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Herbicidas Naturais com Potencial para Uso em Agricultura Orgânica

No documento Controle de Plantas Daninhas (páginas 83-85)

Michael Giepen, Francisco Skora Neto, Ulrich Köpke

Introdução

A agricultura convencional depende da aplicação de agroquímicos para proteger as culturas dos insetos-praga, microrganismos patogênicos e plantas daninhas. As estratégias de proteção das culturas em Agricultura Orgânica (AO) são mais diversificadas, mas a pulverização também é prática comum. Por exemplo, óleo de neem, extraído de sementes da árvore de Neem (Azadirachta indica), piretro extraído de plantas de Chrysanthemum spp. e formulações contendo esporos e/ou proteínas de Bacillus thuringiensis são certificados para uso como inseticidas naturais em AO. Para doenças fúngicas, a AO faz uso de vários ingredientes ativos: em videiras, enxofre molhável é usado contra oídio (Erysiphe necator) e cesa ((CuSO , Ca(OH) ) tem uma longa 4 2

história de aplicação para controle de míldio (Plasmopara viticola); cobre é amplamente usado para o controle de requeima (Phytophtora infestans) na batata. Somente alguns poucos casos de pulverização para o controle de plantas daninhas são conhecidos, tal como o uso de extratos de pinho certificados na Oceania (James et al., 2002).

Na Europa, um dos principais argumentos contra o uso de agentes com propriedades herbicídicas em agricultura orgânica é que não há necessidade imperativa para uso de pulverizações. Em geral, medidas suficientemente eficientes de controle de plantas daninhas estão disponíveis para os praticantes. Rotação de culturas diversificadas com pastagens perenes em combinação com controle mecânico, na maioria dos casos, resulta em controle satisfatório das plantas daninhas. Consequentemente, pelo menos na Europa, praticantes e certificadores não veem necessidade para a certificação de produtos adicionais de pulverização para controle de plantas daninhas. Alguns praticantes são até mesmo contrários aos herbicidas naturais, temendo que o uso de agentes naturais como herbicidas tornaria a AO mais “convencional”, perdendo um pouco da sua identidade.

Desenvolvimento e registro de produtos é um processo bastante oneroso que somente médias e grandes empresas conseguem suportar. Certamente, a falta de demanda tem mantido as grandes companhias

agroindustriais sem investir no desenvolvimento de produtos para agricultura orgânica. Mas também praticantes de agricultura orgânica dão valor em ser independentes de companhias químicas e se afastarão se eles tiverem que comprar herbicidas naturais de companhias agroquímicas multinacionais. Parece improvável que, em curto prazo, haverá desenvolvimento e registro de um herbicida com um ingrediente ativo natural e sistêmico para agricultura orgânica, pelo menos na Europa.

Contudo, fora da Europa, um forte mercado e bom número de produtores em agricultura orgânica estão presentes nos Estados Unidos da América, na Austrália e Nova Zelândia. Nesses lugares, vários herbicidas têm sido registrados para uso em agricultura orgânica. Mas o uso desses produtos é limitado a áreas urbanas (normalmente jardins ou pequenos pomares), e não há evidência do uso em sistemas agrícolas comerciais. Isto é devido ao custo proibitivo e à baixa eficácia, como será descrito neste capítulo.

O argumento do “não necessário” pode ser verdadeiro para o clima temperado da Europa, onde o plantio direto é raramente usado e o método mecânico de controle de plantas daninhas pode ser aplicado com sucesso. Mas em sistemas agrícolas em regiões tropicais, como América do Sul, com chuvas torrenciais e topografia acidentada, a intensiva movimentação do solo e o controle mecânico de ervas podem tornar a agricultura insustentável por causa dos devastadores problemas de erosão. Nestas regiões, a agricultura de conservação, com uso do plantio direto entre outras técnicas, passa a ser indispensável para sistemas de produção sustentáveis.

Para o controle de plantas daninhas em plantio direto na AO o controle manual é o único método mecânico aplicável após a emergência das culturas, mas o custo é demasiadamente elevado. Portanto, a necessidade de desenvolvimento e registro de herbicidas naturais para agricultura orgânica é muito importante para países tropicais como o Brasil. De fato, o interesse por “herbicidas alternativos” no Brasil é bastante grande. Plantio direto em agricultura orgânica, no momento, não é realizado em escala significativa principalmente por causa da dificuldade no controle de plantas daninhas. Se adequados produtos naturais para controle de plantas daninhas em pós- emergência estivessem disponíveis, o sistema plantio direto poderia ser aplicado com sucesso em AO.

Este capítulo avalia o potencial de herbicidas naturais para o controle de plantas daninhas. Comparados com herbicidas convencionais, os herbicidas naturais apresentados são de menor eficácia e maior custo. No

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momento, é improvável que produtos testados sejam competitivos com produtos convencionais. Os herbicidas naturais descritos neste capítulo não são seletivos e a aplicação pode, portanto, ser realizada somente antes da emergência das culturas ou em pós-emergência, com aplicação em faixas com uma proteção para não atingir as plantas das culturas.

O efeito herbicida pré-emergente não é considerado neste trabalho. Por exemplo, foi demonstrado que α-pinene emitido de raízes de algumas espécies arbóreas afeta negativamente o crescimento inicial de raízes (Singh et al., 2006), mas ainda estes resultados são considerados irrelevantes para terpenos aplicados na superfície do solo. Nenhum efeito de inibição na emergência de plantas daninhas foi observado em nossos ensaios, mesmo em solo desnudo preparado com grade. Aplicação em solo coberto com palha faz qualquer atividade pré-emergente ainda menos provável.

Herbicidas microbianos – formulações contendo patógenos de plantas daninhas – são considerados de baixa relevância prática em culturas anuais e também não fazem parte deste capítulo. Esta contribuição trata de uma visão geral de diferentes substâncias, seguida por uma seleção de resultados e conclusões de ensaios realizados em 2012 e 2013 na estação experimental do Iapar em Ponta Grossa e Londrina, Paraná. Implicações do potencial uso de herbicidas naturais na agricultura são discutidas. Ao final do capítulo, são apresentadas algumas diretrizes para futuras pesquisas.

No documento Controle de Plantas Daninhas (páginas 83-85)