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Figura 24 - Capa Harry Potter e a Câmara Secreta

Fonte: The Visual Rhetoric of the Harry Potter Books (2018)

Harry Potter e a Câmara Secreta é o segundo livro da série de J. K. Rowling.

Ele foi publicado, em Londres, no ano seguinte ao primeiro, mais precisamente em julho de 1998, pela mesma editora, Bloomsbury. Este é o livro do segundo ano de Harry Potter na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Com a popularidade que a estória estava ganhando, a editora decidiu buscar um ilustrador com mais

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experiência em capas de livros infantis, então contrataram o também britânico Cliff Wright39.

5.2.1 Análise estética

Logo no primeiro contato, podemos ter a percepção da existência de um padrão na identidade visual entre duas primeiras capas da série, mesmo com a mudança de ilustrador. As fontes utilizadas no título e a forma que foram diagramadas são equivalentes, apesar de haver uma mudança nas cores e na localidade do nome da autora, que foi inserido acima e não abaixo do título. Novamente percebe-se que o nome “HARRY POTTER” é o mais importante para a estória, mas, diferente da capa anterior, podemos notar uma relevância maior dada ao nome da autora, pois agora é visto antes do da estória, se seguirmos a direção de diagramação de informações e não de destaque.

Nota-se que o box contendo o nome da britânica fora utilizado com o mesmo formato que na capa anterior, onde, durante a análise, sugeriu-se sua aplicação com cantos retos. Além de reforçarmos o uso desta forma, visando a aparição do mesmo nas próximas capas, optamos por abordar apenas as escolhas de cores nas páginas a seguir. O mesmo ocorre com a fonte utilizada para aplicação do nome de J. K. Rowling, que só abordaremos novamente se houver distinção da primeira capa, o que não ocorre nesta. Percebemos que a escolha pelo vermelho, que pode lembrar um tom de laranja mais escuro, no box, é dada por estar presente na segunda parte do título: “and the Chamber of Secrets”. Apesar de entender a escolha pela ligação entre as duas informações, o que fora sugerido na primeira análise, mas com a cor de “HARRY POTTER”, neste momento acredita-se que não foi a melhor escolha.

O box utilizar esta tonalidade não é o grande problema, mas percebemos que a leitura do que poderíamos chamar de texto de apoio ficou prejudicada pela escolha do laranja sobre o roxo do fundo. Pelos dois grandes fatores na aplicação de um texto em cima de um determinado fundo ser a legibilidade e visibilidade, como citado anteriormente com base em Farina, Perez e Bastos (2011), é importante ter um contraste, o que não aconteceu neste caso.

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É comum o uso das cores roxo e verde como complementares, justamente por existir uma harmonia entre elas, além de lembrarem o místico e a magia, o que é uma ótima escolha se pensarmos no tema do livro, mas o laranja prejudicou muito. Acreditamos que a frase sendo escrita em branco teria uma leitura melhor, sendo que ainda assim estaria dentro da paleta de cor presente neste layout. Uma grande distinção entre as duas primeiras capas que observamos é que, olhando para o todo, a anterior tem uma unificação maior, enquanto esta, apesar das cores utilizadas serem complementares, possui um grande contraste entre o fundo escuro do título, a ilustração clara e a barra preta com a crítica jornalística.

Podemos perceber a existência das barras de separação entre título, imagem e frase, que também estavam presentes na capa anterior. Nesta utiliza-se a mesma cor do box com o nome da autora e, novamente, vemos que há interação da ilustração com o fundo. A maior parte da imagem é ocupada por um carro inglês, o que percebemos pelo local da direção, azul claro, que mostra, junto com o verde de fundo e o roxo presente atrás do título, a opção por cores frias para este livro. É importante destacar que, por mais que, segundo o que Williams (2008) nos apresentou no sub capítulo 2.3 deste trabalho, as cores quentes tem preferência no uso, por chamarem mais atenção. Ainda assim preferiu-se fazer uso de tonalidades frias neste volume.

A ilustração escolhida, por ter uso de cores claras, deixa o layout menos carregado, pois o roxo designado para o fundo do título acaba sendo uma cor muito escura. Acreditamos que haveria uma harmonia maior, levando em conta que se trata de uma capa de livro infantil, se fosse utilizado menos preto na composição do roxo, deixando-o com uma tonalidade mais clara.

