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Herland e The Cleft : a revisão de ideia de humano

Em qualquer dicionário, a palavra Antropogenese refere-se a como surgiu e evoluiu a

humanidade. Muitas teorias foram propostas para explicar a origem, nomeadamente a nível científico, religioso e mitológico.

Inicialmente o Homem tentou explicar a sua origem com os mitos (narrativas simbólicas e tradicionais referentes a uma cultura ou a um povo). Na mitologia Grega, por exemplo, Epimeteu (um titã) foi designado para criar o Homem, mas usou o barro para esse fim. Criou o Homem imperfeito e inanimado. De seguida, o seu irmão Prometeu, tendo compaixão dos homens, roubou o fogo de Vulcano (Deus do fogo) e ofereceu-o aos homens para assim lhes dar vida. Posteriormente Zeus puniu Prometeu pelo roubo e acorrentou-o no Cáucaso, onde uma águia iria todos os dias picar-lhe o fígado.

Em termos religiosos, a primeira ideia de humano que nos é passada, por parte de famílias sobretudo católicas, é de que surgimos com Adão e Eva. Segundo essa teoria, a mulher terá sido feita da costela de Adão e não de Deus, que coloca a mulher, num patamar abaixo do homem. Mas, na passagem do século XIX para o século XX, alguns movimentos surgiram no seio da Igreja Católica e na própria Ciência que viriam a mudar para sempre a perspectiva patriarcal da sociedade.

No seu livro Scientific Creationism, Henry Morris apresenta-se como defensor do movimento creacionista, tentando demonstrar a veracidade da criação, segundo a Bíblia mas acrescentando alguma novidade: o facto da ciência ser usada para explicar e apoiar a criação. Aqui ele explica a verdade objectiva da Bíblia como sendo a palavra de Deus e Jesus como nosso salvador:

Christianity, on the other hand, is based on objective facts, not subjective pressures. Its truth or falsity stands on the validity of the great factors of creation., fall, redemption and resurrection, the historical records of which are subject to examination by the ordinary criteria of objective investigation.

 

Thus, Christianity is the one and only religion which offers even the possibility of objective certainty concerning the question of its validity. (Morris, 1974: 11)

Segundo Morris, esta verdade seria também científica e baseada em métodos científicos. Passagens da Bíblia como da criação do mundo, da queda de Adão e da ressurreição de Cristo tinham de ser considerados factos. A ideia de que os cristãos têm de aceitar a passagem da criação do mundo como uma verdade metafórica tem de ser banida. Morris afirma que estas passagens têm de ser acreditadas tal e qual como são, ou seja, literalmente, como sendo a palavra de Deus. Tomando as palavras de Morris, ele admite que o universo foi criado em seis dias e que o homem e a mulher foram criados juntos ao sexto dia (Genesis,1: 1-2:4ª), o que contrasta com o facto da mulher ter sido criada da costela de Adão (Genesis 2:4b- 2:24). Sobre isto, Morris comenta que pode ter havido um mal entendido, pois a mulher e o homem desempenham papéis iguais e fundamentais na sociedade humana. Este modelo de interpretação literal levou Morris a construir uma base para a criação que pode ser comprovada cientificamente. Este modelo é claramente oposto ao modelo evolucionário grandemente defendido por Charles Darwin. O creacionismo é de facto uma crença religiosa ou científica. Segundo Morris, a vida humana na Terra foi criada por um ser superior e sobrenatural. No que diz respeito à sua distinção do evolucionismo, pode acrescentar-se que este termo é comummente usado na negação religiosa de processos biologicamente naturais, em particular a evolução como uma explicação da história e da diversidade das espécies na Terra. Como foi mencionado anteriormente, o creacionismo é apoiado pela interpretação literal da Bíblia. Contudo, em muitos países a crença no creacionismo desacreditou-se a nível científico, pois tais teorias não eram bem esclarecidas. Se muitas religiões rejeitaram o creacionismo, outras mantiveram a sua crença, mas apenas em parte. Então, a ciência que poderia advir do creacionismo designa-se, em algumas comunidades científicas, por pseudociência15. Uma das maiores disputas em relação à evolução e desenvolvimento de organismos vivos é a ideia de que temos uma descendência comum (Andriolo, 1981: 267).

