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O Paranoá é a VII Região Administrativa do Distrito Federal, situada na área da Barragem do Lago Paranoá, entre as regiões do Lago Sul e Lago Norte. Estima-se uma população de quase 49 mil pessoas. Foi criada oficialmente em 1964, porém sua fixação ocorre somente em 25 de outubro de 1989, data comemorada como aniversário da cidade, porém sua história remete à antes da inauguração de Brasília.

Sua história data a 1957, quando conhecida como Vila do Paranoá, em referência ao lago que circunda a cidade, abrigava acampamentos de pioneiros que trabalhavam na construção da barragem. Com o fim da construção da barragem, outros migraram para o local, quando em 1960, data da inauguração de Brasília, viam-se ali vivendo milhares de pessoas, em cerca de 800 barracos.

Em um constante medo de remoção do local, as famílias ali alocadas, buscavam apenas um lugar para ficarem e buscarem as oportunidades e condições oferecidas pela nova capital. Em um movimento de resistência, essas pessoas foram firmando-se na região, apesar do confronto com o governo, pois, estavam locados em uma região nobre da cidade de Brasília. Essas histórias são descritas com auxílio de Reis (2011) e Jesus (2007).

No que concerne a esses movimentos de ocupação o que se previa era um

“saneamento estético da cidade” (AMMANN, 1987, p. 21). Em contraponto com o projeto urbanístico de Lúcio Costa, essas ocupações dos espaços contíguos ao Plano Piloto, poderiam prejudicar a beleza arquitetônica da cidade, a exemplo do lago criado artificialmente, e também prejudicar a saúde dos moradores do centro da capital, pois são aglomerações, ou favelas, não previstas no projeto original. O que o governo queria era que todas as pessoas que ali ocupavam retornassem as suas terras natais.

Dessa forma inicia-se um processo de resistência dos moradores. O acampamento vira um vilarejo, chamado de Vila Paranoá. Com o tempo, construíram uma capela de madeira, a Capela São Geraldo, conhecida como Colégio Velho. Apegados a fé religiosa, os moradores ali se reuniam para rezar, cantar e dialogar.

Das reuniões da igreja, surge um grupo de jovens, que insatisfeitos com as condições de moradia do Paranoá, passam a se articular em prol da cidade. Dessa articulação surge o grupo Pró-Moradia. Segundo o relato de Lourdes a Reis (2011, p.16), frente a brigas por água,

luz, por um local mais digno para dormir, esse grupo foi criado com a intenção de promover uma mobilização popular, além da igreja, seria um grupo para materializar a busca por melhores condições de vida e organização da comunidade. Nasceram dois grupos de jovens:

Turma Unida Comunicando Amor 1 e 2, o primeiro voltado às ações da igreja, e o segundo ao Pró-Moradia, com essa intenção de reivindicar ações para a comunidade. Ainda na fala de Lourdes:

Pessoas religiosas ou não foram se chegando ao nosso Grupo Pró-Moradia e então começamos a discutir as necessidades de ir para a rua, conhecer mais as pessoas, buscar a melhoria daquele povo, melhoria nossa com todo mundo junto. Quando a gente sai para a rua tem um outro choque. Antes, a gente ia da casa para a igreja, da igreja para a escola, e só se reunia na igreja e nas festinhas. Com isso, não tínhamos noção de como as pessoas vivam, apesar de estar à frente de nossos olhos e a gente não ver. Nós não tínhamos a consciência do que se passava realmente e desta forma não nos envolvíamos (REIS, 2011, p.17).

Essa ação da juventude e o contato com os moradores da cidade trazem um caráter mais humano às reinvindicações. E por meio do diálogo, dos debates, das reuniões, o grupo passa a se articular de tal forma que derrubaram a Associação de Moradores, que já á época representava os interesses do governo. No lugar dos abaixo-assinados da Associação de Moradores, o Grupo Pró-Moradia, usava a voz, para que todos pudessem ter acesso às informações e reinvindicações discutidas.