É perceptível que foi dada a escolha pelo uso de uma ilustração com traçado infantil, assim como a anterior, mas as duas não seguem exatamente o mesmo traço, o que pode ser explicado pela mudança de ilustrador. Podemos ver que nesta capa também há a presença de um menino, o qual acredita-se ser Harry Potter, pois vemos novamente a cicatriz bem demarcada - agora vermelha -, além de um segundo menino, o qual demonstra possuir relevância para a estória, por estar presente na capa e ser quem está dirigindo o carro, sem esquecermos da presença de uma coruja branca dentro de uma gaiola. O laranja do cabelo deste segundo menino, que aparece também na cabeça da coruja, assim como o presente no box, barras e subtítulo, tem baixa saturação, ou seja, apesar de serem cores quentes,

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possuem pouco brilho. Isso pode ser explicado pelo uso da paleta de cores frias nesta capa, porque assim existe um contraste, mas não destoa do restante. O mesmo ocorre com o vermelho escolhido para a blusa do menino da direita.

Por ser o segundo livro da série, e apesar do grande sucesso que o primeiro teve em pouco tempo, acredita-se que foi dada a opção de incluir novamente uma crítica literária no final da capa. Anteriormente, sugerimos que ela fosse utilizada como um selo e continuamos defendendo essa forma como a melhor opção - não apenas para a composição do layout, mas acredita-se que no meio publicitário a existência de um splash na capa auxilia em chamar a atenção do consumidor. Além disso, e agora falando especificamente sobre o layout, sugerimos que as barras de separação também sejam excluídas. Deste modo, seria possível aumentar a imagem até o final, e o problema com o roxo citado anteriormente seria resolvido com facilidade, dando continuação do céu até o fim da parte superior da imagem.

Dependendo da opção de seguir o que sugerimos, seria necessário analisar novamente as cores do título. Acredita-se que o verde poderia continuar, pois ainda haveria contraste suficiente para sua leitura e uma ligação com o campo presente na imagem, mas a troca de cor sugerida na continuação do nome do livro talvez não fosse necessária. Caso o contraste com o fundo e o vermelho do subtítulo fosse pouco existente, como a capa atual, poder-se-ia testar o uso do branco, como dito antes, ou uma tonalidade de azul mais escuro que o céu de fundo, harmonizando todas as informações presentes. O nome da autora poderia seguir a mesma cor presente na frase abaixo de “HARRY POTTER” para o box de fundo ou ser aplicado sem ele. Vale ressaltar que, novamente, não esteve presente o uso do nome da editora, o qual acreditamos que deva sempre ser utilizado na capa de um livro e, neste caso, opta-se pelo mesmo uso sugerido na primeira análise: centralizado, no final da capa, podendo usar um box no fundo ou não, de acordo com o que fora escolhido para aplicação do nome de J. K. Rowling.

5.2.2 Análise semiótica

As cores laranja, preto, verde e roxo são as mais escolhidas na criação de um

layout para o Halloween, por acreditar-se que tenham ligação com a magia.

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para suas representações, como por exemplo Presto (A Caverna do Dragão)40, Madame Min (A Espada era a Lei), Malévola (A Bela Adormecida), Úrsula (A Pequena Sereia)41, Winifred Sanderson (Abracadabra)42, entre outras histórias que fazem parte deste universo. É possível que a escolha pela combinação destas tonalidades - assim como acreditamos que, o vermelho de amarelo da primeira capa, tenha sido para chamar a atenção e ter destaque -, seja uma espécie de

teaser, muito usado em campanhas publicitárias, dada ao leitor, por tratar-se de uma

estória que envolve magia.

Como na capa anterior, vemos que há interação da ilustração com o fundo do título. O carro que ocupa a maior parte da imagem é um desenho do modelo Ford Anglia, que foi produzido no Reino Unido entre 1939 e 1967. Na estória, ele pertence ao Sr. Weasley, pai do menino que está dirigindo, Ronald Weasley - melhor amigo de Harry Potter -, que tem adoração pelo mundo Trouxa, como chamam aqueles que não são bruxos. Como a estória se passa entre 1991 e 1998, sendo a desta capa em 1992, acredita-se que foi dada a escolha por este modelo por ser um carro comum na época, mas que já possuía um valor mais baixo, ou seja, acessível para a família comprar, pois eles eram de classe baixa. Heller (2013) disse que a cor mais comum em automóveis é o azul e, por querer passar despercebidos, podemos entender o motivo da escolha de cor.

