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HISTÓRIA RENOVADA: PLURALIDADE E PROBLEMATIZAÇÃO

4.1 – A HISTÓRIA SOB A INFLUÊNCIA DA ESCOLA DO ANNALES

Na primeira metade do século XX, desenvolve-se surge na França, um dos movimentos mais emblemáticos, significativos e duradouros para a historiografia ocidental, segundo afirma o historiador José de Assunção Barros (2011) em seu artigo ―A Escola dos Annales: considerações sobre a História em Movimento‖. No campo historiográfico nascia na França, em 1929, uma nova forma de pesquisa histórica, convencionada de Escola dos Annales e que teve a liderança inicial de Lucien Febvre e Marc Bloch, a partir dos seus trabalhos a História passou a ser interpretada por um novo prisma, oposto à visão apresentada pela história tradicional ou também conhecida como história metódica ou positivista.

Para alguns estudiosos, essa escola trouxe uma revolução para a historiografia, rompendo com uma história basicamente factual e política que era, sobretudo, influenciada pelo positivismo. Com esse rompimento, vale salientar, não significa dizer que os historiadores dos Annales rejeitaram à história política, elimindo-a completamente e renegando seu lugar e importância. Le Goff, por exemplo, junto com Duby, ambos historiadores, ―consideram que a política não é mais a ‗espinha-dorsal‘ da história, no sentido de que ‗ela não pode aspirar à autonomia‘.‖ (BURKE, 1997, p. 101). Mas, como eles próprios salientam ela é indispensável para ser estudada, como o fez o próprio Bloch, ―uma nova história política, uma história total do poder, em todas as suas formas e com todos os seus instrumentos. [...] é dessa forma o apelo ao retorno da história política, mas uma história política renovada‖ (LE GOFF, 1993, p. 36).

Os Annales possibilitaram mudanças significativas na forma de compreender a disciplina de História e, consequentemente, no papel do historiador. Estas mudanças podem ser observadas, condensadamente, no seguinte quadro:

PRINCIPAIS MUDANÇAS IMPETRADAS PELO MOVIMENTO DOS ANNALES EM COMPARAÇÃO À ESCOLA METÓDICA.

Escola metódica Movimento dos Annales Análise dos fatos: história que trabalha as ilusões

de cada época.

Análise dos fatos: história crítica, que trabalha na dissolução de evidências mostrando os supostos ocultos, questionando as visões comuns.

Objeto de estudado: o passado escrito, registrado em texto, documentações oficiais.

Objeto de estudo: não mais só o estudo do passado, abre-se portas para o estudo do presente, e da ―pré-história‖ do homem.

Resultados esperados: história essencialmente descritiva, narrativa, imparcial e objetiva.

Resultados esperados: história que explora todo o espaço e dimensões possíveis de seu caráter interpretativo, agindo na criação de modelos, hipóteses e explicações globalizadas que rompam com o limite da história nacional. Noção de tempo: estudo do tempo curto

(èvènementelle), com a idéia do progresso simples (linear) e acumulativo.

Noção de tempo: degeneração dos múltiplos tempos, criação de uma nova noção do tempo e da duração.

Analise das conjunturas e processos longa duração. Rechaçando a idéia linear simplista de progresso.

Relação com as fontes: procura, consciente ou inconscientemente, neutralidade máxima no trato da fonte, uma objetividade incondicional.

Relação com as fontes: história que assume como consciente dando total esclarecimento dos seus pressupostos e pontos de partida.

Técnicas de apoio: crítica interna e externa do documento através das ―ciências auxiliares‖ (Diplomática, Numismática e Paleografia).

Técnicas de apoio: iconografia, fotografia aérea, carbono 14, dendocronologia e o estudo das séries.

Domínios: história que já estabeleceu seus temas de estudo limitados pela definição de deu objeto e fechados em torno de seu objetivo. História que isola seus problemas e encerra em rígidos limites cronológicos, espaciais e temáticos.

Domínios: tudo o que é humano pertence à história; de perspectivas globalizantes, que usa o método comparativo, que transcende permanentemente as barreiras cronológicas, espaciais, temáticas do objeto.

Fontes: documentos escritos. Fontes: história que se multiplica,

recria, inventa e descobre múltiplas fontes e novos pontos de apoio.

