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Parte I Enquadramento Teórico

4.1 História

No século XIX, quando alguém já idoso apresentava dependência de ordem física, mental ou económica, era tratado e cuidado no seio familiar. Contudo, nem todas as pessoas idosas teriam rede de apoio familiar em situações de necessidade. Nesta ausência de cuidados e de protecção social por parte do agregado familiar, restava a solidariedade de vizinhos ou mesmo do Estado, na assunção desse papel. Estava-se perante uma protecção social precária e de natureza assistencialista, pois, a população idosa sem apoio ou meios próprios eram excluídos socialmente, denotando-se uma imagem negativa e depreciativa da pessoa idosa (Alcoforado et al., 2011).

A criação dos sistemas de reforma na segunda metade do século XX originou que a idade maior deixasse de ser associada a incapacidade e dependência. Concretamente em Portugal, a generalização destes sistemas ocorreram na década de 70. A velhice era então uma categorial social e de acção política, uma vez que em 1976, surgiu na Constituição da República a declaração de uma política para a terceira idade. Influenciada pela política francesa, a terceira idade era entendida como uma categoria social autónoma e alvo de um tratamento específico, acabando com a conotação pejorativa do ser idoso e do asilo, com a preocupação acrescida da história de vida da pessoa idosa e a sua manutenção no seu meio social, como aspectos essenciais para o seu bem-estar e qualidade de vida. Neste contexto, surgem os diversos serviços e equipamentos dirigidos aos idosos, de forma a garantir a sua manutenção no domicílio. Do final da década de 70 até 1995, assiste-se ao aparecimento de programas de saúde e de apoio social, em concreto os CD, Centros de Convívio, Centros de Noite, e SAD (Alcoforado et al., 2011), que se constituem como um conjunto de respostas de apoio social para pessoas idosas, com o propósito de promover a autonomia, a integração social e a saúde (seg. social, 2016), em alternativa à valência de Lar, a resposta social que é desenvolvida em regime de alojamento colectivo temporário ou permanente, destinado a idosos.

Apesar de terem um denominador comum, os serviços e respostas sociais que garantem a permanência do indivíduo na comunidade têm características e objectivos distintos. Os SAD são uma resposta social na qual a prestação de cuidados e serviços são dirigidos a famílias e ou a pessoas que se encontrem no seu domicílio, em situação de dependência física e ou psíquica e que não conseguem assegurar, temporária ou permanentemente, a

satisfação das suas necessidades básicas e ou a realização das atividades instrumentais e/ou básicas da vida diária, nem disponham de apoio familiar para o efeito. Os Centros de Convívio visam o apoio a atividades sociais, recreativas e culturais, organizadas e dinamizadas com participação ativa das pessoas idosas, residentes na comunidade, com o intuito maior de prevenir a solidão e o isolamento e fomentar a participação e inclusão dos idosos na vida social local. Por seu turno, os Centros de Noite, como a designação sugere, tem o seu funcionamento no período nocturno, visando o acolhimento de pessoas idosas com autonomia que, durante o dia permaneçam no seu domicílio e que por vivenciarem situações de solidão, isolamento e insegurança, necessitam de acompanhamento durante a noite, possibilitando a permanência do utente no seu meio habitual de vida.

4.2. Conceito

Especificamente por Centro de Dia (CD) entende-se a resposta social, desenvolvida em equipamento, em funcionamento diurno, que consiste na prestação de cuidados individualizados e personalizados, com o intuito da manutenção do utente idoso no seu meio sociofamiliar (Carta Social). Surgem como um recurso intermédio, visando a promoção da autonomia e a prevenção de situações de dependência ou o seu agravamento.

São objectivos gerais do CD a prestação de serviços que satisfaçam necessidades básicas dos seus utentes, a prestação de apoio psicossocial, a animação sociocultural e outras actividades que privilegiam as relações interpessoais ao nível dos idosos e destes com outros grupos etários, a fim de evitar o isolamento.

Nos serviços disponibilizados pelo CD encontram-se o serviço de refeição, o convívio e ocupação dos tempos livres, os cuidados de higiene, o tratamento de roupas e serviço de transporte adaptado ou acompanhamento a serviços. O mesmo pode também promover a distribuição de refeições ao domicílio, serviços de apoio domiciliário e acolhimento temporário. Pretende-se, por conseguinte, uma oferta de serviços de proximidade diversificada, permitindo que o cidadão permaneça, o maior tempo possível, no seu meio habitual de vida, retardando e invertendo a lógica de integração em valência de Lar, como a única resposta possível. Da mesma forma, o Centro de Dia possibilita às pessoas

através do estabelecimento de contactos com os colaboradores, voluntários, clientes e pessoas da comunidade (Segurança Social, 2014).

Os idosos residentes na comunidade são o grupo etário que mais necessita de cuidados de saúde e serviços de apoio social (Simsek, Meseri, Sahin, & Ucku, 2013), nomeadamente os CD. Na verdade, os idosos apresentam taxas de pobreza claramente superiores às da população (INE, 2002), não causando estranheza que os idosos com baixos rendimentos são habitualmente os utilizadores dos CD (Schneider, Ralph, Olson, Flatley, & Thorpe, 2014). De facto, os CD são locais comprometidos a servir idosos pobres e indivíduos pertencentes a minorias (Schneider et al., 2014). Igualmente comprometidos a promoverem a saúde física e mental dos seus utilizadores (Cohen, 1968; Schneider et al., 2014), através da preparação e confecção de refeições e de todo um outro conjunto de serviços referidos anteriormente, particularmente importantes para estes idosos (Cohen, 1968).

As motivações que impelem os idosos a requisitarem o apoio do Centro de Dia são variadas. Segundo Benet (Anna Soldevila Benet, 2003), as razões ligadas à saúde surgem em primeiro aquando da decisão de utilização deste equipamento social.

Seguidamente, surgem as motivações emocionais, nomeadamente o facto de viverem sozinhos, de acordo com o que a autora aferiu. De igual modo, em Lisboa o estudo desenvolvido pela SCML apurou que o facto de o idoso viver sozinho contribuía para aumentar a frequência dos CD (Marrana et al., 2014). Na senda do propósito desta Resposta Social, a participação na mesma pode permitir contactos sociais e a promoção de integração e interacção positiva (Seg. social, 2014).

Também as razões de ordem familiar podem precipitar a inserção dos idosos no CD, salientando-se as dificuldades dos familiares em assumir os cuidados do idoso (devido a problemas de saúde, de trabalho ou sobrecarga) ou mesmo a ausência de retaguarda familiar (seg. social 2014). As questões económicas estão também entre as motivações que levam a que os idosos acedam a estes serviços.