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3 C OMPARTILHAMENTO DA I NFORMAÇÃO

3.1 O T ÁCITO E O E XPLÍCITO

Voltando o olhar para o ambiente empresarial e para se entender como é criado o conhecimento dentro da organização precisamos utilizar os conceitos já cristalizados da espiral do conhecimento proposta por Nonaka e Takeuchi (1997). Segundo estes autores o

conhecimento converte-se de sua forma tácita para explicita e vice-versa, de forma que o conhecimento vai sendo propagado e, simultaneamente, incrementado em uma espiral continuamente ascendente. Observa-se o destaque novamente para a característica dinâmica e interativa do processo.

A geração do conhecimento organizacional depende desses dois tipos de conhecimento, bem como de sua interação, conforme já afirmava Michael Polanyi (1966). Foi ele quem primeiro buscou definir o conhecimento tácito. Como sua frase clássica pontua “existem coisas que sabemos, mas que não sabemos explicar como sabemos” (POLANYI, 1962).

“Existem dois tipos de conhecimento que atuam conjuntamente no processo do conhecer. O primeiro tipo é o conhecer algo tomando-o como uma entidade única, um todo. O segundo tipo baseia-se na consciência deste algo, com o propósito de se voltar a atenção para uma entidade maior, da qual faz parte. O segundo tipo de conhecimento pode ser dito como sendo tácito, pois não se pode dizer quais são suas particularidades, na consciência das quais é necessário se apoiar para a compreensão do todo que as engloba.” (POLANYI, 1962, p. 601, tradução nossa)

Buscando tornar mais claros seus conceitos, Polanyi (1983) caracteriza o conhecimento tácito como não estruturado e não formalizado, envolvendo sensações, imagens e modelos mentais, e como não tendo origem clara, sendo de difícil registro e de baixa comunicabilidade.

O filósofo busca os conhecimentos da psicologia da Gestalt para ressaltar que quando vemos um todo, vemos suas partes de maneira diferente de quando as vemos de maneira isolada. Ele afirma que as partes têm uma aparência funcional que faz com que o observador as enxergue de maneira diferente, como um todo, e não como partes isoladas. Ele também explica que, ao observarmos um objeto, compomos mentalmente o entendimento do que vemos através da combinação entre a consciência focal, isto é, do próprio objeto, e a consciência subsidiária, isto é, das coisas que o rodeiam e que permitem contextualizar o que vemos. Estas duas consciências são fundamentais para a apreensão tácita da coerência do que vemos. (POLANYI, 1966)

Caminha neste raciocínio para mostrar que estes mesmos conceitos estão presentes nas descobertas científicas, afirmando que apenas com esta capacidade para a combinação das observações da realidade será possível ver o que se vê de forma natural agora

de maneira diferente e tornando o observador capaz de deslocar sua atenção de sua consciência focal para a consciência subsidiária, isto é, para a coerência teórica do que se é observado. Finalmente, define que este ato de integração destas consciências, que existe tanto na observação de objetos quanto na descoberta das teorias científicas, deve ser chamado de conhecer tácito.

Evoluindo estes conceitos, ele classifica como termos proximais do conhecimento tácito os que são subsidiários ao objeto observado e como termos distais aqueles de conhecimento focal do objeto. Faz isso com o intuito de afirmar que é necessário um sentido obrigatório, uma sequência nessa integração, da subsidiária para a focal, isto é dos termos proximais para os distais e que isto deve ser feito de maneira consciente pelo observador. Este ato de integração é a característica metafísica do conhecimento tácito que comprova que, como aspecto da realidade, poderá revelar uma verdade de maneiras impensáveis e imprevistas. Simultaneamente, o conhecimento tácito, definido por Polanyi, contém um conhecimento real indeterminado, no sentido de que seu conteúdo não pode ser estabelecido explicitamente.

Polanyi também contrapõe o conhecimento tácito ao conhecimento explícito, porém ressaltando que eles não estão tão claramente separados um do outro, pois enquanto o conhecimento tácito pode existir por si só, o explícito necessita que seja tacitamente entendido para que seja aplicado. Considerando que todo o conhecimento é tácito ou baseado em um conhecimento tácito, seria impensável um conhecimento puramente explícito. Segundo o cientista, para que seja efetivo, o conhecimento explicito deve “decantar” nessa matriz tácita que seria o processo de interiorização, como explica o autor. (POLANYI, 1966)

Polanyi recomenda reconhecer-se o conhecimento tácito como o poder fundamental da mente que cria o conhecimento explícito, empresta sentido a ele e controla seu uso.

É de Polanyi que Nonaka e Takeuchi buscam seu entendimento de conhecimento tácito e explícito e elaboram seu modelo que explica como estes conhecimentos se relacionam e como novos conhecimentos são criados a partir dessa interação.

Conforme Nonaka e Takeuchi (1997) ressaltam, o conhecimento é essencialmente tácito e, portanto, de difícil transmissão. E no dilema de Inkpen (1998) quanto mais tácito é o conhecimento maior a probabilidade que traga maior valor.

“O conhecimento nas empresas envolve uma continua troca entre o conhecimento tácito e explícito. O conhecimento tácito é mais difícil de ser

formalizado, não é facilmente visível tornando-se difícil de ser comunicado ou de ser compartilhado com outros. Envolve fatores intangíveis ligados às crenças, experiências e valores das pessoas. Em contraste, o conhecimento explícito está sistematizado e é facilmente comunicado na forma de dados ou procedimentos codificados.” (INKPEN, 1998, p. 74, tradução nossa)

Por extensão da teoria, ilumina-se o caminho para o estoque ilimitado de novas informações e conhecimentos que se podem alcançar com a interação em um ambiente mais amplo que apenas a arena organizacional. Quando se expande o campo das trocas informacionais, novas fontes são acessadas e a aprendizagem dos indivíduos ganha corpo com a aprendizagem de forma coletiva.

Nesta linha, vale o destaque para a diferença entre o conhecimento local versus o global. Isto é, o que é efetivamente possível ser absorvido pelo grupo. Sem dúvida, mesmo um conhecimento codificado pode não ser entendido pelos demais, caso tenham sido utilizados termos particulares, ou seja necessário um conhecimento prévio para a sua interpretação. Este “código” pode ser uma língua diferente ou até mesmo uma codificação que garanta o segredo da informação apenas para alguns. (JENSEN et al., 2007).

O conhecimento adquirido pelo compartilhamento de experiências e na prática é local. Entretanto, quando se expande o grupo de interação, por exemplo, na interação com consumidores, concorrentes, parceiros e outros atores das conexões estabelecidas pela organização, pode-se esperar um impacto mais global de uma inovação consequentemente gerada neste ambiente.

Mesmo utilizando-se outro tipo de classificação do conhecimento, vale destacar que também existe distinção entre as práticas que o difundem. O saber o quê, know-what, e o saber o porquê, know-why, sempre estiveram ligados ao conhecimento codificado e, por conseguinte, atrelados às práticas científicas formais. Por outro lado, o saber quem, know-

who, e o saber como, know-how, se baseiam no conhecimento não explicitado, tácito e que

tem nas praticas de interação e aprendizagem pelo fazer, as formas de sua transmissão. (JENSEN et al., 2007).