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“Perdi-lhe o inço!” é uma expressão usada no Algarve para dizer que se perdeu o rasto das sementes de uma determinada variedade378. No Alto Minho também se usa dizer “olha, já me desinçei disto! É quando a gente perde as qualidades [determinadas variedades] e depois vai buscá-las, outra vez, a outros lados, a outra pessoa. Normalmente, pedimos uns aos outros...” (F., Crasto, Ponte de Lima, 20/07/10).

No Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, o regionalismo inço é definido como um “conjunto de plantas que, não sendo atingidas pela ceifa ou por outro corte, permanecem nos terrenos para futura propagação”, podendo também significar “restos” ou “resíduos”.379

Inçar remete-nos também para a ideia “povoar abundantemente”, “grassar”, “desenvolver-se”, “propagar-se”.380

Na generalidade, aponta-se no sentido de uma permanência, de uma sobrevivência, de uma possibilidade de continuidade.

Seja qual for a expressão utilizada localmente, não perder o inço é um imperativo, tanto para o agricultor que preza uma determinada variedade por vezes rara (ainda que no passado possa ter sido abundante) como para entidades públicas ou privadas cuja principal missão é garantir a preservação no tempo da maior diversidade de plantas agrícolas, e de que são exemplo os bancos de germoplasma vegetal.

A necessidade do agricultor de garantir alguma autonomia nas sementeiras e de assegurar a manutenção de certas variedades que, de outra maneira, se perderiam

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No Livro de Alportel, Estanco Louro indica que inço é semente, continuidade e exe mplifica . À pergunta “Atão inda [...] tem das taj abôb’ras?...”, alguém responde “Já não...por casa do mal , nã derom nada êst’ano e perdi-les o inço” [Louro, Estanco 1996 (3ª ed.): 244].

No glossário de Refoias.net, indica-se que inço significa “continuidade; resto de semente reservada para manter a espécie. Ex: Esta q’ôlidade de fêjão dé-me o primo Antóino da Refóias há uns belos anos e nunca ‘le perdi o inço” [Consultado em http://www.refoias.net/glossarioI.html (a 2/8/11)].

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O Dicionário Priberam da Língua Portuguesa , indica duas acepções regionais para o mesmo termo, podendo designar, no caso do Algarve, os vegetais que, “na ceifa, ou e m outro corte, se deixam ilesos, para frutificarem e se reproduzirem” ou, ainda, significa r, na região transmontana, “restos, resquícios, resíduos”. (Em http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=INÇO).

Refira -se que durante as minhas estadas no nordeste transmontano não me recordo de te r escutado esta e xpressão.

No Rio Grande do Sul, no Brasil, ma is concretamente e m Ma mpituba, inço é també m o termo usado “para designar muda, semente, ou batata; garantia de continuação do cultivo na propriedade. Expressão usada: «Ter o inço» ou «Perder o inço».” [in Prestes, Bohn et al., (2005)].

123 rapidamente, em particular para o consumo doméstico, aparentemente pouco diferirá dos propósitos que estão na origem, por exemplo, da criação dos bancos de germoplasma vegetal, muito embora as motivações, os meios, bem como os resultados, sejam diferentes e, por vezes, possam ser vistos mesmo como conflituantes381.

PRIMÓRDIOS DO ESTUDO E CONSERVAÇÃO DE P LANTAS EM PORTUGAL

Se a preocupação relativa à conservação dos recursos fitogenéticos é um fenómeno rela- tivamente recente, a colecta de plantas (ou de partes das mesmas) com fins exploratórios ou de introdução de novas espécies e/ou variedades exóticas, é uma prática milenar. Um dos registos mais antigos que se conhecem, remontará a cerca de 1500 anos a.C., e dá conta do envio, pela rainha Hatshetput do Egipto, de uma expedição à Somália com a finalidade de ali colher plantas produtoras de resinas aromáticas (incenso), muito utili- zadas no Templo de Deir el-Bahar, para fazer posteriormente a propagação das mes mas (Ferrão et al., 2008).

