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CAPÍTULO 1: A HISTÓRIA DAS CIÊNCIAS EM Uma aventura no ensino de

1.3 AS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS COMO SUPORTE PARA A ABORDAGEM

1.3.3 Histórias em quadrinhos como recurso didático

Para que ocorra a leitura dos quadrinhos, é importante conhecer sua linguagem. Conforme Ramos (2012), “ler quadrinhos é ler sua linguagem”. Para Vergueiro (2012a), há a necessidade de uma alfabetização para essa linguagem específica, um domínio de seus conceitos básicos, a fim de que o aluno seja capaz de compreender a história e suas mensagens e que o professor também obtenha bons resultados quando recorrer ao seu uso (RAMOS, 2012; VERGUEIRO, 2012a).

Ao se pensar em utilizar as HQs como recurso em sala de aula, Mendonça (2007) apresenta uma estratégia com os objetivos que o aluno deve ter em mente

para a produção de uma HQ a partir da leitura de um texto. Os passos apresentados pela autora são: compreender o texto lido, selecionar aspectos que serão objetos da HQ, decidir quais serão as personagens, associar texto e imagem de maneira complementar e selecionar a sequência de apresentação de maneira didática.

A utilização de HQs no ensino de ciências é um assunto debatido em eventos da área nos últimos anos. Pizarro (2009) analisou diferentes trabalhos que as reconhecem como recurso relevante para todos os níveis de ensino, além da importância do papel do professor na escolha do material a ser usado.

Para conhecer mais esse campo, foi realizado um levantamento nas publicações de revistas nacionais da área de ensino de ciências e no principal evento da área (Encontro Nacional de Pesquisa em Ensino de Ciências – ENPEC). Foram encontrados 13 trabalhos que utilizaram as HQ como recurso, seja para a abordagem de alguns conteúdos ou como produção em sala de aula. Ressalto que apenas um trabalho foi encontrado nas revistas da área9, enquanto os outros 12 foram provenientes do ENPEC.

As pesquisas foram realizadas nas áreas de Ciências, Física e Geociências (incluída por tratar de um tema comum ao ensino de ciências, a astronomia) e em todos os níveis de ensino (fundamental, médio e superior). Um quadro resumo com o nível de ensino, área, conteúdo e abordagens utilizadas nessas investigações encontra-se no APÊNDICE 02.

São comuns entre as propostas análises de temas ambientais, por exemplo, lixo, reciclagem e poluição. Em algumas propostas buscou-se avaliar as HQs e seu potencial para sensibilizar, conscientizar o leitor sobre questões socioambientais e fornecer subsídios para viabilizar e problematizar discussões em sala de aula.

A maneira como as HQs são utilizadas como recurso tem pequena variação. Usualmente é feita sua leitura e interpretação por parte dos alunos, tendo como objetivo discutir um tema, problematizar o início de um conteúdo ou como uma maneira de motivar a participação em aula, devido ao fato de que o conteúdo abordado na tirinha tem relação com o cotidiano do aluno, facilitando a discussão e reflexão sobre a temática.

9 Levantamento realizado nas revistas: Ciência & Educação (UNESP – Bauru), Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências (RBPEC - ABRAPEC), Ensaio – Pesquisa em Educação em Ciências (UFMG) e Investigações em Ensino de Ciências (UFRGS). Foram pesquisadas publicações entre os anos de 2007 e 2012.

As HQs também foram utilizadas como forma de avaliação (produção por parte dos alunos) no ensino fundamental. Para isso foram realizadas sequências didáticas ou oficinas que envolviam leituras, aulas expositivas, debates e produção de textos e quadrinhos. Essas pesquisas concluem que, por meio desse tipo de estratégia, permite-se que a criatividade e o questionamento dos alunos sejam estimulados, ao explorarem os elementos que compõe uma história.

No ensino médio, outras pesquisas avaliaram o potencial didático da leitura de HQs em sala de aula, estimulando reflexões conceituais e epistemológicas sobre a física contemporânea, por exemplo. Em relação à produção de HQs, essas investigações concluem que trabalhar com quadrinhos pode proporcionar a alfabetização científica e aprendizagem significativa, além de ser uma estratégia para superar concepções espontâneas dos alunos, mostrando também um interesse deles pelo uso de estratégias diferentes.

Destaco ainda que, antes das HQs serem utilizadas como produto (confecção pelos alunos), as propostas defendem sua apresentação aos estudantes, como forma de familiarização e conhecimento de seus elementos característicos, para posterior produção.

Apesar de esses estudos abordarem estratégias semelhantes para a utilização de HQs em sala de aula, ainda faltam metodologias adequadas para que essa linguagem seja trabalhada na escola sem ocasionar seu reducionismo. Isto é, a escola transforma-las em ferramentas de ensino, sem um processo coerente de transposição didática (PIVOVAR, 2007). As atividades não podem deixar de trabalhar na especificidade dos elementos das HQs, como aponta Pivovar (2007), já que criar quadrinhos pode ser uma maneira de expressão, a partir do momento em que se usam seus elementos característicos para obtenção de alguns efeitos. Desse modo, as HQs podem ser utilizadas não apenas como forma de aprender um conteúdo, “mas como forma de expressão mesma, de adotar um ponto de vista sobre um determinado fato e objetivá-lo num determinado suporte discursivo” (PIVOVAR, 2007, p. 163), percebendo assim novas maneiras de criar sentidos (PIVOVAR, 2007).

É por meio das contribuições da abordagem histórica ao ensino de ciências, da discussão apresentada sobre os quadrinhos e levando em consideração que o futuro professor de ciências, sujeito desta pesquisa, tem um universo simbólico amplo com acesso a diferentes linguagens (TV, livros, música, HQs etc.) que

pretendi também analisar os diferentes sentidos construídos nas HQs. Ou seja, os licenciandos, após a leitura de textos históricos e atividades que objetivaram a inserção e discussão de elementos da HC, elaboraram HQs em relação ao tema. Nelas pretendi analisar que discursos sobre ciência esses quadrinhos podem sugerir, além dos limites, dificuldades e contribuições que a perspectiva histórica aliada a essa linguagem pode proporcionar ao ensino de conteúdos científicos e ao entendimento dos processos de construção dos conhecimentos, bem como implicações para a formação desses futuros professores.

CAPÍTULO 2: PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS...