• Nenhum resultado encontrado

As plantas cultivadas: entre natureza e cultura

Cada época histórica e, numa mesma época, cada sociedade e cada grupo social, pos- suem critérios próprios, e em constante adaptação, de conceber a natureza e de se rela- cionar com ela.

As primeiras políticas de protecção da natureza foram fortemente marcadas pela ideia de uma natureza intacta – que era necessário preservar – e de uma natureza ordinária, que não carecia de protecção.

Como salienta Diegues340, reportando-se às propostas precursoras de Gifford Pinchot e de John Muir nos EUA – onde, em meados do século XIX, foi criado o primeiro parque nacional do mundo (o parque de Yellowstone) –, se a conservação de recursos de Pin- chot “é o uso adequado e criterioso dos recursos naturais”, a corrente preservacionista de Muir, “pode ser descrita como a reverência à natureza no sentido da apreciação estética e espiritual da vida selvagem (wilderness) ”341. Sendo esta, uma natureza que é preciso proteger “contra o desenvolvimento moderno, industrial e urbano”.

A noção tradicional de preservação – caracterizada pela separação entre natureza excep- cional e natureza ordinária, uma intacta e a outra artificializada/cultivada – dará lugar à concepção mais dinâmica de conservação: mais do que tentar fixar o passado, trata-se agora de « gérer le long terme en tenant compte des capacités d’évolution des systèmes écologiques dont ont veut préserver les caractéristiques essentielles, il s’agit de conci- lier développement et protection de la nature. " 342

Numa primeira fase, a natureza ordinária não abrangerá, ainda, as plantas cultivadas – que materializam a ligação entre o natural e o cultural.

Para que isso fosse possível, foi preciso juntar à dimensão ambiental, a patrimonial – na acepção de um legado que se quer transmitir às gerações futuras, da apropriação de um

340

Diegues, A.C.S. 2001 (1994): 30. 341

A noção de selvagem que serviu de base à criação dos parques foi, a liás, desde logo contestada. Para o chefe Standing Bea r, da tribo dos Siou x [in Diegues, A.C.S. 2001 (1994)] " as vastas planícies abertas, os maravilhosos montes ondulados, as torrentes sinuosas” não eram selvagens.”Para o homem branco a natureza era selvagem, mas para nós ela era domesticada. A terra não tinha cercas e era rodeada de bênçãos do Grande Mistério.”

109 bem colectivo e/ou de uma busca de reencontro/reconstrução de identidades locais e regionais ameaçadas.

É, assim, que surge aquilo que Dubost apelida de gestão patrimonial da natureza. Conservar como e para quê?

As respostas a estas perguntas – tal como àquela que se refere ao próprio objecto da conservação – são tão variáveis quanto a diversidade dos actores em jogo, uma vez que as motivações são diversas e, por vezes, contraditórias.

Actores, ou grupos de actores, públicos e privados, amadores e profissionais – sejam agricultores, associações ou entidades oficiais –, todos desempenham um papel pioneiro na construção de novas representações e de novos sistemas de legitimação (Dubost). Cada um contribuiu com a sua parte para a construção do novo objecto patrimonial constituído, no presente caso, por sementes de plantas cultivadas, especialmente as de variedades autóctones, que assumem nalguns casos o estatuto de plantas raras.

É de salientar, porém, que este é um processo tendencialmente global, alvo de uma vasta produção normativa com reflexos directos nas políticas seguidas por governos de todo o mundo, nomeadamente dos países da União Europeia.

A denominação de plantas raras, tradicionalmente aplicada às plantas exóticas e/ou novas, pode contemplar actualmente espécies selvagens ou antigas, flores, frutos, legu- mes e, também, sabores regionais e/ou do passado343.

Segundo Dubost, no caso francês, trata-se de uma moda ligada à afirmação de identida- des locais, ao culto do património, à ideologia do regresso à natureza, ou à conjugação dos três – e que, na opinião de Isac Chiva, é sintomática da dupla crise, económica e social, que atravessa a sociedade francesa.

A defesa da natureza que, na opinião de Chiva (2008344), se faz acompanhar da recusa multiforme da racionalidade única e unívoca da sociedade industrial e se assume como uma verdadeira contra-cultura própria dos períodos de transição, está na origem dos processos de valorização dos saberes naturalistas tradicionais, bem como da multiplica- ção de parques, museus e ecomuseus destinados a mostrar, conservar e perpetuar esses saberes. Essa aspiração pela natureza, essa dupla crise, social (da consciência colectiva)

343

“Aux cotés du pavot bleu de l’Hymalaya ou de la sauge noire à odeur de cassis, [...], la poire de Cuisse Madame et le pâtisson, ont fait entrée sur le marché de la rareté ", escreve Dubost (1994 :10). 344 Chiva, Isac (2008):23.