Nas origens de grande parte do conhecimento botânico europeu, estão os estudos reali- zados durante a Antiguidade Clássica pelo filósofo grego Teofrasto (c.370- c.285 a.C.), discípulo de Aristóteles382 eautor de De Causis Plantarum e De Historia Plantarum; por Plínio, o Velho (23-79 d.C.) e por Dioscórides (séc. I d.C.) que procedeu à descrição de mais de seiscentas plantas e respectivas propriedades medicinais e cujo trabalho ser- viu de base aos estudiosos europeus que, até ao Renasc imento, procuraram insistente- mente "encontrar na flora local exemplos das plantas que Dioscórides descrevera "383.

381

Ve ja-se, por e x., a polé mica e m torno do Banco Global de Se mentes da Noruega e os receios de que este possa servir os interesses das grandes empresas produtoras de sementes tran sgénicas.

382

Aristóteles, autor da “Teoria das plantas” e outras obras fitológicas, é considerado por Gonçalo Sa m- paio como o verdadeiro fundador da Botânica [Cabra l, 2009].

383

Carvalho, Luís M. M. de (2006): 18. Segundo o mesmo autor, isto conduzia “a frequentes e com- preensíveis erros de interpretação, pois, por exemplo, a flora do Norte da Europa é distinta da flora Mediterrânica. Este impedimento prático terminou quando Leonhart Fuchs publicou, na obra Historia Stirpium (1542), cerca de quatrocentos nomes de plantas nativas da Alemanha e abandonou, definitiv a- mente, qualquer tentativa de ver na flora germânica as plantas de Dioscórides”.

124 Depois de uma fase de relativa estagnação na Idade Média, o interesse pelos estudos botânicos ressurgirá com a expansão europeia, nomeadamente portuguesa e espanhola, dos séculos XV e XVI, sob o estímulo da curiosidade suscitada pelas novas plantas encontradas nas terras «descobertas» e do seu potencial interesse económico. "Mercê desta influência, produziu-se então como que uma grande febre de saber, sobressaindo muitos naturalistas viajantes, fundando-se os primeiros jardins botânicos [...] desenvol- vendo-se a botânica descriptiva” e publicando-se numerosas obras384.

Neste período, sobressaem os trabalhos de dois portugueses, os médicos Amato Lusita- no (João Rodrigues de Castelo Branco) [1511 – 1568] e Garcia de Orta [1499? – 1568], ambos de ascendência judaica. O primeiro, um dos mais importantes divulgadores da obra de Dioscórides, publicou, em 1553, Dioscorides de matéria medica libros quinque enumerationes385. E, em 1563, o médico e naturalista português Garcia de Orta escreveu em Goa Os Colóquios dos Simples386, e drogas he cousas medicinais da Índia, trabalho reeditado, traduzido e adaptado, ao longo dos séculos XVI, XVII e XVIII. Na obra, escrita em língua portuguesa, na forma de diálogo entre duas personagens387, Garcia de Orta procede à que é considerada a "primeira descrição rigorosa feita por um europeu das características botânicas, origem e propriedades terapêuticas de muitas plantas medicinais que, apesar de conhecidas anteriormente na Europa, o eram de maneira errada ou muito incompleta e apenas na forma da droga, ou seja, na forma de parte da planta colhida e seca"388.

Gonçalo Sampaio sublinha também a grande importância de Dioscórides que “ compoz um tratado de matéria médica em cinco livros ilustrados, com a descrição de 600 plantas, tratado que teve uma grande importância como guia botânico, durante séculos” e de Caius Plinius Secundus Major que “compendiou em seis livros da sua “Historia naturalis” tudo quanto se sabia, errado ou certo, sobre os vegetais”. Notando que muitos dos nomes por eles dados às plantas se conservam a inda actualmente [Cabra l, 2009:66-67].

384 In Cabra l, 2009:68-69. 385

Conforme Gonça lo Sa mpa io in Cabra l (2009). 386

“Designam-se de «simples» as plantas usadas para fins medicinais e terapêuticos, isoladamente, sem mistura com outras plantas ou substâncias inertes” (Cabra l, 2009: 70).

