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HISTÓRIA TRADICIONAL E A NOVA HISTÓRIA

CAPÍTULO 2 FLORIANÓPOLIS: UM NOME, MUITAS HISTÓRIAS

2.1. HISTÓRIA TRADICIONAL E A NOVA HISTÓRIA

Na historiografia que se debruça sobre tal episódio, existem inúmeras divergências quanto aos sentidos dos acontecimentos que circundam a mudança do nome da capital. Dessa forma é possível identificar, ou classificar, entre os autores e autoras que se dedicaram a estudar o período, pelo menos duas linhas de pensamento no que tange o tema aqui abordado em meio ao contexto de disputas políticas nos últimos anos do século XIX em Santa Catarina. Esses dois grupos serão classificados neste estudo, segundo a definição de Wolff (1994) que propõe um debate sobre as abordagens historiográficas referentes à história de Santa Catarina.

A partir de um ponto de vista centrado na delimitação do objeto de estudo do historiador, é possível vislumbrar a existência de três grupos principais na historiografia catarinense recente. O primeiro é formado por obras que se pretendem estadual e geralmente dão grande importância a eventos políticos de âmbito municipal, local, enquanto o terceiro grupo produz uma história centrada em temas e questões-problemas. (p.53)31

31 O segundo grupo presente nesta proposta, se trata da abordagem local tradicional, que é composto por autores que se dedicam a desenvolver uma historiografia, em alguns casos, não profissional, ligada a questões municipais, como a fundação de times de futebol, conjunturas políticas locais específicas, figuras ilustres de determinada localidade, etc. (WOLFF, 1994, p. 56-57)

Os grupos nos quais a autora classifica a historiografia catarinense são atrelados a uma análise já proposta por Peter Burke32 em ―A escrita da História‖ no qual diferencia o que chama de história tradicional e nova história33.

Dito isto, assinalamos que a primeira vertente historiográfica analisada nesse estudo está ligada a pesquisadores vinculados ao IHGSC que tende a naturalizar o processo com ares de justificação à violência intrínseca ao processo de disputa política presente naquele momento histórico. Segundo a classificação proposta por Wolff, esse grupo se encaixaria na abordagem tradicional estadual, ligada à historiografia tradicional segundo os parâmetros de Burke.

A segunda linha historiográfica analisada é composta por pesquisadores e pesquisadoras que, a partir do fim dos anos 1980, buscaram em seus esforços construir um panorama relativo às mudanças sociais presentes na capital catarinense nas primeiras décadas do regime republicano. Quanto às contribuições sobre a mudança do nome da capital, rejeitam a ideia de naturalização defendida por autores ligados ao IHGSC, apresentando críticas contundentes a todo o processo de violência imposto pelo governo central no decorrer

32 Peter Burke é um historiador nascido em Stanmore na Inglaterra em 1937. Doutor em História pela Universidade de Oxford e atualmente professor de História cultural na Universidade de Cambridge. É reconhecido como uma das maiores autoridades intelectuais em História moderna europeia, trazendo em sua trajetória acadêmica uma ênfase na análise sociocultural dos objetos de estudo. Casado com a brasileira Maria Lucia Pallares Burke, também pesquisadora em História, possui íntima relação com o Brasil, pois já foi professor visitante na Universidade de São Paulo e desenvolveu ampla pesquisa sobre a obra de Gilberto Freyre.

