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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.3. O GEOPROCESSAMENTO NAS PESQUISAS AMBIENTAIS

2.3.1. HISTÓRICO E CONCEITOS BÁSICOS DE GEOPROCESSAMETNO

No século XX, um dos grandes fenômenos tecnológicos introduzidos nas ciências foi o GIS, termo advindo do inglês – Geographical (Geographic) Information System ou, em português, SIG – Sistema de Informação Geográfica. Teve seu início em estudos realizados, primeiramente, no Canadá, 1964, e posteriormente nos EUA, 1967- 196942. (TEIXEIRA; CHRISTOFOLETTI , 1992)

Os esforços, em pesquisas usando esse recurso tecnológico, eram sempre isolados e relacionavam-se com necessidades específicas de pesquisas em algumas áreas de aplicação (ROSA; ROSS, 1999). Dessa forma, os primeiros SIGs surgiram como aplicativos, em 1960, mas na maioria das vezes se pareciam com os CADs atuais. Nessa época, os primeiros SIGs a serem produzidos foram o “Canadian Geographic

Information System – CGIS”, liderado pelo geógrafo Roger Tomlinson; depois o “Minnesota Land Management Information System” e o “New York Land Use and Natural Resources Inventory – LUNR”; a maior parte deles foi desenvolvida por

órgãos governamentais. Na linha acadêmica, em 1965, é produzido por Torsten Hägerstrand (geógrafo sueco) o cadastro de informações georreferenciadas de propriedades rurais (SILVA; SILVA, 1999).

Em 1970, houve uma queda nos preços dos recursos computacionais e uma maior aproximação da técnica do SIG com a ciência geográfica, ocorrendo a primeira

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Primeiros Sistemas implantados: 1964 – Canadian Geographic Information System; 1967 – New York Landuse and Natural Resources Information Systems; 1960 – Minnesota Land Management Information.

conferência sobre SIGs em Ottawa, no Canadá, que confirmou os trabalhos que há muito tempo vinham sendo produzidos por geógrafos nas pesquisas com a utilização de SIGs.

Em 1980 aumentou a venda de produtos de SIG, principalmente para empresas que dominavam, os estudos nessa área. Coppock; Rhind (1991) denominam essa fase como a de domínio comercial, que se estendeu de 1982 até os fins dos anos 80. Em 1987, o departamento de Geografia da Clark University lançou o Software IDRISI, cujo nome é uma homenagem ao cartógrafo e geógrafo AL-IDRISI (séc-12).

No Brasil, têm-se o SAGA (Sistema de Análise Geo-ambiental, 1984), elaborado pelo geógrafo Jorge Xavier da Silva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e o SGI (Sistema Geográfico de Informação), produzido pelo INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (1985), que atualmente se transformou em SPRING (Sistema de Processamento de Informações Geo-referenciadas) disponível na internet43. Esses SIGs são pioneiros no país.

No entanto, existiram outros softwares no Brasil, como o “GEO-INF+MAP, denominado pela Unesp - Rio Claro; [...]; MAPSYSTEM pela UFSCAR; SIR e SIGA pela COMPANHIA DE RECURSOS MINERAIS-CPRM” (OLIVEIRA, A., 2000, p.35).

A década de 90 presenciou a disseminação da “cultura” SIG, por geógrafos, cartógrafos, engenheiros, urbanistas, empresas privadas, públicas e pelas instituições governamentais. Para Coppock; Rhind (1991), essa fase designa o domínio pelos usuários.

A fase de domínio dos usuários trouxe uma diversidade de profissionais trabalhando com a temática o que possibilitou e ainda hoje possibilita incorrer em erros cartográficos, técnicos e por vezes teóricos. As críticas aos profissionais e acadêmicos da análise espacial que utilizam essa tecnologia em suas pesquisas contribuiu para o aperfeiçoamento dos sistemas.

A cultura do SIG (FIGURA 16), trabalhada por diversos profissionais, é permeada por níveis de interação, que atendem às demandas e evolução da tecnologia: começa pela entrada de dados (hardware, software e dados), passando pelos níveis de recursos humanos (profissionais capacitados para atuar na área) pelo nível institucional (que talvez seja aquele de maior aplicabilidade das pesquisas), o suporte financeiro (que dá condições de implementação de projetos) e o nível da inovação, em que os produtos finais dos sistemas de geoprocessamento são veiculados na internet, escolas, faculdades, além de serem imprescindíveis para tomada de decisão.