De facto, o creacionismo é a base de inúmeras religiões, para além do mito de Adão e Eva da Igreja Católica, nomeadamente para o Islamismo e o Judaísmo. O creacionismo

      

15 Pseudociência é uma metodologia, crença ou prática que tenciona ser científica ou que parece ser científica, mas

 

Islâmico baseia-se na crença de que o universo, incluindo a humanidade, foi directamente criado por Deus, como explica o Corão, embora o Islamismo actual tenda a interpretar textos religiosos literalmente, e vêem Genesis como uma versão distorcida da palavra de Deus. O mito da criação no Corão é mais vago e permite interpretações variadas. Mais ainda, muitos movimentos liberais dentro do Islão aceitam as posições científicas sobre a idade da Terra, a idade do Universo e a evolução.

Khalid Anees, presidente da sociedade Islâmica do Reino Unido, explicou, numa conferência intitulada por “Creationism: Science and Faith in Schools” em 2004, que não há contradição entre o que é revelado no Corão e a selecção natural e consequentemente a sobrevivência do mais forte.

Por seu lado, muitos grupos judeus e ortodoxos aceitam o creacionismo evolucionário ou a evolução teísta (que busca conciliar a ideia de Deus e a ideia de evolução). O Judaísmo Reformista não leva o Torá (os primeiros cinco livros de Tanakh) como texto a ser encarado literalmente, mas sim como um texto simbólico e de fim em aberto. Os judeus acham que Deus criou o mundo e estabeleceu um pacto eterno com o povo judeu como povo eleito.

Numa perspectiva científica e actual é aceite a teoria da evolução16, que defende que o ser humano tem um ancestral comum com os primatas superiores, tendo-se adaptado a hábitos agrícolas e de bipedismo e desenvolvido o cérebro de uma forma mais complexa. Segundo os cientistas, a separação entre os ancestrais dos humanos e dos chimpanzés ocorreu há cerca de cinco milhões de anos.

Estudos desenvolvidos em registos fósseis e na diversidade dos seres vivos já mostraram aos cientistas no final do século XIX que as espécies mudam ao longo dos

      

16 Encyclopedia Britannica, Evolução, no ramo da biologia, é a mudança das características hereditárias de uma

população de uma geração para outra. Este processo faz com que as populações de organismos mudem ao longo do tempo. Do ponto de vista genético, evolução pode ser definida como qualquer alteração na frequência dos alelos de um ou um conjunto de genes, em uma população, ao longo das gerações. Mutações em genes podem produzir características novas ou alterar características que já existiam, resultando no aparecimento de diferenças hereditárias entre organismos. Estas novas características também podem surgir da transferência de genes entre populações, como resultado de migração, ou entre espécies, resultante de transferência horizontal de genes. A evolução ocorre quando estas diferenças hereditárias tornam-se mais comuns ou raras numa população, quer de maneira não-aleatória através de selecção natural ou aleatoriamente através de deriva genética (www.britannica.com).

 

anos. No entanto, os mecanismos que conduziram a essas mudanças permaneceram pouco claros até à publicação do livro de Charles Darwin A Origem das Espécies, onde o autor detalhava a teoria da evolução das espécies por um processo de selecção natural. Selecção natural designa-se por mutações genéticas que melhoram a reprodução, tornando-se, desta forma, mais comuns a gerações vindouras de uma dada população. Muita crítica nomeia este mecanismo de “auto-evidente”, pois rege-se por três factos: variação hereditária existente em populações e organismos; os organismos produzem mais descendentes do que podem sobreviver e esses descendentes têm capacidade variável para sobreviver e reproduzir-se. Todas estas condições geram competição entre organismos devido ao facto de quererem sobreviver e reproduzir-se. Por esta razão, os organismos que trazem consigo algumas características que lhes tragam vantagem sobre os seus opositores, transmitem-nas para a geração seguinte, enquanto que as características desvantajosas não são transmitidas. Desta forma, o conceito chave dentro da selecção natural é a aptidão evolutiva de um dado organismo. Este conceito mede essa aptidão evolutiva que não é a mesma para o número total de descendentes. Esta aptidão mede a proporção de gerações subsequentes que carregam esses genes desse organismo. Como consequência, se um dado alelo aumenta a aptidão mais do que outros alelos, então em cada geração esse alelo tornar-se-á mais comum dentro da população. Diz-se que estas características são "seleccionadas a favor" ou "positivamente". Alguns exemplos de características que podem aumentar a aptidão são a sobrevivência melhorada e o aumento da fecundidade. Outro elemento fundamental neste processo é o ambiente envolvente: se o ambiente muda, as características que previamente eram neutras ou prejudiciais podem tornar-se benéficas ou vice-versa.

