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Homem e Mulher: a Base da Família

Homem e Mulher: a Base da Família

A base da família é a atração sexual entre um homem e uma mulher. Quando um homem deseja uma mulher, deseja aquilo que, como homem, lhe é necessário e não possui. Quando uma mulher deseja um homem, também deseja aquilo que, como mulher, lhe falta. Macho e fêmea formam uma união de parceiros que se definem e completam mutuamente. Um é aquilo de que o outro necessita e cada qual necessita daquilo que o outro é. Para que o amor tenha êxito, precisamos dar o que somos e receber do parceiro aquilo de que necessitamos. Dando-nos, recebendo e possuindo o parceiro, tomamo-nos homem e mulher, e formamos um casal.

A expressão amorosa, na intimidade sexual (e, às vezes, apenas o intercurso sexual), frequentemente liga os parceiros, quer eles queiram, quer não. Não é a intenção ou a escolha que estabelece o vínculo, mas o próprio ato físico. Essa dinâmica pode ser observada no sentimento de proteção que algumas vítimas de estupro ou incesto experimentam para com os agressores e nos encontros sexuais casuais que deixam traços duradouros.

A vergonha de mencionar e reconhecer esse aspecto muito íntimo do relacionamento de um casal prende-se ao fato de a paixão sexual ser vista ainda, em certos círculos, como algo abjeto e indigno. Não obstante isso, a consumação sexual constitui o maior ato humano possível. Nenhuma outra ação humana está mais em harmonia com a ordem e a riqueza da vida, expressa melhor nossa participação na totalidade do mundo ou traz consigo prazer tão intenso — e, em consequência, tão delicioso sofrimento. Nenhum ato oferece tantas recompensas ou acarreta tantos riscos, exigindo mais de nós e tornando-nos mais sábios, compreensivos e humanos, quanto a tomada do outro, o conhecimento do outro e a união com o outro no amor. Comparativamente, as outras atividades humanas parecem mero prelúdio, repetição, alívio ou consequência — uma imitação precária. A expressão sexual do amor representa também o nosso ato mais humilde. Em nenhuma outra circunstância nós nos expomos tão completamente, denunciando a mais cabal vulnerabilidade. Nada preservamos com mais recato que esse local íntimo onde os parceiros revelam um ao outro o seu ser mais profundo, confiando-se mutuamente esse ser. Graças à expressão sexual do amor, homens e mulheres deixam pais e mães para se tornar, como diz a Bíblia, “uma só carne”.

Gostemos ou não, o vínculo especial e, no sentido mais profundo, indissolúvel entre os parceiros surge da união sexual. Somente esse ato faz deles um casal, somente esse ato pode tomá-los pais. Por isso, se sua sexualidade for limitada de alguma maneira — por inibições ou pela esterilização de um deles —, o vínculo não se completa, ainda que o casal o deseje. O mesmo se aplica aos relacionamentos platônicos, em que os parceiros evitam os riscos da sexualidade e sentem menos culpa ou responsabilidade quando se separam. Depois que os parceiros se ligaram pela intimidade sexual, a separação sem culpa ou sofrimento não é mais possível. Eles não podem partir como se sua união nunca houvesse existido. Embora esse apego seja um problema para os pais que se separam, também protege os filhos de separações precipitadas ou caprichosas.

O papel crucial que a sexualidade desempenha na união dos casais evidencia o primado da carne sobre o espírito, bem como a sabedoria da carne. Somos tentados a desvalorizar a carne em comparação com o espírito, como se o que se faz a partir da necessidade física, do desejo e do amor sexual tivesse menos valor que os benefícios da razão e da moralidade. Mas o desejo físico mostra a sua força, e mesmo sabedoria, no ponto em que a razão e a moralidade atingem seus limites e recuam. O desejo continua a manifestar-se depois que as frias exigências racionais se esgotaram ou embotaram. A razão superior e o significado profundo que emergem de nossas necessidades físicas instintivas superam e controlam a racionalidade e a vontade. Estão mais próximos do centro

da vida e são mais resistentes.

Espírito é Vontade, Carne é Sabedoria

Dizem uns que o corpo, Em comparação com o espírito, Nada é.

