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2.2 A TRANSCOMUNICAÇÃO NA CASA DO JARDIM

2.2.2 O grupo da Casa do Jardim pede contato

Como vimos no segmento anterior, por uma série de problemas organizacionais e mal entendidos, as atividades práticas que estavam originalmente programadas para março de 2019 somente puderam ser concretizadas em meados de agosto. Dessa forma, nos reunimos na sala 31 da Casa do Jardim em 20 de agosto para as primeiras tentativas dessa forma de contato.

Antes mesmo de montarmos os equipamentos foi rezado o Pai Nosso. Em seguida, um trecho aleatório do livro “Eu sou o caminho”, de Cenyra Pinto, foi lido em voz alta por um dos membros, visando motivar um momento de reflexão. Logo após, Angela liderou o trabalho de abertura de campos de proteção, procedimento padrão que antecede qualquer trabalho espiritual a ser realizado na Casa do Jardim, conforme me explicou abaixo:

Gabrielle, esse tipo de abertura é usada nos trabalhos mediúnicos e aí então são reforçados os campos de proteção, porque quando muitas pessoas repetem a mesma coisa, isso quase se materializa. Então, digamos, sobre essa casa existem campos de proteção. Os campos de proteção numa abertura são reforçados pela mentalização das pessoas do grupo e isso espiritualmente. Esses campos realmente são de proteção, de contenção de energias. As energias ficam por aí. Então vamos ver que efeito tem sobre o nosso estudo e sobre o nosso trabalho quando começarmos realmente a fazer alguma coisa.47

Trata-se de uma prática de construção mental, guiada pela dirigente, através de uma contagem acompanhada por estalar de dedos, conforme podemos observar a seguir:

Campos de proteção. Vamos mentalizando, todos juntos, um grande cone de bronze maior que essa casa que ao ser ativado vai girar no sentido anti- horário e vai remover desta sala, desta casa, toda forma pensamento negativa, toda entidade que não possa aqui permanecer. Mentalizando, formando o cone de bronze, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7 (contagem acompanhada do

47 21/05/2019

estalar de dedos), ativando o cone, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20 e 21 (contagem acompanhada de estalar de dedos novamente). Mentalizando uma grande pirâmide de base quadrangular orientada segundo a grande pirâmide de Quéops, em alfa, beta, gama, delta e épsilon (estalar de dedos). Na base da pirâmide, vamos mentalizar uma tela eletromagnética impeditiva de ações do umbral inferior. Mentalizando essa tela bem fechada, 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7 (estalar de dedos). Vamos inundar a nossa pirâmide com uma luz verde efervescente. Essa luz é uma luz higienizadora. Luz verde efervescente 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7 (estalar de dedos após dada número). Vamos pedir a espiritualidade um átomo da luz crística que será colocado no ápice da pirâmide. Esse átomo vai se expandir, vai iluminar toda a pirâmide. Luz do Cristo 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7 (estalar de dedos). Mentalizamos agora dois anéis de aço concêntricos a pirâmide. Esses anéis vão girar e formar a esfera onde estão plasmadas as sete faixas de trabalho da umbanda. Mentalizando os anéis girando e formando a esfera 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7 (estalar de dedos). Bem ao alto no espaço fica a cruz de Lorena que identifica e protege esse trabalho. Vamos iluminar a cruz na cor azul prateado brilhante. Iluminando a cruz 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7 (estalar de dedos), mais luz, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14 (estalar de dedos), no ápice da cruz, a cor dourada, 15, 16, 17, 18, 19, 20 e 21. Essa luz dourada serve de farol na imensidão e sinaliza que nesta casa trabalhamos em nome do Cristo. Em nome de Deus, nosso pai, em nome de Jesus, nosso mestre e nosso guia, estão abertos os estudos de hoje.48

Segundo a dirigente do grupo, Angela, o procedimento descrito acima era importante para criar um campo de proteção, através da mentalização em conjunto, não só para o nosso trabalho, mas em respeito aos outros trabalhos desenvolvidos na Casa do Jardim. Segundo ela, quando se faz alguma atividade diferenciada, como a transcomunicação instrumental, outros membros mais sensíveis da casa podem ficar incomodados pelas energias movimentadas; então era preciso preservá-los.

