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O contexto sociocultural em que o falante está inserido influencia diretamente em sua forma de comunicar-se com o mundo, assim, a relação entre língua e sociedade pode ser representada também através da fala de cada sujeito. Dessa forma, aspectos relacionados à identidade social podem auxiliar a compreender fenômenos linguísticos em processo de variação.

3.2.1 OS FATORES EXTRALINGUÍSTICOS

Nesta pesquisa, o gênero, a faixa etária e o nível socioeconômico, serão as variáveis independentes utilizadas para a descrição e análise do nosso fenômeno variável e discorremos sobre a escolha de tais fatores, a quantidade geral dos dados tanto no singular quanto no plural, além de elencar exemplos encontrados no corpus.

O Nível Socioeconômico compõe-se no PRESEEA de uma combinação de aspectos, ele refere-se à profissão, à localidade e à escolaridade dos informantes. Dessa maneira, a combinação de tais aspectos permite a classificação em baixo, médio e alto.

A relevância do nível socioeconômico, e especialmente da escolaridade, deve-se ao fato de que, de acordo com Votre (2004), a escola gera mudanças na fala e na escrita daqueles que tem acesso à educação; sendo assim, os informantes quanto mais escolarizados mais tendem a seguir a norma culta e a resistir às mudanças. Esse fato seria um indicador de que tais falantes não utilizariam com frequência as formas consideradas não canônicas, envolvendo também questões como prestígio social e estigmatização que estão estreitamente relacionadas à profissão e muitas vezes à “nobreza” da localidade onde se reside.

Através dos dados obtidos, podemos contabilizar um total de 548 dados na variante do singular, estando distribuída da seguinte forma quanto aos níveis socioeconômicos: 118 no nível baixo, 226 no nível médio e 204 no nível alto. Em contraste com os 249 dados gerais da variante no plural, que se distrui da seguinte forma: 78 no nível baixo, 87 no nível médio e 984 no nível alto.

A Faixa Etária é o segundo fator extralinguístico sendo um fator interessante em uma investigação sociolinguística variacionista, visto que, o grupo de idade a que pertence o indivíduo pode caracterizar a maneira como este se comunica. De acordo com Naro (2004), os falantes de idade mais avançada costumam preservar formas mais antigas, ao passo que os mais jovens utilizam mais as formas inovadoras.

Além disso, aponta que há um momento em que a língua do indivíduo torna-se essencialmente estável, pois o processo de aquisição da linguagem se encerra no período da puberdade, assim a gramática desse indivíduo não sofreria grandes mudanças. Então, a maneira de falar atualmente de um idoso seria a representação de anos atrás e não do momento presente. Porém, é importante ressaltar que essa relação idade e mudança linguística não é mecânica, as pressões sociais, por exemplo, podem influenciar nas escolhas dos falantes.

Em nossas ocorrências foram contabilizados 194 casos no singular e 78 casos no plural do grupo de idade 1, 168 casos no singular e 87 no plural do grupo de idade 2 e 186 casos no singular e 84 no plural do grupo de idade 3.

O gênero a que pertence os informantes é o terceiro e último fator extralinguístico considerado na nossa pesquisa, a sua relevância deve-se ao fato de que, segundo Paiva (2004), as mulheres optam com mais frequência pelas variantes linguísticas mais prestigiadas socialmente, assim, utilizariam a forma padrão em detrimento da não padrão.

Entretanto, essa generalização pode levar-nos a algum equívoco, visto que a relação do gênero com outros fatores, como a classe social, pode apontar resultados mais fidedignos em relação ao uso das variantes por parte da mulher e do homem, “de forma geral, a diferença entre a fala de homens e mulheres são mais salientes nos grupos sociais intermediários (normalmente classe média) do que nos grupos extremos (classe baixa e classe alta)” (PAIVA, 2004, p. 37).

Assim, é importante assinalar que um uso de uma variante mais acentuado por parte das mulheres pode indicar que essa forma está sendo aceita ou introduzida na comunidade como padrão ou perdendo o status de estigmatizada.

Foram encontrados no singular 230 casos do gênero feminino e 318 casos do gênero masculino. Com relação ao plural, obtivemos um total de 113 ocorrências do gênero feminino e 136 ocorrências do gênero masculino.

3.2.2 OS FATORES LINGUÍSTICOS

Os fatores linguísticos possuem relevância semelhante aos fatores sociais para a análise dos dados, pois é a partir deles que podemos obter a concretização da variação, nos fornecendo os exemplos e os contextos de funcionamento interno da língua em que nossas ocorrências estão inseridas. Foram levados em consideração o tempo verbal, a posição do sintagma nominal em relação ao verbo e o tamanho da forma nominal.

O tempo verbal em que está conjugado o verbo haber apresentou-se como importante fator linguístico para a ocorrência da variação, portanto, para identificarmos todas as ocorrências com o uso desse verbo em sua forma impessoal, buscamos no corpus as realizações padrões (variante no singular) e não padrões (variante no plural) para que pudéssemos constatar como realmente se dá o uso do haber impessoal quando acompanhando de uma forma nominal no plural.

Nesse contexto, sobre as formas padrão e não padrão, Tarallo (2007, p. 11) afirma:

As variantes de uma comunidade de fala encontram-se sempre em relação de concorrência: padrão vs não-padrão; conservadoras vs inovadoras; de prestígio vs estigmatizadas. Em geral, a variante considerada padrão é, ao mesmo tempo conservadora e aquela que goza de prestígio sociolinguístico na comunidade. As variantes inovadoras, por outro lado, são quase sempre não-padrão e estigmatizadas pelos membros da comunidade

Portanto, para manter essa relação padrão vs não padrão, para a coleta dos dados, foi realizada uma busca classificada a partir dos tempos verbais, e durante essa busca constatou- se que há influência do tempo verbal para a escolha de uma variante ou outra.

