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3 C OMPARTILHAMENTO DA I NFORMAÇÃO

4.4 I NOVAÇÃO E O C ONTEXTO S ETORIAL

No contexto setorial destaca-se o clássico estudo de Keith Pavitt (1984) que buscou explicar porque existem diferentes abordagens para a inovação entre os diferentes tipos de indústrias. Seus estudos observaram diversidades no padrão das inovações, por

exemplo, entre empresas de portes diferentes, na natureza do produto da inovação, se dedicado a preço ou a desempenho, como também no seu objetivo, se expansão do mercado ou eficiência de processo. Estes mesmos estudos mostram diferenças nas fontes e no local onde a inovação acontece, considerando empresas que têm departamentos de P&D ou inovam a partir de experiência em sua linha de produção ou ainda aquelas que recebem as inovações do meio externo, como de fornecedores, por exemplo. (TETHER et al., 2005)

A partir dessa constatação Pavitt (1984) formulou sua taxonomia para classificar as organizações em quadro grandes grupos conforme seu padrão setorial para a inovação. O primeiro destes grupos ele denominou de science base, tipicamente do setor de farmacêutica, biotecnologia e eletrônica, isto é, empresas que têm sua base na ciência. Estas empresas requerem alto nível de conhecimento científico e, por esta razão, geralmente trabalham em parceria com a academia e têm seus centros de pesquisa próximos às universidades.

Um segundo grupo denominado por ele de scale intensive, de produção intensiva, baseia-se na economia de escala. Neste tipo de empresa, mesmo que o investimento em P&D seja alto, o custo unitário por produto será baixo, devido ao alto volume de produção. A indústria automobilística ou a de eletrônicos de consumo são exemplos típicos. Aqui a inovação ocorre no nível do produto, do seu projeto e de seu processo de produção. Nesta fase uma grande fonte de informação provém da linha de produção e da experiência adquirida no

learning-by-doing. Mais recentemente estas empresas passaram a representar grandes

sistemas integrados de produção, onde muito da inovação advém justamente da capacidade de troca de informação.

O terceiro grupo é o de empresas de fornecimento especializado ou specialist

supplier. Tipicamente produzem equipamentos para instrumentação e softwares especialistas.

Sua competência está na habilidade de trabalhar próximo de seus clientes e a fornecer soluções específicas para eles, que os direcionam a quais problemas devem ser resolvidos, e em sua capacidade de se engajarem em atividades de aprendizagem interativa junto a esses clientes. Está caracterizado por pequenas empresas que atendem principalmente a empresas dos grupos de firmas science base e scale intensive.

Como quarto padrão setorial Pavitt menciona as empresas dominadas por seus fornecedores ou supplier dominated. Antes usuárias que produtoras de tecnologia, estas empresas geralmente competem no fornecimento de produtos ou serviços de baixa complexidade onde a questão do preço ganha destaque. Segundo o autor, formariam a maior parte da economia e são vistas como passivamente dependentes do fornecimento de tecnologia dos demais setores, vindo a inovação de fora.

Muitos críticos da classificação de Pavitt destacam sua visão tendenciosa ao enxergar como avanços apenas a produção de tecnologia na forma de produtos ou serviços. Para estes críticos, o autor não leva em conta as inovações organizacionais ou de procedimentos. Um exemplo clássico seria o da indústria de restaurantes, classificada como

supplier dominated, significando que seriam os equipamentos de sua cozinha, isto é, a

tecnologia “dura”, que traria qualidade ao alimento servido a seus clientes e não a habilidade e genialidade de seu cozinheiro.

Em trabalho posterior do mesmo autor (PAVITT, 1990) um quinto padrão setorial é definido como sendo o das empresas de informação intensiva, information intensive. Primariamente do setor de serviços, seriam tradicionalmente as empresa financeiras, de varejo, editoras e empresas de viagem. Nelas a principal fonte de inovação provém do departamento de desenvolvimento de sistemas, bem como de fornecedores externos de aplicativos. Nelas a inovação teria como objetivo projetar e operar sistemas complexos integrados à atividade fim da empresa, de modo a fornecer a seu cliente produtos ou serviços o mais próximos possível de sua demanda. (TETHER et al., 2005)

Vale mencionar o trabalho de Miozzo e Soete (2001) que revisitam a taxonomia de Pavitt sob a luz da influência das tecnologias da informação principalmente no setor de serviços e reclassificam as empresas em apenas três setores: supplier dominated, scale

intensive physical networks and information networks e science based and specialized suppliers. O mérito dessa simplificação e unificação de setores está na valorização do setor de

serviços tecnológicos e suas ligações com os setores de manufatura e de demais serviços, com destaque para os serviços de tecnologia intensiva relacionados ao uso da informação, tão essencial em nossos dias.

De modo similar Storper (1996) dividiu as empresas por “mundos de produção”, criando o mundo interpessoal, o do mercado, o dos recursos intelectuais e o industrial. Para cada um de seus “mundos” Storper também analisa de que modo a inovação será gerada. O que é importante destacar que seu estudo se inicia com a afirmação de que aprendizado e a interação são elementos centrais no processo inovativo, apontando a complexidade dessa interação, seja ela interna na empresa ou unidade produtiva, ou entre as empresas ou ainda entre elas e seu ambiente. Este quesito é tão importante para o autor que já no título de seu artigo reconhece a inovação como uma ação coletiva. Volta a analisar os sistemas de inovação na busca de decifrar os mistérios da atividade coletiva que leva à inovação e as forças que, através da interação, permitem e estimulam a criação de inovações viáveis economicamente.

É tomando como referência teórica todos estes estudos apresentados e partindo de uma visão sistêmica para a inovação, que se quer mostrar com esta pesquisa a força do compartilhamento da informação e do conhecimento no fomento do ambiente inovativo. Na criação deste ambiente capacitante que cria conhecimento novo e é capaz de aplicá-lo na geração do novo, seja produto, serviço, processo, forma de organização ou comercialização que torna a empresa diferente de seus competidores e permite que, enquanto diferente, possa se destacar e agregar maior valor às suas ações.