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Este trabalho objetivou pesquisar e apresentar as motivações que sustentam as decisões de terceirização nas empresas de confecção do Estado do Ceará e avaliar qualitativamente as práticas da gestão do fator humano terceirizado.

Para isso, tinha-se como primeiro objetivo específico identificar as atividades terceirizadas pelas grandes indústrias de confecção do Estado do Ceará. Atendeu- se a este objetivo mediante aplicação do primeiro questionário, cujos dados foram apresentados e analisados no subitem 5.2.3.

A análise das práticas de terceirização das grandes empresas cearenses do setor de confecção não permite identificar padrões, comportando o setor desde a mais completa integração vertical, até a terceirização de apreciável número de atividades- fim. Isto sugere que as decisões de terceirização ocorrem segundo padrões pouco convergentes, já que das seis empresas pesquisadas há duas que não utilizam a terceirização e, no limite inverso, quatro que terceirizam inclusive atividades-fim. Esta constatação remete então para questões relacionadas com as especificidades de cada organização e a maneira como os seus administradores gerem.

O segundo objetivo específico pretendia investigar e levantar as motivações relativas às decisões de terceirização. Atendeu-se a este objetivo por meio da literatura apresentada na primeira parte do capítulo 3, seguida da aplicação do segundo questionário (ver análise detalhada no subitem 5.2.4). A análise nega em parte o pressuposto sugerido no projeto de pesquisa — de que as organizações do setor de confecção optam pela terceirização de atividades orientadas pelo imperativo de redução de custos.

A negação desse pressuposto acontece, em parte, pelo fato de as empresas não utilizarem apenas a necessidade de reduzir custos como motivador das decisões de fazer ou comprar. Essa motivação muda de acordo com a atividade em foco.

Para decidir terceirizar alguma atividade-fim, as motivações mais apontadas pelas empresas pesquisadas são a melhoria da qualidade, seguida da carência de pessoal qualificado e/ou de equipamentos adequados. Isto sugere que, quando a atividade afeta o valor percebido pelo cliente final, como é o caso das atividades-fim da indústria de confecção, a preocupação com a qualidade fica evidente, não podendo de fato a terceirização se dar apenas por menores custos.

No caso das atividades-meio ligadas às atividades-fim, as empresas também não se apóiam na redução de custos entre as suas principais justificativas para a terceirização. A explicação tende para a importância dada para a percepção do cliente quanto ao produto final. Sendo assim, existe uma correlação entre essa preocupação com o consumidor e a motivação mais apontada pelos dirigentes para a terceirização desse grupo de atividades — carência de pessoal qualificado e/ou equipamentos adequados.

Quando, porém, as atividades analisadas são as atividades-meio consideradas de apoio, as organizações do setor de confecção optam pela terceirização, orientadas pela redução de custos, já que as atividades de apoio não possuem impacto direto no produto final e, consequentemente, na percepção do cliente.

Com relação às duas empresas (A e B) que não fazem uso da terceirização, constatou-se que elas recusam qualquer flexibilidade por impedimentos de custo e de especificações técnicas decorrentes da dependência vital de um processo de produção que se apóia na fragmentação do trabalho, na desqualificação profissional e na baixa remuneração do trabalho. Seus diferenciais competitivos residem na gestão dos custos e da produção, permitindo-lhes sobreviver de modo satisfatório no decorrer do tempo. Em vista disso, as empresas A e B avaliam a terceirização como um recurso perturbador da ordem. O seu posicionamento de recusa à terceirização é, contudo, estratégico, por possuirem uma visualização clara dos impactos da decisão sobre a sua capacidade de competir nos mercados.

