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O complexo têxtil é um dos segmentos de maior tradição no segmento industrial mundial, contando com uma posição de destaque na economia dos países mais desenvolvidos e carro-chefe do desenvolvimento de muitos dos chamados países emergentes, que devem à sua indústria têxtil o papel de destaque que exercem, hoje, no comércio mundial de manufaturas (IEMI, 2003).

No Brasil, a sua importância não é menor, tendo desempenhado um papel de grande relevância no desenvolvimento industrial do País.

A fase de efetiva implantação das atividades têxteis no Brasil corresponde ao período 1844-1913. Em 1844, esboçou-se a primeira política protecionista brasileira, quando foram elevadas as tarifas alfandegárias para a média de 30%, o que provocou protestos de várias nações européias (IEMI, 2003). Em 1864, o Brasil já tinha cultura algodoeira, mão-de-obra abundante e mercado consumidor em crescimento.

A evolução da indústria têxtil brasileira foi também influenciada pela Guerra Civil Americana, Guerra do Paraguai e Abolição da Escravatura, que resultou em maior disponibilidade dos capitais antes empregados no ramo negreiro. No final de 1864, funcionavam no Brasil vinte fábricas, com cerca de 15 mil fusos e 385 teares. Em 1881, o parque têxtil possuía 44 fábricas e 60 mil fusos e propiciava cerca de 5 mil empregos (IEMI, 2003).

De acordo com Suzigan (1986), o desenvolvimento da indústria têxtil de algodão se deu principalmente a partir de fins da década de 1860. Os principais surtos de investimento nessa indústria ocorreram nos seguintes períodos: entre fins da década de 1860 e meados da de 1870; na década de 1880 e início da de 1890; em 1907-13; na década de 20 (particularmente em 1924-26); e na década de 30, especialmente a partir de 1933. Quanto à indústria do vestuário, o mesmo autor sugere, apesar da dificuldade de dados, que ela se desenvolveu entre fins da década de 1860 e início da de 1870 e a partir de 1882.

A Primeira Guerra Mundial pode ser considerada fator decisivo na consolidação da indústria têxtil brasileira. Nas vésperas desta guerra, havia no Brasil duzentas fábricas, que empregavam 78 mil pessoas. Logo em 1920, a indústria têxtil como um todo ocupava 115.519 pessoas, o que representava 41% do emprego na indústria de transformação.

Em 1929, segundo Normano (1939), os tecidos e as roupas feitas no Brasil eram responsáveis por 15% do total arrecadado pelo imposto de consumo, representando a terceira maior arrecadação entre os setores industriais brasileiros.

Com a chegada da crise de 1929, a oportunidade de crescimento da indústria têxtil brasileira só voltou com a Segunda Guerra Mundial. Com a fase da industrialização do Brasil nos anos 1950, o setor têxtil começou a passar por transformações. As principais transformações referem-se à substituição dos têxteis de algodão por fibras artificiais, marcadas pela fabricação de poliamida (náilon) a partir de 1955, pela Rhodia, e do poliéster em 1961, pela Unidade Química de Paulínia.

Acompanhando o processo de industrialização e urbanização do Brasil, a explosão do mercado de roupas confeccionadas pela indústria dinamizou-se a partir da década de 1960. Os investimentos no setor têxtil, entretanto, foram pouco representativos até 1970, em razão da elevada ociosidade e do alto índice de obsolescência no parque fabril, notadamente na fiação e tecelagem de algodão. No período 1972-1974, ocorreu um dos maiores ciclos de investimentos do setor nas últimas décadas, representando expressiva modernização, mas o aumento de sua capacidade produtiva foi exagerada (cerca de 40%). Mais adiante, em virtude do choque do petróleo em 1973, e da conseqüente recessão em 1974, o setor atravessou forte crise nos anos seguintes.