387

Ruano, um médico espanhol recém-chegado da Península Ibérica, e o próprio Garc ia d’Orta. 388

Resumo de Colóquios dos Simples e Drogas da Índia [1895 (1563)] em http://www.bdalentejo.net/bdaobra/bdadigital/Obra.aspx? ID=295

Deveu-se ao botânico e méd ico fla mengo Charles de l’Éc luse ou Carolus Clusius (1526-1609), que durante ano e me io via jou pela Península Ibérica, a divulgação inic ial das obras de Ga rcia de Orta, tendo traduzido para o lat im e resumido Os Colóquios dos Simples, e drogas he cousas medicinais da Índia, de que resultou a edição da Aromatum, et si mplicium aliquot medicamentorum apud Indos

125 Os primeiros jardins botânicos surgiram em Itália (em Pádua, Pisa e Florença e, mais tarde, em Bolonha), entre 1545 e 1568 e, no final do século XVI, existiam treze jardins botânicos na Europa. Estes jardins, onde se cultivavam não só espécies europeias como plantas do Novo Mundo, pretendiam representar um microcosmos do mundo natural. Neles se podiam observar, ao lado das espécies medicinais descritas nos grandes trata- dos de Botânica, as plantas das Américas e das Índias. Os Jardins Botânicos const i- tuíam, simultaneamente, um repositório de fitomedicamentos e um local de ensino e investigação botânica. Com a sua criação, a troca de sementes e plantas entre regiões distantes e de floras diversas, torna-se uma prática regular.

Em Portugal, os Jardins Botânicos surgiram apenas no século XVIII, sob a influência do Marquês de Pombal. O Jardim Botânico de Coimbra e o Jardim Botânico da Ajuda (em Lisboa) tinham por base os mesmos propósitos dos jardins botânicos do século XVI mas, para além das plantas medicinais, deveriam também cultivar e estudar as plantas de uso alimentar e industrial, consideradas de alto valor económico389.

O Jardim Botânico da Ajuda (JBA), criado por iniciativa de D. José [1714-1777] foi o primeiro jardim botânico português.

Em 1768, Miguel Franzini, professor dos netos de D. José I, é nomeado para cuidar da implantação de um jardim botânico na antiga Quinta de Cima e este convida o médico e botânico italiano Domingos Vandelli [1735-1816] para delinear o jardim. Vandelli trará consigo, de Pádua, J ulio Matt ia zzi (o pr ime iro ja rd ine iro do Horto Bo tâ nico de Pádua) para o ajudar.

Mais do que um espaço lúdico e educativo da família real, o então Real Jardim Botânico da Ajuda – pertencente, desde 1910, ao Instituto Superior da Agronomia (ISA), como

nascentium historia.

389

Nos “Estatutos Pombalinos” da Universidade de Coimbra , num capítulo específico sobre o estabelecimento de um Jardim Botânico em que se mostrem as plantas vivas, afirma -se o seguinte: “Pelo que, no lugar que se achar mais próprio e competente nas vizinhanças da Universidade [de Coimb ra], se estabelecerá logo o dito Jardim, para que nele se cultive todo o género de plantas e, particularmente, aquelas das quais se conhecer ou esperar algum préstimo da Medicina e nas outras Artes, havendo o cuidado, e providência necessária, para se ajuntarem as plantas dos meus Domínios Ultramarinos os quais têm riquezas imensas no que pertence ao Reino Vegetal” [In Carvalho, Ró mu lo de (1987): 60].

126 infraestrutura de ensino e investigação390 – servia de local de ensaios de novas culturas. "As espécies vegetais cultivadas no Jardim Botânico da Ajuda, que passavam de cinco mil, […] vieram, […] de toda a parte do mundo. Vandelli, ele próprio, fez “vir dos mais ricos Jardins Botânicos plantas vivas e sementes” e, num plano mais ambicioso, foi preparando os seus alunos matriculados na recém criada Faculdade de Filosofia, para se dedicarem à busca, à colheita e à classificação de plantas no território português continental, insular e ultramarino"391. Dando-se também especial interesse à aclimatação de algumas plantas de alto valor económico trazidas dos territórios ultramarinos, como o café, a canela ou o algodão, entre outras.

