• Nenhum resultado encontrado

Guia Lopes da Laguna: do Acampamento à Cidade

2. HISTÓRIA DA REGIÃO DE GUIA LOPES DA LAGUNA NO SUL DO MATO

2.2 Guia Lopes da Laguna: do Acampamento à Cidade

Antes mesmo das ações da Marcha para Oeste cujo início se deu em 1937, a Era Vargas já almejava o desenvolvimento no interior do Brasil. Assim, “[...] em 1933, o então 6º Batalhão de Engenharia se desloca para Nioaque” (LIMA; MATTOS, 2018, p. 109) a fim de prosseguir com as investiduras na construção da nova estrada interligando Aquidauana à Bela Vista.

Figura 2.Primeira ponte construída sobre o Rio Miranda pelo 6º Batalhão de Engenharia, entre 1934 e 1935.

Fonte: Acervo Histórico da CER-3 apud LIMA; MATOS, 2018.

Considerando que a maior parte dos militares e de suas famílias “[...] permanecia destacada nos acampamentos, montados na beira das estradas ou apoiados em fazendas” (LIMA; MATTOS, 2018, p. 114), eles se fixaram em 1937 na Fazenda Jardim do lado direito do Rio Miranda. Em 1939 receberam a denominação 4º Batalhão Rodoviário.

O IBGE/2017 relata que as terras da cidade de Guia Lopes da Laguna foram povoadas inicialmente por trabalhadores oriundos da construção da rodovia de Aquidauana a Porto Murtinho e a Bela Vista. No entanto, também cita que esses trabalhadores estariam a cargo da

CER-313 (Comissão de Estradas de Rodagem), na época subordinada ao Ministério da Guerra, a 1ª Cia, do 4º Batalhão de Sapadores.

A fixação do 6º Batalhão de Engenharia à margem direita do rio Miranda favoreceu o aprazamento dos primeiros moradores do acampamento, bem como o crescimento da população e a sua localidade estratégica que se “[...] caracterizava [como] um lugar habitado, com quase nenhuma autonomia política, jurídica” (DALMOLIN, 2015). Dalmolin relata que

Por ocasião da construção e manutenção da rodovia ligando Aquidauana a Porto Murtinho e a Bela Vista, a cargo da CER-3, do Ministério da Guerra, acampou-se à margem direita do rio Miranda, em terras da Fazenda Jardim, em princípios de 1937, a 1ª Companhia do 4º Batalhão de Sapadores, sob o comando do então Capitão Teodorico de Farias. (DALMOLIN, 2018)

Apesar de Dalmolin (2018) referir-se à CER-3 no ano de 1937, nesse período este grupo ainda era nominado 6º batalhão.

13

Dalmolin (2015), REVISTA EXECUTIVO FISCAL LTDA (1986) e alguns entrevistados se referem ao 6º Batalhão de Engenharia que se fixou na margem direita do rio Miranda como a Comissão de Estradas de Rodagem (CER-3), que oficialmente foi criada apenas em 1945, por meio do Decreto-lei nº 7.678 (LIMA; MATTOS, 2018, p. 110).

Figura 3.Mapa da Região Fronteiriça Brasil - Paraguai

Fonte: MATO GROSSO, 1942.

Essa falta de autonomia se justificava pelo fato de o local servir apenas como base para 6º Batalhão de Engenharia, citado pelo ex-diretor D2 (2018) e por Dalmolin (2015) como "trabalhadores da Comissão de Estradas de Rodagem (CER-3)".

Segundo entrevista de Bião Neto14 à Revista Executivo Fiscal Ltda15 (1986) no Acampamento nomeado Rio Miranda onde os militares viviam com suas famílias a primeira criança nasceu em 1938.

Eu servia ao Exército, nessa companhia, quando nasceu uma criança no acampamento. Foi a primeira, um motivo especial, portanto. [...] Então surgiu a necessidade de batizar a criança, porque não tínhamos igreja, padre; apenas três ranchos de taquara batida, cobertos com folhas de bacuri, uma palmeira nativa da região [...]. O Padre – continuou Bião Neto – só vinha até o povoado de Nioaque, distante 54 quilômetros daqui, de 30 em 30 dias, e isso quando não chovia. (REVISTA EXECUTIVO FISCAL Ltda, 1986, p. 6)

O então Capitão Teodorico de Farias apoiou a iniciativa para a criação do povoado e foi responsável em conseguir um topógrafo.

