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3.2 Encontro

3.2.3 A História do Encontro

O Espírito Santo conduz a Igreja e proporciona o encontro entre a plenitude da revelação que é o Cristo e a humanidade inteira que carrega suas alegrias e sofrimentos. “Mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que vos disse.” (Jo 14, 26) Graças ao Espírito Santo a Palavra não está estagnada, longínqua, mas torna-se viva, eficaz e sempre atual. Além de prover o encontro com Cristo o Espírito Santo também realiza o encontro com o Pai e o seu mistério de amor. “E a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.” (Rm 5,5). Desta forma, “O Silêncio da Origem e a Palavra de revelação se tornaram acessíveis ao homem mediante a obra do Consolador: é ele que realiza o encontro e é seu fundamento transcendente, a divina condição de sua possibilidade”.101

Graças ao Espírito Santo foi possível não só conhecer a Palavra, mas também aprofundar e conhecer a revelação. O Encontro que o Espírito Santo produz envolve toda a humanidade, a Trindade entra na História e a História na Trindade, proporcionando assim a comunhão entre divino e humano. Cada qual respeitando sua liberdade e particularidade. Dando ao ser humano a certeza de que o sofrimento não terá a vitória.

Este encontro realizado pelo Espírito acontece no tempo e na História ele se tornou possível graças a autocomunicação divina. O ser humano em sua liberdade deve ser envolvido nesse encontro na sua totalidade. Para isso tornar-se possível é necessário a graça de Deus, e o aperfeiçoamento da fé dá-se graças aos dons que o Espírito Santo proporciona aos que nele creêm. Devido a essa graça o ser humano também é capaz de Deus e de auxiliar os que sofrem, de perceber que o Silêncio de Deus é sua presença.

O Encontro se dá também de forma peculiar com cada pessoa da Trindade. Em primeiro lugar com o Silêncio. “Por intermédio da caridade, a criatura humana

acolhe o Silêncio gerador do irradiante e dá testemunho dele em sua vida mediante a silenciosa irradiação do seu próprio amor”.102

A pessoa humana encontra a Palavra através da fé. “Mas o que diz ela? Ao teu alcance está a Palavra, em tua boca e em teu coração; a saber, a Palavra da fé que nós pregamos. Porque, se confessares com tua boca que Jesus é Senhor e creres em teu coração que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo” (Rm 10, 8s). Ter fé é entregar-se de coração ao que não compreendemos na totalidade, mas acreditamos. Somos também convidado a assumir o compromisso de colocar em prática o que nos é ensinado e acreditamos pela fé. Já São Paulo na carta aos Hebreus recorda que a fé sem obras é morta. Ou seja, a fé que não produz atitude, não é uma fé autêntica. A Palavra que não ressoa e não modifica a vida daquele que a escuta não surte o efeito desejado.

O Espírito Santo que produz o encontro e a comunhão entre Trindade e ser humano é lembrado pela esperança. Da mesma forma que une a Palavra ao presente, une também o presente ao futuro. Por isso, gera esperança que é a antecipação da eternidade. O encontro proporciona a lembrança do que foi dito na Palavra e antecipa suas promessas através da esperança. “Desta forma, o Encontro eterno vive no tempo, habitando no íntimo de quem crê e espera, como penhor da glória futura e antecipação de tudo o que já foi prometido na revelação e não ainda cumprido”.103

A harmonia e a unidade na qual vive a Trindade e na qual somos convidados a participar torna-se um testemunho do que significa viver em Deus e de que forma podemos nos reconciliar com ele. Quando quebramos esta harmonia afastamo-nos dessa comunhão e fechamo-nos no egoísmo. Por isso, uma outra característica do espírito é ser aberto. A harmonia só é possível quando existe essa aberturo; o contrário é fechamento. Abertura que lembra o transbordamento amoroso de Deus criador e também o esquecer-se de si para ir ao encontro do outro. Lembra que Deus está no rosto daquele que sofre querendo resgatá-lo dessa condição.

De certa forma parece contraditória um morrer para si para entrar na vida. Entende-se somente esta negação de si a partir das consequências que ela

102 FORTE, Bruno. Teologia da História. Ensaios sobre a revelação, o inicio e a consumação. p. 186. 103 FORTE, Bruno. Teologia da História. Ensaios sobre a revelação, o inicio e a consumação. p. 188.

proporciona. O fechar-se em si gera solidão, isolamento tornando a vida uma angústia. O contrário que é o negar-se a si em vista do outro gera alegria e traz sentido à vida. A Trindade é doação e na participação dessa a humanidade também é convidada a ser. “Então disse Jesus aos seus discípulos: ‘ Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me. Pois aquele que quiser salvar a sua vida, a perderá, mas o que perder sua vida por causa de mim, a encontrará.’” (Mt 16, 24)

O primeiro movimento é de sair de si, morrer. A partir disso ganha-se a vida, a vitória da vida sobre a morte dá-se na caridade na fé e na esperança:

a caridade é vitória sobre a morte, triunfo da vida realizado com o simples e silencioso agir do amor [...] A fé é entrar na vida que só a Palavra, na qual cremos, nos revela e transmite. [...] A esperança é saborear antecipadamente o triunfo da vida, o encontro do humilde dia presente com o dia da glória prometida.104

Viver o encontro com Deus é partilhar, é ser com ele. Se Deus é caridade nós também somos convidados a ser. Quando ele entrega sua vida para a salvação do ser humano, também esse, quando participar da comunhão com Deus, é convidado a entregar sua vida em vista do outro. Entrar em comunhão com o outro na alegria e na dor. Essa entrega dá-se no amor por que ela é o trabalho em vista do outro, dá- se na fé porque é o entregar-se sem compreender e dá-se na esperança que é esperar sem ter certeza. Desta forma, a vida vence a morte estimulada pela Trindade e pela prática da fé, esperança e caridade.