Domingos Vandelli foi também encarregado, com Miguel Franzini e Dalla Bella, de delinear os planos para o Jardim Botânico de Coimbra, criado em 1772, e de que veio a ser director, tendo ainda fundado o Museu de História Natural de Coimbra, em parte com as suas colecções pessoais. Domingos Vandelli, que chegou a Portugal em 1764, contratado pelo Marquês de Pombal, colaborou na reforma da Universidade de modo a incluir as ciências e a experimentação científica nos planos curriculares, participou activamente na criação da Academia Real das Ciências de Lisboa e, depois de se ter aposentado da Universidade de Coimbra, e m 1791, exerceu, entre outros cargos, o de director do Real Museu e Jardim Botânico da Ajuda. Muitos dos seus alunos e colaboradores foram incumbidos de diversas expedições a Cabo Verde, Guiné, Angola, Moçambique e Brasil392 [Correia, A. I. D. (2007)].

O final do século XVIII é considerado um período áureo para o estudo da flora portuguesa, nomeadamente com o trabalho desenvolvido por Avelar Brotero e pelo

390 Em 1910, pelo mes mo decreto lei e m que foi criado o I.S.A., fo i-lhe cedido o Jardim Botânico da Ajuda situado na Calçada da Ajuda, a sudoeste do Palác io Nacional da Ajuda, na « Quinta de Cima do Paço de Madeira » [http://www.isa.utl.pt/tapada/4.2_jard im%20botanico.htm].

O Jard im Botânico da Ajuda possui presentemente um Banco de Se mentes, uma colecção Fitogeográfica, “composta por cerca de 800 táxones distribuídos pelas principais regiões fitogeográficas do mundo”, u ma colecção de ce rca de 120 plantas oficina is (Jardim de Aromas), u ma colecção dendrológica, composta por cerca de 120 árvores dispersas, entre outras colecções.

[ISA-Centro de Botânica Aplicada à Agricultura (CBAA): Germop lasm collection (Acedido e m: http://www.isa.utl.pt/cbaa/services/geneticres/geneticres.html]

391

Carvalho, Ró mu lo de (1987):70. 392

No Herbário do Jard im Botânico do Museu Nacional de História Natural , da Un iversidade de Lisboa, conserva-se um herbário de Vandelli co m ce rca de 3000 espécimes.

127 médico, botânico e naturalista alemão Heinrich Friedrich Link [1767-1851]393. Em 1788, Félix de Avelar Brotero [1744-1828], doutorado em Medicina pela Universidade de Reims, havia publicado, em Paris, o seu Compendio de Botanica, ou Noçoens Elementares desta Sciencia, segundo os melhores Escritores Modernos, espostas na Lingua Portugueza e, em 1791, é-lhe entregue a regência da cadeira de Botânica e Agricultura (1791-1811) na Universidade de Coimbra e a direcção do Jardim Botânico daquela universidade que foi por ele reestruturado e redireccionado, já não exclusivamente para o estudo das plantas medicinais (pe los estudantes de medicina) mas aberto a outras áreas científicas, "tornando-o num balão de ensaio para os vários ramos da Agricultura e estudos de Botânica "394. Numa altura em que não existia nenhum herbário395 de plantas de Portugal, Brotero começou a fazer colecções de plantas em herbário, contributo que se revelou essencial para o estudo da flora portuguesa.

