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4– A HISTÓRIA DE VIDA DE RAQUEL

Escolhi a história de Raquel para composição do texto, uma vez que foi dela que extraí a maior parte das reflexões. Foi transcrita integralmente com a intenção de manter o registro da fala, ainda que as alterações do curso do pensamento de Raquel, descritas como características do pensamento dos portadores de esquizofrenia, exijam alguma persistência do leitor para atravessar a aridez e o desconforto causados pelas interrupções e pelas repetições.

Essas características são descritas na psicopatologia como: alterações do fluxo verbal (verbigeração e perseveração), distúrbios sintáticos e distúrbios semânticos (Ey, 1978).

A linguagem representa uma das maiores dificuldades colocadas para o estabelecimento de um diálogo com esses sujeitos, quando compreendemos linguagem no “ sentido mais geral de sistema e sinais, de código que garante a compreensão, a informação e a comunicação intersubjetiva” (Ey, 1978:110). Foi necessário mantê-la, sem edições, para permitir a apreciação dessa dimensão.

E - Fala seu nome completo. Ra - Raquel Gusmão Alves.

E - Com que idade você está?

Ra - 30. Eu sou de 64 , né? Então, eu tenho 36 anos. Então.. então como eu nasci, eu nasci... em que Hospital que eu nasci, mãe?

Voz da mãe – (ininteligível)

E - Hospital Leonor Mendes de Barros, né? Hospital? Voz da mãe – É, Leonor Mendes, era lá na...(ininteligível).

brincar de casinha, né? Brincava de casinha. Fazia comidinha na casinha. Daí eu ficava muito doente. Eu tive sarampo. Então, eu ficava muito doente, né?

E - Sarampo...

Ra - Tive sarampo. Depois eu saí do hospital, tudo bem...saí do hospital, foi tudo bem, né?...Daí fui continuando... quando eu tinha, na minha infância, quando eu tinha... uns dez anos, assim, daí eu, eu... gostava de brincá, né? Minha mãe comprava brinquedo pá mim, boneca pá mim brincá, né? Minha mãe trabalhava. Eu morava lá em baixo, naquela casa lá de baixo, e daí eu fiquei com meningite. Fui internada no Emílio Ribas. E - Você se lembra?

Ra - Lembro. Eu chorava de dor de cabeça. Daí eu fui internada, né? No Emílio Ribas. Depois, eu gritava no hospital, de dor de cabeça, daí eu, eu sarei. Eu sarei. Daí eu recebi alta, né? Sarei. Daí eu fui crescendo. Daí, eu entrei na escola, eu entrei na escola, primeiro eu estudei no Raul Fernandes, até uma idade de... 13 anos, né? Mas, quando eu tinha... eu estudava no Raul Fernandes, quando eu tinha... uma idade de 10 anos, eu fiz a quarta série no Raul Fernandes.. mas eu não terminei tudo, não, eu não terminei a quarta série. No Raul Fernandes eu saí da escola... mas também eu lembro que eu trabalhava, que eu trabalhava de empregada doméstica quando eu era pequena, acho que eu tinha uns treze anos, fui trabalhá de empregada doméstica, minha irmã me arrumô um emprego lá no Aeroporto.

E - Que irmã?

Ra - A Léia. Me arrumô um emprego lá no Aeroporto, mas minha patroa gritava comigo, né? Ela gritava comigo, ela era uma pessoa nervosa, né? Então porque eu puis, eu fui arrumá o quarto dela, ela tinha filho pequeno e eu peguei a chupeta do filho dela e puis no chão, ela me mandô embora, ela pegou, me falou assim:” Eu vou te levá você prá sua casa, vamos, vamos, vamos.” Ela nervosa, né? “Você pois a chupeta do meu filho no chão...” Então, de noite, quando o marido dela chegou do serviço, ela me pegô, eu e o marido dela, me colocô no carro e veio me trazê prá, prô serviço da minha irmã, da Léia. Daí eu saí de lá, do serviço. Daí, né? Eu fui crescendo... eu tinha treze anos, não, eu tinha treze anos nesse tempo aí, né? Eu fui crescendo, mas no meio de uma família pobre. Meu pai, ele era doente da...ele ficô louco da cabeça.

Então a minha irmã namorava, a Ruth, essa daí que fica (ininteligível). Então ela chegou em casa, ela namorava, né? Então ela ficô noiva, mas o noivo dela arranjou uma na, uma... outra mulher, então ela chegô em casa nervosa, chorando e quebrô, tinha um copo que a mamãe bebia pinga.