Como se o fruto do desejo E do sexo Valesse menos Que o fruto colhido Da Razão e da Vontade. Mas o desejo exibe Coragem e sabedoria

Quando a Vontade e a Razão

Se acovardam

No serviço da Vida. No Desejo da Carne

Oculta-se uma razão superior E arde um significado profundo Que brilha mais que a racionalidade E é mais forte que a vontade.

O Desejo está mais perto do Coração da vida, É mais obediente

É mais resistente.

Quem governa a vontade é a came. Digo, pois,

Que o Espírito é vontade, mas A Came é Sabedoria.

Considerações Adicionais

A insistência de Hellinger no desejo sexual como força de criação e afirmação da vida contrasta vivamente com a visão dos que consideram os “desejos da came” um aborrecimento ou um pecado, e também com a dos que veem na sexualidade um simples prazer desvinculado da procriação.

Os termos “macho” e “fêmea” denotam, entre outras coisas, a especialização fisiológica necessária para o ato de gerar. Nesse sentido, macho e fêmea precisam um do outro, completam e complementam um ao outro; mas seria grave erro reduzir a masculinidade e a feminilidade a essa única dimensão biológica. Entretanto, nosso trabalho psicoterapêutico revela que pessoas acostumadas a menosprezar ou ignorar sua importância encontram dificuldades nos seus relacionamentos íntimos. Quando Hellinger fala da expressão sexual do amor entre um homem e uma mulher, não exclui ou marginaliza outras formas afetivas de relacionamentos sexuais; ele apenas insiste em valorizar esse aspecto imprescindível à procriação.

Um número cada vez maior de homens e mulheres vive em famílias não- tradicionais. Há casais e pessoas solteiras que não têm nem desejam ter filhos – assim como há homens que desejam homens e mulheres que desejam mulheres. Ante a explosão populacional, a natureza passa a exigir e a apoiar casais sem filhos, oferecendo-lhes expressões alternativas de humanitarismo e amor. No entanto, muitas pessoas com quem trabalhamos experimentam uma forte sensação de perda por não terem filhos e procuram aceitar essa perda sem minimizá-la, adotando estilos de vida que tragam o significado e a satisfação espiritual próprias aos pais numa família saudável. Se logram êxito, compreendem que a vida se beneficia delas e as ampara no que fazem, pois participam plenamente de suas dádivas e mistérios. Algumas, porém, continuam a sonhar com filhos e se perguntam como seria se fossem pais. Isso é especialmente verdadeiro quando envelhecem e a hora da morte se aproxima. Sua perda, real ou imaginária, constitui um pesado fardo e deve ser encarada com compreensão e solidariedade. [H. B.]

RESPEITO PELO DESEJO

Se o desejo sexual de um dos parceiros não é correspondido, ele ou ela se vê numa posição frágil porque o outro tem o poder de rejeitar. Embora quem acede ao desejo não corra riscos, parece mais forte; e aquele que deseja parece necessitado e exigente, em vez de generoso e doador. E como se o parceiro que acede ao desejo, mesmo amando, desse e ajudasse sem nada receber. Nessa dinâmica, o que deseja mostra-se agradecido (como se recebesse sem dar) e o que acede ao desejo sente-se livre, talvez mesmo superior (como se a sua doação não implicasse nenhum ganho).

Muitos parceiros insistem em conservar o poder e a superioridade do doador, mas com isso prejudicam a união. Para que um relacionamento se mantenha, o risco de rejeição, bem como as alegrias e os prazeres da entrega, têm de ser compartilhados. Desejar é ainda difícil para muitas mulheres, pois têm de romper fortes tabus culturais e receiam ser rejeitadas ou temidas se expuserem seus desejos. Em terapia, porém, acontece uma coisa interessante: é quando uma mulher diz à mãe “As vezes mal posso esperar para fazer amor com o meu marido” — mesmo que só diga isso em imaginação.

Os parceiros que zelam pelo desejo devem concordar que, quando o ser mais íntimo do outro está aberto e vulnerável — e é o que acontece quando o desejo é exposto —, devem respeitar esse desejo ainda que não o atendam. Nessa situação, ficamos absolutamente vulneráveis, de sorte que o parceiro não deve correr o risco de uma rejeição humilhante quando sente e expressa desejo. Se os casais levarem isso na devida conta, poderão desejar novamente, fazendo com que o relacionamento se estreite e se aprofunde. Ambos devem desejar, e cada qual precisa tratar o desejo do outro com respeito e amor. Quando a sexualidade promove o relacionamento e constitui o seu objetivo, tanto a sexualidade quanto a parceria afetuosa passam a ser mais profundas, mais livres, mais autênticas.