Definição: a ciência do passado. Definição: ciência dos homens no tempo. Relação com as ciências sociais: história como

disciplina estanque, autônoma e sem ligações interdisciplinares.

Relação com as ciências sociais: história aberta para diálogos e intercâmbios com as ciências sociais.

O grupo dos Annales, composto por uma equipe multidisciplinar, fez uma releitura da história, apresentando novas abordagens, novos problemas e novos objetos, propondo problemas e levantando hipóteses, proporcionando uma melhor compreensão do objeto de estudo comum às ciências sociais.

Incompatível com a ênfase dada pela história política aliada ao Estado, em que narrava os fatos como ocorreram, de forma imparcial, a historiografia dos Annales se firma como corrente dominante a partir da crítica à história realizada em seu tempo. Barros (2011) lembra o que era necessário para o movimento dos Annales se firmar:

Para se firmar como corrente historiográfica dominante na França, e estender posteriormente sua influência a outros países da Europa e também da América, os fundadores e consolidadores dos Annales precisaram estabelecer uma arguta e impiedosa crítica da historiografia de seu tempo – particularmente daquela historiografia que epitetaram de História Historizante ou de História Eventual – buscando combater mais especialmente a Escola Metódica Francesa e certos setores mais conservadores do Historicismo. Os Annales, em busca de sua conquista territorial da História, precisavam enfrentar as tendências historiográficas então dominantes, mas também se afirmar contra uma força nova que começava a trazer métodos e aportes teóricos inovadores para o campo do conhecimento humano: as nascentes Ciências Sociais. É contra o pano de fundo deste duplo desafio que o movimento inicia a sua aventura historiográfica. (BARROS, 2010, p. 5).

Buscando se firmar como corrente historiográfica dominante na França e posteriormente estender sua influência para o mundo, os fundadores dos Annales precisaram, para conseguirem seu espaço, começar a aplicar métodos e teorias inovadoras para o seu tempo e enfrentar as tendências historiográficas então dominantes. Dessa forma, os integrantes do grupo em torno da revista dos Annales acabaram por formar uma corrente teórica, centrados na prática do historiador. Segundo Bourdé e Martin, formaram um movimento que desprezava a História historicizante ou événentielle (centrada nos acontecimentos), voltava-se para a análise da longa duração, retirava o olhar histórico da política e centrando sua atenção para as atividades econômicas, nas organizações sociais e psicologias coletivas, com o intuito de aproximar a História a outros campos das ciências humanas.

Aos poucos, o grupo dos Annales foi reconhecido pela seriedade de seus trabalhos e pela inovação do método histórico, pois estes historiadores se propunham a defender um novo tipo de história, onde era praticada a interdisciplinaridade, objetivando uma história problema, defendiam uma história das sensibilidades, das representações sociais. Aos poucos os

Annales foram conquistando mais adeptos, principalmente os historiadores

eles, podemos destacar Fernand Braudel, Pierre Goubert, Maurice Agulhon, Georges Duby e outros. (CANABARRO, 2008, p. 81).

Marc Bloch e Lucien Febvre não entendiam a prática histórica fora do cotidiano, e segundo Glénisson (1979), recomendavam aos historiadores que ―longe de encerrar-se em sua torre de marfim, o historiador deverá abrir-se ao mundo exterior, participar ativamente da vida de seu tempo‖. Esse espírito de renovação, marcou essencialmente a primeira geração dos Annales, entre os anos de 1930 e 1945. Eles lançaram uma revista com suas principais ideias. Ela foi intitulada de Les Annales d’Historie Economique et Sociale (Os Anais de História Econômica e Social), e tinha o objetivo inicial de mostrar para as pessoas uma forma diferente de se construir o conhecimento histórico, e de contestar os antigos ensinamentos espalhados pela escola metódica. Com o lançamento do primeiro número desse periódico ficava evidente que a sua proposta era:

1 – organizar um fórum que promovesse uma discussão entre os historiadores e cientistas sociais; 2 – questionar a divisão da história em antiga, medieval e moderna e da sociedade em primitiva e civilizada; 3 – criar uma comunidade das ciências sociais. A revista também prometia uma nova forma de construção do conhecimento histórico, ampliando a noção de fonte documental, permitindo o uso dos documentos escritos e imagéticos ou não-verbais, como também um diálogo promissor com as demais ciências sociais. (CANABARRO, 2008, p. 76).