Avelar Brotero, que, após a sua jubilação (da U. de Coimbra), em 1811, dirigiu o Real Museu e Jardim Botânico da Ajuda, em Lisboa, escreveu a «Flora Lusitanica» (1804), a primeira obra a retratar a diversidade florística portuguesa e é um dos nomes ligados à

393 Autor, juntamente com John Hinckley, de Notas de uma viagem a Portugal e através de França e Espanha.

394 Un iversidade de Coimb ra. Faculdade de Ciências e Tecnologia. Departamento de Botânica : Biblioteca

Digital de Botânica: Autores e Personalidades

(http://bibdigital.bot.uc.pt/index.php?menu=2&lan guage=pt&tabela=geral). 395

“Um herbário é uma colecção organizada de plantas secas e geralmente prensadas, fixadas em folhas de cartolina e acompanhadas de uma etiqueta em que consta o seu nome latino, o local e data de colhe i- ta, o nome do(s) colector(es) e as notas que se julguem adequadas sobre a ecologia e o habitat da espécie em causa. Um herbário constitui um conjunto de documentos indispensável para muitos estudos botân i- cos. Esta colecção de plantas secas e prensadas pode ser completada com notas, des enhos, estampas, fotografias e publicações.

Um herbário é també m u m sistema de informação ou uma base de dados sobre a flora de uma região ou de um país, contemplando não só a flora actual como aquela que já está extinta”.

Os herbários guarda m ta mbé m e xe mp lares voucher (espécimes usados em determinados estudos como, por exe mp lo, nas análises de ADN) que dão suporte a algumas colecções ou estudos. “É o caso dos ban- cos de se mentes ou dos espécimes que estão na base de estudos anatómicos, citológicos, químicos , mole- culares ou outros.

Os herbários estão abertos a todos os botânicos que queiram recorrer às suas colecções e, a nível mu n- dial, estabeleceu-se um serviço de empréstimos. Cada herbário, quando solicitado, envia, por tempo limi- tado (6 meses ou 1 ano), alguns dos seus espécimes a um outro herbário onde serão estudados e post e- riormente devolvidos” [Corre ia, Ana Isabel D. (2007):2].

128 formação da Agronomia portuguesa396.

O trabalho de herborização iniciado por Brotero no Jardim Botânico da Universidade de Coimbra será posteriormente retomado por Júlio Augusto Henriques [1838-1928] que viria a fundar em sua homenagem a Sociedade Broteriana, a primeira sociedade científica botânica fundada em Portugal, que fazia recolhas de exemplares botânicos para posterior identificação e conservação em herbário, "com vista a reunir materiais indispensáveis para a publicação de uma nova Flora Lusitânia "397. O Boletim da Sociedade Broteriana começa a ser publicado em 1883.

Júlio Henriques, que promoveu o trabalho laboratorial e de campo na universidade e fundou o Museu Botânico da U.C., adquiriu a maior parte do Herbário particular do botânico alemão Moritz Willkomm, que incluía cem mil exemplares, pertencentes a mais de dez mil espécies, de plantas da região mediterrânica, da Madeira e das Canárias – que serviu de base para o estudo da flora de Portugal.

Como director do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra, intensificou as permutas de plantas e sementes com os principais jardins botânicos de Portugal, Europa e outras partes do mundo, particularmente com a Austrália.

Em 1868, é criado o banco de sementes do Jardim Botânico da Universidade de Coim- bra e iniciada a publicação do Index Seminum (catálogo de sementes), até hoje anua l- mente actualizado. O Index Seminum et Sporarum é um catálogo anual publicado por Jardins Botânicos de todo o mundo com a listagem de sementes disponíveis para troca com outras instituições.

396

Em 1793, Brotero, ao apresentar dois sentidos para o termo de agricultura, esboçava já o conceito de agronomia: “A agricultura considerada não como uma cega tradição de certos trabalhos, ou mero empirismo, ma si m como a ciência da mais proveitosa cultura das terras e vegetais, abrange uma grande vastidão de filosóficos conhecimentos” (in Radich, 1996:128). A Avelar Brotero, juntam-se João António Da lla Be lla, Luís da Silva Mouzinho de Albuquerque, José Maria Grande, João Inác io Ferre ira Lapa, João de Andrade Corvo, entre muitos outros nomes fundadores da agronomia portuguesa (Radich, 1996).