O terceiro objetivo específico teve o intuito de identificar os critérios utilizados pela contratante para definir o melhor candidato a parceiro. Este objetivo foi atendido por meio da literatura apresentada no capítulo 2, seguida da aplicação do segundo questionário (ver análise detalhada no subitem 5.2.5). Entre os critérios mais apontados pelas empresas para selecionar os parceiros, estão a preocupação com a experiência do parceiro na execução da atividade, seguida de sua idoneidade e confiabilidade, além do preço atrativo cobrado. Esses critérios reforçam a desejada sintonia custo condicionado à qualidade e são apontados como as principais premissas que sustentam as decisões de terceirização.

Apesar das grandes empresas de confecção do Estado do Ceará mencionarem diversos critérios para selecionar os parceiros, ficou clara a ausência de modelos formatados para contratação de terceiros. Essa constatação foi reforçada com o quarto objetivo específico, relativo a gestão centralizada ou não dos contratos de terceirização. Este objetivo é atendido por meio da aplicação do primeiro questionário, ficando evidente que apenas 1 das 4 empresas que utilizam a terceirização gerencia todos os seus contratos de forma centralizada, ou seja, gerencia em única unidade administrativa, num esforço de estabelecer padrões que minimizem as disfunções percebidas com a terceirização.

Diante disso, os pressupostos referentes ao terceiro e ao quarto objetivo específico são confirmados, ou seja, as empresas contratantes não possuem modelos específicos da gestão dos terceiros, pois gerenciam seus contratos de forma descentralizada, não possuindo, portanto, modelos que definem, por exemplo, o perfil do terceirizado, o desenvolvimento das capacidades, avaliação e retenção.

O quinto objetivo específico procurou avaliar as práticas da gestão do fator humano terceirizado, e foi atendido com o detalhamento dos subprocessos de recursos humanos na segunda parte do capítulo 3, seguida da aplicação do segundo questionário (ver análise detalhada no subitem 5.2.6).

As empresas pesquisadas parecem não se interessar pela satisfação e pela motivação dos que cortam e dos que costuram as peças que estarão amanhã nas mãos dos clientes. Em sua grande maioria, não têm conhecimento do quanto recebe o trabalhador ao seu serviço, tampouco que benefícios aufere. As empresas negligenciam até mesmo o monitoramento das obrigações trabalhistas, pelas quais é co-responsável diante da Lei.

Essas constatações confirmam o quinto pressuposto de que as práticas da gestão do fator humano terceirizado são incipientes para garantir a manutenção de bons profissionais ao seu serviço. Isto sugere que a empresa contratante não possui um processo formatado de acompanhamento da terceirização, abstraindo a idéia de parceria e concretizando a relação espúria de compra (por parte da contratante) e venda (por parte da contratada).

Com o sexto objetivo específico, procurou-se identificar os principais problemas relacionados com a adoção da terceirização. Atendeu-se a este objetivo mediante a aplicação do segundo questionário, constatando-se o não-cumprimento dos prazos de entrega pela empresa contratada, seguido do baixo nível de qualidade dos produtos/serviços oferecidos pelo terceiro. Como observado, são os problemas com o uso da terceirização percebidos nas dimensões quantidade, qualidade do produto, relacionamento com o contratado e segregação social, confirmando, portanto, o pressuposto deste objetivo.

O sétimo e último objetivo específico procurou investigar os impactos percebidos com a adoção da terceirização, permitindo negar o pressuposto de que as empresas analisadas obtiveram sucesso na redução de custos e conseguiram “enxugar” as estruturas organizacionais. A contradição entre este objetivo e seu pressuposto foi detalhada no subitem 5.2.8, que expõe como principais resultados percebidos pelas empresas, após a adoção da terceirização, um melhor preparo para lidar com as flutuações de demanda, um melhor aproveitamento dos recursos, além de ter mais condições de concentrar-se nas suas atividades principais. Apenas 50% das

grandes empresas que terceirizam admitiram que com a terceirização, conseguiram reduzir custos e “enxugar” a estrutura organizacional.

Com isso, verifica-se que todos os objetivos propostos no início do trabalho foram cumpridos.