• Nenhum resultado encontrado

O grupo MADÍ e Gyula Kosice: o Concretismo na Argentina

Capítulo III: A CRÍTICA MILITANTE DE JORGE ROMERO BREST E A REVISTA VER Y ESTIMAR

3.2. O grupo MADÍ e Gyula Kosice: o Concretismo na Argentina

Como mencionado

anteriormente, o cenário artístico argentino, após a Segunda Guerra Mundial, encontrava-se debilitado. Uma tomada de posição frente à crise foi realizada de forma mais contundente pelos artistas concretos. Segundo Romero Brest, desde os anos de 1944-45 esses artistas dispunham de informações fragmentadas do

movimento europeu e, em 1948, já eram nítidas, nas obras desses concretos, as influências de Vantongerloo, Max Bill e Van Doesburg, principalmente nas composições de Claudio Girola (1923-1994) e Tomás Maldonado (1922), após retorno

de viagem feita à Europa. Nesse contexto, destacam-se ainda artistas como Alfredo Hlito (1923-1993), Lidy Prati (1921-2008), Ennio Iomi (1926-2013) que rapidamente expressaram um viés concretista, adotando de imediato uma posição de legitimidade e se diferenciando dos fauvistas, expressionistas e cubistas pelo esgotamento da experimentação. Some-se a isso a consciência sobre a necessidade de manter um olhar não somente para a realidade nacional, mas também para o cenário artístico mundial. Comenta Brest:

¿Para qué iban a practicarlos a medias

sobe pretexto de respetar la tradición y las exigencias de la comunidad, cuando éstas eran nada más que paja? Los sudamericanos tenían que aprender en Europa tanto como fuera posible, y aprender a hacerlo bien. Algo similar debió pensar la pintora

129 Jorge Romero Brest, “Palabras liminares”, en XXVIII Exposición Bienal Internacional de Arte de Venecia,

Maldonado, Tomás Sin título

(Untitled), 1948 Oil on canvas; 23 3/8 x 16 3/8 in. Collection of Raúl Naon, Buenos Aires, Argentina© Tomás Maldonado.

Girola, Claudio. Sin titulo. Metal,

sin definir cm. 1962

brasileña Tarsila do Amaral, cuando a la vuelta de un viaje a Europa recomendó a sus compatriotas que hicieran un período de ‘servicio militar obligatorio en el cubismo’. Nuestros creadores hicieron su servicio militar en el concretismo.

Lo cierto es que por primera vez los europeos se interesaron por una manifestación artística argentina. En 1953, Max Bill llegó a decirme que después del grupo argentino dirigido por él, en Zurich,

sobresalía netamente el de Buenos Aires. Y en ese mismo año tuvieron éxito los nuestros exponiendo en el Museo de Arte Moderno de Río de Janeiro y en el Stedelijk Museum de Amsterdam. Tuve la satisfacción de presentarlos en ambas exposiciones, haciendo notar cómo sobresalían “por el empeño en obtener formas que configuran un lenguaje universal, empeño que los conecta con los movimientos más progresistas de Occidente…”130

O grupo de artistas abstratos na Argentina vivenciava uma série de agregações e dissidências desde os princípios dos anos de 1940, sendo um importante marco a publicação da revista Arturo (de Arte Abstrata) em gestação desde 1941. Em 1944, foi publicado o único número da revista com textos ou poemas de Arden Quin, Bayley, Vicente Huidobro, Kosice, Rothfuss, Mendes, Torres García e reproduções de Kandinsky, Mondrian, Maldonado e Vieira da Silva.

A vertente concreta imediatamente respondeu à publicação com o Manifiesto de Arte Concreto Invención no qual afirmavam que:

La era artística de la representación toca a su fin…la materia prima del arte representativo ha sido siempre la ilusión. Ilusión de espacio, de expresión, de

realidad, de movimiento… Las

experiencias estéticas no representativas… han sido una exaltación de los valores concretos de la pintura… Exaltar la óptica decimos nosotros… El arte concreto habitúa al hombre a la relación con las cosas y no con las ficciones de las cosas…131

130 ROMERO BREST, Jorge. Arte en la Argentina. Buenos Aires: Paidós, 1969. p. 34

Girola, Claudio. Rombo plano o

custodia Bronce, 100x84x20 cm.

Kosice: “El água y la lluvia van adheridos a mi nombre.”