397 Un iversidade de Coimb ra. Faculdade de Ciências e Tecnologia. Departa mento de Botânica: Biblioteca Digital de Botânica: Autores e Personalidades

129 O primeiro Index Seminum do Jardim continha um total de 380 espécies mas apenas 5 anos depois, estando o Jardim já sob a direcção de Júlio Henriques, reunia um total de 1839 espécies398.

Em 1879, Júlio Henriques contratou para o Jardim um jardineiro de origem alemã, Adolfo Möller [1842-1920] – colector de espécies animais, vegetais e fungos, em Por- tugal e em África, que realizou uma importante expedição científica a São Tomé e Prín- cipe, em 1885, de onde trouxe para Portugal 249 espécies zoológicas e 735 exemplares de herbário, bem como uma valiosa colecção mineralógica e etnográfica399. Nesse mesmo ano, Joaquim de Mariz [1847-1916]400, médico e naturalista, junta-se a Adolfo Möller e os dois, juntamente com o colector Manuel Ferreira, constituíram uma equipa "a quem o estudo da flora de Portugal e das antigas colónias portuguesas em África muito deve"401.

Júlio Henriques percorreu o país em expedições florísticas, nomeadamente à Serra da Estrela, Serra do Marão, Buçaco, Gerês, Caramulo, Lousã, Macieira, Castro-Daire e, também, à antiga colónia portuguesa de São Tomé e Príncipe. Actividade de que

398

O núme ro má ximo de 2758 espécies disponíveis para troca foi atingido n o Index Seminum de 1959. Desde 1997 que o Index Seminum do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra se encontra dispon í- vel online. (Em: http://www.uc.pt/jardimbotanico/inde x_seminu m_et_sporarum).

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Adolpho Möller colaborou co m d iversas publicações cient íficas nacionais e estrangeiras: Gazeta de Pharmácia (Lisboa), Portugal Agrícola, O Tribuno Popular, O Instituto (Coimb ra), Jornal da Sociedade Pharmacêutica Lusitana, Jornal da Real Associação de Agricultura Portuguesa , Gazeta das Aldeias, Jornal Hortícola-Agrícola, Jornal de Horticultura Prática, Boletim da Sociedade Broteriana, Correspondência de Coimbra, Berichten der Deutschen Pharmaceutischen Gesellschaft (Berlim), Der Tropenfflanzen, entre outras. Publicou diversos trabalhos, como catálogos de plantas e artigos sobre agricultura, silvicu ltura, floricultura, horticultura, farmacêutica e botânica méd ica. Entre os trabalhos publicados, destacam-se o “Catálogo das Plantas Medicinais que habitam o continente português”[Universidade de Coimbra. Faculdade de Ciências e Tecnologia. Departa mento de Botânica: Biblioteca Digital de Botânica: Autores e Personalidades (http://bibdigital.bot.uc.pt/index.php?menu=2&language=pt&tabela=geral)].

400 Joaquim de Mariz destacou-se como ta xono mista botânico, tendo estudado exaustivamente a flora fanerogâmica (vegetais que produze m flor) portuguesa. " A sua perícia como taxonomista botânico tornou-o muito solicitado por outros grandes botânicos da sua época. Colaborou ma elaboração das Floras de Portugal de Gonçalo Sampaio e António Xavier Pereira Coutinho, esclarecendo muitas dúvidas e identificando muito material para estes dois autores" [Universidade de Coimbra. Facu ldade de Ciências e Tecnologia. Departa mento de Botânica: Biblioteca Digital de Botânica: Autores e Personalidades (http://bibdigital.bot.uc.pt/index.php? menu=2&language=pt&tabela=geral)].

401 Un iversidade de Coimb ra. Faculdade de Ciências e Tecnologia. Departa mento de Botânica: Biblioteca Digital de Botânica: Autores e Personalidades

130 resultaram várias publicações científicas, entre as qua is o estudo monográfico de vários grupos da flora portuguesa, a primeira monografia florística de São Tomé e Príncipe,