33 Segundo Wolff, o esquema elaborado por Peter Burke para realizar essa diferenciação é o seguinte:

―1. Enquanto para o paradigma tradicional ―a história diz respeito essencialmente à política‖, a nova história interessa-se em princípio por toda atividade humana. 2. A história tradicional é pensada como uma narrativa dos acontecimentos. Já a nova história preocupa-se com uma análise, seja de estruturas, de processos, ou dos próprios acontecimentos.3. Tradicionalmente a história tem sido vista de cima, ou seja, ―tem se concentrado nos grandes feitos dos grandes homens, estadistas, generais ou ocasionalmente eclesiásticos‖. Muitos dos novos historiadores, entretanto, têm se preocupado com a história vista de baixo, privilegiando a experiênciadas pessoas comuns.4. O paradigma tradicional da história privilegia a utilização de registros oficiais, emanados do Estado e guardados em arquivos, negligenciando a utilização de outros tipos de evidência aos quais a nova história tem recorrido com frequência, como a história oral, as fontes iconográficas, acervos particulares etc., que muitas vezes permitem ao historiador uma visão menos centrada nas ações do Estado e das elites.5. O modelo de explicação histórica do paradigma tradicional costuma se restringir à atuação de personagens colocados em evidência na documentação. A nova história tem aberto o leque de perguntas que um historiador pode fazer, preocupando-se não só com atuações individuais, mas também, e talvez principalmente, com movimentos coletivos.6. Para o paradigma tradicional a história deve (e pode) ser objetiva. ―A tarefa do historiador é apresentar aos leitores os fatos, ou, como apontou Ranke em uma frase muito citada, dizer ‗como eles realmente aconteceram.‖ No entanto, este é um ideal irrealista. Nosso olhar de historiadores está sempre colocado em uma perspectiva, em uma convenção determinada por nossa cultura, língua, posição social e política. Além disso, os próprios documentos nos apresentam visões parciais dos acontecimentos do passado. Assim, ao invés do ideal de uma história verdadeira, Peter Burke nos apresenta o projeto da Heteroglossia – das múltiplas vozes, variadas e opostas, das múltiplas perspectivas.‖ (1994, p.54)

daqueles acontecimentos. Esse grupo se encaixa na abordagem temática segundo Wolff, ligada ao movimento da nova história de Burke, pois se contrapõe:

[...] à chamada história tradicional, os estudos históricos realizados em torno da Revista Annales propuseram diversas transformações para a prática dos historiadores. Talvez uma das principais seja justamente a proposição da

história-problema, ou seja, da negação da simples narrativa de

acontecimentos em função da problematização de questões, as quais o historiador deve procurar responder. (WOLFF, 1994, p.58)

Como já mencionado, a mudança do nome da capital catarinense em 1894 é em geral tratada por pesquisadores ligados ao IHGSC como parte de um processo natural de progresso e desenvolvimento da região diante do novo regime que se consolidara através da repressão aos oposicionistas restauradores, vinculado a uma agenda reformista no campo político- administrativo. Os autores que serão aqui analisados buscaram construir narrativas que corroborassem com a cristalização de uma versão dicotômica de todo o processo de conflitos políticos que culminaram na Revolução Federalista de 1893. O próprio IHGSC surgiu ―(...) nos últimos anos do século XIX, num contexto marcado pela permanência de resquícios da Revolução Federalista de 1893 e pelo discurso de organização administrativa e modernização da Capital do estado (...)‖ (SERPA, 1996, p.64). É importante lembrar que esta instituição influenciou de forma decisiva a historiografia catarinense durante o século XX, constituindo base teórica para os estudos subsequentes sobre o tema.

Jali Meirinho trata da questão aqui apresentada em duas obras ―República e Oligarquias: Subsídios para a História Catarinense (1889-1930)‖ e ―República em Santa Catarina (1889-1900)‖. Nestas obras o autor nitidamente foca sua argumentação no enaltecimento de figuras ilustres do período como Lauro Müller, Hercílio Luz e Floriano Peixoto. Tratando especificamente do recorte relativo à mudança do nome da Capital, Meirinho busca justificar a homenagem ao Marechal Floriano argumentando que este seria peça fundamental para a consolidação da república e sua ação violenta na repressão ao movimento federalista não seria nada além de uma resposta aos abusos cometidos pelos oposicionistas. O autor também sinaliza que houve amplo debate na sociedade sobre a questão:

Contraditando a história vulgar, que insinua ter sido a mudança de Desterro para Florianópolis feita de maneira arbitrária, constata-se o oposto. Todo o processo vinculou-se a um debate que envolveu por cinco meses a imprensa e segmentos representativos da sociedade, não só da Capital, mas de todo o

estado, com pronunciamentos dos Conselhos Municipais e, finalmente, com a aprovação do Conselho Representativo Estadual. (1997, p.115)

Há como bem observamos a intenção de construir uma narrativa que legitime através de um processo democrático a mudança de nome da capital, inclusive com claros elementos de constituição de um discurso glorificador quanto a Floriano Peixoto e suas ações na dissolução do movimento federalista.

