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CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO

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Academic year: 2019

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CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO

"Lá fora o corpo de São Paulo escorre vida ao guampasso dos arranhacéus." (Mario de Andrade, in ANDRADE, 1928, p.266)

A trajetória da construção dos edifícios de escritórios na cidade de São Paulo se confunde com a história da própria cidade. Desde sua fundação (1554), foi na virada do século XIX para o século XX que São Paulo viveu o período de maior crescimento. E é desde então que começam a surgir os primeiros edifícios de escritórios de uma única empresa, muitas delas multinacionais que decidiram investir na cidade, ou empresas fundadas no país por imigrantes.

Foi neste cenário que São Paulo se destacou no início do século XX como a cidade brasileira que mais desenvolveu e investiu em infra-estrutura de comunicações e transportes para, entre outros aspectos, se adaptar às mudanças nas relações sociais do trabalho.

Durante todo o século XX a cidade se manteve como o grande centro de negócios do país. Passou por décadas de crescimento, sofrendo diversas transformações urbanas que podem ser observadas através da quantidade de novas construções e do grande número de pólos de econômicos que foram surgindo ao longo dos anos.

Esta parte do trabalho irá destacar a construção de edifícios de escritórios projetados para serem sedes de uma única empresa na cidade de São Paulo. Através da observação do que aconteceu com a cidade nas diversas épocas e regiões, poderemos entender melhor em que contexto estão inseridos os tipos de escritórios que estamos estudando.

Para isso, vamos dividir a cidade de São Paulo em sete regiões a serem estudadas. Essas áreas, consideradas as mais significativas para este trabalho por terem abrigado construções de edifícios de escritórios para uma única empresa, estão listadas e localizadas no mapa a seguir:

1ª Região − Centro

2ª Região − Avenida Paulista

3ª Região − Avenida Faria Lima

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5ª Região − Avenida Engenheiro Luiz Carlos Berrini

6ª Região − Vila Olímpia

7ª Região − Marginal Pinheiros

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Percebemos no mapa que os pólos de negócio em São Paulo, que começaram no Centro da cidade, proliferaram-se em direção à região sul e seguiram o traçado da Marginal Pinheiros. Claro que existem alguns edifícios de escritórios representativos fora dessas regiões, entretanto esse caminho demonstra claramente as áreas de crescimento da cidade.

A partir de agora observaremos algumas características e exemplares dos edifícios de escritórios de uma única empresa em São Paulo, com base no desenvolvimento dessas regiões, a fim de verificar como os conceitos de espaços de escritórios desenvolvidos no mundo surgiram e se proliferaram na cidade.

2.1 O CENTRO DA CIDADE: INÍCIO DO SÉCULO XX

Foi com a chegada da ferrovia (1865), da iluminação pública a gás (1872), da instalação da empresa Light (1890) (CUSHMAN, 2004, p.12), entre outros aspectos, mas também e principalmente “a partir de 1890 quando São Paulo se torna o maior centro produtor de café do Brasil” (SOMEKH, 1994, p.116-117), que a cidade se consolida como o principal centro industrial do país, atraindo investimentos estrangeiros e nacionais.

“Em 1901, a The São Paulo Railway Light and Power Co. instala a primeira hidroelétrica de porte do Brasil, em Santana do Parnaíba, no estado de São Paulo. (…) A partir daí começa a industrialização de São Paulo e do Brasil.” (BORGES, 1999, p.62)

O crescimento populacional na região nesta época foi altíssimo, devido principalmente à vinda de novos imigrantes atraídos pelo avanço econômico: a população saltou de 240.000 habitantes em 1900 para 587.000 em 1920, e depois para 888.000 em 1930. (CUSHMAN, 2004, p.12)

Os primeiros elevadores em edifícios são instalados entre 1918 e 1922 pela empresa Pirie, Villares & Cia. (SOMEKH, 1994, p.124), que, junto com a disseminação da energia elétrica, possibilitou o crescimento de edifícios na cidade.

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comerciantes e profissionais liberais, tornou-se um ótimo negócio”. (HOMEM, 1984, p.46) Posteriormente percebe-se que estas construções sempre seguiram os núcleos comerciais e de negócios da cidade, que, por sua vez, eram direcionados pela expansão dos bairros residenciais de alto padrão.

“Acreditava-se que o centro era impróprio para a construção de edifícios altos. O subsolo ali é úmido, constituído sobretudo de argila pastosa, areião. Naquela época, antes das calculadoras, os engenheiros demoravam para fazer contas complexas, para a segurança das fundações.” (CUSHMAN, 2004, p.13)

Inicialmente as empresas se organizavam sem planejamento, sem uma divisão clara do trabalho e se instalavam em pequenos escritórios de edifícios que possuíam características espaciais e arquitetônicas muito parecidas com os edifícios residenciais da época. Não havia necessidade de grandes edifícios administrativos, até que nos anos 1920, com a entrada definitiva de empresas multinacionais no mercado brasileiro, começou a crescer rapidamente a quantidade de locais para escritórios e mudaram-se as formas de organização e gestão empresarial, sob influência da cultura estrangeira. Nadia Somekh descreve que das “318 empresas estrangeiras autorizadas a funcionar no Brasil entre 1911 e 1930” (SOMEKH, 1994, p.119), 111 eram americanas, a grande maioria vinculada ao comércio de importação e exportação: entre elas instalava-se em 1917 no país a IBM (IBM, 1997, p.23).

Alguns registros mostram que o primeiro edifício considerado um arranha-céu26 a ser construído em São Paulo (e também no Brasil) foi o Guinle (BORGES, 1999, p.81), localizado na rua Direita n° 37/49, próximo à praça da Sé. Obra do arquiteto Hipólito Gustavo Pujol Jr. e de Augusto Toledo, foi construído em 1912 (BORGES, 1999, p.97) para abrigar o escritório paulista da família Guinle. Possui oito andares, estrutura de concreto armado; mas atualmente possui comércio somente no pavimento térreo e os demais andares (que foram totalmente descaracterizados) estão vazios.

Outros registros identificam o Sampaio Moreira como o primeiro edifício alto de São Paulo, projetado pelo arquiteto Christiano Stockler das Neves (1889-1982) e obra do então comerciante português e construtor José de Sampaio Moreira, ele foi erguido no ano de

26 Arranha-céu: edifício de numerosos andares, só possível a partir da invenção do elevador. Combina a altura

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1924 (BORGES, 1999, p.110). Com 596m² de terreno, 5.360m² de área útil, 50m de altura − treze pavimentos, porão e ático −, ele foi na época de sua construção o prédio mais alto da cidade. Localizado na rua Líbero Badaró, 344 a 350, hoje o Sampaio Moreira possui 180 espaços de escritórios e comércio no térreo.

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(1) Edifício Guinle – 1912 (2) Edifício Sampaio Moreira – 1924 Fontes: (1) www.piratininga.org (2) www.vivaocentro.org.br/images/bancodados/centrosp

Bem perto dali está o Edifício Martinelli, prédio que também foi considerado por alguns escritores como o primeiro arranha-céu da cidade (CUSHMAN, 2004, p.15). Idealizado pelo imigrante italiano Giuseppe Martinelli27 (BORGES, 1999, p.109), cujo sobrenome deu origem ao nome do edifício, o projeto previa a construção de 25 andares de 100m de altura no total, com o objetivo de ultrapassar em altura e técnica o edifício Sampaio Moreira. A construção foi realizada em duas etapas: foram construídos dezoito andares entre 1925 e 1929 e mais doze andares até 1934 (CUSHMAN, 2004, p.15). Possui 46.123m² de área construída e 105,65m de altura, e sua ocupação inicial era híbrida: residência do proprietário e construtor Giuseppe Martinelli nos três últimos andares; outras moradias nos andares 23º e 24º; e cinema, restaurantes, confeitarias, hotel, escritórios e lojas estavam distribuídos nos demais andares.

Mesmo que externamente o edifício tenha causado bastante impacto, internamente a planta possuía muitas saliências e elementos estruturais que dificultavam o fluxo ordenado e circulação bem demarcada, causando pouco aproveitamento do espaço dos pavimentos de escritórios.

