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Dentre os estudos realizados durante a fase de concepção de um projeto arquitetônico, está a formulação da setorização de uma edificação. Tendo como referência o acesso principal, são delimitados fluxos dos quais derivam setores de acesso público, semipúblico e privado. Para o controle dessa circulação, em particular dos setores que possuem amplo fluxo de veículos e de pessoas, se recomenda a implantação de um abrigo com função de resguardo ao vigia, próximo ao acesso principal de um complexo (SAURIN; FORMOSO, 2006).

Definido por “pequeno abrigo onde se recolhem as sentinelas” (MICHAELIS, 2017) estes ambientes podem também ser igualmente identificados no mercado como portarias, cabines ou guarita de segurança. Em um programa de necessidades, a guarita é classificada como área de apoio e corresponde a um ambiente de trabalho com ocupação em períodos específicos (SAURIN; FORMOSO, 2006).

No Brasil, as guaritas em fibra de vidro são frequentemente utilizadas, devido ao curto prazo de aquisição, custo-benefício, peso e facilidade na implantação. Quanto à composição básica, essas guaritas são desenvolvidas em Plástico Reforçado em Fibra de Vidro (PRFV) e em resina pigmentada tipo gel coat19.

O PRFV é um compósito formulado basicamente por reforço, matriz polimérica e substância catalisadora. É um material maleável, que permite a execução industrial de inúmeras formas para o mercado. Como principais desvantagens, sua

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19 A resina pigmentada tipo gel coat é um material comumente utilizado na construção de peças, formando uma camada impermeabilizante com propriedades isolantes térmicas.

dificilmente degradável (KEMERICH et al., 2013).

Os materiais produzidos a partir do compósito PRFV apresentam os seguintes benefícios (MFG, 2018; SERCEL, 2018):

1. Leveza: material leve e propriedades semelhantes ao aço em até 30%; 2. Resistência: provém alta resistência em razão da massa e apresenta estabilidade de forma em condições de estresse físico, ambiental ou térmico;

3. Baixa degradabilidade: composto por vidro e plástico, a durabilidade do material é elevada, não passível de corrosão e resistente a ataques químicos;

4. Baixa condutividade térmica: O plástico reforçado em fibra de vidro apresenta condutividade térmica de 0,046 W/m².ºC, a uma temperatura de 27 ºC;

5. Isolamento elétrico: composto por vidro e plástico, materiais isolantes, por isso não há condutividade elétrica;

6. Flexibilidade: o compósito é altamente maleável e pode ser reciclado. Possibilita a fabricação de peças com diferentes, formatos, tamanhos e funções;

7. Acabamento: o composto pode apresentar inúmeras cores; o material é pigmentado no início do processo de fabricação. O resultado não apresenta arremates ou junções, o que diminui custos de acabamento.

Internamente, são revestidas por superfícies antiderrapantes, balcão interno de apoio em madeira e instalação elétrica, sendo um ponto elétrico e um ponto telefônico. A Figura 27 apresenta alguns modelos de guaritas de fibra de vidro disponíveis no mercado, que podem sofrer customização para se adequar a diversos usos.

(a) Módulo simples com cobertura padrão (b) Módulo duplo com cobertura padrão

(c) Módulo simples com cobertura padrão

(d) Cobertura opcional tipo domus (e) Cobertura opcional tipo shed

Figura 27 – Modelos de guaritas em PRFV disponíveis no mercado

Fonte: Adaptado de FBL (2017)

A dimensão varia de acordo com a solicitação do cliente, podendo ser do tipo simples (a) ou duplo (b), e podem incorporar opcionais tais como isolamento térmico, acústico e instalações sanitárias. A cobertura padrão (c) possui nervuras para reforçar a estrutura, as quais também possuem a função de proporcionar ventilação cruzada. Além disso, são disponibilizadas tipologias diferenciadas de cobertura, como domus (d) e shed (e), além da padronizada (FBL, 2017).

Não existe uma norma de regularização das condições de trabalho no interior de guaritas. Sendo assim, consideram-se como critérios de avaliação as recomendações gerais adotadas para ambientes de trabalho.

A Norma Regulamentadora número 24 – NR-24 (BRASIL, 1993) trata sobre as condições sanitárias dos locais de trabalho. Segundo a NR-24 (BRASIL, 1993), as condições mínimas de conforto no trabalho preveem o fornecimento regular de água potável, o provimento de instalações sanitárias no mesmo local ou próximos a essas, e um espaço com proteção às intempéries, com ventilação, iluminação, higiene e temperatura dentro dos padrões exigidos.

