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Os horizontes da pesquisa exploratória em movimento Delimitado o campo científico no qual está circunscrita a pesquisa e antes de

A vida da pesquisa e a pesquisa da vida

2.2. Os horizontes da pesquisa exploratória em movimento Delimitado o campo científico no qual está circunscrita a pesquisa e antes de

entrarmos nos pormenores metodológicos, é importante tecer considerações sobre a característica metodológica central deste estudo. De acordo com Gil (1999) existem diversos tipos de pesquisa social e elas podem ser organizadas em agrupamentos amplos, sendo que os mais utilizados, desde a década de 1950 até hoje, são os níveis que foram propostos por Selltiz48 et al (1967 apud GIL, 1999) que dividem as pesquisas sociais em três grupos, quais sejam: estudos exploratórios; estudos descritivos e estudos explicativos.

As pesquisas exploratórias são desenvolvidas com o intuito de proporcionar visão geral, de tipo aproximativo acerca de determinado fato, sendo realizada, especialmente, “quando o tema escolhido é pouco explorado e torna-se difícil sobre ele formular hipóteses precisas e operacionalizáveis” (GIL, 1999, p. 43). Ainda, essas pesquisas “têm como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em vista, a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores” (Idem ibidem, p. 43).

O estudo ou a pesquisa exploratória também é considerado uma etapa metodológica prévia que “apresenta natureza qualitativa e contextual”, na medida em que contribui na elaboração de instrumentos baseados “nas experiências reais dos sujeitos, no seu vocabulário e ambiente de vida” (PIOVESAN; TEMPORINI, 1995, p. 319). Para tanto, não se deve confundir pesquisa exploratória com estudo-piloto ou pesquisa-piloto, já que piloto adjetiva

77 uma “realização em dimensões reduzidas para experimentação ou melhor adaptação de certos processos tecnológicos” (idem ibidem, p. 319).

Estudo exploratório. Um estudo preliminar do principal objetivo que é o de familiarizar-se com um fenômeno que é o de investigar, de modo que o maior estudo a seguir pode ser projetado com maior compreensão e precisão. O estudo exploratório (que pode usar qualquer uma de uma variedade de técnicas, normalmente com uma amostra pequena) permite que o investigador defina o seu problema de pesquisa e formule a hipótese com mais precisão. Ele também lhe permite escolher as técnicas mais adequadas para a sua investigação e decidir sobre as questões que mais necessitam de atenção e investigação detalhada, e pode alertá-lo para potenciais dificuldades, sensibilidades e áreas de resistência (THEODORSON; THEODORSON49 apud PIOVESAN; TEMPORINI, 1995, p. 319).

Piovesan e Temporini (1995) ressaltam que são raros os textos de metodologia científica que mencionam a pesquisa exploratória e menos frequentes são as definições sobre elas sendo utilizadas como recurso adicional da pesquisa principal. Com isso, desenvolveram interessante artigo em que descrevem a utilização da pesquisa exploratória como procedimento metodológico no estudo de fatores humanos no campo da saúde pública, onde estabeleceram importantes pressupostos.

O pesquisador ou profissional que nega, desvaloriza ou menospreza a realidade concreta das pessoas e suas experiências de vida, corre o risco eminente de coletar dados irreais, podendo gerar resultados negativos não só a sua pesquisa, mas à própria comunidade na qual atua. É por isso que supervalorizar os conhecimentos científicos sobre os populares, significa incorrer em erros graves no processo de construção da ciência social crítica e é aí que a pesquisa exploratória, como momento metodológico, insere-se. Ela se baseia nas seguintes constatações que podem ser avistadas como princípios: 1) a aprendizagem melhor se realiza quando parte do conhecido (ou parcialmente conhecido, já que não se pode conhecer tudo); 2) deve-se buscar sempre ampliar o conhecimento e 3) esperar respostas racionais pressupõe a formulação de perguntas racionais, já que o racional ou mais lógico em termos de pergunta e resposta, é aquilo que corresponde ao mundo da vida das pessoas com quem se pesquisa (PIOVESAN; TEMPORINI, 1995).

49 THEODORSON, G. A. & THEODORSON, A. G. A modern dictionary of sociology. London, Methuen,

78 Paulo Freire lança questões muito parecidas com as aqui expostas, mesmo sem se direcionar a questões específicas da pesquisa exploratória, mas que podem colaborar com sua eficácia no campo da educação.

A educação autêntica [...] não se faz de A para B ou de A sobre B, mas de A com B, mediatizados pelo mundo. Mundo que impressiona e desafia a uns e a outros, originando visões ou pontos de vista sobre ele. Visões impregnadas de anseios, de dúvidas, de esperanças ou desesperanças que implicitam temas significativos, à base dos quais se constituirá o conteúdo programático da educação. Um dos equívocos de uma concepção ingênua do humanismo está em que, na ânsia de corporificar um modelo ideal de “bom homem”, se esquece da situação concreta, existencial, presente, dos homens mesmos. “O humanismo consiste (diz Furter), em permitir a tomada de consciência de nossa plena humanidade, como condição e obrigação: como situação e projeto” (FREIRE, 2005, p. 97).

Para Piovesan e Temporini (1995), a pesquisa exploratória pode ser considerada um continuum que parte de uma situação de pouco ou nenhum conhecimento empírico em torno de uma determinada realidade social para o alcance de conhecimentos qualitativos autênticos sobre essa mesma realidade. Dessa maneira, essa modalidade de pesquisa

[...] tem por finalidade evitar que as predisposições não fundadas no repertório que se pretende conhecer influam nas percepções do pesquisador e, consequentemente, no instrumento de medida. Não corrigido, este tipo de tendência poderá conduzir o pesquisador a perceber a realidade segundo sua ótica pessoal, de caráter técnico-profissional (PIOVESAN; TEMPORINI, 1995, p. 321).

“Se a referência para o saber é o profissional, tal postura dificulta a chegada ao saber do outro” (VALLA, 1996, p. 179) e a pesquisa exploratória, permitindo maior equilíbrio em relação aos efeitos desvirtuadores da percepção do pesquisador, “permite que a realidade seja percebida tal como ela é, e não como o pesquisador pensa que seja.” (PIOVESAN; TEMPORINI, 1995, p. 321). Uma vez que “os saberes da população são elaborados sobre a experiência concreta, a partir das suas vivências, que são vividas de uma forma distinta”, não existe conhecimento superior ou inferior, mas diferente (VALLA, 1996, p. 179).

Acredito que esse processo dentro do contexto da pesquisa seja demarcado por um total descentramento em que o pesquisador/a é tirado/a de seu lugar de referência que gera – no meu caso em específico – percepções e concepções de que viver na rua é pura negatividade, é quase morte e, por isso, pouca esperança há. Que as pessoas que nela vivem

79 estão em processo crescente de desumanização e já não possuem forças de resistência e de luta. Suas relações, tanto com a cidade, como com as outras pessoas, são degradantes porque a desconfiança está presente como consequência da violência encobridora das possibilidades de acordos, de diálogos e de convívios amistosos.

Essas preconcepções formuladas durante a atuação como educadora social de rua e as primeiras idas ao campo sem os escudos protetores da instituição deu-me a sensação de total vulnerabilidade e desproteção no hostil ambiente da rua. No entanto, no decorrer do tempo essas sensações foram sendo substituídas pelas experiências que vem acontecendo e me alcançando, apoderando-se de mim, tombando-me e, sem dúvida, transformando-me, ancoradas nos conhecimentos da Educação Popular que tem como pilares a dialogicidade e o convívio.