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A atividade turística desenvolvida durante o período de 2006 a 2010, no RN e, mais especificamente, em Natal, evidenciou duas situações: primeiramente, o crescimento da demanda turística provocado pela divulgação massiva dos atrativos locais, ao mesmo tempo, gerando mais investimentos em divulgação para manter o nível da demanda e o funcionamento da estrutura comercial estabelecida. Paralelamente, percebeu-se que as ações de marketing realizadas para “anunciar” e “vender” a cidade elevaram o fluxo de turistas, sem que os investimentos em infraestrutura fossem feitos pelo poder público na mesma proporção. A partir daí, com o aumento do fluxo turístico, e também com o aumento da população residente, a cidade passou a enfrentar problemas que antes não interferiam em seu cotidiano de forma contundente.

Até meados dos anos de 1970, o turismo desenvolvido de maneira despretensiosa no Rio Grande do Norte foi, ao longo do tempo, fortalecendo suas bases e ampliando sua extensão até se transformar em uma das maiores forças da economia do Estado. Durante este processo, foram necessárias inúmeras ações do poder público e do empresariado local – que depois se configurou no trade turístico3 do RN – objetivando aproveitar as 3 Conjunto de agentes, operadores, hoteleiros e demais prestadores

Andrea de Albuquerque Vianna

potencialidades da capital do RN para alavancar a nova fonte de recursos, emprego e renda do Estado. Espaços foram reconfigura- dos, comercializados, muitos até fartamente descaracterizados, sob o pretexto de se promover o desenvolvimento econômico do Rio Grande do Norte.

Vislumbrando melhores condições de vida, a cidade abraçou a oportunidade e passou, pouco a pouco, a se dedicar intensamente ao sucesso da empreitada. Chegam então os hotéis, restaurantes, novos equipamentos de lazer, enfim, a cidade passa a se transmudar para atender às necessidades do turismo. Mudanças significativas em todos os aspectos se apre- sentaram a partir de então. Casas se convertem em pousadas, surgem cursos profissionalizantes direcionados para a área, a vida noturna é incrementada, estabelecendo-se uma dinâmica socioeconômica e cultural até então inexistente.

Os diversos planos e ações – municipais estaduais e fede- rais – de fomento à atividade turística foram os propulsores da metamorfose vivenciada por Natal e presenciada, sentida e consentida por seus habitantes. A euforia inicial foi, lentamente, dando lugar a outros sentimentos e impressões. A velocidade com que as mudanças ocorreram, e sua intensidade, finda- ram por provocar sérios problemas urbanos provenientes da demanda excessiva associados à falta de capacidade da cidade para atendê-la. A atividade turística, pois, passa a se apresentar como uma suposta geradora de conflitos que se refletem no cotidiano dos moradores e no aspecto concreto da cidade. Nesse contexto, problemas de infraestrutura urbana – definida como o conjunto de obras públicas e serviços de utilidade pública da cidade, que representa o capital fixo social urbanos, com, por exemplo, vias urbanas, rede de água, rede de esgoto, rede telefônica, rede de gás, rede de energia elétrica, edifícios públicos e de utilidade pública (FERRARI, 2004) – associados ao aumento da violência, tráfico de drogas, prostituição infantil, cobrança de valores exorbitantes por produtos e serviços, exploração

imobiliária, são percebidos com maior intensidade no cotidiano da população residente.

Questões como a expansão urbana de Natal, as grandes secas que provocaram fluxos migratórios para a capital, a atuação do Estado, o posicionamento da população residente em relação às mudanças de caráter socioeconômico que pas- saram a acontecer com maior visibilidade a partir do início do século XX, os anseios da população em busca de modernidade para Natal, enfim, todo esse conjunto de fatores nos leva a perguntas cujas respostas requerem uma análise atenta dos fatos ocorridos desde então: será que a atividade turística detém a responsabilidade sobre os problemas que Natal vem enfren- tando nos últimos tempos? A atribuição de responsabilidades ao turismo não estaria desviando a atenção de problemas de maior gravidade, tais como a inoperância do Estado em relação às suas obrigações com os cidadãos? Até que ponto a população residente tem atuado para preservar seu espaço e sua cultura, pensando coletivamente e não individualmente? Quais são, de fato, os conflitos urbanos existentes em Natal?

A busca por estas respostas esteve presente durante todo o desenrolar do trabalho, culminando na questão de pesquisa: Qual o papel do turismo no surgimento dos conflitos urbanos expostos na mídia impressa em Natal? Uma pergunta que per- manecia “no ar”, visto que eu me recusava a aceitar a resposta simplista que fazia e ainda faz parte do discurso comum da população, de que o turismo é a causa, se não de todos, mas dos grandes problemas das cidades-destino.

A hipótese e trabalho que deu suporte e direcionamento ao nosso trabalho foi a de que, apesar dos impactos positivos e negativos gerados pela adaptação do espaço para o desenvol- vimento da atividade turística em Natal, assim como acontece com qualquer atividade responsável por grande movimentação financeira e, ainda, que interfira no cotidiano da população, uma

Andrea de Albuquerque Vianna

vez que se trata de atividade de caráter social, o turismo não é o único, sequer o grande responsável pelos conflitos urbanos da cidade do Natal no período estudado. Para a comprovação desta hipótese, foram analisados dados referentes a 1.440 dias de publicações de um dos jornais diários de maior credibilidade, cuja atuação não sofreu solução de estilo, linha editorial ou ideologia, a Tribuna do Norte. O recorte temporal compreende duas gestões municipais de linhas diversas, Carlos Eduardo Alves, do PDT, de 2002 a 2008, e Micarla Ferreira de Sousa, do PV, a partir de 2008, e uma gestão estadual, com a governadora Wilma de Faria, do PDT, no período de 2003 a 2010.

de que forma?