E - Quem bebia? Ra - Minha mãe. E - Bebia pinga?

Ra - Pinga com açúcar. Nóis dormia no chão, né? No colchão de capim, que o meu pai pegava capim do mato, capim gordura e então punha no chão e fazia de colchão prá nóis dormí. Daí minha irmã pegô o copo de pinga que minha mãe bebia, então ela jogô no chão, falô assim do noivo dela, né? Que tinha arrumado outra, que ela num queria mais saber mais dele. Daí eu fui crescendo, fui crescen... daí fui crescendo, né?

E - Essa... você acha que isso...ehhh... você tem algum sentimento com relação a isso? Você se lembra com tristeza ou isso não faz diferença prá você? O fato do seu pai ser doente, da sua mãe beber, de você ser pobre?

Ra - Que que tem?

E - Você acha que isso fez alguma diferença na sua vida? Você tem lembranças ruins disso, ou não?

Ra - Eu tenho lembrança ruim, né? Porque é sofrimento, né? É sofrimento. Daí fui crescendo, a minha irmã, a Sara, gostava de dançá muito no salão de baile, naquele tempo da “black med”, do... salão de baile, né? Eu vô dá um exemplo prá senhora: No tempo da “black med”, do Clube da Cidade, então eu tinha treze anos nesse tempo e eu fui com ela também, né? Pro salão de baile. Daí, eu peguei, entrei, eu fui com ela pro salão de baile, minha mãe ía me buscá no salão de baile, eu pegava, saía correndo e me escondia da minha mãe, porque eu queria ficá no salão de baile, que eu gostava de

no...no Mobral. Fui fazê a quarta série outra vez, né? Lá no João Solineu. Eu entrei num supletivo, lá no João Solineu, e fiz a quarta série no Mobral, no supletivo, né? Que era Mobral. Tudo bem. Daí eu fiz a quarta série, daí eu entrei na escola, daí eu fui estudá... a quinta série no João Solineu mesmo, né? Qué dizê, eu passei de ano, né? Do Mobral a quarta série, daí eu fui estudá a quinta série no João Solineu, no João Solineu mesmo, daí eu ía pro salão de baile nesse tempo também, né? Fui crescendo, fui...fui crescendo, então eu estudava e ía pro salão de baile no fim de semana, sábado, de feriado, daí eu conheci o Janio.

E - Janio? Quem é?

Ra - O Janio é o pai dos meus filho. E - Quantos filhos você tem?

Ra - Tenho dois. E - Que idade?

Ra - A Sarinha tem 16. O Alisson tem 17. E - Você conheceu o Janio?

Ra - Eu conheci o Janio. Daí eu estudava, daí eu ía...eu conheci o Janio. Mas, primeiro, antes de conhece o Janio, eu ía na cartomantica, eu gostava de ir na cartomantica prá sabê do futuro da gente, né? Que ela contava as coisa, ela falava assim: ah, você vai tê um namorado, e ela contava prá gente se esse namorado (ininteligível) feliz. Quando eu era pequena, então eu tava andando na rua e entrei num empório, aí a moça falô assim pá mim, eu entrei num empório, né? Nesse empório tinha uma cartomantica, tinha uma cigana no empório. Daí ela falou assim: menina, deixa eu lê sua mão. Daí eu falei assim, eu dei a mão prá ela lê, né? Ela falô assim: você vai sê rica, você vai vivê muito e vai sê rica, vai ganhá muito dinheiro. Daí, eu tudo bem, né? Fui pá minha casa, fui pá minha casa. Daí eu fui crescendo, continuei indo pro salão de baile, continuei indo pro salão de baile, daí quando eu tinha...daí então eu conheci o Janio, né? Comecei namorá com o Janio, porque primeiro eu tava andando na rua, daí ele pegou e falô assim, eu tava comendo pururuca, ele falô assim: menina, dá prá eu vê essa pururuca, me dá um pedaço dessa pururuca, ele falou, né? Daí eu peguei, dei um pedaço de