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Localizado em uma extremidade de quarteirão, possui três endereços: rua São Bento, de 397 a 413, avenida São João, de 11 a 65, e rua Libero Badaró, de 504 a 518. Hoje o edifício abriga apenas espaços com funções comerciais e institucionais.

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Edificio Martinelli – 1925-1929 (1) Fachada (2) Planta do 7º pavimento Fontes: (1) PERRONE, 2000, p.8 (2) HOMEM, 1984, p.137

No final da década em 1920, a crise econômica internacional ao mesmo tempo que dificultou a entrada de novos elementos construtivos no Brasil também ajudou a desenvolver algumas técnicas construtivas nacionais, das quais o concreto armado foi a que mais se destacou e se proliferou por todo o território, contribuindo com diversos setores sociais e tecnológicos.

A indústria da construção necessitava de cimento e aço nacional. “A indústria do cimento surge no período, em 1926, instalando-se com uma fábrica em São Paulo.” (SOMEKH, 1994, p.122). A maior parte do aço utilizado no Brasil na virada do século XIX para o XX era importada. Somente em 1943 a usina siderúrgica de Volta Redonda é instalada (BORGES, 1999, p.58), mas trabalha apenas com 30% de sua matéria-prima local. Desenvolveram-se técnicas de produção de ferro em barras e cimento; criaram-se laboratórios para testes e normas técnicas de controle técnico.

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Começa a verticalização da cidade, que também contribui para a construção de edifícios de escritórios. De 1930 a 1960 foram realizadas diversas obras em concreto armado; entre elas, diversos edifícios de escritórios. O crescimento rápido dessas edificações também foi conseqüência das empresas multinacionais que se que instalaram no país, trazendo uma nova forma de organização e de filosofia empresarial.

A primeira edificação de grande porte, com funções variadas (lojas, escritórios, consultórios e residências) e com estrutura independente28 construída em São Paulo, foi o edifício Esther, conforme descrito no livro Álvaro Vital Brazil: 50 Anos de Arquitetura. Obra de Álvaro Vital Brazil (1909-1997) em parceria com Adhemar Marinho, datado de 1936 (BRAZIL, 1986, p.54), sua estrutura foi executada com distâncias simétricas entre os pilares; as áreas de escadas, sanitários e outros serviços estão localizados de forma que em alguns pavimentos de escritórios fosse possível haver um circulação central bem definida entre as salas. Essas características permitiram maior flexibilidade na organização e na ocupação do seu espaço interno e seu exemplo se proliferou em edifícios de escritórios posteriores: “O Esther, além de ser o primeiro edifício comercial do Brasil com estrutura livre, fixou o gabarito de dez andares da praça da República em sua época”. (BRAZIL, 1986, p.24)

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Edifício Esther – 1936 (1) Fachada (2) Planta do pavimento tipo destinado a escritórios e consultórios Fonte: (1) ATIQUE, 2004, p.272 (2) ATIQUE, 2004, p.167

Em 1939 foi inaugurado o Edifício Conde Matarazzo, uma das primeiras construções destinadas a ser sede de uma única empresa: a Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo. (CUSHMAN, 2004, p.17). Obra do arquiteto italiano Marcelo Piancentini e Vittorio Morpurgo

28 Estrutura independente: conjunto de elementos da estrutura da construção, como pilares e vigas, que são

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(PERRONE, 2000, p.9), possui dezesseis andares e quase 28.000m2 de área construída; em 1947 o edifício passou a pertencer ao Banco do Estado de São Paulo e desde 2004 o abriga a Prefeitura de São Paulo.

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Edifício Conde Matarazzo – 1939 (1) Fachada (2) Saguão de elevadores Fontes: (1) www.vivaocentro.org.br/images/bancodados/centrosp (2) PERRONE, 2000, p.9

Segundo Claudio Amaral, o primeiro escritório brasileiro a adotar a organização do trabalho segundo o taylorismo foi a empresa multinacional São Paulo Tramway Light Company (AMARAL, 1993, p.52). Posteriormente, o taylorismo imperou no Brasil até a década de 1940, quando o desenvolvimento industrial brasileiro foi enorme e as empresas começaram a sentir necessidade da criação de espaços específicos para realizar a administração da produção industrial; com ela, novos prédios de escritórios em São Paulo começaram a surgir.

Devido à grande quantidade de edifícios de escritórios que surgiram na cidade na década de 1940 e à imigração que continuava crescendo em São Paulo, alguns arquitetos estrangeiros tiveram várias oportunidades de trabalho, trazendo novas técnicas construtivas e novas experiências. Essas construções rompem com a linha arquitetônica adotada até então, baseada no modelo europeu, e que era executada principalmente pelos arquitetos Francisco de Paula Ramos de Azevedo29 (1851-1928) e Cristiano Stockler das Neves30 (1889-1982).

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Francisco de Paula Ramos de Azevedo (1851-1928): formou-se na Universidade de Gand, na Bélgica, era diretor da Escola Politécnica de São Paulo e autor de projetos como o Quartel da Polícia (1888), na região da Luz, e do Teatro Municipal de São Paulo (1903-1911).

30 Cristiano Stockler das Neves (1889-1982): formou-se nos Estados Unidos e fundou o curso de Arquitetura na

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Em junho de 1947 foi concluída a obra e inaugurado o edifício Altino Arantes (CUSHMAN, 2004, p.23), popularmente conhecido como edifício do Banespa, pois foi construído para sediar o Banco do Estado de São Paulo. Projetado pelo arquiteto Plínio Botelho do Amaral e obra da Construtora Camargo Mesquita (CUSHMAN, 2004, p.23), o edifício possui 35 pavimentos e foi um dos primeiros prédios da linha norte-americana na cidade de São Paulo; mas com uma planta bastante engessada e não muito grande. “O autor do projeto original, Plínio Botelho do Amaral, inspirou-se em dois prédios famosos de Nova York, o Empire State Building e o Chrysler Building31.” (CUSHMAN, 2004, p.23)

Sua ocupação original era bastante tradicional e correspondia à imagem que o banco pretendia passar: escritórios tayloristas com móveis de madeira com designs robustos.

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Edifício Altino Arantes, ou edifício do “Banespa” − 1947 (1) Fachada (2) Gabinete do presidente do banco na época da inauguração do edifício

Fontes: (1) URBS, 2003, n° 30, p.37 (2) www.piratin inga.org

Em 1946 (XAVIER, 1983, p.14), a Companhia Brasileira de Investimentos Esplanada inaugurou sua sede no edifício projetado pelo arquiteto polonês Lucjan Korngold (1897), mais conhecido como edifício CBI Esplanada. Com uma arquitetura inspirada na verticalidade dos edifícios americanos do período pré-guerra, possui 33 andares, 50.000m² de área construída e foi “a maior estrutura em concreto armado do mundo na época de sua construção”. (XAVIER, 1983, p.14), além de um exemplo de edificação racionalizada para o país.

31 Edifício Chrysler − Arquiteto William Van Alen, 1930. Edifício Empire State − Projeto de Shreve, Lamb &

Harmon Arq., 1931. (DUPRÉ, 1996) Ambos edifícios de escritórios construídos em Nova York e no estilo art déco

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O pavimento tipo é formado por dois núcleos de escada e elevadores distintos, sustentados por pilares circulares que começam aparentes no pavimento térreo de pé-direito duplo e vão até a cobertura. Há um vazio entre os dois núcleos centrais que demonstra a preocupação do arquiteto com a iluminação natural e a ventilação. O edifício era bastante flexível para a época, já que os pavimentos eram idênticos e a estrutura era simétrica.

“O espaço interno do CBI Esplanada foi aplaudido na época. O uso de pilares periféricos e os núcleos de circulação e banheiros permitiam uma planta livre que poderia ser dividida – ou não – em quatro ambientes.” (CUSHMAN, 2004, p.21)

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Edifício CBI Esplanada – 1946 (1) Fachada (2) Planta pavimento tipo Fontes: (1) www.bolsaimoveis.com.br (2) XAVIER, 1983, p.14

2.2 A EXPANSÃO DO CENTRO: DE 1950 A 1980

Entre as décadas de 1950 e 1960 o centro da cidade se expande para a região entre as praças Ramos de Azevedo e da República − ainda próximo ao centro da cidade −,, onde se concentrava o maior número de empresas da cidade, pois os prédios eram mais modernos e possuíam área útil mais adequada à instalação de espaços de escritórios. Até 1960 foram construídas as avenidas de Prestes Maia e o Elevado Costa e Silva − ou Minhocão −, que acelerou a chegada de pessoas e empresas à região central.