Em mais duas obras com características semelhantes a esta apresentada, ―História de Florianópolis Ilustrada‖ e ―Militares e civis num governo sem rumo: o governo provisório revolucionário de Desterro 1893-1894‖, Carlos Humberto Pederneiras Corrêa fixa o debate sobre a queda do império e o surgimento de um novo regime como algo inevitável, traçando uma linha teleológica entre os fatos históricos e suas respectivas implicações. Ao tratar do nosso recorte, Corrêa busca atacar o argumento dos descontentes com a homenagem a Floriano alegando que este não seria o responsável direto pelos fuzilamentos e perseguições ocorridas no processo de dissolução da Revolução Federalista em Santa Catarina. O autor buscou também construir uma narrativa que justifica a mudança do nome capital pela vontade popular, alegando que já havia muitos debates sobre a questão durante todo o século XIX, ou seja, uma justificativa que remetia a um problema de origem e pouco tinha relação com os acontecimentos presentes no período.

Walter Piazza em ―Santa Catarina: Sua História‖ desenvolve um trabalho de síntese, abarcando diversos períodos da experiência humana em Santa Catarina, inclusive dedicando algumas páginas ao estudo de sua pré-história. O recorte teórico-metodológico é linear como observamos nos autores anteriores e sua abordagem busca também enfatizar a ação de figuras ilustres nos períodos destacados. Quando Piazza aborda o tema referente à dissolução do movimento federalista em Santa Catarina, sua argumentação enfoca os embates entre as forças divergentes e o processo de pacificação durante o governo Moreira César em 1894, não mencionando a mudança do nome da capital em homenagem a Floriano Peixoto, mais uma vez formulando narrativas que naturalizam todo o processo.

Nas obras ―Notas para a história catharinense‖ e ―Santa Catharina: (História- Evolução)‖ de Lucas Alexandre Boiteux e Oswaldo Rodrigues Cabral respectivamente, encontramos como em Piazza, uma escrita que remete a narrativa teleológica tendo como ponto de chegada a ascensão do grupo republicano ligado às forças legalistas, sem mencionar, porém a mudança do nome da capital catarinense. A ênfase dos autores se dá na violenta

disputa política entre as forças legalistas e federalistas, com uma importante diferença: Cabral apresenta um documento que indica a participação direta de Floriano Peixoto como mandante das execuções feitas por Moreira César naquele processo, já Boiteux responsabiliza somente o seu interventor.

Carlos da Costa Pereira em ―A revolução federalista de 1893 em Santa Catarina‖ assume um papel combativo na defesa de Floriano Peixoto quanto aos fuzilamentos e perseguições que se sucederam durante o ano de 1894 em Desterro, inclusive apresenta argumentos que refutam o documento apresentado por Cabral o responsabilizando. Quanto à mudança do nome da capital, Pereira traz um breve histórico que relaciona esse fato a uma vontade da população pela mudança.

Cerca de um ano antes da proclamação da República, cogitara-se da mudança da denominação da Capital da Província, sob a alegação de que Desterro soava mal e tinha uma significação que não compadecia com a realidade. Esse nome ecoava a ideia de degredo ou terro de condenados; lembrava regiões como a ilha do Diabo ou a Sibéria, e a ilha de Santa Catarina não era isso. Um decreto do ano de 1794, que determinava se encaminhassem para ali os criminosos que estavam sendo mandados para o Maranhão e o Pará, foi revogado três anos depois, por ser um clima demasiadamente benigno para essa gente. (PEREIRA, 1976, p.113)

Em 13 de outubro de 1888, ―A Tribuna Popular‖ veiculava a notícia de que o Deputado Eliseu Guilherme da Silva proporia à Assembleia Provincial fosse mudado para Ondina o nome da capital catarinense. (...) Pela impressa foram sugeridas outras denominações – Baía Dupla, ou Nossa Senhora da Baía Dupla, ou da Boa Vista, ou da Ponta Alegre. (PEREIRA, 1976, p.114)

Dessa forma, Carlos da Costa Pereira fundamenta seu argumento no fato de haver, nos últimos anos do século XIX, a intensão da própria comunidade em mudar o nome da capital catarinense, alegando que a conjuntura da dissolução do movimento federalista e reestabelecimento da ordem promoveu de fato essa mudança, porém nada mais que um antigo anseio da própria população local.