gostava de outro cara, né? Eu dei pururuca prá ele, mas eu nem...assim, por dá, né? Porque ele pediu um pedaço. Eu vi ele no salão de baile, peguei, fui prá minha casa, eu peguei vim embora, porque não tinha dinheiro prá entrá. Daí,....(silêncio) Ah, meu Deus, daí eu gostava de outro cara, mas esse cara que eu gostava era malandro, a polícia matô ele. Ele era malandro. Então, a polícia matô ele, né? Daí eu esqueci, ele morreu, né? Daí eu fui esquecendo dele, esquecendo dele. Daí, então, volta outra vez pro Janio, que me pediu pururuca... daí, eu fui prá igreja, né? Igreja de crente, Congregação Cristã do Brasil,né? Eu tinha uns 16 anos, eu tinha 16 ano, 16 ,né? Eu tinha 16 anos. Daí, eu fui crescendo, tinha 16 ano, comecei a namorá com o Janio. Eu saí... ele me marcô um encontro comigo, ele marcou encontro comigo num sábado, lá pumas 8 horas, ele falô que vinha na minha casa, né? Eu fui prá igreja. Quando eu saí da igreja, eu fui atrás do Janio, porque ele falô que vinha na minha casa e não veio, né? Eu fui atrás dele e comecei a xingá ele, né? Daí eu comecei, eu falei prá ele assim: ó, você falou que foi na minha casa, não veio, e se alguém falá alguma coisa de mim prá você, você não liga, não, viu, são tudo minhas colega. Minhas colega me batia, eu ficava na rua, eu ficava na...eu fui crescendo, né? Eu tinha 15 anos, ficava na rua com as minha colega, num trabalhava, ficava na rua, não...eu trabalhava quando tinha 13 anos, né? Daí que eu fui trabalhá, mas depois eu fui crescendo...fiquei...fui crescendo. Daí, quando eu tinha 15 anos, assim, eu fiquei...eu ía pro salão de baile, né? Estudando, ficava na rua com a minhas colega, dia de semana, conversando, né? Daí, então, tinha uma que não gostava muito de mim, então nóis só brigava, então eu... ela ...ela vinha prá cima...ela, nóis brigava, então ela vinha prá cima de mim prá me batê, eu batia nela , ela batia ni mim, né? Tudo bem...E também tinha outras também que...vinha prá cima de mim prá me batê, eu batia nelas, elas batia ni mim também. Daí nós fomo crescendo, daí também minhas colega morreram, essa colega minha que brigava comigo muito morreu também, né? Ela morreu, tudo bem... Daí, eu fiquei namorando com o Janio. O Janio, eu namorei com o Janio 1 ano. O Janio pegô... daí

Tive o primeiro filho. Depois, eu peguei...tive filho no, na Cachoeirinha. E ele me deixava em casa, ía pro salão de baile, né? Ele vinha, ele vinha namorá comigo no sábado...(interrupção da fita)

E - Então vai, Raquel, continua a história.

Ra - Então, eu parei na Sarinha, né? Mas quando eu fui ganhá a Sarinha, eu fui...eu tava internada no hospital da Cachoeirinha e ninguém ía me visitá.

E - Internada porque?

Ra - Internada porque fui ganhá ela, né? E - Ah! Internada prá ter o nenê?

Ra - É. Ninguém ía me visitá e era perto do cemitério. Perto do cemitério, o cemitério é encostado. Eu ficava morrendo de medo de noite , né? Eu ficava mal assombrada. E - Que idade você tinha?

Ra - Que idade que eu tinha?...uns 18, acho que 18 ano. E - 18 anos? E ficava mal assombrada?

Ra - Ficava mal assombrada, por causa do cemitério. Eu peguei, fugi de lá com a Sarinha.

E - Você fugiu do hospital com a nenê? Ra - Eu fugi.

E - De medo?

Ra - Com a Sarinha. De medo, porque ninguém ía me visitá também, né?

E - E você ouvia alguma coisa já nessa época, não? Você ouviu alguma voz, alguma coisa do cemitério, não? Ou você imaginava, ficava só com medo?

Ra - Eu ficava imaginando coisa. E - Imaginando...O que, você lembra?

Ra - Fugi. Quando cheguei na minha casa...

E - Como que você fez prá fugir? A nenê foi mamar...a nenê foi mamar, você catou ela e foi embora, como foi?

Ra - ( risos) Eu catei ela e fui saindo lá, né?

E - De onde, como que o nenê...porque o nenê ficava no berçário... Ra - Não, ficava comigo.

E - Ah, já ficava com você?

Ra - Eu ficava sozinha num quarto. E - Com a nenê?

Ra - Com a nenê.

E - Ah, já era alojamento conjunto, o nenezinho junto com a mãe? Ra - É.

E - Aí, você....que que você fez? Ra - Eu peguei...eu peguei e saí de lá. E - De camisola ou de roupa?

Ra - De roupa de doente, né? E - De camisolão de ...ahn?