Com o topógrafo, o capitão foi fazendo contatos, juntou os fazendeiros da região. Entre eles estava na época, o único filho vivo do histórico Guia Lopes da Laguna, que aliás tinha o nome do pai (...) José Francisco Lopes, então, doou 30 hectares. Outros fazendeiros deram vacas, ajudaram a arrecadar dinheiro para fazer a igreja, e assim por diante” (REVISTA EXECUTIVO FISCAL Ltda, 1986, p. 6)

As terras doadas por José Francisco Lopes faziam parte da Fazenda Jardim e eram utilizadas pelo Acampamento da 1ª Cia do 4º Batalhão de Sapadores. No entanto, Dalmolin (2015) ressalta que, segundo documento de escritura de doação realizada por José Francisco Lopes (filho do guia Lopes16), foram 20 hectaresinclusos na doação. Essa doação se tornou o local para construção do novo Patrimônio, “[...] termo que se empregava para a fundação de um povoado, vila, cidade” (DALMOLIN, 2018).

14

Bião Neto nasceu em Guaranhuns, Pernambuco. Serviu o exército no IV Batalhão de Sapadores em Aquidauana e em 1935 foi transferido para a 1ª Companhia do Batalhão de Sapadores, sediada no então chamado Acampamento Rio Miranda, hoje Guia Lopes da Laguna (REVISTA EXECUTIVO FISCAL Ltda, 1986). Ele escreveu um diário relatando parte de suas memórias sobre o desenvolvimento do povoado e seus habitantes. Esse diário encontra-se desaparecido segundo a ex-aluna entrevistada que possui parentesco com Bião Neto.

15

Considerando que essa não é uma revista acadêmica foi utilizada apenas a entrevista com Bião Neto, que recebeu o mesmo tratamento que as fontes orais. A reportagem na íntegra consta nos anexos.

16José Francisco Lopes, o guia Lopes, “[...] velho pioneiro explorador da região” (TAUNAY, 1997, p. 56), serviu de guia de expedição às tropas durante a Guerra do Paraguai no Sul do Mato Grosso, especialmente no episódio da Retirada da Laguna.

Figura 4.Escritório do Acampamento da 1ª Companhia do 4º Batalhão de Sapadores, 1938

Fonte: Disponível em: <http://nossaterranossagentenossahistoria.blogspot.com/p/guia-lopes-da-laguna-80-anos- da.html>

O ex-diretor entrevistado D2 chegou à região em 1938 com sete anos de idade e, conforme relata, a localidade

[...] a princípio chamavam de Rio Miranda por causa da ponte do rio Miranda. Como já havia a cidade de Miranda, havia muita confusão de correspondência, tinha carga que era destinada a Rio Miranda (aqui) e a Miranda (lá17). Aí puseram o nome de Guia Lopes [...]. Esse José Lopes doou 30 hectares para a formação da cidade aqui, doou para os militares. (D2, 2018)

Em 1938 um grande movimento ocorreu contribuindo para a identidade e consolidação do Povoado de Guia Lopes. Em 12 de fevereiro, segundo Dalmolin18 (2018)

houve o denominado Ato Oficial com a presença do filho e homônimo do guia Lopes, Sr. José Francisco Lopes para registrar oficialmente a fundação do Patrimônio Guia Lopes (como a localidade fora chamado naquele momento) em terras nas quais anteriormente pertenciam ao mesmo.

17

O entrevistado se referiu à cidade de Miranda. 18

Serão citadas informações e utilizadas imagens do site de Dalmolin, disponível em: <http://nossaterranossagentenossahistoria.blogspot.com>. Como se trata de site memorialístico, não há documentos oficiais para efetiva comprovação de muitas das afirmações ali inseridas.

Segundo D2 (2018), ao doar 30 hectares de terras para a criação do povoado, José Francisco Lopes incentivou ainda mais a escolha do nome do local que viria se tornar a cidade de Guia Lopes da Laguna.

