• Nenhum resultado encontrado

2 APORTES QUE FUNDAMENTAM A PESQUISA

2.3 Teoria das Representações Sociais: um olhar sobre a abordagem estrutural

2.3.1 Sobre o conceito e funções do núcleo central e sistema periférico nas representações

estado de corresidência1, quanto à convivência familiar intergeracional, sob as lentes da contextualidade que envolve as relações vivenciadas por essa população idosa em seu cotidiano.

Os conceitos e funções do núcleo central e sistema periférico da abordagem estrutural das representações sociais, a qual é caracterizada nesta tese como uma base acoplada ao modelo proposto, são apresentados com mais detalhes na subseção 2.3.1.

2.3.1 Sobre o conceito e funções do núcleo central e sistema periférico nas representações sociais

Quanto ao conceito e funções do sistema central, Abric (1993; 1996) afirma que toda representação está organizada em torno de um núcleo central que determina sua significação e organização interna, exercendo essas duas funções ao mesmo tempo: uma função geradora e outra organizadora. Face à função geradora, apresenta-se como elemento pelo qual se cria ou se transforma a significação dos elementos que constituem a representação. Por outro lado, em virtude da função organizadora, determina a natureza dos laços que unem entre si os elementos da representação, caracterizando-se como elemento unificador e estabilizador da representação.

Com isso, o núcleo central se apresenta como um subconjunto da representação e pode ser composto por um ou alguns elementos de tal importância que a sua ausência representaria uma desestruturação da representação ou até mesmo lhe daria uma significação diferente. Nesse contexto, para Sá (2002, p. 67) “essa caracterização do núcleo central como um subconjunto da representação implica que outras instâncias estruturais, com papéis funcionais complementares ao do núcleo central, devam ser reconhecidas”.

Essas instâncias são identificadas como elementos intermediários (primeira periferia e zona de contraste) e elementos periféricos da representação (ou segunda periferia). Entendem-se como de primeira periferia os elementos periféricos mais importantes enquanto a zona de contraste se refere aos elementos que possuem baixa frequência, mas são considerados

1

Arranjo social de coabitação, no qual duas ou mais pessoas, independentemente da geração, gênero ou nível de consanguinidade a que pertencem esses indivíduos, compartilham o mesmo espaço físico, estabelecendo interações sociais de qualquer natureza (VILELA et al, 2013, p. 53).

importantes pelos sujeitos. A zona de contraste pode revelar elementos que vão reforçar os sentidos presentes na primeira periferia ou a existência de subgrupo minoritário que possua uma representação diferente sobre o objeto analisado. Finalmente, a segunda periferia é constituída por elementos menos frequentes e menos importantes (OLIVEIRA et al., 2005).

Sá (1996, p. 22) apresenta as características atribuídas a um sistema central, constituído pelo núcleo central da representação como:

[...]1. Marcado pela memória coletiva, refletindo as condições sócio-históricas e os valores do grupo; 2. Constitui a base comum, consensual, coletivamente partilhada das representações, definindo a homogeneidade do grupo social; 3. É estável, coerente, resistente à mudança, assegurando assim a continuidade e a permanência da representação; 4. É relativamente pouco sensível ao contexto social e material imediato no qual a representação se manifesta. Suas funções são gerar o significado básico da representação e determinar a organização global de todos os elementos.

Quanto ao sistema periférico, Sá (1996, p. 22) o apresenta como os demais elementos da representação que,

[...] provendo a interface entre a realidade concreta e o sistema central, atualiza e contextualiza as determinações normativas e consensuais deste último, daí resultando a mobilidade, a flexibilidade e a expressão individualizada das representações sociais.

Assim como o núcleo central, o sistema periférico possui características específicas, as quais são destacadas por Sá (1996, p. 22):

1. Permite a integração das experiências e histórias individuais; 2. Suporta a heterogeneidade do grupo e as contradições; 3. É evolutivo e sensível ao contexto imediato. Sintetizando, suas funções consistem, em termos atuais e cotidianos, na adaptação à realidade concreta e na diferenciação do conteúdo da representação e, em termos históricos, na proteção do sistema central.

Percebe-se então a importância de se identificar e compreender as representações sociais de forma articulada entre o núcleo central das representações com a devida ênfase para o sistema periférico, isso posto pela complementaridade funcional que ocorre entre esses. Os dois sistemas se apresentam como estados sucessivos de uma mesma representação.

Uma técnica que tem tido destaque na análise estrutural das representações sociais é a análise de evocações livres, a qual permite reduzir as dificuldades e limites das expressões discursivas utilizadas nas pesquisas em representações sociais (ABRIC, 1993). Essa técnica está

baseada na produção verbal, quando os participantes da pesquisa são convidados a evocar um conjunto de palavras que lhes venha à mente quando ouvem um termo indutor. Esse termo é definido pelo pesquisador e deve relacionar-se com o objeto a ser pesquisado (SALES; DAMASCENO; PAIVA, 2007; OLIVEIRA et al., 2010).

Destacam Oliveira et al. (2005, p. 574) que esta técnica tem sido amplamente utilizada por pesquisadores na coleta de dados em pesquisas científicas principalmente por duas razões

[...] a primeira por possibilitar a apreensão das projeções mentais de maneira descontraída e espontânea, revelando inclusive os conteúdos implícitos ou latentes que podem ser mascarados nas produções discursivas; a segunda pelo fato de se obter o conteúdo semântico de forma rápida e objetiva, reduzindo as dificuldades e limites das expressões discursivas convencionais.

Afirma ainda que o uso da técnica de evocação livre possibilita apreender a percepção da realidade de um grupo social a partir de uma composição semântica preexistente, a qual é geralmente concreta, imagética e organizada ao redor de elementos simbólicos simples. E, como recomendação indica que devam ser estabelecidas no máximo seis palavras, uma vez que a prática tem mostrado que a partir de sete palavras há um declínio na rapidez das respostas, descaracterizando o caráter natural e espontâneo das evocações livres (OLIVEIRA et al., 2005).

O software EVOC (Ensemble de programmes permettant l´analyse des evocations) tem sido utilizado como instrumento auxiliar na análise de dados levantados pela técnica de evocação livre de palavras. Este software permite a organização das evocações produzidas em conformidade com as suas frequências e com a ordem de evocação definida pelos sujeitos. Para tanto, calcula a frequência simples de ocorrência de cada palavra evocada, a média ponderada de ocorrência de cada palavra em função da ordem de evocação e a média das ordens médias ponderadas do conjunto dos termos evocados. Esses dados são utilizados para identificar os elementos centrais, intermediários e periféricos de representações (OLIVEIRA; COSTA, 2007).

Além do EVOC, outros métodos e softwares são utilizados na análise de representações sociais, como o método de análise de similitudes2 e o software ALCESTE (Análise Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto). Entretanto, nesta tese de doutorado não se pretende fazer uma análise comparativa entre métodos utilizados para a pesquisa em representações sociais com o modelo ora proposto ou estabelecer quaisquer limites entre eles,

2

Com a análise de similitudes busca-se identificar “as relações de ligação entre os termos produzidos, uma análise de distância entre os elementos de produção discursiva, na medida que dois cognemas „vão juntos‟ suas ligações são mais ou menos fortes” (OLIVEIRA et al., 2005, p. 585).

mas apresentar um novo olhar, apontando o modelo AnCo-REDES como um dos caminhos possíveis para realizar uma análise cognitiva da estrutura e conteúdo das representações sociais, com base na Teoria de Redes, e fundamentada na abordagem estrutural da Teoria de Representações Sociais.