A revista dos Les Annales d’Histoire Economique et Sociale estava sob a direção de dois historiadores franceses, anteriormente citados, que trabalhavam na universidade de Estrasburgo, onde tinham encontros diários. A universidade era ponto de encontro de professores de diferentes áreas, tais como: o psicólogo Charles Blondel, o sociólogo Maurice Halbwachs, Henri Bremond e os historiadores Georges Lefebvre, Gabriel Le Bas e André Piganiol, toda esta equipe de professores tinha contatos permanentes, o que os auxiliou na construção de uma visão interdisciplinar da história, pois diferentes profissionais, principalmente das ciências humanas, atuavam juntos e colaborando para o sucesso da revista. Os seguidores das ideias apresentadas pela Escola dos Annales acreditam que a História deveria ser feita por uma construção do passado, não estando pronta nos documentos, mas necessitando ser escolhida, analisada e interrogada; e o historiador devendo assim julgar tais fragmentos a partir do seu conhecimento acerca da representatividade e subjetividade que fatalmente estaria presente em diferentes documentos estes sendo tidos como qualquer vestígio deixado pelos homens em diferentes tempos e lugares.

Outra importante contribuição da escola dos Annales para os estudos históricos foi não só a mudança do seu objeto de estudo, mas a ampliação das fontes históricas, proporcionando uma maior flexibilidade e ampliação dos estudos, gerando infinitas possibilidades de investigação e trabalhos variados. A partir deste contexto, os ditos excluídos – negros, mulheres, crianças ganham seu espaço na historiografia. Segundo Tétart (2000, p.109, 110) os Annales desceram "[...] ao porão da História recusando o elitismo dos assuntos e a prioridade do acontecimento. A partir de então [...] a extensão da curiosidade do historiador não tem mais limites [...]".

Como vimos, na geração de Braudel, a história das mentalidades e outras formas de história cultural não foram inteiramente negligenciadas, contudo, situavam-se marginalmente ao projeto dos Annales. No correr dos anos 60 e 70, porém, uma importante mudança de interesse ocorreu. O itinerário intelectual de alguns historiadores dos Annales transferiu-se da base econômica para a ―superestrutura‖ cultural, ―do porão ao sótão‖ (BURKE, 1992, p.82).

A partir de 1970 os Annales ganharam destaque em todo o mundo ocidental através de estudos que propunham a inclusão de personagens históricos que antes eram invisíveis, excluídos e completamente marginalizados, deixados de lado do contexto histórico social. Tendo em vista que anteriormente os estudos históricos eram dedicados a narrar a história de grandes ícones da sociedade cristã ocidental que se delineavam a uma trajetória única, progressiva, em que o protagonista principal era sempre um homem branco, europeu e burguês, sendo assim um modelo que deveria servir de herói e exemplo para as outras gerações e nações.

(...) os historiadores da década de 1960 e 1970 abandonaram os mais tradicionais relatos históricos de líderes políticos e instituições políticas e direcionaram seus interesses para as investigações da composição social e da vida cotidiana de operários, criados, mulheres, grupos étnicos e congêneres (HUNT, 2001, p. 02).

A escola dos Annales a partir da década de 1970 ganhou reconhecimento e prestígio em vários países do mundo através de estudos que contribuíram para o desempenho da História Social, já que tais estudos visavam a inclusão de uma política que envolvesse tudo que fosse referente ao ser humano, principalmente, as classes marginalizadas, que por longos anos foram esquecidas pela pesquisa científica histórica.