Tais precauções tornavam-se necessárias principalmente para minimizar as possíveis críticas que a transcomunicação instrumental poderiam ter dentro da Casa do Jardim. Críticas essas veladas a TCI e não ao grupo em si, vindas de alguns membros da Casa do Jardim que crêem que certas práticas “perturbam o campo da casa”, trazendo espíritos perturbadores. Foi nesse sentido que Angela comentou: “precisamos de todas as preocupações para nosso caminho ser reto”. Para a transcomunicação instrumental feita fora das dependências da Casa do Jardim, porém, ela acreditava não ser necessário fazer campos de proteção ou qualquer outro ritual, como lhe provaram as experiências que vinha fazendo individualmente em sua casa.

Tomadas todas as providências necessárias para promover o afastamento de possíveis espíritos perturbadores, o grupo começou a montagem dos equipamentos. Foi Paulo quem geralmente conduziu essa tarefa, distribuindo os equipamentos em cima de uma mesa na

cabeceira da sala. Os aparelhos de rádio deveriam, segundo as recomendações de Suely, estar dispostos em meia lua; as lâmpadas nas extremidades com os fachos de luz cruzando-se e, no centro, seriam posicionados os gravadores sobre pedaços de esponja, de modo a evitar que a trepidação dos rádios interferisse nas gravações.

No primeiro dia, porém, observei que havia lâmpadas de infravermelho e ultravioleta, bem como diversos gravadores, contando os celulares, mas nenhum rádio adequado. Um aparelho de rádio seria o equipamento mais importante da bancada, pois seria responsável pela emissão do ruído branco que serve de base para a gravação. No entanto, o único aparelho disponível era um pequeno rádio de pilhas trazido por Jussara e que não funcionou adequadamente quando testamos. Como a geração de ruído era necessária, propus que a televisão disponível na sala, que não possui antena, fosse ligada em um canal qualquer. Assim, a televisão passou a ser a principal fonte de ruído.

Figura 6 – Angela comanda os experimentos

Fonte: a autora (27/08/2019)

Com os aparelhos dispostos da melhor maneira possível e ligados sobre a mesa, assim como a televisão, nos posicionamos para começar a gravar a primeira tentativa (arranjo semelhante pode ser visto na Figura 6). Sentei ao lado dos equipamentos e manipulei o pequeno rádio para que ele emitisse um pouco de som. Estavam todos muito ansiosos. Começaram a fazer evocações em busca de contato com estações e transcomunicadores que se

encontram no Além. Todos falavam na medida em que iam lembrando o que dizer. Fizemos uma primeira gravação de pouco mais de um minuto, usando o celular de Angela como gravador principal, e com o radinho ligado em uma estação vazia AM. Acabou-se por interromper a gravação antes dos cinco minutos que havíamos combinamos, tamanha era a ansiedade. Na segunda gravação, movemos o dial do radinho, procurando com isso emitir mais ruído, e na terceira, sintonizamos em uma faixa FM. Gravamos por cerca de 3 minutos cada. Encerramos o experimento com a sensação de não termos captado nada e, de fato, as gravações pareciam não conter captação alguma, o que muito frustrou os participantes da experiência.

Na semana seguinte, levei para Casa do Jardim meu aparelho de rádio portátil, que pretendia emprestar para o grupo; Angela levou o seu notebook, pois queria aprender a utilizar o software de edição de áudio Audacity. Minha experiência no Audacity se resumia a selecionar e cortar trechos de áudio e tentar “melhorá-los” com normalização e equalização, converter arquivos de áudios para mp3, entre outras funções que utilizava em minhas gravações relacionadas à pesquisa. Apesar de não ter tanta experiência com edições relacionadas à transcomunicação instrumental, tinha me oferecido para auxiliar Angela e os demais com o programa.

