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1. Não há direito de punir Há apenas poder de punir O homem é punido pelo seu crime porque o Estado é mais forte que ele, a guerra, grande crime, não é

2.3. HEWSON: UMA CRÍTICA DAS TRADUÇÕES RENOVADA?

Lance Hewson, em An approach to translation criticism: Emma and Madame Bovary in translation (2011), apresenta uma abordagem diferenciada para analisar e avaliar a coerência das escolhas tradutórias realizadas em vários excertos de um conjunto (corpus) de traduções de textos literários com seus respectivos originais. O sistema literário mundial sempre possuiu em si um caráter paradoxal, em que as traduções publicadas, reconhecidas como sucedâneos de um texto existente original, coabitaram sempre entre si (original e tradução), apesar de suas inevitáveis diferenças, frutos de um processo de tomada de decisões, por vezes, questionáveis do ponto de vista do crítico. Hewson (2011, p. 1) acrescenta que as reações na avaliação dos textos traduzidos sempre foram (e ainda são) polarizadas quer na condenação ou no elogio quer na indiferença ou na ignorância de sua existência. Assim, esse modelo objetiva entender o potencial interpretativo oriundo das escolhas feitas pelo tradutor, mas não para julgar seu produto.

Estudos226 demonstraram que o crítico literário (ou o leitor “esclarecido”), mesmo trabalhando para revistas de crítica literária (até de renome), não se preocupa com as traduções em si e ainda menos com as inevitáveis diferenças que existem entre o TC – ou seja, o texto traduzido que eles estão lendo ou avaliando – e o TP. Dessa forma, o estatuto peculiar do texto traduzido é meramente ignorado, atribuindo-lhe o do “original”, o que nunca será por motivo ontológico inerente ao processo tradutório, que, por sua vez, gera sempre uma “perda”. Essa falha origina-se, de acordo com Hewson (2011, p.1), nas estratégias de marketing das próprias editoras cuja tendência tende a aniquilar o papel do tradutor (acentuando sua invisibilidade) no processo editorial – mas não mais verdadeiro, hoje em dia –, pois, para o sistema literário receptor, é o escritor na LP que é considerado o próprio autor na LC; logo, a tradução comercializada dessa forma nunca apontará nenhum problema significativo. O leitor imagina que compra um livro do autor estrangeiro X, não uma tradução deste.

No entanto, quando o crítico leva em consideração o TP que foi traduzido como uma tradução, as avaliações são, de modo geral, ou superficiais ou negativas ou ambas ao mesmo tempo. Criticar o trabalho realizado por um tradutor é atividade das mais fáceis. Por essa razão, Hewson (2011, p. 1-2), ao citar Peter Fawcett227, destaca que os críticos literários

226 Hewson (2011, p.1) menciona aqui o trabalho de Isabelle Vanderschelden sobre a questão da crítica e da tradução literária na França. VANDERSCHELDEN, I. “Quality Assessment and Literary Translation in France”. In. The translator, 2000, v. 6(2), p. 271-293.

jornalísticos ou universitários têm a tendência de desvalorizar, em pouco espaço – quer dizer, espaço “físico” da resenha sempre limitado na revista ou no jornal – e de maneira irresponsável, uma tradução inteira por causa de algumas falhas detectadas à luz de supostos critérios considerados por eles universais e inatacáveis.

Vários críticos acadêmicos228, inclusive o próprio Hewson, empregam a técnica de amostragem para tentar entender o impacto das escolhas tradutórias no texto integral. Devido à analise de um número muito pequeno de excertos (em relação ao tamanho da obra) a generalização, de um ponto estático e probabilístico, pode se torna aleatória, precipitada e frustrante, para o crítico e o tradutor, mas é um primeiro passo.

O crítico britânico (2011, p. 3) enfatiza, baseando-se em Mounin (1955), Steiner (1998b) e Berman (1995), que todas essas abordagens demonstram que as traduções são fundamentalmente errôneas ou falhadas e devem ser tratadas como um texto “deficiente”, não porque o tradutor seja incompetente ou sem consciência profissional (deontologia), mas simplesmente porque seu produto nunca será o texto original (ou seja, com a marca da defectibilidade bermaniana, p. 147). Por isso, desenvolveu-se em Hewson, entre outros pesquisadores (Reiss, 1971; House, 1977), o interesse para tentar medir a “verdadeira” qualidade de uma tradução e aproximar-se de representações objetivas de uma “boa” tradução ou “equivalência”. Essas práticas de avaliação críticas e qualitativas acompanharam a história da tradução desde suas origens, para formar o conceito de “avaliação da qualidade em tradução” (Translation Quality Assessment - TQA)229.