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da empresa, ou seja, levando em consideração qual o cargo de quem iria ocupar cada espaço, como, por exemplo, gerentes e executivos dispunham de salas fechadas individuais bastante confortáveis e com muita privacidade.

A partir da década de 1960, a região da avenida Paulista torna-se definitivamente o segundo centro da cidade de São Paulo (CUSHMAN, 2004, p.26), com a instalação de dezenas de matrizes de bancos, e que ainda hoje hospeda centenas de sedes de empresas de grande porte.

Apesar de não ter sido construído para uma única empresa, o Conjunto Nacional foi o pioneiro como edifício de escritórios na avenida Paulista e anteviu a instalação de shopping centers no bairro. Projeto de 1955 do arquiteto David Libeskind (XAVIER, 1983, p.37), na verdade seu uso era misto: residências e escritórios ocupavam a torre de 25 pavimentos, as lojas localizavam-se nos pavimentos inferiores e ainda havia a previsão de instalação de um hotel de luxo. Ainda hoje o edifício é bastante famoso, com 52 apartamentos, dois blocos comerciais, e continua sendo um marco na avenida.

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Edifício Conjunto Nacional − 1955 (1) Fachada (2) Planta de implantação Fonte: (1) e (2) XAVIER, 1983, p.37

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(1) (2) Edifício Parque Avenida – 1965 (1) Fachada (2) Desenho superior: planta do pavimento tipo baixo; desenho inferior: planta do pavimento tipo alto

Fonte: (1) e (2) CROCE, 1999, p.20

Outro edifício construído para uma única empresa na avenida Paulista e bastante significativo foi projetado pelos arquitetos Roberto Cerqueira Cesar e Luis Roberto Carvalho Franco, em 1969: é a torre da Fiesp-Ciesp-Sesi (XAVIER, 1987, p.118), que; com 43.000m² de área construída, se destacou pela forma e funcionalidade. A empresa tinha algumas exigências quanto à imagem do edifício, que precisava ser forte e marcante; ter espaços de convívio e flexíveis (tanto para a área de escritórios quanto para as áreas comuns). Os autores do projeto foram pioneiros ao se preocuparem com a forma como a empresa se organizava, e durante sua elaboração os profissionais pesquisaram o cotidiano da empresa e de seus funcionários.

A construção tem dois blocos. O primeiro abrange o subsolo da garagem e o térreo, onde estão localizados o teatro e o centro cultural; esse bloco aproveita o desnível entre a avenida Paulista e a alameda Santos para a ocupação espacial. O segundo bloco possui forma piramidal, com 25 pavimentos, e foi ocupado pelos escritórios da empresa. A forma desse bloco trouxe algumas vantagens para o projeto:

“O edifício não teve que fazer recuos artificiais para respeitar a legislação, a iluminação natural dos andares inferiores foi facilitada e a ocupação pôde ser hierarquizada, levando-se em conta a necessidade de ocupação por andar. O uso dos elevadores foi beneficiado, já que grande parte dos ocupantes do prédio fica nos andares inferiores”. (CUSHMAN, 2004, p.31)

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nos andares inferiores; houve a preocupação de agrupar no mesmo andar serviços correlacionados.

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Edifício Fiesp – 1969 (1) Fachada (2) Planta de implantação (3) Esquema de plantas de alguns pavimentos Fontes: (1) PROJETO DESIGN, 2001, n° 262, p.35 (2) XAVIER, 1987, p.118 (3) SAMPAIO, 2003, p.70

O final da década de 1960 e começo da de 1970 foram os anos em que a arquitetura brasileira mais se difundiu, alavancada pelos programas de governo que queriam melhorar a infra-estrutura de transportes e comunicações. Essa foi a época do ”milagre brasileiro” (1968-1973), período econômico em que houve um forte declínio do valor imobiliário do Centro (CUSHMAN, 2004, p.18), e a evasão das empresas e bancos para outras regiões foi inevitável.

A partir da década de 1970 as mudanças na economia nacional e o embargo de capitais contribuíram para que muitas empresas, nacionais e multinacionais, decidissem investir na construção de edifícios de escritórios no país, trazendo novas construções para as metrópoles brasileiras.

Aumentou e muito a construção de edifícios de escritórios e a economia ao seu redor: intensificaram-se principalmente o uso de concreto na construção e as mudanças na indústria moveleira brasileira. As fábricas especializadas na produção de mobiliário para escritórios se especializaram, começaram a produzir móveis de madeira que seguiam o conceito dos sistemas integrados. Mesmo assim, muitas empresas ainda importavam mobiliário norte-americano para suas sedes brasileiras.

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“O escritório panorâmico no Brasil foi introduzido em 1971, com sucesso imediato, o que levou as grandes firmas moveleiras do país a incluírem na produção mobiliário adequado a este conceito de ocupação espacial. Mas este conceito e a teoria administrativa que o originou tiveram uma aplicação particular no Brasil.” (AMARAL, 1987, p.242)

O escritório panorâmico que rapidamente foi difundido no Brasil possuía características específicas da cultura empresarial brasileira: havia áreas fechadas para departamentos inteiros, onde gerentes e diretores ficavam em salas fechadas dentro dessas áreas. A ocupação era influenciada pelas multinacionais, ou as empresas estrangeiras instalavam seus escritórios com conceitos de ocupação idênticos aos de suas sedes nos países de origem. O Brasil segue principalmente o modelo norte-americano, e o escritório panorâmico europeu é pouco difundido.

Ao mesmo tempo que se consolidam os edifícios de escritórios da avenida Paulista, próximo dali o edifício-sede da IBM Tutóia, projetado pelo escritório CA&G a partir de 1970 (XAVIER, 1987, p.121) e inaugurado em 1977 (data oficial considerada pela empresa), foi considerado segundo algumas fontes de “impacto visual premeditado” (CUSHMAN, 2004, p.43) para a época, já que na região da avenida 23 de Maio e do Parque do Ibirapuera havia poucos edifícios, muito menos comerciais. Seguindo conceitos rígidos de arquitetura e de ocupação interna, o programa e a ocupação foram planejados de acordo com critérios organizacionais da empresa e conforme padrões da matriz no exterior. Segundo Gasperini, a forma do edifício foi conseqüência de algumas influências, além das da empresa.

“Queríamos que o prédio nascesse realmente do chão. (...) o fato de nascer mais largo e depois afinar para cima era uma coisa que começou a me intrigar, pensando que realmente seria uma possibilidade muito interessante. (...) E quando nós fizemos o prédio da IBM naquela época, por que o prédio foi feito torre e depois alargando em baixo assim? Porque o espaço reservado para o computador no embasamento do prédio era muito grande.” (GASPERINI, 2006)

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consideração uma malha espacial de 1,25mx1,25m, de acordo com as dimensões dos materiais construtivos e de acabamento que se proliferavam na época. Veremos mais detalhes desse projeto no capítulo do estudo de caso.

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Edifício IBM Tutóia −- 1970 (1) Fachada (2) Desenho do pavimento tipo Fontes: (1) Foto de Christiane Morais (2) Desenho da autora

Dois outros projetos do escritório CA&G merecem ser apresentados para observarmos as influências que os arquitetos tiveram ao projetar o IBM Tutóia.

O primeiro é o edifício do Tribunal de Contas do Município de São Paulo; projetado em 1971 (CROCE, 1999, p.26) ele se destaca pela volumetria e estrutura em concreto aparente, sem acabamentos: material muito utilizado na época como no IBM Tutóia. Os quatro núcleos de elevadores que se encontram no centro do pavimento são bastante marcados na estrutura da fachada, que também segue a modulação de 1,25mx1,25m nas esquadrias e na planta.

