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4 AnCo-REDES: UM MODELO PARA ANÁLISE COGNITIVA

5.3 Análise cognitiva das redes geradas

5.3.2 Rede de Textos Provenientes de Entrevistas

5.3.2.1 Grupos de sentido na rede de entrevistas

Com os grupos de sentido identificados objetivou-se buscar elementos para auxiliar na análise cognitiva do conteúdo das representações sociais. Nessa perspectiva, a partir dos grupos de sentido foram geradas categorias para análise das produções verbais representadas na rede de entrevistas por meio das conexões mais densas entre os vértices (comunidades detectadas). Cada grupo de sentido (GS) detectado, representado na forma de sub-redes, e algumas falas de idosos

com elementos característicos para cada um deles, são apresentados nas Figuras 28 a 33.

Figura 28: Algumas falas de idosos que possuem elementos característicos do GS1 (28A); Sub-rede do grupo de

sentido “relações intergeracionais marcada pelo amor, cuidado e apoio no convívio em família” _ GS1 (28B)

Fonte: a autora.

O grupo de sentido relações intergeracionais marcada pelo amor, cuidado e apoio no convívio em família (GS1) retrata as interações entre idosos e familiares que ocorrem motivadas por um cuidar e ser cuidado, não apenas pela necessidade de ajuda, mas pela satisfação, por se sentir útil. Os vértices que mais se destacam nesse grupo com os maiores índices de centralidade Cg e Ec são cuidado, amor, apoio e bem, os quais têm sido característicos na maioria das falas.

Mas ao mesmo tempo há sentimentos que contrastam essas significações, representadas, por exemplo, pelos vértices saudade, morte e felicidade. Com isso, pode-se inferir que a saudade está refletida tanto no sentimento de satisfação e felicidade pelo cuidado recebido ou prestado ao familiar, quanto na morte, quando não mais estará presente participando do convívio dessas pessoas que ama e que dele cuida com amor. A Figura 29 apresenta os resultados quanto ao grupo de sentido 2 (GS2).

Figura 29: Algumas falas de idosos que possuem elementos característicos do GS2 (29A); Sub-rede do grupo de

sentido “relações intergeracionais marcada por um bom viver”_ GS2 (29B)

Fonte: a autora.

No grupo de sentido relações intergeracionais marcada por um bom viver (GS2), percebe-se uma significação específica dentro do contexto analisado, em que, para o idoso, é bom poder viver com os familiares. Três vértices se destacam nesta sub-rede, vida, poder e bom, sendo os dois últimos identificados como elemento de contraste da representação, o que nos dá pistas quanto à existência de um subgrupo específico da representação. Os demais vértices são da segunda periferia da rede, com importância menor quando comparado aos demais. Na Figura 30, é apresentado o grupo de sentido 3 (GS3).

Figura 30: Algumas falas de idosos que possuem elementos característicos do GS3 (30A); Subrede do grupo de

sentido “convivência intergeracional marcada pela união entre familiares” _ GS3 (30B)

O grupo de sentido convivência intergeracional marcada pela união entre familiares retrata a existência de uma interação satisfatória entre idosos e seus familiares, o que leva a um “querer estar junto”, a um sentimento de entreajuda nas dificuldades. Entretanto, mesmo tendo a necessidade, um desejo de estar junto, o idoso se preocupa com o fato do seu familiar ficar preso a ele, e não construir a sua própria família. Nesse grupo, o vértice que mais se destaca é convivência, seguido de união e construir família. Na Figura 31, é apresentado o grupo de sentido 4 (GS4).

Figura 31: Algumas falas de idosos que possuem elementos característicos do GS4 (31A); Sub-rede do grupo de

sentido “convivência entre familiares como suporte para resolução de problemas” _ GS4 (31B)

Fonte: a autora.

No grupo de sentido convivência entre familiares como suporte para resolução de problemas é possível perceber uma significação sobre as relações familiares que difere das demais, mas que está presente nas representações dos idosos. Ou seja, uma relação pautada na importância do idoso como provedor, como suporte para solução de problemas, por exemplo financeiros. A aposentadoria do idoso, muitas vezes, é a única fonte de renda. No GS4 o vértice parentes é o que apresenta os maiores índices de centralidade, sendo identificado como núcleo central das representações para o grupo social analisado. Todos os demais integram a segunda periferia da rede.

Vale lembrar que a palavra parentes foi utilizada como categorização para os termos neto, neta, filho, filha, marido, mulher, ou seja, aqueles que se referiam a um ente familiar. Nesse sentido, ao observar a relação que ocorre no GS4 do núcleo central das representações, no caso parentes, com os demais vértices, todos integrantes da segunda periferia e, portanto menos

importantes na representação. Verifica-se que, por meio da análise a partir dos grupos de sentido, é possível tanto um olhar global para as representações, quanto também para aquelas significações individuais, locais, identificadas nas representações sociais através dos vértices de segunda periferia. Outras relações entre vértices na rede de representações são identificadas no GS5 e apresentadas na Figura 32.

Figura 32: Algumas falas de idosos que possuem elementos característicos do GS5 (32A); Sub-rede do grupo de sentido “relações intergeracionais marcada pela fé, paciência e orientação a familiares” _ GS5 (32B)

Fonte: a autora.

A partir do GS5, é possível perceber que, para o idoso, a fé é algo presente nas suas relações familiares, e é nela que muitas vezes busca alento, paciência, principalmente para lidar com as dificuldades do seu cotidiano, como o uso de drogas por membros da família. O apoio aos filhos e netos é importante para o idoso, e um papel de orientador, conselheiro, educador também é exercido por ele nas interações familiares. Neste grupo de sentido os vértices igreja e orientar, respectivamente, foram os que apresentaram os maiores índices de centralidade, sendo identificados como núcleo central das representações sociais estudadas.

No GS5, também merece destaque o vértice droga, que foi identificado na rede como elemento de contraste e que nesse grupo de sentido reflete a função destacada por Oliveira et al.

(2005) para a zona de contraste, a qual é reforçar os sentidos presentes na primeira periferia da representação. Na Figura 33, é apresentado o último grupo de sentido (GS6), o qual traz outros elementos presentes nas significações dos idosos para a convivência em família.

Figura 33: Algumas falas de idosos que possuem elementos característicos do GS6 (33A); Sub-rede do grupo de sentido “relações intergeracionais marcada por conflitos e solidão” _ GS6 (33B)

Fonte: a autora.

Com o grupo de sentido relações intergeracionais marcada por conflitos e solidão percebe-se que, muitas vezes, o convívio familiar não é desejado pelo idoso, e isso ocorre em virtude dos conflitos existentes nas interações familiares. Entretanto, também existe o desejo pela harmonia na família, que leva o idoso a um agir tolerante, buscando intermediar as relações conflituosas. O idoso se sente responsável por sua família. Nessas interações os vértices de maior destaque são conflito e solidão, identificados como núcleo central das representações sociais, seguido de harmonia, classificado como elemento de contraste na representação.

A análise a partir dos grupos de sentidos tem um caráter subjetivo e dependerá do analista, suas percepções, sua visão de mundo, implicação na pesquisa, para apreender o conteúdo das representações sociais. As conexões que ocorrem entre os vértices em um grupo de

sentido (ou comunidade detectada) vão dar ao analista apenas pistas que levem ao conteúdo das representações.