Ra - Aquelas coisas que eles dão, aquelas roupa que eles dão...Eu saí de lá...Peguei, cheguei na minha casa, daí passô uns dias, a Sarinha ficou doente...foi internada no ano novo, no Hospital...senhora lembra do Hospital, mãe? Que a Sarinha foi internada?

Mãe da Raquel - Foi internada...foi internada no dia 31. E - De dezembro?

Mãe da Raquel - De dezembro... ( ininteligível) E - Que que ela teve?

Ra - Que que ela teve, ehn?

Mãe da Raquel - Ela teve desidratação...(ininteligível)...daí o médico disse que se passasse de...(ininteligível)

E - Ela ia ficar bem...

Mãe da Aparecida - (ininteligível)

E - Escuta, Raquel, você se lembra, assim, cê já tava doente nessa época, não? Você já tava com problema de nervos nessa época que a Sarinha nasceu, ou não?

Ra - Se eu tava doente? E - É. Da cabeça? Ra - No hospital? E - É.

Ra - Não. Quando cheguei na minha casa, ela ficou doente. E - Não, você. Você não sofria dos nervos, ainda?

Ra - Sofria.

E - Ah, você já tinha problema?

Ra - Tinha poblema, sim, eu era muito nervosa.(entra alguém, diz bom dia) Eu...eu era muito nervosa. Daí, a Sarinha ficô 15 dias internada. Né, mãe? 15 dias, né? 15 dias a Sarinha ficou internada?

Mãe da Raquel - (ininteligível)...ela foi mesmo... E - Desenganada?

E - Com o Janio? ...com o Janio?

Ra - Uhn? Não, sozinha. Não casei com o Janio, nem se amiguei. E - Ah, tá...Mas assim, os dois filhos são do Janio?

Ra - Os dois são do Janio.

E - Mas ele não, não...você nunca morou com ele? Ra - Nunca se amiguei...causa que não casei, também.

E - Ah, tá bom, Raquel. Aí você morava em baixo com a nenê?

Ra - Eu morava, não, quando tava grávida ainda, tava gestante, ele, o Rubinho, trazia...ficava lôco da cabeça, trazia sujeira dentro da minha casa, bagunçava...

E - Que sujeira?

Ra - Trazia lixo! Pegava na rua, que nem mendingo. E - Ah!

Ra - Trazia li... ele não conta prá senhora essas coisa, né? Mas é verdade. Ele falou que não queria falá dessas coisa, do passado...

E - Ahn, ahn... Você se lembra?

Ra - Eu lembro. Ele era lôco desde pequeno, né, mãe? Mas desde pequeno que ele era... E - Com qual idade?

Mãe da Raquel - ( longa frase parcialmente ininteligível, sobre o tratamento do Rubinho)

E - Doutora?

Mãe da Raquel - Marly. Daqui do Ambulatório. E - Sei.

...(ininteligível)...ele foi internado...depois que ele passou com a Dra. Léa , a Dra.Léa foi mais enérgica, mais assim...pôs no Haldol...toma até hoje...

E - Na injeção?

Mãe da Raquel - Isso. Não pode deixá com ele... nunca mais precisô ser internado... E - Que bom, né?

Mãe da Raquel - ... não faz mais coisas desagradáveis, porque toma Haldol...(ininteligível)

E - Mas ele tá bem agora, né?

Mãe da Raque l-... tá mais calmo, né?

E - Então, Raquel, mas você sofreu na mão do Rubinho por causa que ele trazia, você estava grávida, ele trazia lixo prá casa...

Ra - Trazia lixo, bagunçava...

E - Que mais ele fazia, te judiava, não?

Ra - Ele... ficava nervoso, que nem lôco da cabeça, queria matá a gente.

E - Matar? Mas ele pegava coisa prá matar? Pegava faca, qualquer coisa assim? Ra - Ficava gritando.

E - Ah, só gritava.

Ra - Nisso daí ficava morrendo de susto, ainda mais grávida, né? Ficava morrendo de susto. Ele é que nem meu pai, meu pai, quando eu era pequena, meu pai era lôco da cabeça, pegava foice e ficava sentado na porta, não deixava ninguém saí prá fora, né? Com a foice na mão, de de noite, de madrugada, minha mãe...

E - Então você, desde pequena, você sempre ficou muito assustada com isso? Ra - Eu fiquei muito assustada com eles. Fui crescendo com isso na cabeça. E - Com o que na cabeça?