Apesar de ser uma preocupação antiga, essa questão de qualidade necessita, ainda, hoje em dia, não apenas da elaboração de critérios pertinentes, principalmente oriundos da academia ou dos departamentos de revisão de traduções, mas também, do desenvolvimento de das devidas metodologias a serem aplicadas, para medir a qualidade de textos essencialmente pragmáticos. No que diz respeito aos textos literários, conforme acrescenta Hewson (2011, p. 3), estes devem ser submetidos a outro tipo de metodologia e critérios, pois o autor considera, neste caso, que este conceito de “qualidade” da TQA é confuso, logo inoperante, tanto do ponto de vista literário quanto do interpretativo.

Portanto, a distinção entre “avaliação da qualidade em tradução” e “crítica das traduções” reforça a dicotomia, já artificialmente estanque, entre os textos de cunho

228 Hewson citou aqui os seguintes estudiosos da tradução: DUFF, A. The third language: recurrent problems of translation into English. Oxford: Pergamon, 1981; NEWMARK, P. Approaches to translation. Oxford; New York: Pergamon, 1981; RAFFEL, B. The art of translating prose. University Park, PA: Penn State University Press, 1994.

229 Cf. o trabalho de Christopher Waddington: Estudio comparativo de diferentes métodos de evaluación de

pragmático e literário que, a meu ver, não pode mais ser considerada um critério objetivo. Com efeito, a tradução de especialidade, como a de texto jurídico – por exemplo, de um julgamento ou de uma doutrina – exige a exploração de mais recursos culturais e um trabalho hermenêutico e criativo mais denso do que a da maioria dos textos literários. No Brasil, o tradutor João Azenha Junior interessou-se nesta problemática na sua tese de doutoramento publicada com o título, Tradução técnica e condicionantes culturais: primeiros passos para um estudo integrado (1999). Ele enfatiza e demonstra, por meio de modelos como o de Reiss (1971) e o de Snell-Hornby (1988), a hibridez da tipologia textual e a importância de considerar os aspectos culturais – além dos terminológicos (aliás, também presentes em textos literários) – na tradução de textos de especialidade.

Após apresentar limitações dos modelos avaliativos e teóricos existentes, Hewson, focalizando-se especificamente na tradução de textos literários, propõe um modelo crítico “renovado”, basicamente fundamentado nos trabalhos de Leuven-Zwart (1989; 1990), Berman (1995; 1999), Lecercle (1999), Koster (2000), entre outros.

2.3.1. O modelo crítico “renovado” de Hewson

O autor propõe embasar sua análise do texto literário em três níveis de estrutura textual: (1) o nível da microestrutura ou nível micro (microstructure level; micro-level230); (2) o nível da mesoestrutura ou nível meso (mesostructure level; meso-level); (3) o nível da macroestrutura ou nível macro (macrostructure level; macro-level).

O projeto crítico elaborado por Leuven-Zwart (1989; 1990) (alguns anos antes de Berman, 1995) e Hewson (2011) focaliza-se no estudo das traduções completas de livro, pois, no caso de excertos, os desvios encontrados no nível micro poderiam surtir efeito em parte da obra que se encontra fora do espaço delineado pelo trecho em questão. Leuven-Zwart apresenta no início do seu artigo alguns esclarecimentos a respeito das características dos níveis micro e macro:

Em traduções integrais, desvios manifestam-se em dois níveis: o microestrutural e o macroestrutural. No nível microestrutural, ou seja, o nível de frases, orações e locuções, ocorrem os desvios relacionados a apectos semânticos, estilísticos e pragmáticos. No nível macroestrutural, no qual as unidades de significado estão envolvidas e transcendem frases, orações e locução, desvios ocorrem no que diz respeito a coisas como atributos e caracterização de pessoas, natureza e ordenação

230 Hewson (2011, p. 7 e p. 8) resolveu adotar no seu livro essa terminologia simplificada (sem “structure”), em relação a Leuven-Zwart. Adotei a mesma neste trabalho: nível micro, nível meso, nível macro.

da ação e tempo e lugar de eventos.231 (LEUVEN-ZWART, 1989, p. 154–155, tradução minha)

