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Figura 29 - Capa Harry Potter e a Ordem da Fênix

Fonte: The Visual Rhetoric of the Harry Potter Books (2018)

Inicialmente, Greenfield estava encarregado de ser o criador da capa do quinto volume da série de J. K. Rowling, mas devido a um problema familiar, teve que abandonar o projeto. O ilustrador britânico Jason Cockcroft45 ficou então responsável por desenhar a capa de Harry Potter and the Order of the Phoenix, lançado também em Londres, em junho de 2003, pela mesma editora dos volumes anteriores, Bloomsbury.

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Apesar de a ideia da autora ser a de lançar os sete livros em sequência, sendo um livro por ano até a graduação de Harry Potter, com o grande sucesso que a saga estava tendo e por ter se envolvido com os roteiros, gravações e design dos sets de filmagem, além dos eventos de lançamento e entrevistas, Rowling precisou adiar a publicação dos últimos três volumes46, deixando de lado o plano inicial, mas sempre defendendo que seriam sete.

5.5.1 Análise estética

A primeira grande diferença que temos entre as capas anteriores e esta é a ausência do menino Harry Potter que, até o momento, sempre esteve representado nas ilustrações. Além disso, vemos que o que mais chama a atenção na cena é o animal voando e não o título do livro, como nas outras vezes. Apesar de termos as mesmas cores nos dois, a forma que foram distribuídas no animal, trazendo efeito de luz e sombra, como vimos no dragão anteriormente, mas com muito mais destaque, mostra que o mais importante nesta capa é ele. No geral, temos os mesmos componentes das antecedentes, tendo novamente a presença do logo da editora.

O título foi distribuído da mesma forma: “HARRY POTTER” em caixa alta, dividido em duas linhas e “and the Order of the Phoenix” em caixa baixa, com outra fonte e menor, na parte inferior, trazendo a ideia de subtítulo. As cores escolhidas nesta paleta são as mais próximas da primeira, onde tínhamos o vermelho como predominante. Aqui temos o amarelo, que também é uma tonalidade quente e que, junto ao vermelho e laranja, torna esta a capa mais chamativa dentre os cinco primeiros volumes. Considerando que a própria capa é o display do produto e, de acordo com o que fora dito por Yampbell (2005), no sub capítulo 2.5 deste trabalho, a necessidade de instigar o leitor, por estar disposta ao lado de diversos outros produtos do mesmo meio, consideramos que este volume obteve o maior destaque, até o momento. Apesar de vermos tonalidades frias na ilustração, como lilás e azul, sendo que o azul também aparece no subtítulo e barras de separação, não há como negar que, se fossemos dividir entre capas quentes e frias, esta estaria em primeiro lugar no primeiro grupo.

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Mais uma vez percebemos a interação com a ilustração e o fundo do título e, por sua suavidade, pela primeira vez, o uso das barras de separação entre os dois, pareceu pertinente. Ainda acreditamos que é possível excluí-las e fazer o mesmo que sugerimos nas análises anteriores: seguir com a ilustração do início ao final do

layout, mas se o caso fosse de continuar assim, não vemos como algo negativo. Por

ter o mesmo tom de amarelo do fundo do título, e tanto o logo da editora quanto o box com o nome da autora o mesmo vermelho presente na fonte dele, acreditamos que houve uma harmonia maior, a qual implica em não ser necessariamente um problema o uso dessas barras. Uma outra opção seria de tirar essa interação, fazendo com que a asa ficasse por baixo do cabeçalho, como foi percebido na terceira análise. Também vemos que o box com o nome da autora aumentou se comparado com as capas anteriores, e que a fonte aplicada em branco deu um destaque maior ao nome, o que acreditamos ter sido a melhor escolha dentre as tonalidades presentes no layout.

Na ilustração, além da fênix, que é o animal ali representado, podemos ver um fundo de fogo, fumaça e céu. A transição do vermelho do fogo para o azul do céu poderia ser muito agressiva ao olho, o que justifica o uso do lilás entre eles. Como a mistura das duas primeiras pigmentações resultam na terceira, o efeito acaba sendo melhor e menos traumático ao público, fazendo com que o lilás pareça a fumaça saindo do fogo e dissipando-se no céu, o que traz harmonia à cena. Se compararmos os traços dos britânicos Greenfield e Cockcroft, podemos ver que há uma semelhança maior do que as ilustrações dos primeiros três exemplares. Também pode parecer que esta ilustração tenha mais suavidade do que anterior, em função das cores utilizadas e da leveza como a fênix fora representada.