A selecção natural de uma dada população pode variar entre três tipos: o primeiro é a selecção direccional, que é um desvio do valor médio de uma característica ao longo do tempo, por exemplo, certos organismos que vão lentamente ficando mais altos de geração para geração; o segundo é a selecção disruptiva, que é a selecção a favor de valores extremos das características (quando indivíduos altos ou baixos têm certa vantagem, mas não os que têm altura média); e finalmente, em terceiro, a selecção estabilizadora, na qual há selecção contra valores extremos das características em ambos os lados do espectro (todos teriam a mesma altura).

 

Contudo, o que é de salientar no seguimento desta tese, é a selecção sexual, que se caracteriza pela selecção sobre qualquer característica que eleve o sucesso do reprodutor, instituindo a capacidade de atracção de um organismo a potenciais parceiros (Evolution: The Remarkable History of a Scientific Theory. New York: Modern Library, 2004). No seguimento desta ideia, a ciência feminista é baseada numa visão de inúmeras diferenças entre os sexos, maioritariamente baseadas em identidades de género socialmente construídas em detrimento de diferenças biológicas. Por exemplo, o livro de Anne Fausto-Sterling Myths of Gender e sobretudo o seu segundo livro Sexing

the Body discutem a alegada possibilidade de mais de dois sexos verdadeiramente

biológicos. Carol Travis, por seu lado, em The Mismeasure of Woman, usa a psicologia e a sociologia para criticar teorias que usam o reducionismo biológico para explicar as diferenças entre homens e mulheres17.

Em suma, as crenças mitológicas e religiosas reduziam a mulher a um papel menor, ou como mais fraca ou até como pecadora do jardim do éden que levou Adão a comer o fruto proibido. No entanto, na viragem do século XIX para o século XX, novas teorias surgiam sobretudo a nível científico que colocaram a mulher a par com o homem. Gilman, na sua obra Herland, avança com uma crítica social que a atormentara desde muito cedo. Com esta utopia ela acaba por conseguir colocar no papel desejos que a vinham a preocupar ao longo dos anos. E seria assim, desta forma, que ela se distinguira dos seus compatriotas mais radicais.

De facto, Herland ofereceu-se-lhe como um espaço de criação de novas condições sociais e de um ambiente para testar novas ideias. A escrita imaginativa utópica proporcionou a Gilman a libertação de um mundo demasiado opressivo e tirano que punha os homens no centro, tendo as mulheres como meros enfeites (Lloyd, 1998: 96). O enredo da obra começa de uma forma singela e quase sem intencionalidade, mas à medida que avançamos na leitura percebemos a intenção de Gilman: chamar a atenção para a sociedade que ela própria vivia na altura, uma sociedade demasiado machista que não dava quase nenhum direito às mulheres.