Como podemos observar, os autores ligados ao IHGSC e classificados, segundos os parâmetros anteriormente apresentados, como historiografia tradicional, buscaram construir narrativas que justificassem a violência exercida pelo estado no processo de dissolução da revolução federalista em Desterro, silenciando ou atribuindo à iniciativa popular a mudança do nome da capital catarinense. É importante frisar que segundo Meirinho,

(...) a proposta foi do Desembargador Genuíno Firmino Vidal Capistrano, que o fez, em reunião pública, realizada a 17 de maio, no então Teatro Santa Isabel, hoje Álvaro de Carvalho, merecendo apoio dos presentes, entre os quais altas expressões da comunidade. Além disso, foram consultados os Conselhos Municipais do interior que, através de cartas e telegramas se manifestaram favoravelmente, bem como a imprensa.

Todavia, há em periódicos do Rio de Janeiro pelo menos dois registros que nos apontam a circulação da nomenclatura ―Florianópolis‖ no período anterior a efetiva alteração na capital catarinense.

O primeiro registro se trata de uma coluna editorial publicada no jornal ―O Apóstolo‖ de 25 de agosto de 1893, com autoria dos padres João Scaligero Augusto Maravalho e José Alves Martins do Loreto. Essa coluna dá conta de noticiar que em Strasbourg, Alemanha, houve um incidente com a eleição de um círculo católico, onde o chefe de polícia local reprimiu de forma violenta a reunião dos sacerdotes e estes procuraram os meios legais de retratação:

Em todo caso, visto que as cousas lá não vão como aqui, o injuriado pelo chefe de polícia prussiana, o padre Muller Simon, munio-se de uma declaração escripta e testemunhada, dirigiu-se ao príncipe de Hohenlohe, e declarou-lhe que ia acusar judicialmente o chefe de polícia violento. E como em Berlim há mais juízes e menos compadres do que em certa Florianopolis que nós conhecemos, vamos ver aquillo em que dá: de tudo daremos conta a nossos leitores tempore opportuno.34

Essa publicação data de meses antes da proposição da mudança de topônimo na capital catarinense e utiliza a palavra ―Florianópolis‖ como um termo pejorativo à capital federal, que segundo os autores é um local onde a justiça se faz por meio de favores, atrelando, portanto essa situação ao governo de Floriano Peixoto.

O segundo registro é síncrono ao processo de mudança do nome da capital catarinense. Trata-se de uma petição feita por um cidadão chamado Gil de Sá ao conselho municipal do distrito federal, publicada no periódico ―Diário de Notícias‖ em 1º de setembro de 1894, quando o projeto já estava em análise pelo colegiado legislador de Santa Catarina:

Augustos e digníssimos senhores membros do conselho municipal do Districto Federal. – Diz Gil de Sá que, representando a maioria da opinião pública e dos bons republicanos, precisa, a bem de seus direitos, que vós outros, representantes eleitos em nome da República pelo Districto Federal, decreteis que a velha e invicta cidade, a muito leal e heroica cidade de S.

Sebastião do Rio de Janeiro, a capital federal da República dos Estados Unidos do Brazil, prestando justa homenagem ao verdadeiro salvador da cidade e da República acima citadas, consolidador das instituições democráticas, passe d‘ora em diante a denominar-se Florianopolis.35

Como bem podemos observar, havia na capital federal quem também desejava homenagear Floriano Peixoto. É importante salientar que a justificativa tanto lá no Rio de Janeiro quanto aqui, se baseou num elemento de enaltecimento da figura do então presidente da república como alguém que consolidara as instituições republicanas e democráticas. É possível, dessa maneira, perceber que tanto a nomenclatura como o discurso transitava em outros espaços, não sendo algo restrito aos clubes republicanos catarinenses.

Pesquisadores e pesquisadoras ligados a segunda vertente que abordamos nesse estudo buscam em sua maioria, apoio metodológico nos movimentos da nova história social e cultural, justamente trazendo um olhar diferenciado para estes processos, apresentando perspectivas que contemplam o entendimento de que a polarização entre os grupos políticos era nada mais que produto das suas intrincadas rivalidades históricas, base material daqueles conflitos. A sua capacidade de questionar os símbolos do novo regime permite que observemos nesses trabalhos a desnaturalização de suas respectivas representações.