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O segundo é o edifício construído em São Paulo mais semelhante ao edifício da IBM Tutóia: o edifício Parque Iguatemi de 1971 (CROCE, 1999, p.22). Sua volumetria é dividida entre torre de pavimento tipo e embasamento com planta mais larga; os acabamentos da fachada são de concreto aparente e vidros fumê; o pavimento tipo é livre de pilares centrais e os pilares perimetrais são destacados na fachada; na extremidade longitudinal do pavimento tipo estão localizados dois núcleos opostos de sanitários, elevadores e escadas; e foi projetado para ser ocupado por escritórios.

Todas essas características se repetem nos dois projetos. O Parque Iguatemi foi inaugurado antes, provavelmente em 1972, já o IBM Tutóia, apesar de ter sido inaugurado em 1977, seu projeto começou ainda em 1970.

O Edifício Parque Iguatemi nos remete a um novo pólo de negócios: a avenida Faria Lima, que veremos ainda neste capítulo.

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Edifício Parque Iguatemi – 1971 (1) Fachada (2) Planta do pavimento tipo Fontes: (1) CROCE, 1999, p.22 (2) XAVIER, 1987, p.135

Como conseqüência da expansão do Centro e da avenida Paulista, alguns empreendedores “espalharam” construções em locais da cidade ainda não reconhecidos na época como pólo de negócios.

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construído de acordo com a modulação de 1,25mx1,25m. Cada andar possui: um núcleo descentralizado de sete elevadores, escada e shafts; quatro pequenos shafts centralizados; dois núcleos nas extremidades com sanitários femininos e copa; e mais dois núcleos nas outras duas extremidades com sanitários masculinos e escadas. Entre os pavimentos há o chamado “pavimento de manutenção”, que possui acesso pelos núcleos de serviços e por onde uma equipe do condomínio executa a manutenção dos sistemas de infra-estrutura elétrica, iluminação, telecomunicações e ar-condicionado, independente do acesso ao pavimento.

Por estar localizado longe dos centros residenciais e comerciais, e ser de difícil acesso através do transporte público, o Cenesp conta com diversos tipos de serviços instalados no próprio complexo: Centro de Eventos Panamby (com oito salas de reuniões e dois auditórios), restaurantes, lanchonetes, bancos, lojas, farmárcias, laboratórios, correios, agência de viagens, posto de combustível, oficina mecânica, entre outros. Hoje todo o complexo que possui espaços alugados ou para serem alugados passa por um retrofit e continua bastante ativo, tanto que próximo a ele já foram construídos outros empreendimentos, como, por exemplo, o Panamérica Park, de porte parecido.

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Cenesp – 1970 (1) Vista aérea do complexo (2) Planta do pavimento tipo de uma das torres Fonte: (1) e (2) Arquivo CBRE

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com o tempo de sua construção, quando compartimentações e salas individuais reinavam nos escritórios brasileiros.

Só a partir de meados da década de 1980 surgem os primeiros escritórios com plantas abertas, baseados no conceito importado dos Estados Unidos ou da Europa, dependendo da empresa.

Entre os edifícios que mais se destacaram na década de 1980 na avenida Paulista está a sede do Banco Real ABN-AMRO, projeto do escritório de arquitetura Adolpho Lindemberg e construtora Figueiredo Ferraz (CUSHMAN, 2004, p.33). Apesar das escavações dos subsolos terem início na década de 1960, ele só foi inaugurado no começo da década de 1980 (CUSHMAN, 2004, p.33). Cinco subsolos foram escavados para acondicionarem áreas destinadas aos computadores do banco, que precisavam de maior segurança física e não necessitavam de iluminação natural. Assim, esse foi um dos primeiros projetos a ter instalações específicas para computadores com rígido controle de temperatura, através do sistema de ar-condicionado.

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(1) Edifício Unibanco – 1976 (2) Edifício Banco Real ABN-AMRO– 1980 Fontes: (1) CUSHMAN, 2004, p.113 (2) Arquivo CBRE

A cada nova construção que era erguida na avenida Paulista, a modernidade das instalações do mais recente empreendimento era superada. Foi o que aconteceu em 1986 com o edifício Citicorp Center, assinado por CA&G, e um marco na avenida e na cidade até hoje. “Em 1987 foi inaugurado o primeiro prédio inteligente32 da cidade: edifício-sede do Citibank na avenida Paulista.” (VEJA, 2005, p.27) Pelas inovações em tecnologia e nos

32 Prédio inteligente ou edifício inteligente: edificação projetada com extensivos sistemas automatizados, para

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materiais de acabamento, pela quebra de paradigmas, além de toda repercussão desse empreendimento na mídia, é evidente que esse é um dos edifícios de escritórios mais significativos de São Paulo.

Os escritórios de arquitetura da época encontravam muita resistência de seus clientes para construir edifícios que não fossem tradicionais. Segundo um dos autores do projeto do Citibank, Gian Carlo Gasperini:

“Tão logo nós conseguimos romper com essa resistência por parte do cliente, surgiu o Citibank. E aí então o concreto ficou afastado de uma vez”. (GASPERINI, 2006)

Assim, a construção é inovadora em diversos aspectos. A estrutura é marcada por uma grelha periférica (muito utilizada nos projetos de CA&G) e pelos materiais de acabamento, como o granito rosa (inédito na cidade) e os panos de vidros azuis, colocados para deixar o edifício mais iluminado e reforçar a identidade da marca. As formas de fixação do granito a seco com grampos metálicos e dos vidros nas esquadrias através do silicon glazing33, assim como a instalação de uma fachada inteira com vidro colorido, eram inéditas no país. O andar térreo é marcado pelo acesso tanto à avenida quanto à alameda Campinas, que se transformou em um espaço de passagem entre as vias públicas, e onde estão localizados um centro cultural do banco e uma agência bancária. O fluxo de elevadores era comandado por computador, e para o sistema de ar-condicionado existem tanques de produção de gelo que atendem à demanda de resfriamento no horário de pico, tudo controlado a distância por computadores. Em vez de interruptores, a iluminação interna era controlada por sensores de iluminação localizados em áreas específicas do escritório. Foi o primeiro edifício a utilizar piso elevado34 em toda a área de escritórios, proporcionando facilidade de manutenção da infra-estrutura elétrica e de telecomunicações e flexibilidade para o layout − já que as instalações ficam independentes da localização de paredes. O núcleo de sanitários, escadas, elevadores e shafts está localizado de um lado da planta, enquanto todo o restante possui iluminação natural direta.

A flexibilidade de alteração de layout era extremamente necessária, principalmente devido à instabilidade econômica pela qual o país estava passando. O projeto de interiores é

33 Silicon glazing: fachada construída por esquadrias não aparentes externamente, as quais sustentam os

vidros, que cobrem toda a estrutura da fachada e são separados externamente por silicone.

34 Piso elevado: piso falso afastado da laje da edificação através de um sistema estrutural composto por

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do escritório do arquiteto Roberto Loeb, que, antes da primeira implantação de estações de trabalho do sistema integrado com algumas salas fechadas para reuniões e chefes, chegou a realizar mais de trinta layouts experimentais por andar, pois a cada mudança do quadro de funcionários o banco exigia que o layout fosse revalidado.

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Edifício Citicorp Center – 1988 (1) Fachada (2) Pavimento tipo Fonte: Arquivo A&G

Apesar do surgimento de outros pólos empresariais no início da década de 1990, a avenida Paulista havia se transformado no maior centro empresarial financeiro da América Latina, principalmente por agrupar diversos edifícios de escritórios, como sedes de diversos bancos estrangeiros e nacionais, sedes de grandes empresas multinacionais e nacionais, sedes de consulados e ministérios, emissoras de rádio e TV, além de comércio variado e outras edificações para fins culturais, de lazer e residências.

2.3 A MUDANÇA DOS BAIRROS RESIDENCIAIS: DE 1970 A 2000

No final dos anos de 1970, as residências invadiram as zonas Sul e Oeste da cidade, e nos locais onde antes predominavam casas começaram a ser construídos edifícios, e assim foram surgindo algumas outras regiões que concentravam edifícios de escritórios, como a avenida Faria Lima e na seqüência o bairro da Chácara Santo Antônio, a avenida Engenheiro Luiz Carlos Berrini e o bairro da Vila Olímpia.