Assim, no nível micro, o crítico avalia as informações pontuais (“transeme”) de cunho linguístico; quanto ao nível macro, trata-se de mudanças mais amplas de ordem narratológica (discourse level e story level, 1989, p. 179). Para que haja desvio ou mudança no nível macro, conforme lembra Leuven-Zwart, é preciso que o crítico detecte ocorrência significativa de vários desvios de mesma natureza no nível micro: “Em outras palavras, apenas aquelas mudanças microestruturais que apresentam determinada frequência e consistência conduzem a mudanças na macroestrutura”.232 (LEUVEN-ZWART, 1989, p. 171, tradução minha)

No que diz respeito a essa relação analítica do nível micro (local) para o nível macro (global), a primeira ressalva de Hewson (2011, p. 24) se refere ao princípio de automatismo da análise, mencionado por Lambert e Gorp (1985), que emitiram a hipótese de que uma tradução “mais ou menos adequada” ao nível da macroestrutura provavelmente seria também “mais ou menos adequada” ao nível da microestrutura. De fato, mesmo que essa correlação pudesse, probabilisticamente, existir, ela não apresentaria caráter automático. A análise hewsoniana – que se inicia no nível macro ao nível micro para voltar, em seguida, ao nível micro (macro-micro-macro framework) – permite corroborar a não automaticidade acima mencionada e avaliar satisfatoriamente as questões de cunho interpretativo e os resultados das decisões tradutórias.

No seu modelo crítico, Hewson introduz um nível intermediário (nível meso) entre os tradicionais níveis micro e macro, que não existe no modelo de Leuven-Zwart, porém, apesar de sua importância teórica, a definição deste novo conceito-chave é “diluída” na obra. Percebe-se que o nível meso é uma ferramenta metodológica que se confunde “fisicamente” com um trecho (passage) específico da obra escolhido pelo crítico e analisado por ele. Para o autor, esse nível intermediário objetiva avaliar os efeitos de determinadas escolhas tradutórias do nível micro projetados no próprio excerto para, em seguida, a partir da análise dos efeitos projetar esses resultados para delinear eventuais mudanças no nível macro e dar uma visão mais geral da obra. Vale ressaltar aqui que, ao contrário dos dois níveis inferiores, o nível macro não existe “fisicamente”, pois é uma construção teórica baseada na interpretação

231 “In integral translations, shifts manifest themselves on two levels: the microstructural and the

macrostructural. On the microstructural level, i.e. the level of sentences, clauses and phrases, shifts involving semantic, stylistic and pragmatic values take place. On the macrostructural level, where units of meaning are involved which transcend sentences, clauses and phrases, shifts occur with respect to such things as the attributes and characterization of persons, the nature and ordering of the action and the time and place of events.” (LEUVEN-ZWART, 1989, p. 154–155)

232 “In other words, only those microstructural shifts which show a certain frequency and consistency lead to

subjetiva do crítico ou do leitor em geral: “o nível macro não é imediatamente ‘visível’ e, com certeza, não pode ser postulado de forma objetiva fora de uma devida interpretação”.233 (HEWSON, 2011, p. 18, tradução minha)

A figura seguinte sintetiza a abordagem teórica proposta por Hewson:

Figura 2.3: Os três níveis de estrutura textual de uma obra literária

Fonte: minha autoria. Hewson, 2011, p. 18 (Adaptação e tradução minhas)

Após os esclarecimentos a respeito dos três níveis da análise e depois de enfatizar que, consoante Leuven-Zwart (1989, p. 151, tradução minha), o “modelo comparativo foi concebido para a classificação das mudanças microestruturais, ou seja, semânticas, estilísticas, e das mudanças pragmáticas dentro de frases, orações e locuções234”, pode-se examinar de perto que o processo crítico de textos literários proposto por Hewson divide-se em cinco etapas significativas.

2.3.1.1. A coleta das informações liminares: o “trajeto analítico possível” de Berman Esta etapa preliminar inspira-se no projeto de uma crítica produtiva de Berman (1995) e mais especificamente no que ele chamou de “trajeto analítico possível” (trajet analytique possible - TAP). É também, composta de seis passos. À diferença do teórico francês, que preconiza, em primeiro lugar, o estudo do TC, Hewson (2011, p. 24-25) prefere, fundamentando-se nos trabalhos de Frank (1986) e Bosseaux (2007), iniciar sua coleta de dados a partir da leitura

233 “the macro-level is not immediately ‘visible’, and certainly cannot be postulated in an objective fashion

outside an accompanying interpretation.” (HEWSON, 2011, p. 18)

234 “The comparative model is designed for the classification of microstructural shifts, i.e. semantic, stylistic and

inicial do TP, para interessar-se, em seguida, pelos vários (quando houver) textos traduzidos que compõem o corpus do estudo.

