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CAPÍTULO 2 FLORIANÓPOLIS: UM NOME, MUITAS HISTÓRIAS

2.2. O SUSSURO DOS VENCIDOS

Os meses que antecederam a mudança do nome da capital catarinense foram tumultuados, repletos de acontecimentos de grande magnitude e com muitas reviravoltas na conformação dos quadros políticos no comando do estado de Santa Catarina. Com a dissolução do governo revolucionário em abril de 1894, a perseguição aos federalistas remanescentes, promoveu um processo de silenciamento das vozes dissidentes quanto aos rumos políticos do estado. Nos jornais, local de debate público, a oposição foi rechaçada36 e nas ruas, as lideranças revolucionárias, humilhadas37. Ouvir a voz dos derrotados naquele conflito se torna, portanto tarefa difícil, porém fundamental para compreender a conjuntura que pavimentou a homenagem a Floriano Peixoto.

Para construir um panorama conjuntural que minimamente consiga refletir as ideias, as percepções e os discursos que circulavam nos espaços tomados pela oposição ao florianismo em Desterro, será analisada a obra ―A República vista do meu canto‖, um conjunto de manuscritos produzidos por Duarte Paranhos Schutel, organizados e publicados em 2002 por Rosângela Miranda Cherem.

Schutel era médico, político e escritor, nascido em Desterro em 1837. Teve uma vida pública ligada ao partido liberal desde a década de 1860. Foi deputado provincial, deputado geral e vereador, inclusive ―(...) na tarde do dia 15 de novembro de 1889, ao receber a notícia da mudança de regime, presidia uma sessão da assembleia Legislativa.‖ (SCHUTEL, 2002, p.14-15). Com a mudança de regime, se isolou do processo político, assumindo papel de espectador dos acontecimentos que se desenrolaram no fim do século XIX na capital

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Lunardi, ao analisar a atuação do jornal ―O Estado‖ em Desterro durante a queda do governo federalista, aponta que o periódico ―(...) não só previa a vitória iminente, como ridicularizava a ―gloriosa e invencível‖ esquadra de Floriano. E o fez até início de abril, sem saber que, em poucos dias, essa mesma esquadra acabaria com a revolução. A surpresa com o desenlace pode ser medida pelo calendário que, depois das reformas na diagramação do jornal, informava diariamente os dias restantes de publicação até o final do mês. Esse cronograma apontava diversas edições para abril quando a circulação d‘O Estado foi brutalmente interrompida com a retomada da ilha de Santa Catarina pela chamada ―esquadra de papelão‖. Depois disso O Estado não circularia durante os dois anos seguintes, só retornando em 21 de abril de 1896.‖ (2009, p.120-121)

37 ―Lorena, presidente do governo provisório, foi descoberto no Sul da Ilha, numa caverna da praia do Matadeiro, e teve que desfilar amarrado pelas ruas centrais de Desterro.‖ (OLIVEIRA, 1995, p.18)

catarinense. Apesar do seu distanciamento da vida pública durante o processo de conflitos que aqui abordamos, nos manuscritos apresenta, entre críticas e elogios, uma clara indicação de apoio aos federalistas que se opunham ao governo central. A partir de 1895, Schutel escreveu seus registros residindo no Rio de Janeiro, falecendo anos depois em 1901. (Idem, Ibidem, p.21)

Os manuscritos produzidos por Schutel apresentam a perspectiva de um sujeito ligado aos impasses políticos da época, consciente das questões que estavam em jogo naquele momento e que apesar de não participar ativamente do processo político, opinava de forma crítica diante o caótico cenário que se apresentava em Desterro naquele contexto. Não sabemos, e talvez nunca saibamos, quais eram suas intensões ao produzir essa série de registros e anotações, todavia em muitos momentos os escritos parecem tomar a forma de uma coluna jornalística ao noticiar fatos e analisar enredos, em outros há a nítida impressão de que o autor busca esclarecer certas questões para as gerações vindouras e em algumas ocasiões a sua narrativa tem um tom muito particular de desabafo diante da realidade a qual estava inserido. De todo modo, devemos observar esses registros não como um relato fiel dos acontecimentos que marcaram Desterro entre 1893 e 1894, mas sim construirmos um processo de análise crítica, percebendo essa fonte como um manancial de subjetividades que nos permite pensar como funcionava a dinâmica discursiva da oposição suprimida em Desterro, seu imaginário e os sentidos atribuídos, por essa oposição, ao violento processo de perseguição imposto pelo Estado brasileiro à população de Desterro.38