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predominava eram os edifícios de escritórios. Por causa desta mudança brusca, a avenida precisou ser alargada, mas a infra-estrutura (principalmente as redes telefônica e pluvial) não acompanhou as mudanças, o que fez com que muitos empreendimentos continuassem na Paulista (como veremos mais à frente os exemplos do Real ABN-AMRO e do Citibank).

Paralelamente, a partir de 1970, a Chácara Santo Antônio foi mais uma região que concentrou vários edifícios de escritórios, e que, mesmo ao receber uma grande quantidade de empresas de grande porte, conseguiu ao mesmo tempo manter vários de seus sobrados e casas residenciais intactos.

“Estabeleceram-se no bairro várias empresas de grande porte, como a Monark, Niagara, Timken, JC Marques, Paramount Lansul, a engenharia Jaakko Pöyry. Um dos prédios mais conhecidos da Chácara é o Nova São Paulo, que foi sede da Autolatina (...). Rafael Birmann, dono de construtora com o mesmo sobrenome, foi o primeiro construtor a apostar mais recentemente na região (...).” (CUSHMAN, 2004, p.94)

Nessa região estabeleceram-se várias sedes de empresas de grande porte, e muitas foram implantadas de acordo com o conceito de office park35, ideal para receber um só ocupante e que foi introduzido por Rafael Birmann na região (CUSHMAN, 2004, p.101), que tem ótima localização para a construção desse tipo de edifício, pois possui grandes terrenos com baixos preços, está distante dos grandes centros e próxima de residências de alto padrão. Dentro desse conceito, destacam-se edifícios que tiveram sua marca fixada através da arquitetura de suas sedes, entre eles o edifício Arnon Birmann 8, projetado para o Deutsche Bank pelo arquiteto Davino Pontual e equipe em 1989 (PROJETO, 1992, n° 153, p.55). Localizado na esquina da rua Alexandre Dumas com a Marginal Pinheiros, esse edifício possui duas torres de escritórios com planta em forma de octógono e interligadas por um dos lados; área útil total de aproximadamente 13.300m²; oito pavimentos mais um pavimento térreo com auditório e restaurante, além da grande área de garagem, comum às construções tipo office park. O pavimento tipo possui 1.560m², onde na área central que interliga as duas torres existe um núcleo principal de serviços (com elevadores, escadas,

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sanitários, ar-condicionado e shafts), e quase no centro de cada torre há uma escada de emergência. Em 2006 quase metade dos escritórios estava disponível para aluguel.

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Edifício Arnon Birmann 8 – 1989 (1) Fachada (2) Planta pavimento tipo Fonte: (1) PROJETO, 1992, n°153, p.54 (2) PROJETO, 1992, n°153, p.55

O Centro Administrativo Pfizer também foi projetado para uma empresa que fixou sua marca na região através da arquitetura de sua sede. Projeto do arquiteto Paulo de Gasperi e do engenheiro Armando Bignone em 1998, o edifício possui características arquitetônicas típicas de um empreendimento tipo office park: construção baixa de cinco pavimentos de escritórios mais térreo, serviços e restaurante dentro do edifício e ampla área de garagem. Na época de sua ocupação, os escritórios foram ocupados com mobiliário integrado do fabricante brasileiro Forma.

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(1) (1) Edifício Pfizer − 1998 − Fachada Fonte: (1) CUSHMAN, 2004, p.105

Pouco antes do início da década de 1980 a avenida Engenheiro Luiz Carlos Berrini também começou a se destacar. O arquiteto Carlos Bratke (1942) se uniu ao irmão Roberto Bratke e ao primo Francisco Collet e “realizaram a partir de 1975 o mais notável esforço de reestruturação urbana de que se tem notícia no Brasil” (CUSHMAN, 2004, p.78). Juntos compraram cerca de trinta terrenos na Berrini, entre 1974 e 1976, e começaram a construir prédios de escritórios com baixos custos para posterior aluguel. Em nenhuma outra região da cidade tantos prédios foram erguidos em tão pouco tempo.

O sucesso da empreitada deve-se principalmente ao fato de que os custos dos imóveis nas avenidas Paulista e Faria Lima eram altíssimos, e, segundo as premissas utilizadas pelos três empreendedores, os terrenos na área eram baratos, com boa acessibilidade e grandes possibilidades de expansão. Mas, sem o devido planejamento, pois não havia infra-estrutura pública na região para receber tantos edifícios, o processo acabou gerando problemas urbanos que foram agravados a cada nova construção, como destaca a citação a seguir.

“... crescimento tão rápido, num bairro de história tipicamente residencial, bateu de frente com a infra-estrutura existente. As ruas estreitas eram sinônimo de trânsito caótico, todos os equipamentos urbanos eram impróprios para a nova realidade”. (CUSHMAN, 2004, p.67)

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espaços internos dos pilares e aumentando a flexibilidade descrita acima. De acordo com relato do próprio arquiteto:

“Percebi que a velha tendência do núcleo central de circulação vertical e serviços não atendia a todos os casos. (...) as condições de insolação e iluminação muitas vezes ficavam prejudicadas.” (PUGLIESE, 2005, p.62)

Essa característica arquitetônica com os núcleos de serviços fora de um bloco único de escritórios, que facilita a organização do espaço interno, pode ser observada no edifício Morumbi Plaza, construído na avenida Faria Lima em 1979: a planta do pavimento tipo é formada por um grande retângulo, com seis losangos periféricos, onde em dois deles estão localizados elevadores (sociais em um núcleo e de serviços em outro), escadas, shafts e áreas de serviço e nos demais, sanitários e depósitos.

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Edifício Morumbi Plaza – 1979 (1) Fachada (2) Planta do pavimento tipo Fonte: (1) PUGLIESE, 2005, p.55 (2) PUGLIESE, 2005, p.54

A avenida Engenheiro Luiz Carlos Berrini possui hoje cerca de 62 edifícios de escritórios projetados pelo arquiteto Carlos Bratke (PUGLIESE, 2005, p.51). Outros muitos escritórios de arquitetura deixaram sua marca na região. Entre eles, o escritório CA&G, que em 1984 (CROCE, 1999, p.44) se destacou com o projeto do Centro Administrativo PSS.

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Nestlé: a flexibilidade na arquitetura foi um dos motivos que proporcionaram a mudança de ocupação. A planta é quase um quadrado, com o núcleo central com sanitários, elevadores, escadas, shafts e outros serviços; na sua primeira ocupação em 1991, tinha salas fechadas próximas à fachada para gerentes e reuniões, e entre as salas e o núcleo central de serviços havia as estações de trabalho abertas.

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Edifício Centro Administrativo PSS / Nestlé − 1991 (1) Fachada (2) Planta do pavimento tipo Fontes: (1) Arquivo A&G (2) CROCE, 1999, p.45

Entre as décadas de 1980 e 1990, a Vila Olímpia se destacou pela construção de edifícios de escritórios, e os grandes empreendimentos da região foram – e ainda são – ocupados por diversas empresas, com infra-estrutura predial bastante atual para cada época de construção, com salas consideradas de alto padrão que ocupam espaços relativos a um pavimento inteiro ou metade.

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Quando a ampliação da Nova Faria Lima foi finalizada, o primeiro edifício de escritórios a ser construído foi o HSBC Tower (1995), projeto do Escritório Técnico Júlio Neves: possui quatro subsolos de garagem, pavimento térreo e quatorze andares de escritórios com 1.320m² cada um.

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(1) Edifício Dacon – 1976 (2) Edifício HSBC Tower – 1995 Fontes: (1) CUSHMAN, 2004, p.47 (2) Arquivo CBRE

Logo depois, em 1996, foi inaugurado o edifício Birmann 29, sede do JP Morgan, com projeto do escritório norte-americano SOM. Com dezesseis pavimentos de escritórios, a planta do pavimento tipo de 1.450m² de área útil possui um único núcleo central de elevadores, escadas, sanitários, shafts e ar-condicionado. Os elevadores são setorizados em zona baixa e zona alta, característica típica dos projetos dos escritórios SOM no Brasil.