Este primeiro passo objetiva: (i) assegurar que o crítico/analista possui (quando for possível) a mesma edição da obra original do que o tradutor para evitar emitir avaliações errôneas; (ii) coletar informações sobre esse TP ou os vários TPs – quando as edições forem modificadas pelo autor e usadas pelos diferentes tradutores inseridos no corpus. Ademais, os tradicionais dados sobre o autor, a obra, a recepção crítica, as edições, entre outros, completam utilmente os preparativos deste primeiro passo do processo crítico.

Quanto ao segundo passo, o interesse concentra-se nos TCs, pois o método objetiva a análise simultânea de várias traduções – na mesma língua (se existirem) e/ou diferentes (quando o crítico domina mais que duas línguas) – para assegurar maior grau de pertinência na elaboração das hipóteses e considerações finais da análise. Sem contestar a validade dessa exigência, o inconveniente principal, a meu ver, limita o trabalho crítico às “grandes obras” da literatura mundial, amplamente traduzidas e retraduzidas em diversas épocas (por vezes, recentes) e inúmeras línguas, em detrimento das “obras menores” de qualidade. Essa crítica já era, no seu tempo, dirigida por Berman (1995) a Meschonnic, daí, a pertinência da coleta de informações sobre a recepção crítica das traduções em seus respectivos espaços (lugar e tempo) de recepção, conforme o teórico francês adotado por Hewson.

O terceiro passo, conforme as orientações de Berman (1995, p. 73-74), “Em busca do tradutor”, objetiva tirar o tradutor do anonimato (quando for possível), juntando dados a respeito dos outros textos foram traduzidos, sua formação, as línguas de trabalho, seus próprios escritos, entre outras informações úteis para a crítica.

O autor destaca mais dois passos (o quarto e o quinto) importantes para o sucesso do processo interpretativo, e o crítico precisa, além do texto estudado em si, conhecer o que já foi escrito a repeito deste. Vários dados já foram coletados nos passos anteriores (1, 2 e 3), porém Hewson insiste, com justeza, no paratexto – composto, segundo Genette (1982), do peritexto (paratexto dentro do livro: título, prefácio, orelhas, notas de tradutor, etc.) e do epitexto (paratexto fora do livro: biografias, entrevistas, correspondências, artigos) –, relacionados tanto aos TPs quanto aos TCs. O quinto passo focaliza a coleta do aparato crítico acadêmico existente, em várias línguas (se houver), pois esse tipo de escrita pode ser valioso para o analista a fim de determinar, conforme Hewson (2011, p. 25), o “lugar” de trabalho tanto do TP como do TC e definir possíveis estratégias interpretativas. No entanto, a ausência ou o parco volume dessas informações não impede a realização do trabalho interpretativo (e crítico) de qualidade sobre as traduções selecionadas.

O último passo (o sexto) apresentado analisa o aspecto geral da macroestrutura dos textos traduzidos, para avaliar o aspecto formal da obra, como a organização dos capítulos, dos parágrafos (mudança de ordem, supressão, unificação). Como Berman (1995, p.65-66), com o levantamento das “zonas textuais problemáticas” no TP, Hewson propõe “identificar possíveis discrepâncias que podem não ser visíveis quando [a crítica] se move para o nível micro”235 (HEWSON, 2011, p. 26, tradução minha), pois, conforme a ressalva inicial, não há automaticidade de repercussão de um problema nos outros níveis (superior ou inferior) estruturais.

Percebe-se que a primeira etapa do modelo crítico hewsoniano fundamenta-se nitidamente na terceira etapa do projeto de crítica produtiva de Berman (1995, p. 64-83), “O esboço de um método”, apesar da inversão de ordem, entre os dois autores, no que diz respeito à leitura do TP e dos TCs. Iniciar a análise pela leitura do TP (conforme Hewson) parece ser a mais “lógica”, pois é a ordem no processo tradutório, quando o tradutor não consultou as demais traduções realizadas anteriormente, se existirem. Quanto a Frank,

a suposição, por exemplo, de que é suficiente analisar o texto de partida para destacar potenciais “dificuldades de tradução” e, em seguida, proceder a uma análise desses trechos nos textos de chegada a fim de determinar a sua qualidade, bem como a suposição de que desenvolver uma “gramática translacional” é o mesmo que facilitar o estudo de traduções literárias existentes revelam o contrário: os fatos indicam que a tradução literária é uma aventura em diversificação, e que exigirá nada menos que uma análise minuciosa de cada tradução que fará surgir a vasta gama de surpresas que, em princípio, faz com que cada tradução seja diferente do texto original, dando-lhe o seu próprio perfil.236 (FRANK et al., 1986, p. 319, grifo meu, minha tradução)

