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História da Sexualidade no Mundo Ocidental

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Nunes (1987), em seus estudos, dividiu em cinco etapas a compreensão da sexualidade relacionada com o mundo ocidental. A primeira etapa está situada no período da pré-história denominado Paleolítico, o qual era dominado pelo Matriarcalismo, sistema que valorizava o culto ao feminino, materno, procriador e organizador da sociedade primitiva. Os homens, por causa da caça, viviam se deslocando constantemente e, por milhares de anos, a humanidade viveu sob a organização e poder das mulheres. As partes sexuais femininas eram veneradas. O sexo era visto como um elemento sagrado e religioso. As sociedades agrárias eram marcadas por uma visão mítica e semidivinizada nas relações sociais.

Ainda nesta etapa, existia um culto à fertilidade entre vários povos, como os Fenícios. Na Grécia rural, o sexo feminino era exaltado e divinizado. Esta característica pode ser justificada pela falta de entendimento do homem primitivo em relação à fecundação, a paternidade, a relação entre o ato sexual e a gravidez e também, pela falta de entendimento adequado da noção de tempo. A religião e a magia explicavam as concepções destes povos, tudo era misticamente e cultualmente representado (Nunes, 1987).

A segunda etapa iniciou com o advento das civilizações urbanas do Mundo Antigo. O sexo foi perdendo o caráter mítico e passou a ser mais racionalizado, mais conhecido e mais controlado. Neste período, a noção de prazer começa a ser enfatizada, distinguindo-o do caráter de reprodução e fecundidade. A divisão do trabalho social se acentua. O homem assume o controle da produção e reprodução da vida. Ocorre o desenvolvimento do patriarcalismo, no qual, os homens são separados das mulheres e passam a receber uma educação exclusivista. Os valores masculinos passam a ser exaltados e surgem os exércitos. Entre os gregos, era normal o homossexualismo masculino e as divindades do prazer, as técnicas e os estímulos sexuais foram introduzidos e reforçados. Nesta etapa, não havia valores como virgindade e celibato (Nunes, 1987).

A terceira etapa da compreensão da sexualidade pode ser chamada, de acordo com Nunes (1987), de “civilização cristã”. A queda do Império Romano desestrutura o mundo

antigo e a Igreja foi a instituição que catequizou e organizou o mundo bárbaro. Surgiram novos pressupostos antropológicos e teológicos com o predomínio dos valores espirituais e morais. A supremacia do espírito e o medo das eternas condenações propagaram um novo comportamento sexual. O corpo passou a ser o lugar do pecado. Dominá-lo e reprimi-lo era o ideal da vida cristã. A sexualidade encontrou-se novamente sob o controle da religião. A dimensão do prazer foi novamente perdida e o sexo só era permitido com o propósito da procriação. A condenação do sexo passou a exaltar o ideal do celibato e da virgindade e a castidade se tornou a maior virtude. Segundo este autor, a Idade Média construiu uma visão extremamente negativa e rígida da sexualidade.

A quarta etapa está ligada à transformação do mundo medieval feudal com o advento da sociedade capitalista. A nova sociedade se baseia no trabalho. Era preciso canalizar as energias para o trabalho. Daí mais um motivo para continuar a forte repressão da sexualidade. Segundo Nunes (1987), o auge deste modelo se deu na época da Rainha Vitória com uma compreensão repressora do sexo.

A nudez continua a ser coberta com panos e conceitos. O sexo tornou-se, agora, o grande inimigo do trabalho e o mundo moderno criou meios de controlar o sexo e a masturbação, que passou a ser reprimida como uma doença, anomalia, causadora de males e calamidades. O sexo reduziu-se ao privado, mantendo-se com o fim de procriação (Nunes, 1987).

A quinta etapa caracteriza-se pela perda da hegemonia européia sobre o mundo e o advento da sociedade de consumo. A repressão da sexualidade durante os séculos XVI, XVII e XVIII começou a se transformar no século XIX com as mudanças do mundo capitalista. Temos uma série de acontecimentos e revoluções do pensamento que marcaram uma nova compreensão da sexualidade. Darwin revolucionou os conceitos básicos das Ciências Naturais; Freud revolucionou os conceitos sobre o homem e a sexualidade, com as neuroses, traumas e o consciente e inconsciente e Marx inaugurou uma compreensão estrutural das sociedades humanas e seus mecanismos de exploração e reprodução ideológica.

O capitalismo inaugurou um progresso enorme nas comunicações, na qual explodiram diversas formas de movimentos de contestação como o dos jovens, rock, grupos feministas, negros e homossexuais. Nestes movimentos, havia a luta pela liberação sexual, e o capitalismo usurpou deste apelo e incorporou-o à sua máquina de consumo. O sistema permitiu a manifestação compensadora e quantitativa da sexualidade, mas não a humanização e o sentimento de afeto, que são os aspectos qualitativos. É um prazer mecanizado, baseado no princípio do desempenho e do consumo, no sentido de compensar os períodos de grande

repressão. Compreender a história implica em perceber a dimensão estrutural-dialética da produção da vida social.

A história da sexualidade, se quisermos centrá-la nos mecanismos de repressão, supõe duas rupturas. Uma no decorrer do século XVII: nascimento das grandes proibições, valorização exclusiva da sexualidade adulta e matrimonial, imperativos de decência, esquiva obrigatória do corpo, contenção e pudores imperativos da linguagem; a outra, no século XX: menos ruptura, aliás, do que inflexão da curva: é o momento em que os mecanismos da repressão teriam começado a afrouxar: passar-se-ia das interdições sexuais imperiosas a uma relativa tolerância a propósito das relações pré-nupciais ou extra-matrimoniais; a desqualificação dos perversos teria sido atenuada e, sua condenação pela lei, eliminada em parte; ter-se-iam eliminado em grande parte, os tabus que pesavam sobre a sexualidade das crianças (Foucault, 2007, p. 126).

Hoje, para que se compreenda melhor a sexualidade humana, é necessário que se faça uma abordagem multidisciplinar, uma vez que as áreas da biologia, da antropologia, da economia, da filosofia, da psicologia, da sociologia e da economia, também a tomam como objeto de estudo. A seguir veremos a influência da higiene e da religião na família moderna e em especial na conduta sexual dos sujeitos.

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