110 e económica, traduz-se no retorno ao passado, que os campos, as aldeias e os campone- ses encarnam, nos seus modos de vida e saberes, na sua arquitectura e cultura material, nas suas paisagens.

Em França, a moda referida por Dubost começou por ser lançada por uma pequena élite de proprietários privados, tendo recebido apoios cada vez mais diversificados, de insti- tuições, autarquias e novas associações.

Em Portugal, o processo de valorização das plantas cultivadas (e da sua conservação), designadamente daquelas que são consideradas em risco, é protagonizado por entidades públicas e privadas, de que o Banco Português de Germoplasma Vegetal/INRB345, sob tutela do ministério da agricultura, e a associação de cidadãos, sem fins lucrativos, Colher para Semear- Rede Portuguesa de Variedades Tradicionais, são exemplos. E a que se somam associações de desenvolvimento local/regional (como a In Loco do Algarve), grupos ecologistas, autarquias, organizações de agricultores (como a CNA- Confederação Nacional da Agricultura).

Normalmente, as acções de promoção das variedades regionais de plantas agrícolas não se fazem isoladamente mas incluem outros referentes identitários como raças de ani- mais, produtos gastronómicos regionais, saberes específicos, envolvendo protagonistas muito diversos. Exemplo disto são os encontros anuais promovidos pela associação Colher para Semear, como o de Melgaço, em Dezembro de 2009346, em que, para além dos representantes da associação que apresentaram os resultados do levantamento rela- tivo às variedades agrícolas regionais (e da mostra de sementes destas variedades) e da representante do município, intervieram um produtor de vinho alvarinho, o secretário técnico da raça cachena, um representante dos criadores de cães castro laboreiro, entre outros.

O processo de patrimonialização de plantas cultivadas, à semelhança do que sucede relativamente a outros objectos de património, tem por base a constatação de que algu-

345

Instituto Nacional de Recursos Biológicos.

346 Este encontro realizou-se entre os dias 4 e 6 de De ze mbro e m La mas de Mouro.

Os encontros promovidos pela Colher para Semear foram inaugurados em 2004, nos dias 9 e 10 de Outubro, no Jardim Botânico da Universidade de Coimb ra; o segundo encontro viria a realizar-se dois anos depois, entre 21 e 22 de Outubro de 2006 e m Sesimbra; sucedem-se Ode mira, entre 29 e 30 de Setembro de 2007; Sendim (Miranda do Douro), nos dias 22 e 23 de Nove mbro de 2008; Melgaço; Montemor-o-Novo, 29 a 31 de Outubro de 2010; São Brás de Alportel, de 4 a 6 Novemb ro de 2011 e, finalmente, Arouca, entre os dias 9 e 11 de Nove mbro de 2012.

111 mas daquelas plantas já não podem ser mantidas pelos grupos que as moldaram e que, por isso, correm o risco de desaparecerem. ‘Patrimonializar ’, como escreve Daniel Fabre, « c’est mettre à part, opérer un classement, constater une mutation de fonction et d’usage, souligner la conscience d’une valeur qui n’est plus vécue dans la reproduc- tion de la société mais qui est décrétée dans la protection de traces, de témoins, des monuments » 347.

O abandono da agricultura; a desagregação ou reconfiguração das aldeias e lugares; o afastamento das populações rurais em relação à terra; favorecem este processo, uma vez que a desvinculação é, simultaneamente, causa e consequência da patrimonialização. A directora do Banco Português de Germoplasma Vegetal, numa comunicação feita no Dia do Agricultor em Elvas, em 2010, ilustra bem esta ideia ao constatar que se, durante gerações, os agricultores portugueses haviam sido os provedores de material genético, produzindo, melhorando, multiplicando e trocando as suas sementes, e preservando as variedades tradicionais "como garante do seu sistema produtivo", tudo havia mudado na década de 80 do século XX. Altura em que as mudanças nos sistemas produtivos, aliadas a um novo contexto socio-económico e às novas tendências de mercado, levaram ao abandono de muitas das variedades tradicionais, "surgindo aí a necessidade dessa função passar a ser assumida pelo Estado ".

