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HIPÓTESES DO ESTUDO E UNIDADES DE ANÁLISE

PARTE II – UM CASO EM CONTEXTO HOSPITALAR

2. OPÇÕES METODOLÓGICAS

2.2. HIPÓTESES DO ESTUDO E UNIDADES DE ANÁLISE

A supervisão clínica, nomeadamente no domínio dos contextos da enfermagem, é um processo que se desenvolve em torno de uma lógica de orientação, apoio e ajuda, com vista à garantia da qualidade dos cuidados.

Se nos reportarmos ao contexto nacional deparamo-nos, actualmente, com algum empenho, por parte das instituições de saúde, na adesão a programas de acreditação da qualidade e, inevitavelmente, numa elaboração de modelos de supervisão clínica em enfermagem. Tais programas, que implicam o envolvimento da organização como um todo, englobam a formação como um dos aspectos mais importantes para a consecução dos objectivos delineados.

Quando falamos em formação, nomeadamente daquela que ocorre em exercício, remetemo-nos, também, ao desenvolvimento de competências através da aprendizagem pela experiência. Nesse âmbito, factores como o ambiente ecológico do indivíduo (onde está também inserido o contexto de trabalho com as suas características próprias) e o seu estilo de aprendizagem são determinantes.

Em linhas gerais, foi em torno destes domínios que se desenvolveu o estudo.

No decorrer da escolha do tema e ao longo da pesquisa efectuada no âmbito deste trabalho, fomos confrontados com algumas questões e dúvidas que despoletaram a nossa curiosidade e que se constituíram como referenciais para o estudo:

 Quais as características sócio-clínicas do contexto de trabalho em psiquiatria?  Que estratégias se utilizam nas unidades para supervisão das práticas clínicas?  Qual a percepção dos profissionais relativamente à supervisão das suas práticas

clínicas?

 Quais as modalidades de formação que os enfermeiros mais valorizam no contexto de trabalho?

 Como se articulam, no terreno, as práticas de supervisão com as práticas de formação?

As questões pivot aqui referenciadas são do tipo Que? Quem? Qual é? Quais são

os factores? e Existem relações entre os factores? Que factores estão ligados a …?.

Correspondem, portanto, respectivamente, ao nível I e ao nível II (Fortin, 2003). O nível I indica uma base de conhecimentos relativamente escassa, tendo o investigador como objectivos reconhecer, denominar, descrever, descobrir, indicando um tipo de estudo orientado para a descoberta e exploração de factores (por exemplo, exploratório, de formulação, descritivo); no nível II, as variáveis estão já determinadas, existindo uma variedade de escritos sobre o assunto, bem como uma base conceptual relativamente definida, orientando a investigação para um tipo de estudo que se baseia na descoberta de relações entre os factores (por exemplo, descritivo, inquérito, estudo de caso, descritivo correlacional) (Fortin, 2003, p. 52-55).

Tendo em vista os nossos objectivos e com o intuito de esclarecer as nossas dúvidas, como concordamos com Quivy e Campenhoudt (1998), achamos que a definição de hipóteses poderia garantir um carácter de ordem e de rigor na condução da investigação, apresentando-se como um fio condutor no estudo e um critério de selecção dos dados. A

hipótese não é aqui equacionada como um recurso para confirmar teorias pré-estabelecidas mas apenas para tentar inferências sobre o objecto de estudo.

Com base no contexto do estudo e nos referenciais anteriores, definiram-se as seguintes hipóteses:

 Existe uma relação significativa entre a existência de um programa de integração no serviço e a satisfação face à supervisão disponibilizada;

 Existe uma relação significativa entre a periodicidade do acompanhamento e a satisfação face à supervisão disponibilizada;

 Existe uma relação significativa entre o tipo de acompanhamento e a satisfação face à supervisão disponibilizada;

 Existe uma relação significativa entre a existência de momentos específicos e individualizados de acompanhamento e reflexão sobre as práticas clínicas e a satisfação face à supervisão disponibilizada;

 Existe uma relação significativa entre o ter-se tido em conta os problemas pessoais do supervisando e a satisfação face à supervisão disponibilizada;  Existe uma relação significativa entre a existência de formação em serviço e a

satisfação face à supervisão disponibilizada.

É importante identificar e definir quais serão as nossas variáveis. Num estudo analítico as variáveis estão em grande parte enunciadas nas hipóteses, cabendo ao investigador tentar verificar se existe associação ou não entre elas. Não procederemos às definições conceptual e operatória dado que as mesmas se encontram suficientemente descritas no enquadramento teórico do estudo e porque recorremos à operacionalidade proposta pelos autores.

Neste estudo, a variável dependente é “a satisfação face à supervisão disponibilizada”. Por sua vez, identificamos as seguintes variáveis independentes: “existência de um programa de integração no serviço”, “periodicidade do acompanhamento”, “tipo de acompanhamento”, “existência de momentos específicos e individualizados de acompanhamento e reflexão sobre as práticas clínicas”, “o ter-se tido em conta os problemas pessoais do supervisando” e a “ existência de formação em serviço”. Outras variáveis (de contexto) ajudar-nos-ão a compreender os fenómenos em estudo.

Focalizaremos e delimitaremos a nossa investigação a determinados aspectos do problema em questão, através da identificação das unidades de análise (Abreu, 1994). Por conseguinte, tornou-se pertinente identificar quais são os tipos de dados que o investigador necessita de recolher, face a todas as limitações impostas pelo tempo disponível para a investigação. Identificamos, então, as seguintes unidades de análise:

 Características sócio clínicas do contexto em estudo;

 Caracterização da política da instituição em matéria da supervisão das práticas clínicas;

 Caracterização das práticas de supervisão clínica em enfermagem no contexto de trabalho;

 Representação dos actores relativamente ao processo de supervisão;  Representação dos actores em matéria das práticas profissionais;

 Representação dos actores em matéria da formação em contexto de trabalho;  Contexto e desenvolvimento pessoal e profissional;

 Aprendizagem condicionada pelo contexto em estudo;

 Articulação entre os processos de supervisão e de formação no contexto em estudo.

Como referimos na introdução, delineamos os objectivos que nos propomos atingir com este estudo são os seguintes:

 Avaliar a realidade dos contextos em matéria de práticas socioculturais e clínicas;

 Analisar as dinâmicas de formação existentes no contexto das práticas, percebendo-as numa perspectiva ecológica;

 Identificar medidas de carácter operacional, no âmbito da formação, capazes de induzir mudanças qualitativas a nível da estrutura local.