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Algumas sedes administrativas foram implantadas nos anos 1990 fora dos tradicionais centros de negócios que descrevemos até aqui. A migração para regiões menos valorizadas ocorreu principalmente devido a questões econômicas.

Um forte exemplo é o Centro Empresarial Itaú/Itaúsa, construído em três etapas. Para unir todas as empresas do grupo Itaú em um só local, em 1985 foram inauguradas três torres de edifícios no bairro do Jabaquara. Essas torres possuem estrutura de concreto aparente, caixilhos de alumínio fixos com vidros ray-ban (especiais para proteção dos raios solares) e anti-ruídos (principalmente por causa da proximidade com o aeroporto de Congonhas). Como os pilares de sustentação estão localizados no perímetro de cada torre e o núcleo de elevadores e serviços está localizado no centro dos pavimentos, a implantação das torres a um ângulo de 45° em relação à avenida oferece ao interior dos escritórios a vista de um horizonte aberto.

Uma quarta torre foi implantada em 1991, com foi projeto de Jaime Cupertino e Javier Manubens. A planta em formato quadrado e núcleo de serviços no centro da construção segue o mesmo conceito das torres anteriores. Por se tratar do edifício da presidência do grupo, o que diferencia essa torre das demais são principalmente os materiais de acabamento: toda fachada é de vidro.

A quinta e última torre, chamada Eldoro Villela, foi projetada entre 1989 e 1994, mas somente em 2001 o projeto foi retomado pelo escritório CA&G, que manteve as mesmas características arquitetônicas das três primeiras torres, adaptando-o para receber acabamentos e características contemporâneas: acabamento em granito e infra-estrutura mais moderna.

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(2) (3) Centro Empresarial Itaúsa – 2003 (2) Fachada da 5ª Torre de Escritórios Eldoro Villela (3) Planta pavimento tipo Fonte: (1) PROJETO, 2003, n° 283, p.63 (2) PROJETO, 2003, n° 283, p.67

A mais recente região de negócios para onde os escritórios estão se encaminhando é a Marginal Pinheiros. Seu desenvolvimento no lado mais próximo às avenidas Faria Lima e Berrini se explica pela falta de vias de transporte acessíveis para o outro lado do rio e de infra-estrutura desta outra região, que muitos apostam ser a próxima região de negócios da cidade.

Do outro lado da marginal houve poucos casos de edifícios de escritórios e “só recentemente começaram a surgir os empreendimentos de alto nível”. (CUSHMAN, 2004, p.106). Um exemplo é o edifício Birmann 21, sede da Editora Abril em São Paulo e instalado na Marginal Pinheiros, do lado oposto à avenida Engenheiro Luiz Carlos Berrini. Esse projeto é resultado de um trabalho do escritório SOM em conjunto com o escritório de arquitetura Kogan & Associados, que compatibilizaram as idéias norte-americanas com a realidade brasileira.

Com 14.000m² (ANDRADE, 2000, p.159), a construção possui: uma torre principal de 26 pavimentos tipo, mais um mezanino, pavimento térreo, totalizando um bloco multiuso para exposição, videolocadora e lanchonete; um bloco para restaurante e academia de ginástica; e um subsolo onde estão localizadas áreas de serviços técnicos, subestação, central de ar-condicionado e caixa d’água. As fachadas receberam tratamento diferenciado entre si; há duas baterias de elevadores (zona baixa e zona alta); e a torre principal possui pavimentos tipo diferenciados com piso elevado, totalizando 32.302m² de área útil.

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(1) (2) Edifício Birmann 21 – 1999 (1) Fachada (2) Planta pavimento tipo

Fontes: (1) Arquivo CBRE (2) AU, 2002, n° 386 , p.53

A estabilidade da economia brasileira favoreceu a construção de edifícios comerciais para escritórios na última década do milênio:

“a torre de escritórios – os chamados edifícios inteligentes – destinada a grupos empresariais nacionais e estrangeiros. Iniciou-se, nessa área, uma queda–de-braço pela conquista desses projetos entre os grandes escritórios brasileiros (...) e norte-americanos (...). O mercado local permanece legalmente fechado à atuação de profissionais do exterior, que acabam formando parcerias com os colegas brasileiros, responsáveis pela ‘tropicalização’ do projeto”. (PROJETO DESIGN, 2001, 251, p.89)

De acordo com a revista Projeto Design n° 251, os edifícios da década de 1990 podem ser divididos em dois grupos:

1. edifícios de médio e grande portes, que visavam a elaboração de projetos condizentes com a arquitetura, métodos construtivos e materiais existentes no país − defendida por profissionais brasileiros por meio da reafirmação ou negação do modernismo;

2. edifícios de grande porte, com características arquitetônicas internacionais, ou seja, importadas de outros países − projetados por grandes escritórios brasileiros ou norte-americanos.

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moderno. Para este trabalho, é relevante citar algumas das principais preocupações dos projetos dos edifícios dessa década, que são:

1. o controle adequado da insolação no interior através dos revestimentos de fachada e técnicas construtivas adequadas à realidade brasileira;

2. a discussão entre embasamento e torres, onde os espaços semipúblicos, serviços de apoio e reuniões estão localizados nos andares inferiores, e nos andares superiores estão os escritórios propriamente ditos;

3. o núcleo de serviços, elevadores e escadas projetados nas extremidades dos pavimentos tipos.

Essa também foi a década em que as empresas mais sofreram modificações espaciais, entre elas o extinto Banco Nacional, que segundo relatórios anuais “do período de 1991 a 1993 indicavam que cerca de 80% do seu espaço físico administrativo em todo o Brasil (ANDRADE, 2005, p.4.30) sofreu mudanças no layout pelo menos uma vez ao ano. A IBM também passou por um período de grandes mudanças espaciais entre 1996 e 1999 (o que veremos no próximo capítulo).

Após a abertura do mercado brasileiro para internacionalização e a internalização, houve uma grande contribuição para o desenvolvimento e a proliferação dos edifícios de escritórios, pois facilitaram-se as importações de móveis, carpetes, forros e outros componentes industrializados para interiores e para construção dos edifícios e de sua infra-estrutura., Da mesma forma, foi simplificada a entrada de insumos para o aperfeiçoamento dos produtos fabricados no país.

“Com as novas possibilidades de comércio internacional e com a estabilização da economia brasileira, a arquitetura de interiores no ramo específico dos escritórios entra definitivamente numa nova fase. A cultura empresarial está mudando de forma consistente, abrindo perspectivas favoráveis para os profissionais e as indústrias comprometidas com a qualidade funcional e estética de suas criações.” (CALDEIRA, nº10, p.6)

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“estabelecidas no Brasil há muitos anos possam atualmente oferecer ao público local artigos produzidos por filiais de outros países ou por outras empresas que passam a representar no Brasil ou com as quais aqui se associam de forma mais global.” (CALDEIRA, nº10, p.6)

Muitas empresas brasileiras de mobiliário juntaram-se a organizações internacionais, como foi o caso da Oca com a Steelcase, ou, mais recentemente, a Voko com a Teknion. Outras brasileiras são apenas representantes de produtos das estrangeiras. Adicionalmente, o mercado local tem crescido bastante, e nossas empresas (não apenas de mobiliário, mas também de outros segmentos que atendem a escritórios em geral) estão conseguindo aumentar seus negócios para fora do país, principalmente para a América Latina.

Paralelamente, quase todas as empresas de grande porte que atuam no Brasil possuem escritórios em São Paulo, dessas muitas sedes também estão na cidade – principalmente quando falamos de empresas de telecomunicações, de informática e de bancos.

2.4 OS ESCRITÓRIOS CONTEMPORÂNEOS: SÉCULO XXI

Segundo o Dicionário Aurélio, contemporâneo significa “que ou aquele que é do mesmo tempo, ou do nosso tempo; coevo, coetâneo”. Primeiro vamos ver exemplos de escritórios construídos entre 2000 e 2006. Observa-se que entre a Marginal Pinheiros e a avenida Engenheiro Luiz Carlos Berrini a linguagem das edificações acompanha as novas exigências tecnológicas e de aproveitamento de espaços.