E se nada nos é mais familiar que o património, no se ntido de transmissão de bens e saberes, tudo se torna muito mais complexo a partir do momento em que o interesse público passa a estar em primeiro plano (Lamy,1993).

Na sua acepção mais estrita, o património constrói-se no decurso de um processo em que o objecto – publica ou colectivamente protegido – se reconfigura, mudando de valor e de significado, e que, ao mesmo tempo, apela a outro comportamento por parte de quem o utiliza. Isto supõe um conjunto de medidas de cariz jurídico e administrativo, o que, como salienta Lamy, nos remete para "ce «pouvoir de protéger» qui fonde toute pratique patrimoniale"348.

347

Fabre, 1997:65. 348 La my, Y. (1993) :3.

112 Sabendo que, como salienta Gilberto Velho (2006349), a escolha e a definição de um património “implica necessariamente arbítrio e, em algum nível, exercício do poder”, e que a sua construção é feita de conflitos e negociações entre diversos actores, importa perceber as diversas perspectivas em jogo e, de entre elas, quais parecem configurar-se como as predominantes.

“Mesmo um lugar de aparência puramente material, como um depósito de arquivos, só é lugar de memória se a i maginação o investe de uma aura si mbólica. Mesmo u m lugar puramente funcional, como um manual de aula, um testamento [...], só entra na categoria se for objecto de um ritual. Mesmo um minuto de silêncio, que parece o exemplo extremo de uma significação simbólica, é ao mesmo te mpo o recorte material de uma unidade temporal e serve, periodicamente, para uma chamada concentrada da lembrança. Os três aspectos coexistem sempre”.350

Nas últimas décadas, as sementes, especialmente aquelas de variedades autóctones, na sua aparência puramente material, têm vindo a ser investidas de uma aura simbólica. Para além da sua dimensão estritamente material e funcional, a semente simboliza o recomeço de um ciclo, a recaptação de um sabor e de um tempo perdidos, ela serve para recordar e pode ser usada como objecto de ritual.

Para alguns ela tem, ou deveria ter, quase o estatuto de tesouro, como pretendeu demonstrar-se na exposição “Sementes. Valor Capital”, rea lizada no Museu do Design e da Moda (MUDE), em Lisboa, entre Dezembro 2010 e Março 2011, em que sementes de 500 espécies diferentes usadas na agricultura – como cereais, leguminosas, alho, alface, cenoura, entre outras351 – foram expostas dentro dos cofres do antigo Banco Nacional Ultramarino (na cave do edifício actualmente pertencente ao MUDE), na Rua Augusta. Segundo a curadora da exposição, tratava-se de substituir as riquezas particulares ali arrecadadas no passado recente por uma riqueza da Humanidade.

“Sabendo que a Caixa [Caixa Geral de Depósitos] iria sair, começámos a pensar como é que reabriríamos os cofres", conta Bárbara Coutinho, a directora do MUDE. "Com joalharia, moda, peças mais espectaculares de design? Pareceu -nos que este lugar exigia da nossa parte uma afirmação mais forte. O que é que hoje tem tanto valor como

349

p.246.

350 Nora , Pie rre 1993 (1984):21-22. 351

Escolhidas “por uma comissão científica constituída por elementos do Instituto Superior de Agronomia, o Banco Germoplasma Vegetal e a Associ ação Colher para Semear” [SIC-Notícias e m http://sicnoticias.sapo.pt/cultura/2010/12/16/ mude-abre-e x-cofres-do-bnu-com-e xposicao-de-sementes3].

113 o dinheiro? O que é que é tão importante que mereça ser guardado num cofre?”352

. A estranheza de ver exibidas na sala dos cofres do BNU, numa caixa- forte sofisticada, do lado de lá de uma porta grossíssima, «objectos» de uso corrente como as sementes – o que visaria chamar à atenção para o seu valor e para a necessidade da sua salvaguarda – depressa dá lugar a uma profunda inquietação: se as sementes que os agricultores seleccionaram, mantiveram, trocaram, durante séculos, são agora percebidas por alguns sectores da sociedade como riquezas que é preciso guardar numa caixa- forte, cabe per- guntar a quem pertencem (ou quem tem direito de aceder a elas), de que forma, para quê.

Será que, também relativamente a este quase-tesouro, o Estado se pode revelar o vilão353?

Na verdade, estas riquezas «de toda a humanidade» podem constituir verdadeiros teso u- ros para quem as produziu e manteve durante gerações, na condição de permanecerem ocultas354 sob uma aparência banal, protegidas da cobiça de uns poucos, do olhar regu- lador do Estado mas, sobretudo, dos biopiratas configurados em grandes multinacionais produtoras de sementes, designadamente de sementes transgénicas.