Ainda assim, vale ressaltar que acreditamos ser um erro não termos a presença de Harry Potter na capa, pois cremos que isto auxilia os leitores a assimilarem o nome do livro ao personagem. Além disso, com a presença dele, acredita-se que haveria uma identidade visual ainda maior, pois por sua ausência, mesmo seguindo um padrão de informações e composição, pode parecer um equívoco na hora da criação ou, até mesmo, um esquecimento do menino, podendo dificultar a ligação deste aos outros volumes.

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Com o poder de morrer incendiada e renascer de suas próprias cinzas, a fênix é uma ave da mitologia grega que é considerada símbolo da morte e do renascimento. Além disso, sabe-se que possuía uma grande força, sendo capaz de carregar cargas pesadas, e também contava com poder curativo em suas lágrimas. Temos como significado para o fogo, tanto para os ocidentais como orientais, a renovação. Assim como a água, ele é usado para purificação, mas com um grau mais profundo, pois a simboliza através da compreensão até a sua forma mais espiritual, pela luz e pela verdade. Ele também pode ser ligado ao fogo do inferno, trazendo um simbolismo negativo ao seu uso, o que pode significar um alerta de perigo.

Com essa explicação, é possível tentar entender o motivo de o pássaro ser o protagonista deste exemplar e de o fogo estar tão fortemente representado. Acreditamos que a forma que a fênix foi desenhada seria uma mistura da sua força e seu poder, por ela parecer uma ave adulta, com o momento de seu renascimento, pois mesmo que a presença do fogo sugira que ela esteja em sua transformação, não a vemos como filhote. O fogo, além de mostrar a forma que a ave tem de fazer a transição entre morte e vida, pode estar representando perigo, mesmo que todo o restante do layout nos possibilite a crença de que coisas positivas acontecem neste livro. Por ser uma aventura, por conhecermos a história presente nos outros volumes e a obscuridade nas capas anteriores, é possível termos o entendimento de que este fogo também signifique algo negativo, principalmente por estar com as chamas representadas de forma tão ardente.

É interessante percebermos que, com exceção da primeira, todas as ilustrações, até o momento, possuem algum objeto ou animal voando, que, pelo que já falamos, remete a magia. Desta vez vemos que a ave está saindo do fogo, do chão, e indo em direção ao topo do layout, ao céu. Isso pode significar que ela estaria saindo de algo ruim e indo para um lugar tranquilo, em direção a algo bom. O bico entreaberto parece um sorriso, como se esta transição a deixasse feliz, trouxesse uma sensação de liberdade, o que pode ser notado pelas asas abertas e tronco e cabeça impulsionados para cima, auxiliando a subida e a deixando leve. Ao redor da ave podemos perceber a existência de um brilho esbranquiçado, que é capaz de nos trazer a ideia de luz, como se a fênix estivesse iluminada, seja pela liberdade atingida ou por conhecimento obtido.

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Uma curiosidade é que nesta ilustração não temos a presença do menino de óculos redondos, ao mesmo tempo que nós temos o box com o nome da autora maior que nas capas antecessoras. Isso nos leva a pensar se não houve uma troca de personagem neste momento da saga, onde com o aumento de sua popularidade, com as pessoas conhecendo a autora pelo nome, diferente do que vimos lá no início, sabendo quem ela é e a dando créditos por isso, não foi escolhido dar um destaque maior a ela e deixar Harry Potter apenas no título. Há o entendimento de que os consumidores, a esta altura, saberiam que se trata do livro do menino da cicatriz, mesmo sem sua representação na capa.

Tendo isso como base e olhando o todo da imagem, é possível entendermos que, neste livro, Harry irá passar por algo que vai mudá-lo. Possivelmente enfrentará algum perigo, mas ele irá conseguir seguir adiante, se levarmos em conta a ideia da fênix saindo do fogo. Essa situação pode resultar em uma evolução espiritual ou que ele irá adquirir conhecimento de algo que até então não sabia e, que isso, fará com que o menino veja algo novo ou diferente.

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