De acordo com a obra de Burke (1997), os Annales foi um movimento dividido em três fases: a primeira apresenta a guerra radical contra a história tradicional, a história política e a história dos eventos. Inicia-se em 1929 e vai praticamente até o final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), sob a orientação de Bloch e Febvre, sendo o trabalho desses dois historiadores franceses peça fundamental para consolidação da Escola dos Annales. Eles foram responsáveis pela primeira geração da escola, deram mais importância à história econômica e social, opondo-se à história tradicional. Esta primeira geração é responsável pelos diálogos interdisciplinares, consolidando, desta forma, uma nova perspectiva histórica, pois os historiadores desta geração procuraram aproximar os estudos históricos das demais disciplinas na perspectiva de entender de forma mais clara a noção de totalidade. Peter Burke, (1997), descreve as linhas diretrizes do movimento da seguinte forma:

Em primeiro lugar, a substituição da tradicional narrativa de acontecimentos por uma história-problema. Em segundo lugar, a história de todas as atividades humanas e não apenas história política. Em terceiro lugar, visando completar os dois primeiros objetivos, a colaboração com outras disciplinas, tais como a geografia, a sociologia, a psicologia, a economia, a linguística, a antropologia social, e tantas outras. (BURKE, 1997. p.11-12).

Um dos objetivos de Marc Bloch e Lucien Febvre era a constituição de uma história com uma visão global, recusando a história mais fragmentada, pois pretendiam entender o homem em sua totalidade, e este objetivo era uma das características fundamentais da Escola dos Annales, pelo menos na primeira e segunda geração.

A segunda fase, não só se opunha às ideias de uma história tradicional, mas já apresentava conceitos próprios e novos métodos. Correspondeu ao período de 1945 a 1968, na qual o maior destaque foi das ideias trazidas por Fernand Braudel. Foi ele que prosseguiu com a direção da Revista dos Annales, mas não estava sozinho nesta geração, embora sua presença tenha sido fundamental para a sua organização e divulgação a partir do fim da Segunda Guerra Mundial. Centrou-se mais sobre os conceitos de estrutura e conjuntura, e acabou por aproximar-se muito, segundo Burke (1997), de uma escola, com novos métodos e propostas para a constituição de uma História serial e de longa duração.

Sua inovação foi a percepção de profundas e constantes conexões entre tempo e espaço, história e geografia. É válido destacar que também se trabalhou com a história quantitativa e com as noções de região e regionalização, com a demografia histórica e com a história serial, todas estas perspectivas podem ser constatadas nos historiadores desta geração.

Mas o historiador com maior destaque foi realmente Fernand Braudel, que conseguiu criar uma identidade para esta fase dos Annales, segundo afirma Canabarro (2008).

Fernand Braudel mostrou que a História, longe de encerrar-se no estudo dos acontecimentos, não somente era capaz de individuar as estruturas, mas também se interessava em primeiro lugar por essa tarefa. Dessa forma, no desenvolvimento de sua demonstração, também precisou o sentido que os historiadores davam à própria palavra estrutura. Por estrutura, os observadores do social entendem uma organização, uma coerência, relações bastante fixas entre realidades e massas sociais (MATOS, 2010, p. 120).

A terceira geração se inicia em 1968, ano marcante para os europeus, pois os estudantes foram para as ruas protestar sobre todas as formas de conservadorismo que havia no sistema educacional francês. As mudanças ocorridas após 1968 influenciaram também na Escola dos Annales, que a partir deste período começou a acrescentar novos direcionamentos na sua forma de construir a história. Esta geração é bem mais plural e diversificada, contando com a presença de diferentes e importantes historiadores entre eles algumas mulheres, tais como: Christiane Klapisch, Arlette Farge, Mona Ozout e Michele Perrot. Os temas, objetos e abordagens são bem diversificados, contemplando a própria multiplicidade das ideias de diferentes historiadores (CASABARRO, 2008, p. 91).

Essa geração foi liderada por Jacques Le Goff e Georges Duby, traz uma fase marcada pela fragmentação e por exercer grande influência sobre a historiografia e sobre o público leitor. Uma das características marcantes da terceira geração dos Annales é a tentativa de popularização da história, quando os historiadores escrevem livros com uma linguagem acessível para ser lidos pelo grande público. Os historiadores saíram das universidades e foram para os lugares onde o povo se encontrava, participavam dos programas de rádio e de televisão, na perspectiva de divulgar o conhecimento histórico. Alguns historiadores dos Annales também escreveram naquele momento para os principais jornais franceses (CANABARRO, 2008).

A influência da Escola dos Annales na historiografia é decisiva para se pensar nas novas perspectivas de abordagens, objetos e dimensões que configuram o conhecimento histórico. Como afirma Peter Burke (1997), a Escola dos Annales é a verdadeira Revolução Francesa da historiografia.