Figura 5.Reunião para a Fundação do Patrimônio Guia Lopes - 12 de fevereiro de 1938

Fonte: Disponível em: <http://nossaterranossagentenossahistoria.blogspot.com/p/guia-lopes-da-laguna-80-anos- da.html>

Em 19 de março de 1938, houve a solenidade Militar, Religiosa e Civil que veio coroar a fundação do povoado. Neste momento também houve a criação de uma escola. A localidade recebeu muitos visitantes, houve a primeira missa religiosa, a presença de autoridades advindas de Nioaque, a participação do único oficial que se encontrava no acampamento, o Tenente Afonso Meneses Dipp, bem como um almoço comemorativo. (DALMOLIN, 2018)

Figura 6.Primeira Missa do Povoado de Guia Lopes – 19 de março de 1938

Fonte: Disponível em: <http://nossaterranossagentenossahistoria.blogspot.com/p/guia-lopes-da-laguna-80-anos- da.html>

Figura 7.Churrasco comemorativo à fundação do Povoado de Guia Lopes – 19 de março de 1938

Fonte: Disponível em: <http://nossaterranossagentenossahistoria.blogspot.com/p/guia-lopes-da-laguna-80-anos- da.html>

Segundo o IBGE (2018), o distrito de Guia Lopes foi criado por Decreto-lei federal nº 9055, de 12 de março de 1946, mas foi mantida a sua subordinação à cidade de Nioaque. No entanto, o nome causou novamente dificuldades de identificação do lugar, pois havia em Minas Gerais uma cidade homônima e também uma Estação de Estrada Ferroviária Guia Lopes, nas proximidades de Aquidauana.

Começaram a chamar aqui de Guia Lopes, porém tinha uma estação de estrada de ferro de Aquidauana a Corumbá ou a Miranda que chamava-se Guia Lopes também. Então as cargas e correspondências extraviavam novamente. Posteriormente adotaram o nome de Guia Lopes da Laguna para caracterizar a retirada da Laguna descrita por Taunay. Acontece que tem outro guia Lopes lá em Minas Gerais de onde veio o nosso José Francisco Lopes, o guia Lopes. Então Guia Lopes foi bastante disputada, conturbada e confusa naquela época [...] Até que o nome em definitivo foi Guia Lopes da Laguna, daí parou de extraviar correspondência. (D2, 2018)

O fato de a cidade ser uma localidade cuja história está vinculada ao episódio da Retirada da Laguna, que se trata de “[...] uma história épica forjada pelo cotidiano de pessoas comuns e simples, de fundamental importância para a configuração geográfica da fronteira sul de Mato Grosso” (ALMEIDA, 2010, p.13), em 1948 foi estabelecido o Distrito de Paz de Guia Lopes da Laguna situado no município de Nioaque, a partir da lei nº 149, de 30 de setembro.

Figura 8.Lei nº 140 de 30/09/1948 - Criação do Distrito de Paz de Guia Lopes da Laguna

Fonte: Arquivo Público de Mato Grosso

Por meio da Lei Estadual nº 678, de 11 de dezembro de 1953 (MATO GROSSO, 1953) torna-se efetivamente município emancipando-se de Nioaque e tem em seu nome Guia Lopes da Laguna, como uma “[...] homenagem a um sertanista, desbravador, fazendeiro,

soldado e finalmente um expedicionário de Mato Grosso [...] dos idos tempos da Guerra da Tríplice Aliança e o Paraguai – Guerra do Paraguai, 1864 – 1870” (DALMOLIN, 2015) o então guia Lopes.

Figura 9.Lei Estadual nº 678 – Criação do Município de Guia Lopes da Laguna

De acordo com o histórico descrito, é possível compreender o processo histórico desde a instalação do Acampamento vinculado ao 6º Batalhão à margem direita do rio Miranda até a localidade ser efetivada como cidade em 1953.

Na sequência, apresenta-se linha do tempo contendo o processo descrito anteriormente.

Figura 10.Linha do Tempo - Da Guerra do Paraguai à criação do Município de Guia Lopes da Laguna

Fonte: Autoria própria.

Apesar de a cidade em si ter 1953 como ano de criação, os munícipes e autoridades locais comemoram a data de 19 de março de 1938 como o aniversário da cidade, pois 19 de março de 1938 foi um marco devido ao início do Povoado de Guia Lopes. Dessa forma, no ano de 2018 a cidade teve um grande evento cívico para comemorar 80 de existência.

3. ESCOLA VISCONDE DE TAUNAY: A PRIMEIRA ESCOLA DE ENSINO