Já em Women and economics, Gilman tinha demonstrado o seu interesse pela análise sociológica, tendo como base as recentes descobertas do século XIX a nível científico

      

 

sobre o sexo feminino. baseando-se na ciência como posição proeminente na luta das mulheres no século XIX. O seu gosto pelo Positivismo18 é bem visível nas primeiras páginas deste livro, na asserção de que a criatura humana é afectada pelo seu ambiente e tudo o que o/a rodeia. Seguidamente conduz uma discussão sobre os três tipos de condições do determinismo: “a material geographical environment”, os efeitos da transformação provenientes do próprio organismo e o facto de se ser humano. Logo após esta explicação científica Gilman explica porque a mulher está sempre tão submissa ao homem “We are the only animal species in which the female depends on the male for food, the only animal species in which the sex-relation is also an economic relation” (Women and Economics, p.34). O homem é visto como o “the feeder of woman” e como aquele que tem “the strongest modifying force in her economic condition” (Women and Economics, p.23). A mulher acaba por ser “cut off from the direct action of natural selection” e é moldada devido a uma condição de dependência. Ela é limitada por um impulso intrinsecamente humano para a criação e para o poder e a vontade de fazer alguma coisa, ou mesmo até para se expressar como um espírito livre e novo (Lloyd, 1998: 98). A mulher torna-se fraca, passiva e incompetente. Aprendeu e descobriu a usar o que a distingue do homem para alcançar os seus intuitos. Deste modo, atrai o macho e dá-lhe prazer, mas somente no intuito de sobreviver. Segundo Gilman, é este sentimento que leva a mulher, a mãe, a esposa, a namorada a transmitir aos seus descendentes, a ideia de submissão que ainda encontramos nos nossos dias. Tal como tantos intelectuais progressistas, Gilman antecipou o futuro com uma esperança de ilimitadas proporções no que diz respeito ao prognóstico do presente. Como ela demonstrou, a fé que estes pensadores tinham no progresso foi mais ideológica do que psicológica, o complemento intelectual de uma visão especificamente política em vez dos traços característicos partilhados por uma geração da inocência. Gilman tinha em consideração sobretudo dois conceitos: interdependência e independência. A interdependência referia-se ao colectivo às relações mutuamente dependentes de uma sociedade caracteristicamente industrializada, e invocou-a para o uso de políticas que, sob novas condições, subordinariam o pessoal ao colectivo para o benefício de mulheres e homens. Por independência, Gilman pretendia dizer que o

      

18 Positivismo é um conceito que possui significados distintos, engloba quer perspectivas filosóficas equer científicas

do século XIX. O positivismo era a maneira de pensar que o pensamento positivo realizava os desejos, que ele tinha "poderes". Desde o seu início, com Augusto Comte (1798-1857) na primeira metade do século XIX até ao seu apogeu e crise no século XX, o sentido da palavra mudou radicalmente, incorporando diferentes sentidos, muitos deles opostos ou contraditórios entre si. Traduzido do Dicionnaire de Sociologie, Le Robert, p.411 

 

indivíduo paga pelo que obtém, trabalha para ter o que quer e dá ao outro o equivalente que o outro lhe dá. Gilman identifica este processo como sendo um processo virado para a liberdade que seria oposto à posição da mulher de então (Lloyd, 1998: 104).

Mais tarde, Gilman consegue sair dessa prisão social e quebra laços com o Positivismo e acaba por entrar num mundo criado por si própria: Herland. Gilman prova tudo isto ao colocar três investigadores no encalço de Herland, um mundo descoberto pelos três protagonistas homens que acidentalmente caem aqui num universo feminino e utópico, onde a ciência os leva a defender teorias e a aclarar ideias sobre a verdadeira Herland. As mulheres de Herland, enquanto cientistas, têm diferentes concepções que embaciam a vista dos intrusos masculinos:

…when it came to simpler and more concrete science, wherein the subject matter was at hand and they had but to exercise their minds upon it, the results were surprising. They had worked out chemistry, a botany, a physics, with all the blends where science touches an art, or merges into an industry, to such fullness of knowledge as made us feel like schoolchildren. (Herland, p.22) They have got architects and landscape gardeners in plenty, that´s sure - agreed Terry. (Herland, p.20)

