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CAPÍTULO 3: OS ESCRITÓRIOS DA IBM

3.2 A IBM NO BRASIL

A empresa começou a atuar no Brasil em 1917, com o nome de Computer- Tabulating-Recording Company (CTR), através de um escritório de representações no Rio de Janeiro após ter estabelecido um contrato com a Diretoria de Estatística Comercial para a apuração do Censo brasileiro de 1920 (IBM, 1997, p.23). Em 31 de dezembro de 1924 o nome International Business Machines Corporation (IBM) foi adotado pela empresa, já definitivamente estruturada no Brasil.

Ela chegou ao país na época da Primeira Guerra Mundial, quando a economia do país, que era baseada na fabricação e exportação de café, enfrentava uma crise, já que o mercado externo estava praticamente paralisado por causa da guerra.

“Em decorrência do conflito e da necessidade de substituir importações, verificava-se um ambiente relativamente próspero no âmbito da indústria nacional.(...) O desenvolvimento industrial e o acelerado processo de urbanização e complexidade das atividades daí decorrentes foram fatores extremamente favoráveis à instalação no país de empresas como a CTR.” (IBM, 1997, p.21)

Primeiramente, a empresa se instalou na então capital federal, a cidade do Rio de Janeiro, em locais não identificados. O início da década de 1930 registrou que “no setor de processamento de dados intensificaram-se as experiências com invenções eletrônicas”. (IBM, 1997, p.32) Por causa das grandes mudanças econômicas, políticas, sociais e principalmente tecnológicas daquela época, em 1931 a empresa inaugurou sua primeira filial no território nacional, em São Paulo.

“Além de estabelecer contratos com órgãos públicos estaduais e municipais, a filial de São Paulo foi responsável pela administração do início das atividades propriamente industriais da empresa no Brasil. Ainda em 1931, começaram a ser produzidos na fábrica do Bom Retiro, em São Paulo, cartões para perfuração, peças para máquinas elétricas de contabilidade e para relógios de ponto e de registro de tempo. Apesar da precariedade das instalações, esse incipiente processo de fabricação registrou constante crescimento, atendendo satisfatoriamente às demandas do mercado nacional naquele período.” (IBM, 1997, p.33)

Em 1933 (IBM, 1997, p.33) foram abertas mais cinco filiais ou representações no país: Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Niterói. Por volta de 1936, começou a construção de uma fábrica em Benfica no Rio de Janeiro,

“idealizada para substituir as instalações de São Paulo, que estavam com sua capacidade totalmente saturada. A obra consumiu cerca de três anos, vindo a nova unidade a ser inaugurada em 1939”. (IBM, 1997, p.34)

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Fábrica de Benfica, Rio de Janeiro – 1933 (1) Vista aérea (2) Entrada da fábrica Fonte: (1) IBM, 1997, p.40 (2) IBM, 1997, p.71

Com instalações industriais apenas no Rio de Janeiro, de 1939 até 1960 (IBM, 1997, p.40) a empresa manteve seus negócios no país através de filiais. Os escritórios eram espaçosos, com mobiliários robustos de aço, e a distribuição lembrava o taylorismo, com uma mesa atrás da outra e supervisores ao redor. Através de relatos de funcionários mais antigos, sabe-se que nessa época a grande maioria dos trabalhadores da empresa eram

homens, as poucas mulheres ocupavam cargos de suporte, como secretárias, datilógrafas e telefonistas. Dos homens era exigida uma aparência impecável e coerente com a imagem séria e de respeito que a empresa queria passar, e para isso todos vestiam terno azul, uma analogia à cor da empresa.

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(1), (2) e (3) Escritórios da IBM no Brasil até a década de 1960 Fonte: (1) e (2) IBM Notícias, 1975, p.10 (3) IBM Notícias, 1975, p.11

As salas de reunião e treinamento eram muito utilizadas, e o que se pode ver em todas as fotos da época são apenas homens nesses locais. As áreas para disposição de máquinas de processamento de dados e grandes computadores eram muito amplas, com piso frio e luminárias suspensas, e para cada computador havia um supervisor.