Ra - Com esse sofrimento na cabeça, né? Pobre, né? Daí, então...

procurá serviço. Encontrei serviço numa fábrica, de roupa de criança, né? De roupa de nenê. Eu fiquei 3 meses lá.

E - Que você fazia lá?

Ra - Desfiava os pano, de lã. As roupa de nenê, né? Eu desfiava os pano. Daí, eu fiquei 3 meses lá. Tinha umas menina lá que eu não gostava muito delas também, né? Elas trabalhava junto comigo, eu não gostava muito delas, eu peguei saí de lá. Fui mandada embora, elas foi mandada embora também. Depois...eu saí de lá, arranjei outro serviço. Daí, eu viajava prá Santos com a minha patroa. Minha patroa viajava e queria me levá também junto, prá Santos. Eu ía com ela...Eu comprei, teve uma máquina de costura, uma máquina de costura pá mim. Comprei uma máquina de costura pá mim vê se eu aprendia alguma coisa de costura, né? Pá mim trabalhá na firma. Daí eu peguei e saí do serviço. Foi depois que eu comprei a máquina de costura eu saí desse serviço aí. Daí eu entrei na escola, no Raul Fernandes e estudei, né? Prá aprendê costura. Daí eu peguei, tudo bem, saí também, né? Não, daí eu fui procurá serviço na fábrica. Daí eu encontrei, numa firma, né? De roupa de...de...be...de gente...adulta. Daí eu fiquei lá uns 3 meses também. Daí, a fábrica fechô, né? Foi à falência. Fechô. Eu saí de lá. Daí, então, eu fiquei parada, desempregada. Daí minhas colega falava assim prá mim: Raquel, cê vai trabalhá do que depois? Eu falei assim: eu vou trabalhá de...empregada doméstica, de novo. Mas cê trabalhava na firma, Raquel, elas falavam prá mim, né? Porque que você vai trabalhá de empregada doméstica? Eu falá, eu falei assim: vou trabalhá de empregada doméstica de novo porque eu não aprendi nada de costura... E - Você não conseguiu aprender, Raquel?

Ra - Não, foi...eu não consegui aprendê muito, não. E - Porque você acha?

Ra - Porque quando a gente ía trabalhá na firma, né? Aquelas rôpa prá gente fazê, prá costurá, montá...

Ra - É diferente. Diferente, super diferente. Daí tudo bem. Eu saí de lá. Fui trabalhá na fábrica, eu saí da fábrica. Daí, então, eu conheci o Beto, né? O Beto é um... meu namorado...

E - Já tinha a Sarinha?

Ra - Já tinha a Sarinha, já tinha o Alison... E - Ah, já tinha os dois?

Ra - Agora, nesse mais( gagueja), mais no moderno...mais no presente(risos). Mais agora nesta idade que eu estou que eu tô contando.

E - Ah, você tá contando agora?

Ra - Tô contando de agora, né? O passado já foi. Já contei tudo, não tem mais nada prá contá.

E - Não tem mais nada? Ra - Não tem mais nada, não. E - O passado já foi tudo?

Ra - Já. Agora tô contando...tando...(voz da mãe, ao fundo, ininteligível) Tô contando do presente, né?

E - Do presente. Tá, o Beto é do presente? Ra - Agora já tamos...eu conheci o Beto..

Mãe da Raquel - Só que a Raquel, ela esqueceu de um...esqueceu de um. Posso contar? E - Pode, claro.

Mãe da Raquel - Cê esqueceu...Raquel teve mais um nenê, cê não teve mais um nenê? Ra - Eu..eu tive. Mas...eu tô contando, né? Ainda vamo chegá lá. Tô contando... E - O Beto?

Ra - O Beto...namorei com o Beto...daí fui procurá serviço, encontrei de empregada doméstica. Nesta casa aí, minha patroa batia ni mim, né? Judiavaaa... Eu fui limpá o quarto dela, encontrei um sapo, ela tinha um sapo.

do filho, enfiava no quarto do filho dela, né? dela, eu fui limpá o quarto dela, e os zoinho do sapo tava debaixo da cama. Eu peguei o sapo...começô a passá um monte de coisa pela minha cabeça: pega prá você, porque cê vai ficá rica, cê vai vê como sua vida vai mudá, pega prá você...E eu peguei nos zóio do sapo, e falei assim: onde eu vô escondê agora? Escondi na minha saia, né? Escondi na minha saia. Quando cheguei na minha casa, eu peguei os zóio do sapo, entrei no banheiro e engoli.

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