Como já mencionado anteriormente, entre os artistas concretos, destacava-se Tomás Maldonado, segundo Brest, por sua potência criadora, temperamento forte e dramático. Apesar do refinamento das zonas cromáticas de suas criações e da tênue severidade de suas estruturas lineares, seus quadros apresentam áreas com

certo grau de tensão, sobretudo, pelos contrastes. Já Claudio

Girola, se destacava entre os escultores concretos pelo seu forte apego aos princípios matematizantes da criação e extrema habilidade no manuseio do metal. Sua formação começou junto ao seu pai que era escultor cinzelador e ourives. Suas primeiras esculturas figurativas logo se converteram em planos despregados no espaço, apresentando em alguns casos incisões ou aquisição de direções oblíquas, horizontais ou curvas. Em 1946, realizou a sua primeira exposição como integrante do grupo Arte

Concreto, juntamente com Alfredo Hlito e Maldonado. Em 1949, passou a residir em Paris e Milão, momento em que teve maior contato e aprendizado com o artista Georges Vatongerloo que influenciaria determinantemente a sua

produção. Girola pretendia dar por superada as etapas figurativas e abstratas na arte, dando vazão a criações impares advindas de complexas elaborações intelectuais e poéticas.

Do Grupo Arte Concreto Invención,

surgiram os dissidentes que deram origem ao

Movimiento Madí, liderados por Arden Quin e

Gyula Kosice. O objetivo principal era opor-se a uma arte estática, lutando por composições que saíssem da base tradicional ao apresentar articulações e movimento. Para os artistas Madí, a tecnologia e a ciência caminhavam conjuntamente com a arte, ao abrir novas possibilidades no campo

criativo, permitindo ao artista e espectadores vivenciar uma atmosfera futurista atrelada a um imaginário de ficção científica. Assim, o termo Madí englobaria em suas iniciais o

Movimento, a Abstração, a Dimensão e a Invenção, conceitos personificados em novas

Quin, Arden. Coplanal 1 Diábolo. A

Geométrie Variable (1945). Óleo sobre

madera. – 38 x 46,5 cm.

Kosice, Gyula. De la Ciudad Hidroespacial,

proyecto de 1960. Técnica: Acrílico.

losangos, pentágonos, hexágonos, formas individuais ou justapostas das quais o círculos também fazem parte. Um exemplo contundente desse conceito é obra de Carmelo Arden Quin,

Coplanal 1 Diábolo. A Geométrie Variable de

1945.

Assim, a proposta era superar a ausência de universalidade da arte concreta por meio da invenção e criação de objetos eternos e de valor absoluto. Incidiam nesse conceito, visivelmente as influências do construtivismo russo e também do futurismo italiano ao fazer uso de uma sintaxe pictórica baseada no plano e nas formas geométricas. Ao mesmo tempo buscava-se uma

ruptura com os formatos quadrados e retangulares. A idéia de ruptura com o marco ortogonal libera a obra de sua relação com o fundo, permitindo ao núcleo, que agora adquire as mais variadas formas, vivenciar o espaço como qualquer outra natureza.

De acordo com o Manifiesto de 1946:

Arte Madí es la organización de todos os elementos propios de cada arte en su continuo. Con lo concreto comienza el gran período del arte no figurativo, en el cual el artista sirviéndose del elemento y de su respectivo continuo crea la obra en toda su pureza. Pero en lo concreto ha habido una falta

de universalidad y de consecuencias de organización. Se ha retenido la superposición, el cuadro rectangular, el atematismo plástico, el estatismo, la interferencia entre volumen y contorno… de aquí el triunfo de los impulsos instintivos contra la reflexión, de la intuición contra la conciencia… de la metafísica contra la experiencia…Madí confirma el deseo del hombre de inventar objetos, al lado de la humanidad luchando por una sociedad sin clases que libera la energía y domina el espacio y el tiempo en todos los sentidos, y la materia en sus últimas consecuencias.132

Para Romero Brest, o Manifiesto Madí, desenvolveu um grande viés intelectual que, na prática, não correspondeu a obras com uma grande potência criadora. Gyula Kosice seria possivelmente a única exceção, pois abandonara os princípios rígidos do Manifiesto, dando lugar ao ímpeto criativo guiado por sua própria percepção da realidade. Na obra de Kosice se vislumbra mundos em movimento que remetem a energia permanente da vida ou do universo. É uma particularidade do artista, demonstrar que a natureza não precisa ser necessariamente enfrentada ou conquistada, pelo contrário: a natureza deve ser exaltada como um elemento fundamental capaz de ser vivida e compartilhada ludicamente.