho do saber” para eleger o próximo tema a ser discutido no grupo, que também representaria um problema em saúde da mulher para aquela comunidade, na compreensão das mulheres. Essa discussão será apresentada no próximo tópico.