O recorte que vamos pautar para essa análise vai de dezembro de 1893, já com o governo revolucionário de Frederico de Lorena apresentando dificuldades na articulação política com os grupos que compunham a oposição a Floriano, até outubro de 1894, período em que foi sancionada a lei que altera o nome da capital catarinense. Dessa maneira, será possível observar quais foram os anseios e preocupações de Schutel num período de poucos e intensos meses, um tempo de muitas transformações em Desterro.

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Há de se enfatizar que o registro de ideias se constitui em discurso que traz consigo uma carga de valores intrínsecos ao sujeito, dado seu contexto, que o produz enquanto fragmento de sua percepção da realidade. Dessa forma, ―(...) os discursos devem ser tratados como práticas descontínuas que se cruzam, que às vezes se justapõem, mas que também se ignoram ou se excluem.‖ (FOUCAULT, 1996, p.52-53) Em outras palavras, todo discurso se estrutura pelo processo de escolha do autor e isso implica necessariamente em exclusões, justamente do que se julgou não necessário registrar. Ver também: LE GOFF, Jacques. Documento/monumento. História e

Como suporte metodológico para efetivação da análise, classificamos as diversas anotações e passagens, datadas pelo autor, em temas centrais de argumentação. Dessa forma, foram identificados seis eixos temáticos centrais nos manuscritos de Schutel, são eles: análise de conjuntura com relação aos desdobramentos da revolução; servilismo de cidadãos, instituições e/ou agentes do Estado com relação aos desmandos do governo central; despotismo e tirania dos agentes do Estado; perseguições políticas e execuções em Desterro; críticas e elogios às ações revolucionárias. Dito isto, o produto da análise se dará na observação da incidência e reincidência dos temas abordados pelo autor na passagem dos acontecimentos e assim será construído um panorama contextual levando em consideração a percepção do autor diante de tais fatos, estes, relevantes para a compreensão do processo.

Gráfico 1 – Eixos temáticos dos manuscritos de Duarte Schutel

Fonte: Elaborado por Diego Lunardelli com base na leitura da obra ―A República Vista do Meu Canto‖ de

Duarte Paranhos Schutel.

Como podemos observar neste gráfico, os registros datados de dezembro de 1893 tratam de três temas e o principal, que tomou mais de 60% dos suas anotações naquele momento, foi a crítica aos rumos que a revolução tomava em Desterro.

A Revolução nega o poder ao Positivismo. O Governo Provisório nas mãos do positivismo. As forças do Sul querem voltar atrás se o governo não sai dos positivistas. O governo quer sustentar-se e a obediência de todas as forças e direções revolucionárias. A revolução do Sul já tem um chefe e uma comissão diretora. Ciúmes. A Armada fez a revolta no Rio e o Governo Provisório: o povo fez a revolução no sul. Cada um, ao se encontrarem, trazem seus compromissos. Condições da campanha no momento da crise. (Idem, Ibidem, p.81)

Essa passagem é datada de 20 de dezembro de 1893 e expõe a dificuldade que Frederico de Lorena tinha de conciliar suas convicções aos interesses dos diversos grupos que compunham o movimento revolucionário, sustentáculo do governo provisório em Desterro. É importante lembrar que, naquele momento, Frederico de Lorena recebeu diversas críticas por parte de lideranças revolucionárias federalistas e também da Armada, por destinar cargos estratégicos no governo provisório a personalidades positivistas com pouca ou nenhuma relevância política.

No dia seguinte, Schutel continua seu raciocínio com relação à crise política que se instalava no governo provisório:

Conluio positivismo no Estado. Pretende-se fazer Machado assumir a Previdência. Nada decidido no Governo Provisório. Salgado segue deixando representante seu. Reuniões partido federalista. Erros partidários do Presidente. Falta de pessoal político. (Idem, Ibidem, p.81)