A proposta de Berman (1995) de iniciar a análise pela leitura do(s) TP(s) é mais uma atitude epistemológica de crítico de traduções (longe de ser um “supertradutor”) que sabe ler nos textos traduzidos essa típica língua de chegada que sempre é uma língua em tradução. Com efeito, ainda que seja fluida, ela não possui a idiomaticidade inerente à língua compartilhada pela comunidade receptora, caráter típico do TC que Berman (1984) chama de “estrangeiro”, que “faz com que cada tradução seja diferente do texto original”, conforme lembra acima Frank.

235 “to pinpoint potential discrepancies that may not be visible when she [the critic] moves to the micro-level.” (HEWSON, 2011, p. 26)

236 “the assumption, for instance that it is sufficient to analyze the source text for potential “translation

difficulties” and then to proceed to an examination of these passages in the target texts in order to ascertain their quality, as well as the assumption that to develop some ‘translational grammar’ is to facilitate the study of extant literary translations. Rather, the facts indicate that literary translation is an adventure in diversification, and nothing but a painstaking analysis of each single translation will turn up the wide range of surprises which, in principle, makes each translation differ from the source text and provides it with its very own profile.”

2.3.1.2. A elaboração do quadro crítico: o projeto crítico de tradução

Hewson (2011, p. 26) define o quadro crítico (critical framework) como “a base sobre a qual são realizadas as comparações no nível micro, estabelecidos os efeitos no nível micro e meso e feitas as observações no nível macro237”, com intuito de identificar as características estilísticas da obra estudada (TP) e de seu potencial interpretativo por meio do aparato crítico existente. O resultado dessa análise permite definir os limites do ato crítico das traduções, fundamentado-se nesses elementos interpretativos pertinentes destacados para estudar de que forma o tradutor verteu-os para a cultura receptora.

Como já vimos, essas pré-escolhas críticas, apesar de ser baseadas em fontes acadêmicas pertinentes de crítica ou de teoria literária, representam em si um ato, ao mesmo tempo, meramente subjetivo, pois oriundo de escolha, e subjetivo, pois impede indagações infinitas e superinterpretações. Assim, o analista das traduções avalia até que ponto, quando o resultado for diferente, as escolhas tradutórias podem proporcionar interpretações divergentes, raramente errôneas, às vezes inéditas.

2.3.1.3. A avaliação dos trechos para o nível micro

Os trechos selecionados no TP precisam ser alinhados com os trechos dos textos traduzidos, porém devido ao caráter específico do método, baseado em amostras (trechos escolhidos), o autor não sentiu a necessidade de usar ferramentas informáticas, apesar de serem amplamente disponíveis em 2011, para realizar o alinhamento da obra original na integralidade com suas respectivas traduções.

A partir da preparação do corpus no formato de tabelas com os vários textos vis-à-vis, o crítico pode iniciar sua análise, sem buscar a exaustividade, na base do quadro anteriormente estabelecido e delimitado. Hewson (2011, p. 27, tradução minha) lembra que se faz “necessário trabalhar com base na leitura inicial, refletindo os elementos identificados no quadro crítico. Isso permitirá se concentrar em determinados pontos e examinar a maneira como eles foram traduzidos238”.

No entanto, com o apoio das ferramentas informáticas, o que chamo “Ferramentas e Ambiente de Apoio à Tradução” (doravante FAsT), a análise pode ganhar em rapidez e

237 “the basis on which micro-level comparisons are carried out, micro- and meso-level effects established and

macro-level observations made.” (HEWSON, 2011, p. 26)

238 “[It is thus] necessary to work on the basis of an initial reading, reflecting the elements identified in the

critical framework. This will allow one to concentrate on specific points, and examine the way in which they have been translated.” (HEWSON, 2001, p. 27)

eficiência no que se refere a possível averiguação dos resultados localizados quando projetados na totalidade do texto, conforme aplicarei nos itens seguintes.

Para definir os vários tipos de análise de escolhas tradutórias (translational choices)

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