Gilman parece aqui estar a fazer crer que as mulheres também dominavam a ciência e todas as suas especificidades e complexidades, contrariando a depreciação dos homens face às capacidades intelectuais e a propensão das mulheres para entenderem e dominarem a ciência. No final, pelo menos dois destes homens percebem as aptidões das mulheres, apaixonam-se por elas precisamente por serem tão fortes e inteligentes e racionais. Como em todas as ciências, as mulheres enfrentaram muitas barreiras de acesso ao conhecimento devido a uma ligação com a religião que vetou a participação das mulheres nesse campo, até os dias de hoje. As primeiras universidades abriram em 1190 em Bolonha, em 1200 em Paris e em Salamanca em 1218. Estas instituições não permitiam o acesso das mulheres, logo as mulheres ficaram impedidas de participar em estudos filosóficos e matemáticos da Idade Média. Muitas mulheres só chegaram à universidade no final do século XIX, século XX. Mas, por vezes as mulheres conseguiam um acesso informal ao conhecimento, por exemplo trocavam a sua posição social pela autorização para terem conhecimento. A Princesa Elizabeth de Bohemia, por exemplo, tornou-se correspondente de Descartes. A ideia de que as mulheres poderiam contribuir para a ciência proveio de Descartes: “Se a mente operar independentemente

 

do corpo, então nada poderá insinuar uma deficiência feminina. A partir dessa ideia, nos finais do século XVII e meados do século XVIII, Descartes foi reconhecido como feminista.

De facto, ao longo dos séculos, as mulheres eram desencorajadas a estudar. Mas havia outras que se iam revelando, especialmente no século XIX. Recorde-se o nome de Amalie "Emmy" Noether, que foi uma matemática e física alemã. Filha de um professor de matemática, Noether trabalhou nas áreas de teoria dos anéis e álgebra abstracta. Muitas mulheres viveram enclausuradas e amarguradas por não poderem deter conhecimento e estudar. Entre outras, contam-se mulheres cientistas como Marie Curie, Sophie Germaim e Sophia Kovalevsky. Em qualquer sociedade, as melhores metas e consequentemente os melhores objectivos surgem dos sonhos de homens e mulheres. Quantos talentos foram passados em branco, quantas curiosidades foram impedidas de serem satisfeitas? E tudo,simplesmente, por uma questão de sexos (Maciel, 1999: 1-6). No início da narrativa Gilman apresenta Jeff, um homem que nasceu para ser poeta, botânico ou ambos, mas que foi forçado pelos pais a ser médico. Jeff começa a tomar partido das mulheres. Os outros dois homens mantêm-se agrilhoados a uma visão masculina e vêem Jeff como um traidor: “I never saw an alien become naturalized more quickly than that man in Herland.” (Herland, p.25) O facto de Jeff ser médico talvez o tenha levado a ter uma visão diferente do mundo das mulheres. Afinal, homens e mulheres são iguais, à excepção de serem de sexos diferentes. O narrador, Van, prova estar menos disposto à conversão, é através dele que nos apercebemos das limitações das mulheres.

Mas é também Ellador quem vai provocar a mudança de atitude de Van, que por ela se apaixonou. Na verdade, as herlandianas dominavam a psicologia melhor do que outra ciência, e é isso que Ellador faz com Van. Contudo, não é só a ciência que ajuda Ellador nesta mudança, é também uma fonte de saber que está por detrás da atitude de cada mulher, uma fonte de saber mais profunda e antiga do que qualquer outra; um sentimento natural da mulher que provém da “Mother sex”. A declaração que dissolve a confusão inicial de Van é a seguinte: “I’d rather have you with me – on your terms – than not to have you.” (Herland, p.43) Ele faz uma junção do que é científico e do que é

 

verdade, do facto com o ideal, coisa que Gilman nunca alcançou nem na sua própria vida nem nos seus contextos sociológicos.

Em Herland a reverência à “Mother sex” ajudou Van a converter-se e a renunciar ao sexismo do mundo real com todo o seu peso analítico e político. Mais especificamente, este “mother-love” constitui o elo de ligação afectivo que unia, em pensamento e em acção, cada habitante de Herland. Esta ideia contrastava com as perspectivas dos intrusos masculinos, visto que estes pensavam que seria algo anti-natura, o facto de as mulheres cooperarem voluntariamente sem ciúme ou inveja, que são traços

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