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(1) e (2) Escritórios da IBM no Brasil até a década de 1960 Fontes: (1) IBM Notícias Brasileiras, 1972, p.6 (2) IBM, 1997, p.54

Acompanhando a velocidade do desenvolvimento brasileiro desse período, esta foi uma época de crescimento para empresa. Relógios de pontos, relógios para registro do

tempo (entre eles o relógio do Parque do Ibirapuera em São Paulo e o relógio da Central do Brasil no Rio de Janeiro), máquinas de calcular, máquinas de processamento de dados, computadores, máquinas de escrever etc., todos esses equipamentos que, entre outros aspectos, auxiliam no desempenho do trabalho em escritórios eram fabricados em Benfica. Considerando que a demanda por essas máquinas na época era enorme e levando-se em conta a pouca concorrência neste setor, a empresa foi construindo novas edificações no terreno da fábrica em Benfica até chegar a sua completa saturação em meados da década de 1960.

“A diversificação e a complexidade dessas atividades, aliadas à urgência na modernização da administração pública, impunham uma demanda cada vez maior por recursos de processamento de dados.” (IBM, 1997, p.60)

Na década de 1960, os escritórios filiais ao redor do país eram diversos e foi nessa ocasião que a alta gerência da companhia sentiu necessidade de construir novos prédios e um complexo industrial.

No Brasil, o departamento da empresa responsável pelos escritórios e novas construções surgiu em janeiro de 1970 com o nome de Divisões de Construções e Bens Patrimoniais (IBM Notícias Brasileiras, 1971, p.10) em razão da demanda de criação de novos espaços que abrigassem os escritórios da empresa em constante crescimento. Os responsáveis pelos estudos financeiros e pelas orientações técnicas a empresas de engenharia e arquitetura nesta época, passaram a ter uma atuação enorme, já que nos anos subseqüentes surgiriam muitas novas construções da empresa no país.

Para a construção de edifícios no Brasil, a IBM também contou com famosos arquitetos, entre eles destacam-se: Henrique Mindlin, que projetou a fábrica de Sumaré, Claudio Cavalcanti, que projetou o edifício da IBM em Brasília e Belo Horizonte, e CA&G, que projetaram a IBM Tutóia, entre outros.

A primeira sede própria no Brasil, e em toda a América Latina, foi inaugurada em 5 de agosto de 1971 na região da Cidade Alta na cidade de Salvador (IBM Notícias Brasileiras, 1971, p.4), numa época em que o estado da Bahia se encontrava em franca expansão.

“A decisão da IBM em adquirir essa sede própria se deve ao fato de ser, em termos de investimento, muito melhor construir suas próprias dependências, atendendo às suas próprias necessidades.

Isto permite uma flexibilidade para o crescimento da companhia, assim como ajuda a estabelecer uma imagem da IBM no nordeste brasileiro.” (IBM Notícias Brasileiras, 1969, p.5)

O projeto dos escritórios de Alvarez e Pontual Arquitetos (IBM Notícias Brasileiras, 1969, p.5), que uniu todos os escritórios filiais da empresa na cidade em um único endereço, possuía 2.835m² distribuídos em um subsolo e sete pavimentos de escritórios.

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Edifício IBM Salvador – 1971 (1) Detalhe do topo do edifício em construção (2) Fachada no dia da inauguração Fonte: (1) IBM Notícias Brasileiras, maio-1971, p.13 (2) IBM Notícias Brasileiras, agosto-1971, p.4

No final da década de 1960, a empresa chamou o arquiteto Henrique Mindlin (IBM: The Buildings of IBM, 2005) para projetar o novo complexo industrial. Levando-se em consideração a disponibilidade de terrenos com grandes dimensões e com custos apropriados, proximidade de fornecedores e consumidores e facilidade de comunicação e transporte, decidiu-se que a segunda unidade industrial da empresa no país seria localizada no então distrito de Sumaré, hoje município de Hortolândia, no interior de São Paulo.

“A fábrica da IBM do Brasil, em Sumaré (...) não parece uma indústria, mas um escritório moderno: não emanam gases, não há barulho nem oscilações de temperatura ambiente.” (EXAME, 1984, p.6).

A fábrica de Sumaré começou a ser construída em julho de 1970 (IBM, 1997, p.72), e em 1971, antes da inauguração oficial, já estava em operação. Seu terreno tinha 1.000.000m² e sua área construída era de 45.000m² na inauguração. Em 1984 a fábrica de Sumaré possuía 1.220 profissionais (EXAME, 1984, p.6), que ocupavam menos de um terço

dos 45.000m² de área construída. Até 2005 todas as áreas de fábrica foram transformadas em escritório ou CPD37 e 3.000 profissionais ocupam mais de 55.000m². Alinhada com as novas exigências do mercado (flexibilidade, baixo custo das instalações, novos conceitos de ocupação etc.), a densidade aumentou muito: passou de aproximadamente 37m² para 18m² por pessoa.