Cansados da situação de instabilidade na cidade, de dia construir um barraco e a noite já não ter mais onde dormir, o Grupo Pró Moradia viu a necessidade de se articular como organização institucionalizada. É assim que em 1985, o grupo assume a Associação de Moradores do Paranoá. Em sua gestão o Paranoá é setorizado, e cada setor apresenta suas demandas, em uma organização espacial e coletiva das necessidades individuais, que passam a ser da comunidade toda.

Por meio de suas reivindicações o Paranoá passa a ganhar lugar de fala e ser notado pelo Governo. Considerado como uma invasão, uma favela, o Governo massivamente ia até a comunidade e destruía os barracos. A mídia acompanhava tudo, mas se mantinha neutra, ora apoiava o governo, ora a comunidade, porém era tudo noticiado. Nada era legalizado, mas essa era a luta da comunidade: a fixação.

Em 1987, o grupo perde a direção da Associação. Porém ainda no contexto de lutas, eles se articulam e fundam o Centro de Cultura e Desenvolvimento do Paranoá. Com parceria do Projeto Rondon e da Universidade de Brasília, ganham um espaço físico, onde voltam os

encontros e reuniões do grupo. É também um espaço para as manifestações culturais da comunidade.

A problemática da fixação foi se agravando na cidade. Com a desarticulação com a Associação de Moradores, pagando alugueis altos, e com a iminente ameaça do governo de transferir as famílias para Samambaia, a comunidade não se calou. O slogan “daqui não saio, daqui ninguém me tira” foi levado ao Palácio do Buriti.

E nesse contexto de enfrentamentos, em 1988, que acontece o Barracaço. Da noite para o dia os moradores construíram cerca de 1.500 barracos. O governo utilizou de força policial ostensiva para derrubá-los, enquanto a comunidade mobilizava barricadas. E por meio da resistência o Paranoá se mostrava novamente. Mostraram de todas as formas que era viável a fixação da cidade naquele local, sem causar problemas a estrutura da capital. Foram realizados estudos diversos por professores da UnB, tiveram ajuda jurídica da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), além do apoio da Igreja. Após muita discussão e resistência, ao fim do seu governo, José Aparecido assina o Decreto de Fixação do Paranoá (decreto nº 11.208 de 17 de agosto de 1988).

Com base nesses estudos e no engajamento da comunidade, que justificam que a cidade deve seguir os moldes previstos pelos seus moradores, no dia 25 de outubro de 1989, é assinado o Decreto Lei nº 49/1989, pelo então governador do DF, Joaquim Roriz, que cria a área da cidade do Paranoá.

Com a fixação garantida, acreditava-se que a cidade passaria então a se desenvolver de acordo com os moldes previstos pelos moradores e estudados e arquitetados pela UnB, porém não é o que ocorre. O governo demarca a cidade de uma maneira diferente, negligencia as áreas de lazer e esporte, derruba os pinheirais. Faz tudo diferente do previsto. A distribuição de lotes, vai contra o que já existia, vizinhos são separados, grileiros ganham terras em nome das empregadas, alegando que estas aceitem ou percam o lote. O tamanho dos lotes é reduzido à metade, para garantir mais pessoas morando ali, e garantir mais votos ao governo nas eleições diretas previstas para 1990. Não há infraestrutura básica.

Porém a resistência continua, mesmo mais desmobilizados, a consciência social pregada por aquele grupo de jovens nos anos 1970, ainda surtia efeito. Os moradores da Vila Paranoá, hoje conhecido como Paranoá Antigo, resistem. Passam por corte de água, por opressão, mas acionam a justiça, e se fixam ali.

Outros que vinham chegando, e não conseguiam a regularização foram ali se aglomerando. Desse processo, surge o Itapoã I, Itapoã II, Del Lago e Fazendinha. Que somam a população existente atualmente na cidade.