Passamos a primeira parte do encontro explorando as funcionalidades do Audacity e decidimos que faríamos uma gravação através do computador para poder testar o aprendizado sobre o programa. O restante da reunião seguiu como planejado: foram feitas as aberturas de campos de proteção e organizados os equipamentos em cima da mesa para iniciarmos a prática da transcomunicação. No entanto, nenhum dos nossos rádios funcionou, nem mesmo o que eu tinha levado. Acabamos por desistir dos rádios, deixando apenas a televisão como fonte de ruído. Liguei e sintonizei em um canal qualquer e como a televisão não possui antena, ficou apenas no “chuvisco”.

Angela começou as evocações, chamando os mentores da Casa do Jardim e os pioneiros da transcomunicação instrumental. Ligou o gravador do seu celular e eu liguei meu gravador. Paulo se limitou a fotografar a cena com seu celular. Passados dois minutos do início da tentativa de contato, percebi que o computador estava na tela de repouso, pois nos esquecemos de acionar o gravador do Audacity. Coloquei o programa para gravar e fizemos mais algumas evocações. Na tela do computador, o programa mostrava o gráfico em formato de onda da gravação de uma maneira peculiar: nossas vozes causavam grande pico e quando ficávamos em silêncio, o programa registrava alguns picos pequenos em vez de uma linha reta. Observamos aquilo com grande admiração. Passou por minha cabeça naquele momento

que o programa estava captando a vibração da mesa quando nos movimentávamos. Gravamos por mais três minutos nesse arranjo, visto que tínhamos combinado de fazer apenas uma gravação de cinco minutos naquele dia, já que estávamos desanimados com o problema dos rádios.

Logo que terminamos o experimento, decidimos ouvir a gravação. Não só porque combinamos de testar as funcionalidades do Audacity, mas também porque ficamos curiosos para saber o que tinha gerado os estranhos picos que vimos na tela. Passamos o restante do encontro tentando ouvir vozes naquela gravação e chegamos à conclusão de que lá tinha alguma coisa, embora nenhum de nós tenha conseguido entender o que as vozes diziam. Secretamente, eu tentava racionalizar a experiência, procurando uma explicação menos fantástica para o que havia acontecido. No fundo, pensava que poderiam ser pessoas falando nos corredores da Casa do Jardim, ou fora dela. Ou, até mesmo, de que se trata apenas de apofenia (isto é, quando o cérebro procura padrões para dar sentido a informações aleatórias).

Após esse dia, o grupo manteve o arranjo de equipamentos para a gravação: além das lâmpadas ultravioleta e infravermelha, usávamos a televisão como fonte de ruído e a gravação era feita diretamente pelo programa Audacity, através do notebook de Angela. Angela era responsável pela maioria das evocações, enquanto Jussara ficava nas proximidades, concentrada, fazendo evocações quando sentia necessidade. Paulo, por sua vez, participava menos das gravações, andando pela sala e tirando fotos. Após as gravações, sentávamos ao redor do computador para ouvir as gravações e anotar o que as vozes pareciam dizer. Jussara era quem mais se destacava no momento da auscultação, pois parecia ter o ouvido mais aguçado entre nós. Os outros membros do grupo atribuíam essa habilidade a sua mediunidade. Ao terminar a sessão, era feita uma prece de encerramento.

No geral, o grupo tinha dificuldade em perceber as vozes nas gravações, e quando as percebia, era difícil de compreender o que diziam, visto que vinham acompanhadas de abundante ruído. Quando a voz era compreendida, outro desafio era interpretar a mensagem recebida. Nem sempre as vozes são facilmente identificáveis, e quando o são, muitas vezes não fazem sentido, o que é algo relativamente comum nos relatos de transcomunicadores.