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Fábrica de Sumaré, São Paulo – 1971 (1) Foto da entrada do prédio principal – 1975 (2) Vista aérea do complexo – 2001

Fontes: (1) Arquivo IBM (2) IBM Notícias, 1975, p.12

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Fábrica de Sumaré, São Paulo – 1971 (3) Área de estoque no prédio principal – década de 1970 (4) Foto da mesma área agora com escritórios – 2005 Fontes: (3) IBM Notícias Brasileiras, 1972, p.5 (4) Arquivo IBM

Essa foi a época do “milagre brasileiro” (1968-1973) (IBM, 1997, p.78). Entre 1972 e 1981 (IBM, 1997, p.82), o crescimento do mercado de computadores e o alto grau de complexidade dos negócios fizeram com que nesta década a empresa aumentasse seus

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investimentos ao redor do país, principalmente na expansão e na modernização de suas instalações.

“Foram inauguradas novas sedes de filiais, em prédios próprios e projetados exclusivamente para esse fim, em Fortaleza (1976), Porto Alegre (1976), Recife (1977), São Paulo (1977) e Brasília (1981), além do Centro Educacional Residencial da Gávea (1976), na Gávea Pequena, e o edifício-sede (1980), na avenida Pasteur, em Botafogo – ambos no Rio de Janeiro. Grandes investimentos foram também dirigidos ao aprimoramento dos processos administrativos e operacionais da empresa, que se tornavam cada vez mais complexos.” (IBM, 1997, p.82 e p.87)

(1) (2)

(1) Edifício da IBM em Fortaleza – 1976 (2) Edifício da IBM em Porto Alegre – 1976 Fonte: (1) IBM, 1997, p.83 (2) IBM, 1997, p.84

(3) (4)

(3) Edifício da IBM em Recife – 1977 (4) Edifício da IBM em São Paulo – 1977 Fonte: (3) IBM, 1997, p.84 (4) IBM, 1997, p.85

(5) (6) (5) Edifício da IBM em Brasília – 1981 (6) Edifício da IBM no Rio de Janeiro – 1980

Fonte: (5) IBM, 1997, p.85 (6) IBM, 1997, p.86

Também foram construídos alguns centros de treinamento, entre eles em 1972, o Centro Educacional da Divisão Técnica de São Paulo e o Centro Educacional Residencial da Gávea no Rio de Janeiro (IBM, 1997, p.100-101), o qual mereceu destaque interno na época:

“(...) o Centro Educacional para Executivos (...) terá características de arquitetura bastante avançadas, pois nessa dependência serão ministrados cursos sobre os mais avançados conceitos do campo tecnológico; havendo perfeito entrosamento entre os assuntos tratados e o ambiente.” (IBM Notícias Brasileiras, 1973, p.6)

Esse centro de treinamento do Rio de Janeiro formava um conjunto de edificações que foi inaugurado em 9 de setembro de 1976, em uma área de 260.000m² na Estrada das Canoas e foi.projetado pelo escritório de arquitetura Pontual Associados em 1972 (XAVIER, 1991, p.159). Duas principais construções, uma residencial com 3.432m² de área útil, e outra educacional, com 2.168m², eram interligadas por uma passarela. O bloco residencial possuía três pavimentos com 62 apartamentos individuais, restaurante, área de estar e jogos. No bloco educacional havia dois pavimentos com um auditório (com 73 lugares), trinta salas de aula (equipadas com a mais moderna tecnologia), uma biblioteca e escritórios para instrutores. Outras construções periféricas abrigavam recepção, sauna e vestiários próximos à piscina. Todo o interior foi reformado em 1992 pelo escritório Janete Costa (DESIGN INTERIORES, 1994, n° 42, p.77): o conjunto hoje não pertence mais à empresa, mas ainda é conhecido por muitos como o mais famoso Centro de Treinamentos da IBM no Brasil.