Aqui percebemos que o autor demonstra insatisfação com a falta de articulação política no governo provisório. Figuras importantes naquele processo como o Tenente Machado e o General Salgado são citados em uma tentativa de reordenação das forças políticas que formavam o governo. A relação de Frederico de Lorena com os positivistas do baixo clero e a dificuldade de diálogo com os agentes políticos são vistos na historiografia como aspectos determinantes para a fragilização do governo provisório entre o dezembro de 1893 e início de 1894. (MEIRINHO, 1982, p.64-73; LUNARDI, 2009, p.119-120)

A partir de meados de janeiro até o fim de fevereiro de 1894, Schutel se concentra em escrever principalmente sobre os movimentos militares da revolução. As suas análises nesse ponto, ganham tons muito particulares, o primeiro de entusiasmo com a bem sucedida invasão ao estado do Paraná.39

Tomada a Lapa, oficiais tiveram licença para retirar-se de suas casas sob promessa de não pegar em armas contra a Revolução. Colheu-se toda a artilharia, armas de mão, munição, que ali encontraram. Deu-se, de certo, comida a todo esse povo, armados e inermes, que se renderam pela fome, ... e a liberdade plena aos que lá estavam presos e dos que os prendiam. Eis como acabou a Lapa. Eis a coroa com que a Revolução engrinalda a Pátria.

39 Segundo Correa ―(...) a tomada do Paraná deu-se primeiramente através da cidade de Paranaguá, com a esquadra de Custódio de Mello, em 15 de janeiro‖. Poucos dias após, a 19, quando o governador Vicente Machado já havia abandonado a capital, os revolucionários tomaram Tijucas do Sul e depois, mesmo ante a resistência do General Gomes Carneiro, invadiram a Lapa. A 20 de fevereiro os federalistas tomaram Curitiba, onde ficaram por dois meses.‖ (1990, p.118)

Aqueles monstros que receberam os parlamentários a tiros de espingarda, aqueles réprobos que negaram a saída da praça das famílias para que tivesse lugar o combate, aqueles bárbaros que fuzilavam mulheres que conseguiam fugir, aqueles selvagens que por trás das mulheres nas janelas atirava sobre o inimigo, aqueles vilões que faziam rebentar minas de dinamite onde não podiam resistir ao braço possante do adversário, aqueles perjúrios que, perdoados, voltaram a atacar seus vencedores... Todos eles renderam-se: e como se renderam, – foram perdoados. (Idem, Ibidem, p.91)

Ao analisar o processo de tomada da Lapa, o autor faz ao mesmo tempo uma defesa da revolução e uma crítica aos defensores do governo central ao explicitar a violência envolvida naquele conflito. A construção das suas narrativas condiciona certa dicotomia às relações que se estabeleceram nos embates entre os revolucionários federalistas e os adeptos do legalismo de Floriano, marcando profundamente a percepção de Schutel diante os acontecimentos.40 Inclusive, nesse mesmo momento, ele explora de forma bastante enfática em uma anotação datada do dia 23 de fevereiro, a maneira como os valores republicanos se perverteram nessa conjuntura de graves conflitos.

"A mocidade lança-se num abismo". [Ver Estado de hoje] Naquelas mesmas lições que tanto exaltaram o coração da mocidade enchendo-lhe o espírito com o clarão dessas ideias absolutas é que se vai encontrar os dementes da corrupção e perdição daqueles que devem ser a pátria futura. Em germes, alimentou-os e desenvolveu-os essa chusma de ambiciosos sem escrúpulo, de petulantes sem critério, de viciosos sem pudor, de ruins homens que barateiam: o brio, honestidade, virtude; e tudo empenham, crime, más paixões e bárbaras crueldades. A degradação moral propagou-se aqui, como na França; aqui os micróbios de A. Karr tem uma cultura especial: a mentira. A mentira atraiu a mocidade, a mentira a exaltou, de mentira se nutriu e de rojo com a mentira ela há de cair no abismo. É muito tarde para salvá-la. A geração toda está tocada. Os micróbios invadiram todas as camadas desse organismo. Força é sucumbir. – A nova geração verá escoimada desse terrível mal? Há outros a esperá-la. (Idem, Ibidem, p.107)

Esse registro trata de uma crítica que autor tece a juventude alistada no exército brasileiro e que combateu ferozmente as tropas revolucionárias no Paraná. Aqui Schutel fez uma referencia ao jornal ―O Estado‖ de Desterro, que nesse mesmo dia publicou uma coluna intitulada ―Decadência ou Cegueira‖, abordando justamente o saudosismo de uma espécie de republicanismo romântico, atrelado há um tempo que parecia não mais existir.