Dado que homens e mulheres temem essa intensa necessidade, com a crua dependência que ela implica e o perigo de uma rejeição avassaladora, são muitas as pessoas que procuram alimentar o sexo oposto em si mesmas. Os homens querem se transformar em mulheres e as mulheres querem se transformar em homens, como se isso fosse possível. Se o conseguissem, não precisariam mais de parceiro e seu relacionamento tomar-se-ia mera questão de conveniência.

Para que a parceria entre um homem e uma mulher cumpra a sua promessa, o homem tem de ser homem e a mulher tem de ser mulher. Nessas parcerias, a mulher se interessa pelo homem enquanto ele permanece homem, e vice-versa. Isso quer dizer que o homem desejoso de amar uma mulher como sua parceira, em igualdade de condições, tem de preservar a necessidade que tem dela preservando ao mesmo tempo sua incompletude. Em vez de desenvolver o feminino dentro de si, deve deixar que a parceira lhe ofereça isso como um presente e aceitá-lo. A mulher que tenciona amar um homem deve também aceitar o masculino de sua parte. Quando um homem e uma mulher anseiam por aquilo que o outro possui, possuindo por sua vez aquilo que o outro procura, tomam-se iguais na sua incompletude — e na sua capacidade de dar. Quando ambos respeitam as próprias limitações e preservam sua necessidade, essa necessidade mútua os complementa e completa, de sorte que o dar e o receber fortalecem a união.

A visão sistêmica é exatamente o oposto da ideia popular segundo a qual os homens devem desenvolver seu lado feminino e as mulheres, seu potencial masculino. Pessoas que agem assim não precisam de um parceiro que lhes dê o que lhes falta; na verdade, preferem viver sozinhas.

O Basso Continuo

O relacionamento do casal é como um concerto barroco: toda uma variedade de melodias maravilhosas soa no registro alto, enquanto, embaixo, um basso continuo as sustenta e conduz, dando-lhes peso e profundidade. No relacionamento do casal, o basso continuo é: “Eu te recebo, eu te recebo, eu te recebo por mulher, eu te recebo, eu te recebo, eu te recebo por marido. Tomo-te para mim e dou-me para ti com amor.”

O AMOR ENTRE PARCEIROS

O amor entre parceiros exige a renúncia ao nosso primeiro e mais profundo amor, o amor por nossos pais. Somente depois que o apego do menino — afetuoso ou rancoroso — à mãe se resolve pode ele dar-se plenamente à parceira e ingressar na masculinidade. Também o apego da menina ao pai deve resolver-se antes de sua entrega ao parceiro e sua transformação em mulher. A união bem-sucedida exige o sacrifício e a substituição de nossos antigos vínculos com os pais — os do menino com a mãe, os da menina com o pai.

O menino vive seu período pré-natal e sua primeira infância sobretudo dentro da esfera de influência da mãe. Se continuar ali, essa influência permeará sua mente e ele privilegiará o feminino. Sob o domínio da mãe, poderá tomar-se um grande sedutor e amante, mas jamais será um homem que aprecie mulheres ou mantenha um relacionamento afetivo duradouro. Também não será um pai forte e dedicado para seus próprios filhos. A fim de ser um homem capaz de participar plenamente de um relacionamento entre iguais, deve renunciar ao primeiro e mais entranhado amor de sua vida — a mãe —, passando logo para a esfera de influência do pai.

Em tempos remotos, o processo graças ao qual o menino se separava da mãe era socialmente estruturado e amparado por ritos de iniciação e passagem. Depois de cumprir esses rituais, o menino conquistava uma posição sólida no mundo do pai e não podia mais viver em casa da mãe como uma criança. Na nossa cultura, os rituais formais que antes sustentavam esse processo desapareceram, de modo que a saída da esfera de influência materna costuma ser um passo doloroso e difícil. Mesmo o serviço militar, que outrora ajudava os rapazes a abandonar a esfera de influência da mãe e penetrar na do pai, deixou de ser viável para muitos jovens.