Em ―A República em Santa Catarina: Modernidade e Exclusão (1889-1920)‖, Roselane Neckel trata justamente do processo de silenciamento promovido pelo PRC com relação à oposição derrotada em 1894, segundo a qual voltou ao cenário político somente em 1902 ―(...) com o retorno de muitos daqueles da antiga elite aos cargos públicos.‖ (NECKEL, 2003, p.35). Quanto à questão da mudança do nome da capital do estado, Neckel aponta o protagonismo de Hercílio Luz, então recentemente empossado Presidente do Estado de Santa Catarina, destacando que ―(...) o novo nome, além de uma homenagem a Floriano Peixoto, representava simbolicamente a vitória das elites republicanas‖ (Idem, Ibidem, p.34).

Hermetes Reis de Araújo em ―A invenção do Litoral: Reformas Urbanas e Reajustamento Social em Florianópolis na Primeira República‖ aborda a agenda reformista de adesão ao processo de modernização e progresso imposta pelas elites burguesas que dominaram o cenário político catarinense na primeira república. Ao abordar a questão da simbologia da agenda reformista, Araújo trata também dos silenciamentos pertinentes aos conflitos ligados à Revolução Federalista, destacando que ‖(...) os vencedores da luta

apressaram-se em apagar as imagens do confronto decisivo em que se envolveram, tudo o que não fosse somente a sua perspectiva dos acontecimentos.‖ (ARAÚJO, 1989, p.112) Quanto ao tema que buscamos desenvolver, o autor faz, como Corrêa e Pereira, considerações sobre uma já antiga incidência de tratativas para modificar o nome da capital no fim do século XIX, ressaltando o descontentamentos com o significado do nome ―Desterro‖ por remeter à degredo, lugar de desterrados, criminosos. Todavia ao citar Oswaldo Rodrigues Cabral, reafirma que houve sim, iniciativas anteriores de mudança do nome da capital, porém a conjuntura que se apresentava em 1894 foi determinante para a plena aprovação da homenagem a Floriano Peixoto:

(...) dessa vez, ninguém teve coragem para achar hedionda, imprópria e inoportuna a mudança de denominação mesmo porque os carabineiros do Coronel Moreira Cesar ainda andavam por aqui. Não era mesmo para ter coragem. Só de Maluco... Ninguém disse não. Foram consultadas as Câmaras Municipais de todos os municípios – e todos acharam muito boa a ideia e a denominação. Houve uma, a de Lages, que até achou ―ALTISSONANTE, EUFÔNICA E PATRIÓTICA‖ (CABRAL apud ARAÚJO, 1989, p.115).

Ambos, Araújo e Cabral, sugerem que a repressão por parte do Estado suprimiu a oposição a ponto de silenciá-la completamente, algo que se manifesta no suposto consenso apresentado por Meirinho sobre a redefinição do nome da capital catarinense.

Buscando trabalhar, de forma mais específica com as disputas simbólicas que pairavam sobre esse processo, Emy Francielli Lunardi apresentou ao programa de pós- graduação em História da Universidade Federal de Santa Catarina a dissertação de mestrado intitulada ―Batalha de Discursos: O Advento Republicano e a (Re)construção da Política Catarinense nos Jornais Partidários (1889-1898)‖. Nesta dissertação, Lunardi apresenta uma revisão historiográfica, buscando compreender como a estrutura política no Estado se adaptou aos ares do novo regime, indicando objetivamente seus instrumentos de legitimação perante a sociedade. Quanto à homenagem a Floriano, a autora faz uma profunda reflexão que chega à constituição do próprio IHGSC como valiosa ferramenta do PRC na disputa pela memória do início da república. Dessa forma, faz duras críticas à historiografia ligada à instituição, que segundo ela durante praticamente todo o século XX ―(...) apresentaria esse momento como uma luta entre ―republicanos históricos e verdadeiros‖ e ―restauradores mascarados de federalistas‖, não obstante ambos defendessem a causa do novo regime.‖ (LUNARDI, 2009, p.20). Dessa maneira, a autora corrobora com a perspectiva de Neckel, tratando a mudança do

nome da capital como mais um instrumento de legitimação dos vencedores da disputa política pelo poder no novo regime em Santa Catarina.

No ano de 1995, Maurício Oliveira apresenta ao departamento de jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina a sua pesquisa de conclusão de curso denominada ―O

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