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Duarte Schutel foi um defensor da revolução federalista, dessa forma é possível observar nos seus registros uma tendência a criminalizar somente as ações do governo central naquela conjuntura de conflitos armados, afinal de contas os revolucionários estariam, em sua perspectiva, lutando pela liberdade e os soldados de Floriano defendiam a tirania. Todavia a historiografia aponta que, observadas as devidas proporções, entre fuzilamentos e degolas, excessos foram cometidos de ambos os lados. (MIRA, 2008, p.177-185; MEIRINHO, 1982, p.73; ARAÚJO, 1989, p.111)

Quem recorda do ardor sincero, o amor, o delírio, com que essa mocidade, nas academias e nos Clubs, advogava a grande ideia da Republica, o sonho dos moços, quando era um crime pensar-se n‘ella, e eles, os moços, destemidos e corajosos, lutavam, como heróis, e esperavam, conflitantes como crentes, ostentando o seu poder, desafiando as iras dos governos, e hoje os vê, de armas em punho, em defesa de um homem, de um tyranno, de um bárbaro, não pode conter o brado que lhe vem da alma.41

Analisando esses dois registros, podemos observar que havia no espectro político do republicanismo, uma variada gama de linhas ideológicas, e Schutel entendia ser parte da vanguarda desse movimento, parecendo não compreender como, em tão pouco tempo, os valores que acreditava universais, se corromperam.

No período que compreende entre meados de abril e o fim maio de 1894, observamos o pico produtivo de Schutel em seus registros. As anotações que, até então, eram praticamente semanais, se tornam quase que diárias, porém nesse momento a sua atenção não estava voltada para as questões políticas da revolução, Desterro cai diante da esquadra florianista em 16 de abril e no dia seguinte o autor escreve:

Sinto algures aquecer-me o ânimo e referver-me o sangue quando vejo a dignidade, os brios, a felicidade de minha terra e dos meus patrícios sofrer um golpe que pudera ser evitado. Doem-me os erros dos que se ocupam dos negócios públicos, e enchem-me de exasperação o cinismo, a baixeza, a vilania de tantos caracteres repugnantes que têm surgido à tona na quadra lamentável que atravessamos. (...) a mim, hoje só me resta ir consignando nestes apontamentos as reflexões íntimas e sinceras que por aí ficam a esmo sem destino. (...) bem que me sangre o coração ao relembrar tão tristes coisas, e torne a sentir, narrando as mesmas cruciantes dores e os mesmos amargurados transes, eu os contarei, humilde e mesquinho, abrigado na admiração do divino Alighieri, ao ouvir no inferno bradar-lhe o Conde Ugotino... Partare e lacrimare vedrai me insieme. (Idem, Ibidem, p.118-119)

Duarte Schutel viu as forças florianistas tomando Desterro, presenciou a derrota da revolução em terras catarinenses, dessa forma é possível compreender o tom lutuoso com qual retrata esse momento. Ao fim de sua anotação, se refere à consagrada obra de Alighieri com um trecho em italiano, ―falar e chorar vêm juntos‖. Diante o que estava por acontecer em Desterro naqueles dias, certamente em muitos momentos o autor falou e chorou em seus apontamentos diante o ―inferno‖ provocado pela repressão florianista.

Ocupada sem resistência, nas violências das prisões, nas mais cruéis e angustiosas cenas de encarceramento e deportação – todos seriam feridos atrozmente, sem compaixão, sem dó, homens e mulheres, velhos e crianças.

Não houve resistência, nem um sinal de despeito: abandono completo de tudo. Derramou-se a vingança à meia noite sobre toda a cidade; foi medonho e ao amanhecer, o sol iluminava cenas de prantos, de dores, aflições, 3 – 2 – 1, e o silêncio e o medo, a fuga, nas casas e nas ruas, como da praça vencida entregue à vindita do estrangeiro vitorioso. (Idem, Ibidem, p.127)