A menina também ingressa na vida sob a influência da mãe, mas experimenta o feminino e a atração pelo masculino de um modo diverso. O pai a fascina e, se tudo vai bem, ela consegue aprimorar a arte de atrair os homens na firme segurança do amor paterno. Se, porém, permanece na esfera de influência paterna, passa a ser a “garotinha do papai”. Pode amar alguém, mas não alcança a maturidade plena da mulher; tem dificuldades para se relacionar em igualdade de condições com um parceiro ou ser uma mãe generosa e dedicada. Para tomar-se mulher, a menina precisa abandonar o primeiro homem de sua vida — o pai — e reaproximar-se da mãe.

Perguntas e Respostas

Pergunta: A criança pode ter um relacionamento igual com o pai e a mãe?

Hellinger: Sem dúvida. Isso acontece quando os meninos passam para a esfera de influência do pai e as meninas retomam à da mãe. Se você observar pessoas reais, verá que o filho ligado ao pai respeita e valoriza mais a mãe do que aquele que permanece apegado a ela — e a mãe nada perde. Do mesmo modo, a filha que saiu da esfera de influência do pai e regressou à da mãe não perde o pai, nem ele a perde. Ao contrário, passa a respeitá-lo e valorizá-lo ainda mais. Mais importante ainda, o relacionamento dos pais se fortalece quando os filhos se aproximam do pai e as filhas se reaproximam da mãe. Então, não há confusão na família.

Pergunta: Será que entendi bem? Quando tomo o meu lugar junto à minha mãe, afirmo o seu direito à feminilidade?

Hellinger: Não. A mulher que se julgar possuidora da autoridade de afirmar ou negar o direito da mãe à feminilidade coloca-se acima dela.

Pergunta: E se eu simplesmente a aceitar?

Hellinger: Aceitá-la implica uma generosidade superior de sua parte. Mas aceitar e afirmar a própria feminilidade como um presente é humildade.

Rainer (membro do grupo): É estranho que tanto se escreva sobre a relação mãe — filho e tão pouco sobre a relação pai — filho.

Rainer: Uma filha de 8 anos.

Hellinger: Então já é tempo de deixá-la voltar para a esfera de influência da mãe.

Rainer: Sim, tenho pensado muito no processo de deixar minha filha ir; mas, ao mesmo tempo, acho que não há nada que eu possa fazer para que isso aconteça.

Hellinger: Claro que há.

Rainer: Quero dizer que não posso forçar. Devo deixar acontecer. Hellinger: Não, você pode!

Rainer: Mas não é o que eu quero.

Hellinger: Bem, pelo menos a mensagem é clara. O que venho dizendo tem implicações definidas para a ação — de outro modo, economizaria minhas palavras.

Rainer: Então, o que eu deveria fazer?

Hellinger: Bem, quando você olhar para ela, poderia, por exemplo, admirar nela a sua esposa. Rainer: Boa ideia. Gostei (rindo).

Hellinger: Poderia ainda dizer à sua filha que ela é quase tão bonita quanto a mãe. Rainer: Outra coisa que me incomoda é...

Hellinger (interrompendo-o e voltando-se para o grupo): Ele está mudando de assunto; mas, tudo bem. Percebeu que a coisa estava ficando séria e que precisa encará-la. As vezes, quando o pai se apega à filha, fica difícil para esta regressar à esfera de influência da mãe. Ela se sente importante e acredita ser capaz de atender à necessidade do pai, mas isso é tarefa pesada demais para uma criança. Em comparação com uma esposa, uma filha não passa de prêmio de consolação.

Pergunta: A noite passada, na cama, pus-me a pensar sobre as “esferas de influência” da mãe e do pai. Você disse que o homem macho é aquele que permaneceu na esfera da mãe por muito tempo. E o homem efeminado? Você diria que essa tendência é resultado da permanência excessivamente longa na esfera do pai?

Hellinger: Não. Sob esse aspecto, o machão e o efeminado são a mesma coisa: ambos permaneceram na esfera de influência da mãe. Um Don Juan é também um filhinho da mamãe que não chegou à masculinidade. Ele acha que, possuindo muitas mulheres, vai continuar a participar para sempre da feminilidade. A necessidade de parceiros múltiplos surge da permanência na esfera materna. O homem que escapa dessa esfera pode tirar de sua parceira aquilo de que necessita e entregar-se a ela, tornando-se por sua vez parceiro. Fanfarrões, conquistadores e machões são todos queridinhos da mamãe.