A diversidade de objetos e abordagens ficou evidente nesta geração, pois o espírito interdisciplinar dos Annales foi seguido pelos historiadores interessados nas aproximações com as ciências sociais. A psicologia foi uma das disciplinas que teve uma grande aproximação, as ideologias, o

imaginário social e as mentalidades também podem ser destacados como dimensões importantes para esta geração. [...] Podemos citar dois grandes historiadores que trabalham com as mentalidades, que são: Jacques Le Goff e Georges Duby que estudam com esta dimensão desde o início dos anos de 1960. [...] Nesta terceira geração, as fontes de pesquisa são bem diversificadas, pois trabalham com as escritas, imagéticas e orais, introduzindo-se assim novas fontes como a fotografia, o cinema, a pintura, a arqueologia, os jornais, os inquéritos policiais e demais documentos, todos considerados como importantes para a construção do conhecimento histórico. (CANABARRO, 2008, p. 92-93).

A terceira geração acabou por abrir-se aos mais diversos temas e, por isso, foi criticada pela fragmentação. Para Ronaldo Vainfas (1997, p. 137), é costume se destacar a preferência por assuntos ligados ao cotidiano e às representações (...) microtemas, portanto, recortes minúsculos do todo social. Essa centralidade em ―microtemas‖, história da vida privada, história de gênero, da sexualidade, micro-história, como afirmou Vainfas, foram campos não apenas abertos pela história das mentalidades como seu próprio refúgio, assim como o principal elo com a – iniciada após 1988 – quarta geração dos Annales.

A terceira geração dos Annales, sensível como as outras as interrogações do presente, muda o rumo de seu discurso ao desenvolver a antropologia histórica‖ e, neste sentido ―o preço a pagar por essa nova readaptação é o abandono dos grandes espaços econômicos braudelianos, o refluxo do social para o simbólico e para o cultural. (DOSSE, 1992, p. 249).

De acordo com Azevedo e Stamatto (2010, p.16), essa terceira fase corresponde até nossos dias, em que diferentes perspectivas e autores encontram espaço de atuação. A partir, principalmente dos anos de 1970, o que se observa é o surgimento de uma nova orientação marcada por uma fragmentação teórica a partir das propostas de Le Goff, Le Roy Ladurie e Pierre Nora e outros. Passa-se a pesquisas sobre novos e por vezes específicos temas: mulheres, crianças, famílias, entre outros.

A mais importante contribuição do grupo dos Annales, incluindo-se as três gerações, foi expandir o campo da história por diversas áreas. O grupo ampliou o território da história, abrangendo áreas inesperadas do comportamento humano e a grupos sociais negligenciados pelos historiadores tradicionais. Essas extensões do território histórico estão vinculadas à descoberta de novas fontes e ao desenvolvimento de novos métodos para explorá-las. Estão também associadas à colaboração com outras ciências, ligadas ao estudo da humanidade, da geografia à linguística, da economia à psicologia. Essa colaboração interdisciplinar manteve-se por mais de sessenta anos, um fenômeno sem precedentes na história das ciências sociais. (BURKE, 1997, p.126).

Os historiadores Jacques Le Goff, Le Roy Ladurie, Robert Mandrou, Jacques Revel dentre outros, contribuíram bastante nas décadas de 70 e 80 do século XX para a revista dos Annales, principalmente no que se refere à abordagem cultural que é a marca da terceira geração dos Annales ou Nouvelle Histoire ou Nova História. Nesta fase a produção histórica foi avaliada e reelaborada teórica e metodologicamente. A Nova História diferencia-se da tradicional em seis pontos segundo afirma Burke (1992, p.360): I. o paradigma tradicional diz respeito somente à história política, a História Nova, preocupa-se com uma história total, onde tudo é histórico; II. a história tradicional pensa na história como narração dos grandes fatos, a nova preocupa-se em analisar as estruturas; a tradicional olha de cima, a nova, de cima, de baixo e de outros ângulos possíveis; III. documentos oficiais são os que interessam ao paradigma tradicional, o paradigma da História Nova aceita qualquer espécie de documento;

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