(1) (2) Centro Educacional Gávea, Rio de Janeiro –1976 (1) Fachada do bloco residencial

(2) Interior de uma das salas de treinamento Fontes: (1) PROJETO, 1994, n°171, p.L.3 (2) IBM, 19 82, p.28

Na década de 1980 a IBM Brasil possuía instalações próprias em diversos estados brasileiros. Até então, em qualquer escritório da empresa no Brasil, em qualquer cidade, era possível identificar o mesmo tipo de ambiente, demonstrando unidade de integração mesmo para escritórios tão distantes uns dos outros. Mas como a velocidade com que surgem novos produtos e tecnologias faz com que os escritórios mais recentes se tornem comuns: atualmente a empresa não possui todas suas instalações com o mesmo visual e infra- estrutura nem tão pouco com a mesma tecnologia de rede de dados. Há padrões que são rigidamente seguidos, mas não havia mais como padronizar acabamentos ou dimensões de espaços e postos de trabalho durante um período tão longo (mais de uma década).

Ainda nos anos 1980 a IBM no Brasil se viu confrontada com inúmeros desafios e buscou soluções criativas para superá-los. Às dificuldades decorrentes das duras regras impostas pela reserva de mercado – a empresa passou por problemas financeiros devido à

forte concorrência com a entrada dos microcomputadores – somavam-se outras, derivadas

da instabilidade que caracterizou a economia brasileira ao longo de praticamente todo o período.

Como conseqüência, durante a década de 1990 a empresa tomou a decisão de se desfazer de alguns de seus prédios próprios (no Brasil e no mundo), a fim de poder acompanhar as novas exigências de mercado. Para isso era preciso sair dos prédios próprios, com grandes espaços e alto custo de manutenção, para ocupar prédios alugados, com espaços mais densos e baixos custos das instalações. Ocorreu então uma grande onda de reformas e mudanças de endereços de seus escritórios. Foi a oportunidade que a empresa teve de modernizar suas instalações, implantar novos padrões organizacionais e novos conceitos de espaço, bem mais modernos. Esses conceitos no Brasil foram criados

pelo próprio corpo técnico da empresa no país, com base nos padrões e regras corporativos.

Dessa forma, em 1995 a IBM possuía nas principais capitais brasileiras dezessete prédios próprios que haviam sido construídos a partir da década de 1970 e que eram ocupados por escritórios da própria empresa, com modelos de ocupação semelhantes. Apenas cinco anos depois, em 2000, restaram apenas três grandes edifícios (Arquivo IBM): a fábrica de Hortolândia (originalmente Sumaré), que hoje não é mais fábrica e foi totalmente adaptada para ter apenas escritórios; o edifício IBM Pasteur, no Rio de Janeiro; e o edifício IBM Tutóia, em São Paulo. A empresa também passou a contar com treze instalações de escritórios em espaços alugados em diferentes edifícios comerciais, a maioria localizada nas mesmas cidades onde anteriormente ela possuía imóveis próprios.

No ano de 2005, a empresa continuava com seus três prédios próprios, mas agora com dezenove instalações de escritórios em espaços alugados em diferentes capitais brasileiras. Especificamente na cidade de São Paulo ela possui três endereços de escritório: o primeiro e mais recente é o IBM Água Branca, localizado no bairro da Barra Funda; o segundo é o IBM CENU, localizado na Marginal Pinheiros, próximo à avenida Engenheiro Luiz Carlos Berrini; e o terceiro e mais antigo é o IBM Tutóia, sede da empresa no Brasil.

No final de 2005, a empresa possuía quase 137.000m² de escritórios no país, para mais de 11.000 funcionários. A densidade chegou a 12,45m² pessoa, um número ainda alto.

Hoje a empresa passa por um novo desafio: suportar o crescimento acelerado de seus negócios com a mesma velocidade com que surgem novas tecnologias, com baixos custos de instalações, e conseqüente alta densidade em seus escritórios. Uma grande dificuldade está no fato de que novas construções e mudanças de ambientes demandam muito mais tempo para serem executadas do que a assinatura de um novo contrato, diferentemente dos da década de 1970, quando tudo era mais lento.

Para atender a essa nova demanda, um dos critérios a serem revistos são os de espaço. Novos padrões e conceitos estão sendo requeridos e já começaram a ser implantados.

Veremos a seguir os padrões de espaço e os conceitos de ocupação utilizados atualmente, e eventualmente fazer referência aos conceitos antigos ou novos. Na seqüência veremos alguns escritórios paradigmáticos da empresa no mundo e no Brasil.

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