Pergunta: Poderia explicar melhor o seu conceito de esfera de influência?

Hellinger: Sempre evito definir conceitos. O que estamos discutindo não são conceitos verdadeiros ou falsos. Eu tento descrever experiências difíceis de um modo que nos possibilite encará-las melhor e seja mais útil às pessoas com problemas. Nada mais. Se pretendermos que nossas descrições são a “Verdade”, elas logo serão uma teoria falsa e desacreditada. O que digo não é absolutamente “verdadeiro”: é apenas uma abordagem fenomenológica de certas dinâmicas que venho observando há anos em meu trabalho com casais e famílias. Eu quero que as coisas parem por aí. Por favor, não exijam do que digo mais do que quero dizer.

Portanto, estar na esfera de influência de uma pessoa significa simplesmente estar sob a influência dessa pessoa. Por exemplo, quando é muito importante para uma menina agradar o pai, ela está em sua esfera de influência. Já em muitas famílias, mãe e filho tramam para desdenhar o pai ou ser condescendentes com ele. Eis, em suma, o que quero dizer.

sua esfera de influência é porque a deixou, passando para a do pai.

Hellinger: Exatamente! (Rindo) Por isso, tudo é mais fácil para as mulheres: basta-lhes voltar. Mas o homem acha o feminino tão poderoso, tão atraente e tão insinuante que lhe é difícil renunciar a ele. Ele não pode fazê-lo sozinho. Se quiser deixar de ser menino para tornar-se homem, terá de se associar ao pai, ao avô e ao mundo masculino. Só aí encontrará forças para escapar à esfera da mãe.

Pergunta: A menina não perderá alguma coisa se permanecer sempre na esfera de influência da mãe? Não será importante para ela sair dessa esfera e depois voltar?

Hellinger: Sem dúvida. Primeiro, ela tem de se aproximar do pai e, depois, se reaproximar da mãe. Se ela conhecer apenas a influência da mãe, não sentirá atração pelo masculino encarnado no pai. Pergunta: Você disse que é difícil para a mulher aceitar plenamente um homem se não se afastar do pai. Isso me intriga.

Hellinger: Quando a mulher ainda está apegada ao pai, costuma acreditar secretamente que seria melhor parceira para ele do que sua mãe. E uma crença infantil. Se examinar honestamente as consequências para ela de semelhante parceria inserirá essa crença infantil num contexto adulto. Há uma frase que pode ajudá-la a romper os laços malsãos com o pai. Ela irá dizer-lhe: “Mamãe é um pouquinho melhor para você do que eu.”

Pergunta: Que é o masculino numa mulher e o feminino num homem? Que são o masculino e o feminino, afinal de contas? Pelo menos, qual é a sua opinião?

Hellinger: Eis aí uma coisa que ainda não descobri (rindo). Para o homem, sempre há algo de oculto numa mulher, e vice-versa. Nem mesmo chego a compreender inteiramente o masculino. Mas o que estamos discutindo nada tem que ver com compreensão conceituai. Eu não estou propondo uma teoria da masculinidade e da feminilidade. Estou tentando examinar o que as pessoas sentem nas constelações familiares e em seus relacionamentos, como também abrir espaço para que vocês entrem em contato com fatos que só podem ser conhecidos por experiência. Tentar compreender intelectualmente uma experiência é como tentar segurar o fogo. Se vocês insistirem em apreender essas coisas intelectualmente, vão ficar apenas com as cinzas da fogueira.

Pergunta: Parece-me que o que você descreve é apenas a velha questão de Edipo em linguagem diferente. Não vejo diferença entre o que diz e o complexo psicanalítico de Édipo.

Hellinger: Há um equívoco fundamental de natureza fenomenológica na sua pergunta. Se inserir uma experiência nova no contexto do que já conhece, não perceberá nada de novo.

Sem dúvida, a psicanálise tem uma compreensão profunda do que acontece nas relações entre pais e filhos, mas o que digo aqui não é a mesma coisa que o complexo de Édipo. O pensamento psicanalítico difere do pensamento sistêmico. Mal você diz “complexo de Édipo”, a fenomenologia

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