As captações do Audacity tinham a peculiaridade de fazer os sons parecerem metálicos ou robóticos, e por mais que tentássemos corrigir essa falha através de configurações do programa, nada resolvia. Quando a ajuda de Suely era solicitada, ela apontava principalmente para esse “erro” de configuração do programa e raramente ajudava a compreender as mensagens, o que muito frustrou Angela. Da mesma forma, Daniel, o doutor em computação que participava ocasionalmente do grupo TCI, ocupava-se em apontar o

mesmo erro. Angela chegou a expor sua decepção com Suely, por ela não analisar os áudios que eram enviados. A dirigente esperava que Suely ajudasse principalmente com as análises, em razão de a transcomunicadora ter se colocado à disposição desde o princípio para isso. No entanto, na visão de Angela, o papel de Suely até aquele momento tinha sido mais o de criticar as vozes metálicas e apontar modificações de que eles não tinham conhecimento técnico. Paulo, por sua vez, entendia que eram críticas construtivas e que eles queriam ajudar. “Desculpe Paulo, mas no que Suely nos ajudou, além de ser uma estrela guia?”, respondeu-lhe Angela49. Consequentemente, o grupo deixou de compartilhar suas experiências e arquivos de áudio com Suely e com Daniel.

Assim, os integrantes do grupo TCI da Casa do Jardim viram-se sozinhos na tarefa de compreender as mensagens recebidas. A maioria das captações, porém, constituía-se de pequenas mensagens fragmentadas, palavras ou frases soltas que não conseguíamos atribuir sentido. Contudo, algumas coisas chamaram a atenção por seu conteúdo. Algumas vezes ouvimos saudações ao grupo, como um “alô”, “estou aqui”, “transcomunicação na linha”, “Casa do Jardim” entre outros. Ouvimos ser citada a estação Rio do Tempo algumas vezes, o que confirmaria que essa estação estava intermediando as comunicações do grupo50. Além disso, o nome Djalma apareceu algumas vezes, o que poderia indicar que um espírito de nome Djalma era o principal interlocutor.

Certa vez, ouvimos o que parecia uma discussão entre duas vozes masculinas: um diz “jovem, por favor, tu tá te matando. Tu não consegue parar, meu”, ao que o outro responde com uma voz chorosa “parar… eu não consigo parar”. O grupo comentou que parece se tratar de um atendimento a dependentes químicos. Chegou-se a cogitar que a captação poderia refletir algum trabalho de atendimento espiritual que estava sendo realizado em alguma sala próxima.

De forma geral, o grupo teve de lidar com o desapontamento pela qualidade das mensagens captadas, não só pelo seu conteúdo que parecia tão incipiente, mas, também, e principalmente, pela qualidade sonora dos áudios captados. Por serem áudios muito ruidosos, era infinitamente mais difícil ouvir e compreender as tênues vozes. Outro ponto que ressentia os integrantes do grupo TCI era que acreditavam não possuir as habilidades técnicas necessárias e constantemente lamentavam não possuírem conhecimentos tanto de informática

49 Cf. diário de campo de 24 de setembro de 2019

50 A estação Rio do Tempo, também conhecida como Timestream ou Zeitstrom, é uma das estações mais

conhecidas entre os transcomunicadores. Essa estação estaria localizada em um universo paralelo à Terra, em um planeta chamado Marduk.

quanto de acústica. Lamentavam também não ter alguém com essas qualidades à disposição para ajudá-los a “melhorar” a qualidade dos áudios que captavam. Começaram até mesmo a testar captações menos ruidosas, utilizando-se apenas do som ambiente, acreditando assim, estarem livrando-se do principal problema das captações em sua percepção: o excesso de ruído.

Concomitantemente aos experimentos na Casa do Jardim, Angela começou as próprias tentativas como forma de testar o programa Audacity e acabou se surpreendendo com os resultados. Afirmou ter notado mudanças desde que as atividades do grupo começaram, como uma espécie de abertura de canal. Angela não tinha apenas melhorado suas habilidades com o programa de computador, tinha aprendido a ouvir.