Consideramos os verbos conjugados no singular e no plural dos seguintes tempos verbais: No infinitivo em perífrasis verbais: pueden haber; deben haber; van a haber, han habido, no Presente do indicativo (hay-han), no Pretérito Imperfeito (había-habían; habíamos), no Futuro simples (habrá-habrán), no Pretérito perfeito simples ou Pretérito Indefinido (hubo-hubieron), no Condicional simples (habría-habrían). Nas formas no Subjuntivo: Presente (haya-hayan). Futuro simples (hubieren) e Pretérito imperfeito (hubiera- hubieran; hubiese- hubiesen).

As ocorrências dispostas nas tabelas correspondem apenas aos tempos verbais que foram encontrados durante a pesquisa, e, visto a quantidade baixa de ocorrências encontradas, o Presente corresponde tanto às ocorrências no Indicativo quanto no Subjuntivo, assim como o Futuro que também corresponde ao Futuro Simples e ao Futuro do Subjuntivo.

Quadro 5 – Número de ocorrências distribuídas em Tempos Verbais na variante pluralizada

Tempos Verbais Códigos TOTAL

Presente P 33

Pretérito Imperfeito Pimp 181

Pretérito Perfeito Composto PPC 19

Pretérito Simples PS 7

Futuro F 7

Condicional Simples CS 2

Total 249

Fonte: Elaborado pela autora (2018).

Quadro 6: Número de ocorrências distribuídas em Tempos Verbais na variante no singular

Tempos Verbais Códigos TOTAL

Presente P 522

Pretérito Imperfeito Pimp 16

Pretérito Perfeito Composto PPC 7

Pretérito Simples PS 1

Futuro F 2

Condicional Simples CS 0

Total 548

Fonte: Elaborado pela autora (2018)

O segundo fator linguístico analisado refere-se à posição do SN, assim, consideramos a anteposição e a posposição desse em relação ao verbo haber pluralizado. Foram considerados apenas os sintagmas nominais que se encontram flexionados no plural.

Contabilizamos, do total de 249 ocorrências da variante no plural, 39 formas antepostas e 210 pospostas. Em relação à variante no singular, há 22 ocorrências com o SN anteposto e 526 dados do SN posposto.

O último aspecto linguístico considerado na nossa pesquisa refere-se à forma nominal do verbo, isto é, se tratam-se de verbos plenos ou se o verbo se apresenta em forma de perífrases (verbo auxiliar + verbo no infinitivo, gerúndio ou particípio).

Nesse contexto, buscamos identificar se o tamanho da FN influencia no uso do verbo haber em sua forma pluralizada. Com relação à variante pluralizada, contabilizamos um total de 39 em forma de PV e 210 como verbos plenos. Quanto à variante no singular, 537 das ocorrências são de verbos plenos e apenas 11 ocorrências em forma de PV.

Apresentamos neste capítulo informações gerais sobre o corpus PRESEEA que é utilizado como fonte de coleta de dados para esta pesquisa. Assim, conhecemos o instrumento utilizado para a coleta e como ocorreu a seleção dos informantes, identificamos e discorremos sobre as variáveis extralinguísticas oferecidas pelo corpus, detalhamos a quantidade de entrevistas e como essas estão distribuídas quanto a gênero, nível socioeconômico e faixa etária.

Elencamos os fatores linguísticos levados em consideração para a investigação da nossa variável dependente e, por fim, enumeramos exemplos dos fatores extralinguísticos e linguísticos retirados do próprio corpus. Nessa perspectiva, iniciaremos no capítulo a seguir a análise e teceremos comentários sobre os dados obtidos quanto ao uso concordado do verbo haber através do PRESEEA.

CAPÍTULO 4- ANÁLISE DO USO CONCORDADO DO HABER IMPESSOAL: VARIANTE NO PLURAL vs VARIANTE NO SINGULAR

Neste capítulo, nos debruçamos sobre a decodificação, a análise dos dados obtidos através do PRESEEA e o estabelecimento de relações para explicar os dados encontrados, buscando compreender o caminho que está percorrendo nossa variável rumo a uma possível mudança. Essa análise foi realizada através da relação com estudos de autores latino- americanos sobre a variável dependente “a concordância do haber em sua forma impessoal” e dos percentuais obtidos através do corpus.

Sob essa ótica, primeiramente, teceremos comentários sobre os fatores extralinguísticos, que são eles: a) nível socioeconômico; b) faixa etária; c) gênero/sexo, discorrendo concomitantemente sobre a variante no plural e a variante no singular. Em seguida, elencaremos exemplos que corroborem os dados apresentados e a análise discorrida e, por fim, apresentaremos em forma de tabela e/ou gráfico os números utilizados como base empírica desta pesquisa.

O mesmo caminho será percorrido para a análise e os comentários dos fatores linguísticos, sendo eles: a) os tempos verbais; b) a posição do sintagma nominal em relação ao verbo; e c) a forma nominal do verbo. Dessa forma, as variantes em questão serão discutidas, exemplificadas e quantificadas, a fim de obtermos uma análise da variável tanto no nível extralinguístico quanto no linguístico, abarcando as suas duas variantes, isto é, plural vs singular.

4.1. ANÁLISE DOS FATORES EXTRALINGUÍSTICOS

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