Na segunda metade da década de 1970, os grandes projetos se concentraram no Nordeste. Nessa mesma época teve início a substituição de equipamentos têxteis importados por nacionais. Em 1979, os incentivos fiscais e creditícios decresceram e cederam lugar para os incentivos relacionados à exportação. Com a chegada da década de 1980, surgiu um processo denominado “ciranda financeira”, no qual as empresas deixavam de investir em suas atividades-fim, não atualizando a tecnologia de produção, para aplicar seus recursos no mercado financeiro. Assim, perderam em competitividade e produtividade. Somente no segundo semestre de 1984, o setor têxtil apresentou sinais de recuperação, vindo a consolidar-se em 1985.

Em maio de 1988, o governo aprovou uma Nova Política Industrial (Decretos-Leis 2.433, 2.434 e 2.435) que facilitou a importação de máquinas, apoiou o investimento em pesquisa e desenvolvimento e em programas de exportação, e concedeu incentivos fiscais à ampliação da capacidade de setores industriais.

Com a abertura comercial da economia brasileira no início da década de 1990, o setor têxtil e de confecções começou a enfrentar uma crise, e as empresas se viram com um parque industrial defasado em relação ao do mercado internacional, caracterizado pela baixa capacitação tecnológica (LEITE, 2004). A conseqüente entrada de produtos estrangeiros no País colocou-as em dificuldade, já que não estavam preparadas para enfrentar a concorrência, notadamente quanto a preço e qualidade dos produtos. As alíquotas de importação de vários produtos foram amplamente reduzidas, e as importações de tecidos afetaram as tecelagens, tinturarias, estamparias e até fiações. A situação se mostrava mais grave na área da confecção, onde prevalecia a produção com deficiências competitivas, sendo pouco significativa a participação das empresas líderes no mercado internacional (COUTINHO e FERRAZ, 1994).

O saldo da balança comercial têxtil (considerados inclusive os dados referentes ao algodão), que estava superavitário em US$ 929 milhões em 1985, permaneceu positivo até 1994; mas, em 1996-97, chegou a ficar negativo em US$ 1 bilhão. Em 1996, as importações começaram a ser controladas, reagindo aos efeitos de algumas medidas adotadas pelo Governo federal, dentre as quais a Portaria 201, de 10 de agosto de 1995, que elevou as alíquotas de importação de 18% para 70%, tendo isso vigorado até 27 de abril de 1996. Apesar do curto período de vigência, a portaria provocou significativa redução nas importações.

Conforme Gorini (2000), os impactos da abertura da economia brasileira, do aumento da concorrência externa a partir de 1990 e da estabilização da moeda, que ampliou o consumo da população de renda mais baixa, a partir de 1994, com a implantação do Plano Real, induziram a transformações estruturais na cadeia têxtil brasileira, cabendo destacar as seguintes:

a) p elevado volume de investimentos levou a um aumento da relação capital/trabalho na indústria têxtil, o que não ocorreu com as confecções, segmento caracterizado pela mão-de-obra intensiva;

b) a reestruturação implicou o declínio da produção em alguns segmentos, como o que ocorreu na produção de tecidos planos; e

c) deslocamento regional, para o Nordeste brasileiro e demais regiões, de incentivos fiscais, visando a menores custos de mão-de-obra; alguns governos estaduais participam junto com as empresas no desenvolvimento de programas de qualificação e treinamento de mão-de-obra, principalmente na confecção, o que, aliás, é uma tendência mundial.

Considerando o período 1990-2001, os investimentos totais na cadeia têxtil foram de cerca de US$ 8,4 bilhões (US$ 5,5 bilhões somente na importação de equipamentos). Na década, o financiamento do BNDES foi da ordem de US$ 2,3 bilhões. Vale ressaltar, portanto, que a cadeia têxtil-confecção, a qual respondeu por 14% dos empregos ofertados na indústria brasileira em 1999, apresentou elevados investimentos em modernização e expansão da capacidade produtiva durante toda a década de 1990.