Como refere Rementeria Arruza (2007), a dinâmica mercantilista associada ao avanço da biotecnologia genética veio valorizar tanto o material genético vegetal como o conhecimento associado ao seu uso.

O processo da sua patrimonialização ocorre a partir de pontos de vista muito distintos, desiguais e frequentemente antagónicos, como são os interesses comerciais das multina- cionais de sementes e os das comunidades locais que pretendem defender as suas varie- dades da usurpação levada a cabo pelas primeiras sobretudo nos grandes centros de diversidade genética mundial.

352

Coelho, A. Prado, Público,15.12.2010. 353

Co mo nas histórias de tesouros escondidos pelos mouros contadas a Pitt-Rivers e m Gra za le ma (1989: 22). “Se sabe que ciertos miembros del pueblo han encontrado tesoros ocultos, pero nunca podrían admi- tir haberlo hecho porque, si el Estado lo supiera, se lo confiscaría. [...] Podría hallarse en estas historias un significado simbólico. El Estado hostil desea poner sus manos sobre la riqueza originaria que desca n- sa enterrada en el pueblo”.

354

Estará aqui, ta mbé m, de certo modo e m jogo, co mo escreve Pa is de Brito e m «Tesouros: o passado, o presente e o risco de desordem social» (1992:349), “algo que resultará [...] da natureza volúvel dos tesouros mas sobretudo das pressões dos contextos sociais de relação: os vizinhos da aldeia, furtivos e cobiçosos, e os poderes instituídos e a ameaça da sua intromissão ”?

114

As sementes que os agricultores produziram e lançaram à terra ao longo dos séculos, que têm vindo a ser objecto de inventariação e classificação, são consideradas pelas instituições públicas como "recursos genéticos" para a alimentação e agricultura e "suporte biológico" da segurança e soberania alimentares.

Estes recursos genéticos vegetais são agora vistos como "o material de base mais importante para agricultores e melhoradores", "repositório da adaptabilidade genética", "rede de segurança" face a alterações climáticas ou catástrofes.

Os direitos relativos à propriedade e ao acesso a este património (que é global), e as formas de o conservar, foram e são objecto de negociações e de debates transnacionais permanentes.

O património vegetal e, particularmente, aquele que serve de base à alimentação humana, envolve um conflito constante entre grupos com interesses distintos. Agricultores, empresas, estados, organizações internacionais, disputam o controlo sobre recursos essenciais à vida humana. Num processo em que os agricultores surgem como a parte mais frágil.

Até ao início da década de 1990, os recursos genéticos vegetais eram considerados património da humanidade e, como tal, de livre acesso sendo, a partir dessa altura, reco- nhecidos os direitos soberanos dos estados sobre os respectivos recursos naturais.

Na década de 90 assinala-se, por outro lado, o crescente interesse do sector privado nas áreas do “melhoramento de plantas” e na investigação agrária que, até ali, eram quase exclusivamente assegurados pelo sector público.

É também neste período que se verifica um alargamento do conceito de conservação, que consistia basicamente na preservação de germoplasma em colecções mantidas ex situ355, passando a contemplar métodos complementares, entre os quais se destaca a conservação in situ356, ou seja, no campo do agricultor.

355

«Por "conservación ex situ" se entiende la conservación de componentes de la diversidad biológica fuera de sus habitats naturales» [ONU (1992) Convenio sobre la Diversidad Biológica (Artº 2), p.3]. 356

«Por "conservación in situ" se entiende la conservación de los ecosistemas y los habitats naturales y el mantenimiento y recuperación de poblaciones viables de especies en sus entornos naturales y, en el caso

115 Em 1980, com base nas recomendações do Programa das Nações Unidas para o Dese n- volvimento (PNUD), da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agr i- cultura (FAO) e do Genebank Committee (do European Association for Research on Plant Breding – EUCARPIA), foi criado o European Cooperative Programme on Plant Genetic Resources (ECPGR). Um programa de colaboração, em contexto de coopera- ção entre instituições e países europeus que, alegadamente, visa facilitar a conservação ex situ e a promoção da utilização dos recursos fitogenéticos e cuja coordenação é feita através do Bioversity International [ex- IPGRI (International Plant Genetic Resources Institute)].

Ainda em 1983, foi adoptado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO)357, como documento de aplicação voluntária, o International Undertaking on Plant Genetic Resources (IU) e, na década de 90, são aprovados a Convenção sobre a Diversidade Biológica358 e o Tratado Internacional sobre os Recursos Fitogenéticos para a Alimentação e a Agricultura359, de carácter vinculativo360.

Cento e treze países subscreveram o International Undertaking on Plant Genetic Resources (IU) ou Compromisso Internacional sobre Recursos Fitogenéticos, um instrumento juridicamente não vinculativo que visava garantir a exploração, preservação e avaliação dos recursos fitogenéticos de interesse económico e social (especialmente para a agricultura) e a sua disponibilização para a obtenção de variedades vegetais e para fins científicos.

O International Undertaking on Plant Genetic Resources (IU) foi, entretanto, objecto de uma série de acertos, na perspectiva de alcançar um equilíbrio entre produtos de biotecnologia (como variedades comerciais), variedades produzidas pelos agricultores (farmer’s varieties) e recursos silvestres (wild material) e, ainda, entre os interesses de países desenvolvidos e em desenvolvimento, através dos direitos dos criadores, de las especies domesticadas y cultivadas, en los entornos en que hayan desarrollado sus propiedades específicas» [ONU (1992) Convenio sobre la Diversidad Biológica (Artº 2), p.3].

357

22 ª Sessão da Conferência da FAO, Resolução 8/83. 358

De que a União Eu ropeia é signatária. 359

Este tratado foi subscrito por Portugal a 6 de Junho de 2002 e ratificado a 7 de Novembro de 2005. 360

Os dois últimos servem, actualmente, de refe rência e orientação, na conservação e utilização sustent á- vel do património genético vegetal.

116 apelidados de inovadores formais e dos agricultores, classificados como inovadores informais.

A Resolução 4/89 veio estabelecer, por exemplo, que os direitos de obtentor vegetal, nos termos em que são definidos pela União Internacional para a Protecção das Obtenções Vegetais (UPOV)361, não eram incompatíveis com os direitos dos Agricultores362.

Os direitos soberanos dos países sobre os seus recursos genéticos viriam a ser contemplados, mais tarde, pela Resolução 3/91.

Em 1994, após a Convenção das Nações Unidas sobre a Diversidade Biológica363 – que tem por principais objectivos a conservação da diversidade biológica, a utilização sustentável dos recursos e a participação justa e equitativa dos benefícios resultantes do uso dos recursos genéticos – são iniciadas negociações com vista à revisão do International Undertaking on Plant Genetic Resources (IU) que culminariam com a adopção, pela conferência da FAO em Novembro de 2001, do Tratado Internacional sobre Recursos Genéticos para Alimentação e Agricultura que tem por objectivo geral “la conservación y la utilización sostenible de los recursos fitogenéticos para la alimentación y la agricultura [364] y la distribución justa y equitativa de los beneficios derivados de su utilización en armonía con el Convenio sobre la Diversidad Biológica”365.

Através deste Tratado, que entrou em vigor em 29 de Junho de 2004, depois de ter sido ratificado por 40 governos, e que Portugal aprovou366, as partes concordam em criar um sistema multilateral “eficaz, efectivo y transparente para facilitar el acceso a los recur-

361 Ta mbé m designada como Un ião Internacional para a Protecção de Novas Variedades de Plantas. 362 Definidos na Resolução 5/89. Os Dire itos do Agricultores seria m aplicados através de um fundo

internacional de recursos genéticos vegetais.

363 A Convenção, estabelecida durante a ECO-92 – a Conferência das Nações Unidas sobre Meio A mbien- te e Desenvolvimento (CNUMAD) rea lizada no Rio de Jane iro entre 5 e 14 de Junho de 1992, (“Cimeira da Terra”) – fo i subscrita por mais de 160 países. A Convenção sobre Diversidade Bio lógica (CDB) reg u- la o acesso a recursos genéticos, à tecnologia e a t ransferência de tecnologia, be m como o intercâ mbio de informações.

364

Ou seja, e nos termos do próprio Tratado, qualquer materia l genético de orige m vegetal de valor real ou potencial para a a limentação e a agricu ltura.

365

(2009) FA O, Tratado internacional sobre los recursos fitogenéticos para la alimentación y la agricultura, Parte 1, p.2.

366

O tratado, ap rovado por Portugal e m 2005, te m co mo entidade coordenadora nacional o Instituto Nacional dos Recursos Bio lógicos (INRB).

117 sos fitogenéticos para la alimentación y la agricultura, y para compartir los beneficios derivados de su uso de una manera justa y equitativa”367. Este Sistema Multilateral