Sem sabermos da estória, sem sabermos o porquê deste carro azul, analisando apenas através da semiótica, o carro estar voando é mais uma forma de demonstrar o uso de magia, do sobrenatural. Poderíamos entender que as formas na coloração branca acinzentada ao redor do carro seriam fumaça de uma batida, e por isso ele estaria voando, ou mesmo por ser um carro antigo, estar soltando essas fumaças por estar com algum problema. Se juntarmos isso com a expressão feliz no rosto dos meninos, vemos que não é a melhor explicação, pois se estivesse acontecendo algo negativo suas expressões seriam de pavor e desespero, o que não é o caso. A partir disso, confirma-se a ideia de que o carro está voando entre as nuvens do céu. Pela direção que ele está apontando, para fora do livro, mas ao mesmo tempo em direção da abertura para poder ler as páginas, podemos supor que esta estória também envolve uma viagem. A cor azul transmite segurança e,

40 Um dos personagens mais jovens do desenho animado “A Caverna do Dragão” é um mago

iniciante (REZENDE, 2010).

41 Madame Min, Malévola e Úrsula são vilãs da Disney (WIKI PRINCESAS).

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juntando com o rosto dos meninos, podemos imaginar que será algo tranquilo, uma viagem calma, que virá pela frente. Mas se focarmos nossa atenção para o rosto da coruja, podemos questionar esta tranquilidade.

Ela aparenta estar nervosa, com os olhos arregalados e as asas abertas, enclausurada dentro da gaiola e querendo sair. A pigmentação branca em uma ave vai sempre nos remeter a pomba branca, que simboliza paz. Ao unirmos isto com a sabedoria, que é a principal significação da coruja, podemos imaginar que ela representa a ingenuidade dos meninos, a inocência deles, porque apesar de ser inteligente a coruja está presa, o que pode significar a presença do conhecimento, mas, de certa forma, a escolha por não o usar. Uma forma de explicação seria dizer que os garotos sabem que não deveriam fazer algo, mas ignoram e fazem igual, ou seja, eles possuem o conhecimento, mas o trancam.

Apesar de Harry Potter ser o principal personagem da estória, podemos perceber um certo protagonismo para o segundo menino, Rony, já que é ele que está dirigindo o carro, não Harry. Aí podemos perceber que, apesar dos livros se chamarem “Harry Potter and” alguma coisa, há outros personagens que possuem determinada importância durante este conto. Abaixo do carro vemos a presença de um campo verde. Podemos entender que esta situação acontece longe da cidade, em algum local mais afastado. Bem no canto inferior direito do layout, entre a frente do carro e a barra que separa a citação, é possível perceber a existência de um trem vermelho, que está demarcado na imagem abaixo, no modelo maria-fumaça, que podemos entender como o que está presente na primeira capa. Se pensarmos que o livro se trata dos anos escolares do garoto e tendo aparecido novamente o mesmo trem, podemos supor que ele seria o meio de transporte utilizado para chegar até escola.

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Figura 25 - Destaque da capa de Harry Potter e a Câmara Secreta

Fonte: adaptado pela autora com base em The Visual Rhetoric of the Harry Potter Books (2018)

Um detalhe presente no carro é que podemos ver apenas a letra “H” da placa, como vemos no canto direito da Figura 25. Esta letra poderia significar que pertence ao Harry, pois é comum que, quando alguém manda fazer uma placa específica, utiliza as iniciais do nome. Poderia significar que é da escola, que também tem esta como inicial, assim como pode simplesmente ser uma placa qualquer. É claro que esta última opção não é acreditável, pois se está presente na capa do livro, deve ter um significado. Além disso, podemos perceber que é uma letra importante na estória: o nome do protagonista leva como primeira, o nome da escola também, além de, no decorrer da leitura da série, vemos suas aparições em mais alguns momentos, como as Horcruxes, que serão explicadas adiante.

O título completo desta edição é “Harry Potter and the Chamber of Secrets”, o que nos leva a pensar o que seria a tal “câmara secreta”. A palavra “câmara” tem um peso muito grande, por lembrar das câmaras de gás nazistas, que Adolf Hitler e seus seguidores utilizaram para matar inúmeros prisioneiros durante a Segunda Guerra Mundial. A partir disso, imaginamos que seria um lugar obscuro, desconhecido, que de alguma forma fora descoberto pelo menino Potter e seu amigo. Olhando a capa em um todo, podemos imaginar que os garotos estariam fugindo do trem que leva para escola e indo de encontro à câmara secreta, o que justificaria a expressão de pavor da coruja, por saber que algo negativo estaria por acontecer. Pela imagem clara e expressão sorridente de Harry e Rony, também poderíamos pensar que este local secreto é apenas isso, um local secreto que fora descoberto e não algo ruim. Durante a leitura da estória, percebe-se que na verdade está mais ligada a primeira solução aqui descrita.

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