FIGURA 16 – RELAÇÃO DOS NÍVEIS DE APLICABILIDADE DOS SIGs

Nível de suporte RECURSOS HUMANOS INSTITUCIONAL IMPLEMENTAÇÃO FINANCIAL INOVAÇÃO ENTRADA DE DADOS Hardware Software Dado Nível Político Treinamento Organização Serviços Produtos Sustentabilidade Demanda Capital Custo Comercialização Evolução Recursos

Organizadora: LUSSANDRA MARTINS DA SILVA (2001)

Na geografia brasileira a aplicabilidade dessa tecnologia já começou a ser vislumbrada, em termos teóricos, com o início da propagação da nova geografia, nas décadas de 1950 e 1960. A filosofia analítica, baseada em princípios matemáticos lógicos, trouxe um novo olhar sobre a realidade geográfica, que passou a ser

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analisada sob aspectos matemáticos, probabilísticos (GERARDI; SILVA, 1981) e por meio de modelos44, os quais mais tarde seriam amplamente tratados pelos SIGs.

Alguns autores, como Branco (1997) concordam que essa fase de implementação de novas tecnologias e de técnicas deu à ciência geográfica novo status, culminando na consolidação da geografia teorética da década de 1970.

Silva (1992, p.50), a respeito da pesquisa na análise ambiental, por meio de geoestatística e geoprocessamento, relata que este é um “... campo científico

relativamente consolidado, sendo inclusive objeto até de textos didáticos no Brasil há alguns anos [por] GERARDI; SILVA, 1981 e SILVA et al. 1988”.

A contribuição da geografia na evolução dos SIGs foi muito grande. Muitos geógrafos foram pioneiros na consolidação do fenômeno tecnológico, criando e aperfeiçoando, tanto as pesquisas, quanto os Sistemas de Informação Geográfica existentes. Essa importância veio somente confirmar o que já se fazia há algum tempo, pois “os geógrafos sempre trabalharam com algum tipo de sistema de

informação geográfica na medida em que priorizaram a localização espacial dos fenômenos em suas análises e conclusões” (SILVA, SILVA, 1999 s. p).

Além disso, o arcabouço teórico-geográfico pode ser trabalhado, salvo algumas restrições, em um SIG (FIGURA 17). É o que mostra o artigo de Câmara (2000), evidenciando que os conceitos de espaço podem ser “... um ponto de partida para o

estabelecimento dos fundamentos epistemológicos da ciência da informação”. O

autor expõe os conceitos de espaço não só pela visão da escola teorética, mas por todas que se empenharam em desenvolver teoria sobre o espaço geográfico, e faz a associação delas com a representação computacional nos SIGs hoje.

O status dos conceitos geográficos (FIGURA 18) é referenciado por vários autores45

citados nesse trabalho, pesquisadores em tecnologia e em análise espacial.

44 Sobre o assunto vide:

CHORLEY(1962); CHORLEY; KENNEDY (1971); CHORLEY; HAGGETT (1975); CHORLEY; HAGGETT (1969) 45

FIGURA 17 – EIXOS TEÓRICOS DA GEOGRAFIA E DO GEOPROCESSAMENTO TEORIA TECNOLOGIA SIG ASSOCIADA CONCEITO-CHAVE REPRESENTAÇÃO COMPUTACIONAL TÉCNICAS DE ANÁLISE Geografia Idiográfica 1980 – meados dos anos 1990 Unicidade de Região (Unidade Área) Polígonos e Atributos Interseção, conjuntos Geografia Quantitativa-1 Final da década de 1990

Distribuição Espacial Superfícies (Grades)

Geoestatística + Lógica Fuzzy Geografia Quantitativa-2 Meados da década de 2000 Modelos Espaço -Tempo

Funções Modelos Multi- escala

Geografia Crítica A partir do século 21

Objetos e Ações Espaço de Fluxo e Espaço de Ações Ontologias e Espaços não Cartográficos Representação do Conhecimento Fonte: CÂMARA (2000)

Modificado por: LUSSANDRA MARTINS DA SILVA, 2001.

2.3.2. SISTEMA DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA (SIG), CONCEITOS E ANÁLISE