Observação de um doente na enfer maria-escola do Hospital Colonial
HISTORIA DA DOENÇA
Transferido do Regimento de Infantaria 35, partiu para a África em Novembro de 1915, ficando ao serviço na 1> companhia europeia. Uma semana depois de chegar a Mossâmedes marchou em desta- camento para o Lubango, demorando-se aqui apenas 9 dias, depois do que seguiu para a Ghibia onde permaneceu 2 meses. Daqui fez uma marcha que durou dois meses pelo mato com destino a Quipungo.
No decurso desta marcha,, começou a sentir ligeiros acessos febris. O destacamento compunha-se de 60 homens. O serviço de saúde era dirigido por um enfermeiro. Nesta altura tomou algumas hóstias de
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quinina, se bem que muitas vezes, a exemplo do que faziam os seus camaradas, as deitasse fora, pois, declarou, aquilo amargava muito. A agua que quási sempre se viam obrigados a beber era esta- gnada em poças. Dirigiam-se para o Guangar, mas receberam ordem de retroceder para o Luganbo. Nova marcha nas mesmas condições. Aqui está até completar os dois annos, tempo regulamentar que devia fazer o destacamento. Volta então para Mos- sâmedes a fim de seguir para a metrópole. Por motivo das operações militares resultantes da guerra é encorporado de novo numa coluna que tem de marchar para o Quanza - Norte.
É nesta nova travessia pelo mato que se agra- varam os acessos palustres, os quais durante os pri- meiros dois anos haviam sido ligeiros, nunca o obrigando a dar parte de doente. Estes acessos da primeira fase, consistiam apenas era uma ligeira elevação de temperatura, com perda ou diminuição do apetite, mal-estar e por vezes ligeiras dores de cabeça. Não 9 incomodavam, diz o doente.
No primeiro interrogatório, disse o doente que nunca tivera febres. Uma permanência de 4 anos em Africa com estacionamento em regiões forte- mente impaludadas, fazia supor que, embora ligeiros, devia ter havido acessos. As condições de insalu- bridade, sem quaisquer medidas profitácticas, em que fez as marchas pelo mato eram seguramente
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as mais favoráveis a sucessivas inoculações palus- tres. Na marcha para o Lubango foi que o doente começou a sentir-se peor. Aqui as febres não o largavam, eram quotidianas. Nesta contingência entendeu dever tomar toda a quinina que lhe dis- tribuíam— duas hóstias, uma ao café, outra à tarde. Mas as febres já não cediam à quinina e cada vez mais se agravavam. Em certa ocasião sobrevieram- Ihe edemas generalizados a todo o corpo. Teve porisso de ser transportado para o hospital de Ma- lange. Durante o percurso, que durou uma semana, a inchação desapareceu, depois da quinina que tomou. Naquele hospital foi convenientemente tra- tado e melhorou. Regressou dopois a Loanda, onde novos e fortes acessos o obrigam a internar-se no hospital. Teve um acesso delirante, no meio do qual se levantou de noite, levando consigo a roupa da cama e indo para a cama dos camaradas.
Refere mais que antes de regressar a Mossâ- medes, contraiu uma blenorragia que só passados nove meses o abandonou. Em Mossâmedes e, se- gundo diz, depois dum banho que tomou no mar, apareceu-lhe uma erupção pelos braços e pernas, com vesículas de líquido seroso, a qual lhe provo- cava intenso prurido. Recolhe ao hospital e inter- correntemente sobreveiu-lhe uma conjuntivite que consistia em uma intensa hiperemia com fotofobia e lacrimação abundante. O doente dizia-se cego.
79 Este acidente repetiu-se mais no hospital de Loanda e apresentou os mesmos caracteres. A eru- pção foi tratada com pensos de borato de sódio. Para a conjuntivite aplicaram gotas de sulfato de sódio e pensos boricados. Esta erupção reapareceu depois de regressar do mato. Teve de recolher algumas vezes ao hospital de Loanda, onde o trata- mento já não surtia resultado. Tinha febres diaria- mente. Recebeu guia para a metrópole, tendo-o a febre acompanhado sempre até entrar neste hospital.
O diagnóstico e o tratamento foram referidos nos^ capítulos III e IV.
Proposições
Anatomia descritiva — Muitas anomalias são o reli-
quat de formações ancestrais.
Anatomia topográfica — O sistema nervoso da vida
vegetativa ou sistema vago-simpático compõe-se de duas porções : um sistema autónomo e um sistema simpático propriamente dito.
Anatomia patológica — Nas infecções e nas intoxicações
as cápsulas suprarrenais podem apresentar focos hemorrágicos.
Histologia — O músculo cardíaco forma um verda-
deiro syncytium e, na série animal, em nenhu- ma das suas partes é desprovido de elementos nervosos — células ou gânglios.
Fisiologia — O movimento rítmico do coração é de
origem nervosa.
mais às infecções, quanto maior é a sua vascu- larização.
Patologia externa — A cirurgia de guerra pôs de parte
o papel do periósseo e o conceito da camada osteogénica de OLLIBR na regeneração óssea.
Terapêutica — O tratamento da astenia circulatória
das doenças infecciosas agudas, difere consoante essa debelidade tem a sua origem, ou no próprio miocárdio, ou na falta de excitabilidade dos vasos, isto é do tonus vascular.
Patologia interna — Não concordamos com a doutrina
de uma anemia tropical não parasitária.
Higiene —O paludismo é o maior obstáculo à colo-
nização das possessões ultramarinas.
Obstectrícia — Na mulher grávida atacada de tifo
Clínica cirúrgica — As parotidites xjue sobrevêm no
tifo exantemático reclamam a intervenção cirúr- gica imediata.
Medicina legal — A morte súbita pode por vezes ser
devida à excitação simultânea dos nervos do coração.
Clínica médica — Em muitos casos, é preferível ao
clínico manter a maior reserva sobre o prognós- tico, a fazer depender este de possíveis compli- cações.