Foi nesta região que foi erguido em 2002 o edifício corporativo mais comentado deste início de século: a sede do Bank Boston. Projetado pelo escritório SOM e adaptado pelo Escritório Técnico Júlio Neves, o edifício localizado quase no final da avenida Engenheiro Luiz Carlos Berrini possui claramente o estilo arquitetônico contemporâneo, perceptível pelo lado externo nos materiais de acabamento (esquadrias de alumínio, vidros e granito). Uma evidência disso são as diversas publicações que o consideraram uma referência para os escritórios contemporâneos.

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necessidades operacionais da empresa”. (CUSHMAN, 2004, p.91). Assim, em 1999 o escritório SOM se uniu aos profissionais brasileiros para projetar um edifício de alta tecnologia e arquitetura contemporânea em São Paulo, que, segundo o arquiteto Adrian Smith (um dos responsáveis pelo projeto no escritório SOM), criasse “uma imagem que expressasse a natureza tropical da cultura nacional” (FACILITY, 2002, n° 24). Segundo Smith, esse projeto “é um forte representante do estilo contemporâneo e do alto padrão internacional de prédios para escritórios”. Durante a fase do anteprojeto, os arquitetos do SOM visitaram o Brasil para, além de entender o programa, compreender melhor a cultura, a história e as tradições brasileiras, e assim foram realizadas visitas com o objetivo descrito na citação a seguir:

“Isso foi importante para dar tom local ao desenho contemporâneo do edifício. As informações programáticas e culturais foram sintetizadas, utilizando nossa aproximação com o desenho esquemático, com o desenvolvimento do projeto e a seleção de materiais. Isso requereu profundo entendimento das necessidades do cliente, transformadas em arquitetura”. (SMITH, 2002)

O SOM é um dos maiores representantes do international style americano (estilo de projetar que tem como base a cultura e os conceitos norte-americanos), como já observamos em alguns de seus projetos no primeiro capítulo. Por se tratar da sede regional de um dos maiores bancos americanos, o edifício foi projetado para ser mais um representante do estilo americano no mundo, e, apesar do depoimento de Adrian Smith de que o projeto teve que ser “tropicalizado”, esta foi uma das obras de engenharia e arquitetura mais comentadas dos últimos anos no país, por causa de sua complexidade, inovação e principalmente impacto visual. O custo total do projeto chegou a 150 milhões de dólares, entretanto os benefícios para a marca são imensuráveis.

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principalmente por conta dos materiais de acabamento externos e internos, algumas obras de arte de Portinari expostas no lobby e dos jardins de Burle Marx.

O layout foi planejado para atender às necessidades do banco e, por isso, cada pavimento de escritórios tem sua particularidade. O objetivo do banco era ocupar 90% desses pavimentos com estações de trabalho, que variam de tamanho e o número oscila entre 80 e 250 por pavimento. A grande maioria das estações é composta por divisórias baixas do sistema de mobiliário integrado; há salas fechadas para executivos; as salas de reuniões estão localizadas em quase todos os pavimentos em frente ao hall de elevadores (assim os visitantes não precisam passar pelo escritório para chegar a elas); os andares da presidência e vice-presidência possuem acabamento e layout diferenciados. Foram implantadas áreas de convívio social nos pavimentos inferiores. No térreo há uma agência do banco, um auditório para o público interno e externo e um coffee-shop que se estende aos jardins − uma área de bastante descontração. No primeiro pavimento foi instalada uma praça de alimentação de acordo com as necessidades dos funcionários do próprio banco relatadas em uma pesquisa interna: possui um boa variedade de pratos para refeição, área de restaurante com 130 mesas e um terraço ao ar livre

Atualmente o edifício ainda sedia escritórios de um banco, porém não mais do Bank Boston, mas do Itaú Personalité, embora ainda continue sendo chamado de edifício do Bank Boston, pelo menos por enquanto.

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(3) (4) Edifício-sede do Bank Boston – 2002 (3) Escritórios abertos (4) Sala de reunião

Fonte: (3) e (4) PROJETO DESIGN, 2002, n° 269, p.52

Também é deste início de século XXI o edifício-sede da Vivo. O projeto do arquiteto Edo Rocha (2001) está localizado no final da avenida Engenheiro Luiz Carlos Berrini e nasceu mais uma vez da necessidade da empresa em unificar seus escritórios na cidade de São Paulo − devido à união de três empresas de telefonia móvel. O projeto teve três premissas estabelecidas ainda durante o concurso:

“1) adequação do edifício às necessidades daquela que viria a ser a locatária; 2) melhor aproveitamento possível de espaço e recursos (e conseqüente valorização do aluguel); 3) flexibilidade para mudanças”. (CUSHMAN, 2004, p.93)

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(1) (2) Edifício-sede da Vivo – 2003 (1) Fachada (2) Planta do pavimento tipo Fonte: (1) PROJETO DESIGN, 2003, n° 286, p.43 (2) P ROJETO DESIGN, 2003, n° 286, p.47

Em 2006 muitas construções foram iniciadas ou estão quase finalizadas, principalmente nas regiões da Vila Olímpia e da avenida Engenheiro Luiz Carlos Berrini. Mesmo assim, há relatos de que o próximo centro empresarial de São Paulo será na região da Marginal Pinheiros: uma área bem mais extensa que as regiões anteriormente descritas, entretanto ainda com algumas dificuldades de acesso.

Essa tendência para se construir edifícios na Marginal Pinheiros e a idéia de que esse local seria um futuro novo centro de negócios vem se observando desde a construção do Cenesp.

“No princípio, era o Centro. Depois foram a Paulista, a Faria Lima. O futuro, já desencadeado, é a Marginal Pinheiros. O desenvolvimento comercial da região teve início em 1977, quando o poderoso grupo argentino Bunge y Born decidiu reunir num só espaço suas empresas no Brasil (Tintas Coral e Moinho Santista, principalmente). (...) Hoje, tem-se a impressão que o pioneiro Cenesp instalou-se no lado errado da Marginal Pinheiros, pois foi na outra margem que se consolidou o que o mercado imobiliário define como centro metropolitano do futuro.” (CUSHMAN, 2004, p.106)

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“Em São Paulo, o zoneamento restringe as dimensões dos edifícios ao máximo de área por piso. Devido a essas características, a arquitetura paulistana adquire densidade e caráter singular. A região onde o edifício está localizado representa nova região em desenvolvimento para uma larga parcela de edifícios de escritórios, similares a outros existentes em diversas partes do mundo. Esses prédios são altos e respondem de forma eficiente às exigências internacionais para edifícios comerciais, de alto padrão. A localização à margem do rio Pinheiros permite belas vistas a seus ocupantes.” (PROJETO DESIGN, 2002, n°269)

Diante dos exemplos vistos neste capítulo, percebe-se que a história do mercado paulistano de arquitetura de edifícios de escritórios corporativos é bastante dinâmica e geradora de novas tendências, não somente para São Paulo, mas também para o Brasil. São esses edifícios que pretendem destacar a imagem das empresas através de seu patrimônio.

Independentemente das vantagens de possuir um único edifício-sede, há empresas que preferem descentralizar suas atividades, e, apesar de terem uma sede, optam por escritórios satélites, já que São Paulo é uma cidade enorme, e, dependendo do negócio, é preciso ficar próximo do cliente ou de algum pólo de negócios. Outro motivo que faz com que as empresas se descentralizem ocorre quando o edifício onde ela se encontra não comporta mais seu crescimento, e não há mais espaço suficiente nessa única construção para atender às suas necessidades funcionais. É o que veremos ainda neste trabalho, quando verificarmos que o IBM Tutóia, após diversas reformas, não comporta mais todas as atividades da empresa e por isso está se instalando em outros edifícios da cidade.

Para acompanhar a nova demanda de negócios, e antes mesmo que uma empresa pense em expansão, são necessárias várias adaptações e modificações dos ambientes internos que atendam aos novos requerimentos de espaço. Essas transformações estão sempre alinhadas com a ampliação do mercado específico, com o crescimento da cidade e do país e com o constante surgimento de novas tecnologias.