O grupo encerrou as suas atividades para o ano de 2019 em 16 de dezembro e enquanto escrevo esta dissertação, encontra-se suspenso em função da pandemia do novo coronavírus. Antes da interrupção, porém, uma nova gestão da diretoria executiva da Casa do Jardim tomou posse para o período 2020/2021, de forma que a nova coordenação do Departamento de Estudos e Pesquisas questionava o grupo a respeito de seus objetivos, onde se encaixava com o atendimento no método apométrico, quanto tempo e quantas reuniões eram precisos para chegar aos objetivos. Por não se tratar de um grupo de atendimento, o novo DEP informou que era preciso indicar o tempo de duração. Em função da paralisação, as respostas a esses questionamentos permanecem pendentes.

As dificuldades enfrentadas pelo grupo em ouvir e compreender as mensagens, assim como todos os problemas técnicos, pareceminerentes a experiência dos transcomunicadores de forma geral. Por via de regra, as narrativas dos transcomunicadores mostram que esses desafios são superados por meio da insistência e constância nas práticas, o que garante o domínio dos equipamentos e abre os sentidos dos principiantes para a experiência da transcomunicação instrumental. Criam-se, assim, as pontes de contato entre o Aqui e o Além, conforme explicam os transcomunicadores.

Por outro lado, há que se ter em conta que a vivência da transcomunicação instrumental tida pelo grupo da Casa do Jardim tinha suas especificidades por realizar-se dentro de um centro espírita, e não em casa como fazem a maioria dos transcomunicadores. Em primeiro lugar, é preciso frisar que os integrantes do grupo se esforçaram em fazer uma leitura espírita da transcomunicação, ao interpretar as leituras realizadas durante o grupo de estudo, chegando a discordar de certas interpretações que constavam nessas narrativas. De fato, a TCI não fez com que questionassem suas concepções de mundo espírita, pelo

contrário. A TCI que gostariam de praticar era, por isso, eivada por objetivos “espíritas”, como o de poder vivenciar o mundo espiritual de que tinham notícias através dos médiuns e de fazer caridade por meio da identificação de espíritos necessitados e levar seus casos para o atendimento espiritual.

É preciso frisar que alguns espíritas identificam a transcomunicação instrumental como uma prática ultrapassada, que retoma as manifestações materiais das mesas girantes do século XIX, ocorrências que precederam a codificação por Allan Kardec. O espiritismo surge justamente nesse contexto das mesas girantes, enquanto “ciência” que propõe o estudo desses fenômenos. Passada a necessidade de tais manifestações, opta-se pelo uso de meios considerados mais eficientes, como a comunicação através dos médiuns. As manifestações físicas, por sua vez, são atribuídas a espíritos inferiores, ligados à matéria (AUBRÉE; LAPLANTINE, 2009). A partir desse ponto entendemos também a recusa dos médiuns em participar do grupo TCI, dado que, em sua opinião, já possuíam uma forma mais eficiente e segura de contato.

Pelo receio de levantar tais opositores que veem a transcomunicação instrumental como uma prática capaz de atrair espíritos inferiores e perturbadores, o grupo TCI da Casa do Jardim precisou seguir um protocolo que visava proteger suas práticas para elas não atraírem energias indesejadas que pudessem causar desequilíbrios e ferir sensibilidades dentro do ambiente do centro espírita. Agindo dessa forma, o grupo estava também buscando blindar-se de críticas daqueles que viam a transcomunicação com desconfiança.

No entanto, se há particularidades na prática da transcomunicação instrumental dentro de centros espíritas, é preciso considerar ainda as especificidades de se fazer transcomunicação instrumental na Casa do Jardim. Conforme veremos no próximo capítulo, a Casa do Jardim é uma entidade assistencial espírita cuja origem e identidade estão fortemente ligadas a uma prática de cura espiritual conhecida como Apometria, tendo florescido às margens do espiritismo “oficial” representado pelas federações. Desse modo, o capítulo vindouro pretende lançar luz às peculiaridades do histórico da Casa do Jardim e ao espiritismo que lá se pratica, bem como os embates com a FERGS.