As praças, praias e ruas cheias de soldados estranhos, despejados pelos vapores, armados e equipados em campanha, de punhal e revólver, sôfregos, arrogantes, desabridos e insultantes como se entravam em praça rendida em combate, os vivas, os passeios desrespeitosos em carros descobertos, as prisões violentas, os arrombamentos e varejos nas casas a horas mortas da noite, o aparato bélico, a fuga de quantos receavam sofrer, as notícias da multiplicidade de prisões, enchendo-se os cárceres de onde se levava para bordo dos navios os presos, a fim de enchê-los de novo, e isto sem explicação, sem uma razão que pusesse em segurança qualquer classe de cidadãos; tudo incutiu rapidamente nos habitantes um tal pânico que o comércio e as casas particulares se fecharam e ninguém mais ousou sair à rua. (Idem, Ibidem, p.147)

O estrangeiro a que se refere o autor se trata de Floriano Peixoto, a quem acusa de ser responsável pelo violento expurgo. Nesses trechos fica claro que com a queda do governo revolucionário, Desterro se tornara o palco de uma impetuosa vingança das forças legalistas, além de um processo de pacificação, a retaliação florianista se apresentava em forma de aviso a quem se opunha ao governo central, impactando profundamente toda a comunidade, se não pela brutalidade, calou pelo medo.

A partir de meados de maio conseguimos observar uma mudança interessante na natureza de suas anotações, o espaço que até então seria destinado a refletir sobre as perseguições e execuções, deu lugar a uma enxurrada de críticas ao governo central, algumas repetindo a habitual cartilha federalista de oposição a Floriano, outras, com relação à forma como o governo central mediava os conflitos e impunha sua hierarquia militar à sociedade e muitas delas são reflexos daquela terrível conjuntura de abusos e opressão. Todavia, nesse ponto também se nota a frequência com que Schutel busca expor a colaboração de agentes públicos e privados na constituição do aparato repressivo montado em Desterro.

25 DE MAIO DE 1894 – SERVILISMO

Causa tédio o servilismo desses homens ao soldo da ditadura. O cuidado com que buscam esconder tanta baixeza que praticam, furtaria à história o meio de conhecê-los, se não ficasse inconscientemente talvez, uma prova irrefragável, uma espécime exatíssima que eles chamam – a imprensa. O jornal – único – traduz fielmente o governo e os seus homens. Apareceu com o primeiro dia do governo endeusando-o e aclamando, batendo palmas à legalidade. Três dias depois inseria o boletim anônimo que mudara o seu governo, e dava ainda por já estar composta uma apologia do seu benemérito

governador quando ele já se achava na prisão. Por muitos dias, nenhuma palavra sobre o Governador militar; de súbito rebenta sem motivo um empolado encômio. No interregno, pediam o esquecimento, a conciliação, o congraçamento de todos para auxiliar a tranquilidade e a ordem. Depois concitavam ao governo a ser implacável em perseguir e prender sem descanso os malditos que não fossem seus íntimos. (Idem, Ibidem, p.156- 157)

Schutel destaca a subserviência da imprensa republicana aos desmandos do governo militar estabelecido em Desterro, apontando que a sua atuação nesse processo teria aspecto tão vil que as próprias colunas poderiam fornecer subsídios para elucidação dos seus crimes. Esse registro foi publicado pelo jornal ―Republica‖ de Desterro no dia 18 de maio de 1894, dia seguinte à proposição de mudança do nome da cidade pelo Desembargador Genuíno Vidal num evento aberto ao público:

Florianopolis

Realizou-se com grande concurrencia hontem, a tarde, no theatro Santa Izabel, a reunião convocada pelo ilustre desembargador dr. Genuíno Vidal, que expoz ao numeroso audictorio o fim da mesma reunião: a mudança do nome d‘esta capital para o de Florianopolis. Acceita a idéia com aplauso geral, ficou assentado comunicar-se às intendências minicipaes do Estado esta resolução, esperando d‘ellas, manifestação favorável, assim de ser sibmettida à deliberação do distincto coronel governador do Estado. Em seguida apresentou mais a idéia de abrir uma subscripção popular para ser o seu produto aplicado na acquisição de um retrato a óleo em tamanho naturaldo inclyto marechal Floriano Peixoto, afim de ser colocado na sala de sessões da Intendencia Municipal d‘esta cidade. A idéia foi aceita com enthusiasmo sendo logo iniciada a subscripçãocom a assinatura dos que se achavam presentes. A Republica aplaudindo a feliz iniciativa do nosso distinto amigo desembargador dr. Genuíno Vidal, deseja ver quanto antes

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