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Os escritórios corporativos contemporâneos exigem baixo custo de instalações, da mesma forma que precisam estar estabelecidos em edifícios flexíveis, com alta tecnologia e localizados em boas regiões, com infra-estrutura, acesso fácil e meios de comunicação. O baixo custo das instalações pode ser alcançado através de diversas ações como, por exemplo, o aumento da densidade de funcionários através da implantação de novas formas de ocupação. Ao mesmo tempo, as novas tecnologias auxiliam os controles de ativos dos escritórios, na infra-estrutura, nas formas de comunicação etc., o que torna necessário que o escritório sempre invista em tecnologias mais recentes, com o objetivo de alcançar maior eficiência do edifício a curto ou médio prazo.

Ao projetar um escritório, é primordial entendermos as necessidades da empresa e as tendências e exigências do mercado de escritórios corporativos para executar projetos de qualidade e conseguir suportar a demanda de novos espaços.

As construções e disposições espaciais internas precisam estar aptas para receber diferentes perfis de usuários que exerçam diversas funções (administrativa, técnica ou executiva), ou que ainda possuam diferentes características físicas ou de gênero (portador de necessidade especial, homem ou mulher etc.). A divisão da organização nos escritórios agora é feita de acordo com a necessidade espacial que cada ser humano necessita para exercer determinada função, e não mais somente por hierarquia.

Para enfrentar a competitividade e reduzir custos com instalações, há uma grande tendência nas empresas para criação e manutenção de espaços compartilhados por diversos profissionais, otimizando, além do custo, a funcionalidade dos escritórios. O espaço compartilhado caracteriza-se pela implantação de ambientes com estações de trabalho “sem dono”, ou seja, onde uma estação poderá ter diferentes funcionários a cada momento da sua utilização. Eles devem ter características impessoais, para poder receber qualquer pessoa que ao exercer seu trabalho não precise estar fisicamente no escritório. Ao mesmo tempo, o funcionário é questionado se ele precisa trabalhar dentro das instalações da empresa ou se ele pode trabalhar em casa, já que com o avanço da tecnologia e dependendo de sua função ele tem capacidade de exercer suas tarefas em qualquer lugar.

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ambiente de trabalho, mesmo que este seja na casa do funcionário (o que pode gerar alguns problemas trabalhistas). Apesar de bastante conhecido e flexível, este conceito ainda não é amplamente utilizado pelas empresas, principalmente por causa das dificuldades em se conseguir uma boa infra-estrutura nas casas brasileiras, com custos acessíveis e boa qualidade. Especialistas na área, como Tomás Berlanga, acreditam que o home office é permanente e irreversível, mesmo que não atinja um número expressivo de funcionários por falta de infra-estrutura nas cidades brasileiras (mesmo nos grandes centros urbanos).

“Os centros urbanos não agüentam mais o caos existente, e há centenas de tarefas que não requerem a presença física no escritório. A grande questão é a qualidade de vida quanto ao gerenciamento do tempo, poder estar em casa. Mas, fundamentalmente, está o marketing dizendo que devemos ficar mais próximos do cliente: cada vez mais o mercado exige personalização no atendimento. Essa proximidade traz mudanças sociais e comportamentais. (...) Em São Paulo são 5 milhões de automóveis, um para cada duas pessoas. Mais e mais prédios estão sendo construídos na avenida Luiz Carlos Berrini, mas a infra-estrutura continua a mesma. Isso é o caos.” (BERLANGA, 2000, p.11)

Sempre que escritórios contemporâneos são citados, fala-se em versatilidade do uso de espaços imposta pela flexibilização das relações de trabalho, que precisa ser bastante dinâmica, não tanto quanto à flexibilização dos espaços de escritórios, que, devido às instalações elétricas e de telecomunicações, ainda precisam ser fixas a um local. Entretanto, as novas tecnologias já estão auxiliando a flexibilidade dos espaços e diminuindo a rigidez das estações de trabalho. Percebemos isso através das instalações de rede wireless, que funciona por meio de sinais de transmissão e não precisa de cabeamento; ou da utilização de laptops, que podem ser levados a qualquer lugar, além de possuírem um tempo específico de bateria que permite o seu funcionamento por mais de três horas.

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funções em locais de postos de trabalho compartilhados. Novamente, a tecnologia (softwares, mídias eletrônicas etc.) auxilia e determina novas condições de trabalho.

Este conceito, que vem crescendo e criando raízes, principalmente entre 2000 e 2005, possui várias denominações, dependendo do país ou da empresa. Segundo Claudia Andrade, existe o conceito de hoteling, que ela assim o define:

“Como o próprio nome sugere, está baseado nos serviços oferecidos nos hotéis. Criado para atender a necessidade da média e alta gerência, que viaja freqüentemente ou se encontra fora de sua base de trabalho, este conceito é utilizado pelas empresas em suas filiais ou escritórios situados em bairros mais distantes ou periféricos da cidade. (...) São montados com foco no recebimento de clientes e visitantes, para que funcionários atendam a esses clientes com todo o suporte e conforto necessários. Para utilizá-los é preciso reservar a sala com antecedência.” (ANDRADE, 2000, p.50-51)

Outro conceito de escritório flexível e utilizado por mais de um funcionário, também segundo Claudia Andrade, é o free address, por ela assim definido:

“Conceituado para atender à gerência e ao restante dos funcionários que despendem boa parte de seu tempo realizando serviço fora da empresa, o free address pode ser caracterizado por uma área repleta de estações de trabalho abertas para o uso eventual. Ao chega,r o funcionário dirige-se a um computador que representa a planta do pavimento com as estações disponíveis. Através de um sistema touch screen, o funcionário informa qual a estação de trabalho que irá ocupar. Automaticamente o sistema de voz e dados é ativado para que o funcionário possa realizar suas atividades o tempo que for necessário”. (ANDRADE, 2000, p.53)

Claudia Andrade ainda descreve um último e mais complexo escritório compartilhado, o red carpet club:

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hoteling, espaços abertos do tipo free address e espaços para reuniões e conferências”. (ANDRADE, 2000, p.54-55)

Nesta pesquisa trabalharemos com o conceito de escritório compartilhado utilizado no IBM Tutóia: o mobility. Este conceito consiste na implantação de um grupo de estações de trabalho que podem ser compartilhadas em um dia por até quatro funcionários diferentes em horário alternados. Para isso, o funcionário que for “elegível” à utilização do espaço mobility deve exercer uma função de consultoria ou vendas e que requeira que ele permaneça apenas 25% do seu tempo de trabalho na empresa. A IBM no Brasil implantou o conceito de mobility em 1998, no IBM Tutóia, somente para funcionários de vendas. Em 2000, ela implantou o segundo centro de mobility no mesmo edifício para funcionários da área de consultoria, só que nesse caso o funcionário só permanecia na empresa cerca de 15% do seu tempo de trabalho, por isso sua estação de trabalho podia ser compartilhada por mais seis profissionais. No final de 2005 a empresa possuía 914m² de espaço útil destinado somente às estações e armários de funcionários mobility (Arquivo IBM). Deste total, 617m² estão localizados no edifício da sede da empresa em São Paulo, 271m² nos escritórios do Rio de Janeiro e 26m² nos escritórios de Brasília. Somente em São Paulo há 602 funcionários que utilizam o espaço, ou seja, é 1,03m² ocupado por funcionário neste tipo de ambiente, resultando em um altíssimo ganho de espaço e de custo. Veremos mais detalhes desse conceito nos próximos capítulos.

O especialista no assunto Tomás Berlanga acredita que o hoteling, o free address e outros conceitos de espaços compartilhados são modismos de época, como descrito na citação a seguir.

“Alguém gera uma nova idéia, até com boa intenção, mas o resultado não é o esperado. Uma pessoa que está na empresa temporariamente, que não tem seu espaço de trabalho, sua escrivaninha, digamos assim, sente que não é parte da empresa. Como essa situação gera instabilidade, algumas empresas já estão corrigindo o hoteling”. (BERLANGA, 2000, p.11)

Cabe ao profissional que está projetando o espaço junto com o empresário ou executivo identificar a necessidade de tempo desses funcionários de trabalharem na empresa ou fora dela. O sucesso do programa de mobility na IBM é fruto de alguns fatores:

Referências

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