O conforto estabelecido pelas características psicofisiológicas é definido, por sua vez, pela Norma Regulamentadora número 17 – NR-17 (BRASIL, 2015) que estabelece parâmetros de adaptação às condições de trabalho por meio de segurança, conforto e desempenho eficiente. Conforme item 17.5.1 da Nr-17 (BRASIL, 2015), as tarefas que demandam “solicitação intelectual e atenção constantes” devem seguir as seguintes recomendações:

 Níveis de ruído são preestabelecidos na NBR 1015120 (ASSOCIAÇÃO...,1999) “Portaria, Recepção, Circulação” - Hotéis com 45 – 55 dB (A) e 40 – 50 NC21.

 Índice de temperatura efetiva (TE) entre 20 ºC-23 ºC;

 Velocidade do ar menor ou igual a 0,75 m/s;

 Umidade relativa do ar maior ou igual a 40%.

Outro parâmetro que possibilita a avaliação do conforto térmico por meio de estresse térmico é o cálculo do índice de bulbo úmido e temperatura de globo – IBUTG. Este índice foi criado por Yaglou e Minard em 1957 a partir de medição de campo de temperatura efetiva, derivado de duas quantidades: temperatura de bulbo _______________

20 Norma brasileira de Acústica - Avaliação do ruído em áreas habitadas, visando o conforto da comunidade – Procedimento, na qual estabelece condições para avaliação para legitimidade do ruído em edificações.

21 Valor referência determinado para tipologia de construção “Portaria, Recepção, Circulação”. Ao verificar a NBR 10151 (ASSOCIAÇÂO..., 1999), não são apresentados parâmetros específicos para ambiente interno de guaritas leves.

úmido e temperatura de globo (D’AMBROSIO ALFANO, et al. 2014), e, considerando- se a média ponderada de temperatura do ar, verificam-se os limites de exposição ao calor (AULICIEMS; SZOKOLAY, 1998).

A Norma Regulamentadora número 15 – NR-15 (BRASIL, 2014) estabelece diretrizes para atividades e operações insalubres. De acordo com o Anexo nº3 da NR- 15 (BRASIL, 2014), os limites de tolerância para exposição ao calor, a partir do índice de IBUTG, são definidos a partir do regime de trabalho intermitente (por hora). Para uma atividade considerada leve22 em período de trabalho contínuo, a referência desse índice é de até 30,0 ºC.

A partir desse embasamento teórico ao objeto de estudo em questão, o andamento da pesquisa seguiu com os processos metodológicos, bem como planejamento de execução da pesquisa em virtude das coletas de dados.

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22Segundo Norma Regulamentadora número 15 – NBR-15 (BRASIL, 2014), trabalho leve são considerados: sentado, com movimentos moderados de braços, troncos e pernas, e de pé, com movimentos moderados de braços.

Este capítulo apresenta os procedimentos metodológicos desta pesquisa. Na seção 3.1 descrevem-se a localização e as condições de implantação das guaritas. Estas guaritas (módulos controle – MC e módulo experimental – ME) são caracterizadas a seguir, na seção 3.2. Também são apresentadas as etapas de montagem, e a seleção dos componentes do protótipo do sistema de cobertura vegetada. O método de levantamento de dados é apresentado na seção 3.3, na qual são demonstrados critérios e cronograma de monitoramento, as configurações de coberturas verificadas, os equipamentos utilizados para medição, bem como os períodos a considerar para cada configuração analisada. Por fim, na seção 3.4 foram apontados os parâmetros utilizados para avaliação de desempenho térmico.

A pesquisa se desenvolveu a partir da fase exploratória, que consistiu na caracterização do problema, do objeto, dos pressupostos, das teorias e do percurso metodológico. Caracterizado o problema, buscou-se compreender o estado da arte em função do objeto pesquisado (GIL, 2010). A metodologia da pesquisa é de caráter de abordagem hipotético-dedutivo, em condição de intervenção quase experimental. Nesse tipo de pesquisa se observam e se coletam dados, de ocorrência espontânea, no próprio local em que se desenvolve o estudo. Assim, verifica-se o que há de comum entre as variáveis por meio de análises matemáticas (MARCONI; LAKATOS, 1996).

Assim sendo, a análise do desempenho térmico foi feita por meio da observação e da comparação de dados coletados no período de primavera de 2017 e verão 2018. A escolha desse período se deu para evitar ao máximo a ocorrência de precipitações. Avaliaram-se variáveis como temperatura do ar, temperaturas de superfície e umidade do ar. A análise de conforto térmico foi realizada a partir de parâmetros normativos.