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2. Enquadramento teórico

2.2. Fatores de Risco Vascular

2.2.7. Hábitos alimentares

O papel da alimentação e da nutrição é fundamental para a caracterização dos estilos de vida de uma população, visto que tem uma interferência major no controlo e prevenção de doenças, nomeadamente as DV (MS.DGS, 2012b). Deste modo, é necessário que sejam

definidas recomendações, políticas orientadoras e estratégias nacionais de promoção de uma alimentação saudável que tenham em conta as seguintes medidas (WHO, 2013c):

 Redução do consumo de sal/sódio adicionado aos alimentos;

 Diminuição da quantidade de ácidos gordos saturados nos alimentos e substituição por ácidos gordos insaturados;

 Substituição das gorduras trans por gorduras insaturadas;

 Redução do teor de açúcares livres e adicionados em alimentos e bebidas não alcoólicas

 Limitação da ingestão calórica em excesso, redução dos tamanhos das porções e da densidade energética dos alimentos;

 Aumento da disponibilidade, acessibilidade e consumo de frutas e hortícolas.

A nível global, os hábitos alimentares são avaliados pelo número de porções de frutas e hortícolas ingeridos diariamente. Apesar de uma alimentação saudável incluir outros tipos de alimentos, o consumo de hortofrutícolas é o indicador comummente utilizado para avaliar o padrão alimentar saudável na maioria dos países, sendo que em média 57% dos homens e 69% das mulheres reportam um consumo diário de frutas (OCDE, 2012).

As recomendações mundiais apontam para um consumo diário de 400g de frutas e hortícolas para a prevenção das DAC, DM e obesidade assim como para a prevenção de deficiências de micronutrientes, sendo que se estima que o baixo consumo de frutas e hortícolas seja responsável por 2,7 milhões das mortes mundiais (WHO, 2002; WHO/FAO, 2013)

Em Portugal, o Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável da DGS pretende envolver os diferentes setores da sociedade a fim de melhorar o consumo e a oferta alimentar assim como construir políticas públicas que contribuam para a redução das assimetrias no acesso a alimentos de boa qualidade nutricional. Este programa tem como finalidade melhorar o estado nutricional da população, incentivando a disponibilidade física e económica dos alimentos constituintes de um padrão alimentar saudável. Deste modo, pretende criar condições para um consumo alimentar adequado e a consequente melhoria do estado nutricional dos indivíduos (MS.DGS, 2012b).

Ao longo dos anos, diversas entidades nacionais têm expressado interesse em contribuir para melhorar as escolhas alimentares dos portugueses. Assim, em 2003, a Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto, o Ministério da Saúde e o Instituto do Consumidor desenvolveram “A nova Roda dos Alimentos”. Este projeto teve como intuito uma restruturação da primeira roda dos alimentos portuguesa elaborada em 1997, a fim de apresentar uma abordagem mais realista da alimentação dos portugueses à luz das diversas alterações da situação alimentar portuguesa. “A nova Roda dos Alimentos”

mantém o seu formato original que se associa ao formato de um prato, vulgarmente utilizado pelas famílias portuguesas, atribuindo igual importância a todos os grupos. A nova roda dos alimentos é constituída por 7 grupos com a seguinte distribuição:

 Cereais e derivados, tubérculos – 28%  Hortícolas – 23%

 Fruta – 20%  Lacticínios – 18%

 Carnes, pescado e ovos – 5%  Leguminosas – 4%

 Gorduras e óleos – 2%

Cada um dos grupos apresenta alimentos nutricionalmente semelhantes entre si, podendo ser substituídos uns pelos outros de modo a assegurar a variedade da alimentação tendo também em conta a sazonalidade. Esta distribuição reforça ainda a importância de garantir que todos os grupos estão presentes na alimentação diária e não são substituíveis entre si. A cada grupo corresponde um número de porções que devem ser ingeridos diariamente distribuídos por cinco ou mais refeições diárias. A água surge no centro da roda visto ser parte integrante de quase todos os alimentos e ser imprescindível à vida. É por isso recomendado um consumo de 1,5 a 3 L de água por dia. Assim, e de uma forma simples e direta, a roda transmite orientações para uma alimentação “completa, equilibrada e variada” garantido escolhas que levem à adoção de uma alimentação saudável (FCNAUP/IC/MS.DGS, 2003; Candeias et al, 2005; Rodrigues et al, 2006).

A avaliação do consumo alimentar apresenta grandes dificuldades metodológicas. Neste contexto, o único inquérito alimentar nacional foi realizado nos anos 80 e desde então apenas estudos isolados caracterizaram os hábitos alimentares dos portugueses (Poínhos et al, 2009). Contudo, ao longo das últimas décadas, os hábitos alimentares dos portugueses têm sofrido alterações. Assim, a análise do padrão alimentar nacional baseia- se nos dados da Balança Alimentar Portuguesa (BAP) desenvolvida pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), apesar de estes dados apresentarem sempre valores diferentes da realidade pois não têm em conta o desperdício. Os dados mais recentes da BAP, referentes ao quinquénio 2008-2012, revelaram um aumento da disponibilidade alimentar per capita em relação ao período 2003-2008 na ordem dos 2,1%, situando-se agora numa média de 3063 kcal/dia. Tendo em conta que o aporte calórico médio recomendado varia entre 2000 a 2500 kcal/dia o panorama atual permite satisfazer as necessidades energéticas de 1,6 a 2 indivíduos (FCNAUP/IC/MS.DGS, 2003; INE, 2014). Uma análise comparativa da disponibilidade diária per capita da BAP com o padrão alimentar recomendado pela Roda dos Alimentos evidencia um consumo excessivo de produtos alimentares dos grupos

“Carne, pescado e ovos” apesar da tendência acentuada para o seu decréscimo, e “Óleos e Gorduras”. É ainda de salientar o défice em “Hortícolas”, “Fruta” e “Leguminosas”. Este desequilíbrio continua a ser potencialmente pouco saudável, com uma predominância de proteínas de origem animal e excesso de gorduras (INE, 2014).

Assim, para se alcançar mudanças nos hábitos alimentares de uma sociedade é necessária uma participação governamental para que sejam tomadas medidas a nível nacional com impacto a nível local, tendo em conta uma abordagem multidisciplinar à promoção de estilos de vida saudáveis (WHO, 2005b).