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§ 1. FILALETO — Espero que concordareis comigo em que existem idéias simples e idéias compostas; assim, o calor e a moleza na cera, o frio no gelo, fornecem idéias simples, pois a alma tem delas uma concepção uniforme, que não pode ser distinguida em diferentes idéias.

TEOFILO — [Creio que se pode dizer que tais idéias sensíveis são simples na aparência, pois sendo confusas, não fornecem ao espírito o meio de distinguir o que elas encerram. E como as coisas longínquas que parecem redondas, pelo fato de não podermos discernir-lhes os ângulos, embora recebamos alguma im-pressão confusa deles. É manifesto, por exemplo, que o verde se origina do azul e do amarelo mesclados; assim sendo, pode-se crer que a ideia do verde é com-posta dessas duas idéias. E todavia, a idéia do verde nos parece tão simples como a do azul, ou como a do quente. Assim sendo, pode-se crer que também as idéias do azul e do quente só são simples na aparência.

Estou de acordo, contudo, que consideremos essas idéias como simples, por-que pelo menos a nossa percepção não as divide; todavia, é preciso analisá-las por outras experiências e pela razão, à medida que pudermos torná-las mais inte-ligíveis. E também por aqui se vê que existem percepções das quais não nos damos conta. Pois as percepções das idéias simples na aparência são compostas das percepções das partes das quais essas idéias são compostas, sem que o espíri-to o perceba, uma vez que essas idéias confusas lhe parecem simples.]

CAPÍTULO 111

As idéias que nos vêm através de um só sentido

FILALETO — Podemos agora classificar as idéias simples segundo os meios que nos possibilitam a percepção delas, pois isso se faz ou 1) através de um só senti-do, ou 2) através de mais de um sentisenti-do, ou 3) pela reflexão, ou 4) por todos os caminhos da sensação, como também pela reflexão.

Quanto às idéias que nos vêm através de um só sentido que tem disposições particulares para recebê-las, a luz e as cores entram exclusivamente pelos olhos; toda sorte de ruídos, sons e tons entram pelos ouvidos; os diferentes gostos, pelo paladar, e os odores, pelo olfato. Os órgãos ou nervos os conduzem ao cérebro, e se acontecer que algum desses órgãos estiver alterado, essas sensações não podem ser admitidas por alguma porta falsa. As qualidades táteis mais considerá-veis são o frio, o calor e a solidez. As outras consistem ou na conformação das partes sensíveis, que faz com que uma coisa seja polida ou bruta, ou na

sua união, que faz com que a coisa seja compacta, mole, dura, frágil.

TEÓFILO — [Concordo bastante com o que dizeis, embora possa observar que, segundo a experiência do falecido Sr. Mariotte5

sobre a falha da visão quanto ao nervo óptico, parece que as membranas recebem o sentimento mais que os nervos, e existe alguma porta falsa para o ouvido e o gosto, visto que os dentes e o vertex contribuem para fazer ouvir algum som, e os gostos se fazem conhecer de alguma forma pelo nariz, devido à interconexão dos órgãos. Todavia, isso nada muda quanto ao fundo das coisas, no que concerne à explicação das idéias. No que diz respeito às qualidades táteis, pode-se dizer que o polido ou o bruto, e o duro ou mole constituem apenas as modificações da resistência ou da soli-dez.]

6Edme Mariotte (1620-1684), renomado físico frances; a sua descoberta do "ponto cego" está consignada em uma memória publicada em 1668 sob o título Nouvelle découverte touchant la vue (Nova Descoberta

CAPÍTULO IV A solidez

§ 1. FILALETO — Concordareis também em que a sensação da solidez é causada pela resistência que encontramos em um corpo até que este tenha deixado o lugar que ocupa quando um outro corpo entra atualmente nele. Assim sendo, o que impede a aproximação de dois corpos quando se movem simultaneamente um em direção ao outro, é o que denomino a solidez. Se alguém acha melhor denomi-ná-la impenetrabilidade, concordo. Entretanto, acredito que o termo solidez en-cerra algo de mais positivo. Esta idéia parece a mais essencial e a mais estreita-mente ligada ao corpo, e só podemos encontrá-la na matéria.

TEóFILO — É verdade que encontramos resistência ao tocarmos, quando um ou-tro corpo custa a dar lugar ao nosso; é verdade também que os corpos têm repug-nância a encontrar-se no mesmo lugar. Todavia, alguns duvidam de que tal re-pugnância seja invencível, e convém também considerar que a resistência que se encontra na matéria deriva dela de várias formas e por motivos bastante diver-sos. Um corpo resiste ao outro ou quando deve abandonar o lugar que já tinha ocupado, ou quando deixa de entrar no lugar onde estava prestes a entrar, pelo fato de que o outro também quer entrar, caso em que pode ocorrer que, um não cedendo ao outro, se rejeitem reciprocamente. A resistência se faz notar na mudança daquele ao qual se resiste, seja pelo fato de ele perder força, seja pelo fato de mudar de direção, seja pelo fato de um e outro chegarem simultaneamen-te. Ora, pode-se dizer em geral que esta resistência vem do fato de ,que existe repugnância, entre dois corpos, a estarem num mesmo lugar, o que se poderá denominar impenetrabilidade. Assim, quando um faz esforço para entrar, esfor-ça-se ao mesmo tempo para desalojar o outro, ou para impedi-lo de entrar. Toda-via, uma vez supondo-se esta espécie de incompatibilidade que faz com que um ou outro, ou ambos cedam, existem ainda outras razões que fazem com que um corpo resista àquele que quer obrigá-lo a ceder-lhe lugar. Elas estão ou nele, ou nos corpos vizinhos. Existem duas que estão nele mesmo, sendo que uma é passiva e perpétua, a outra é ativa e mutável.

A primeira é aquilo que denomino inércia, segundo Kepler e Descartes; ela faz com que a matéria resista ao movimento; em virtude dela é preciso perder força para remover um corpo, se não houvesse nem peso nem fixação. Assim

sendo, é preciso que um corpo que pretenda desalojar o outro, sinta esta resistên-cia.

NOVOS ENSAIOS 69 A outra causa, que é ativa e mutável, consiste na impetuosidade do próprio corpo, o qual não cede sem resistir no momento em que a sua própria impetuosi-dade o leva a um lugar. As mesmas razões voltam nos corpos vizinhos, quando o corpo que resiste não pode ceder sem fazer com que outros cedam. Todavia, aqui entra ainda uma outra consideração: é a da firmeza, ou`da ligação de um corpo com o outro. Esta ligação faz com que não se possa empurrar um corpo sem que se empurre também um outro que lhe está ligado, o que faz com que tenhamos uma espécie de tração em relação a este outro. Esta ligação também faz com que, mesmo que se colocassem de lado a inércia e a impetuosidade mani-festa, continuaria a haver resistência; pois, se o espaço se concebe como cheio de uma matéria perfeitamente fluida, e se se colocar um único corpo duro, este corpo duro (supondo-se que não exista nem inércia nem impetuosidade no fluido) será movido sem encontrar qualquer resistência; entretanto, se o espaço estivesse cheio de pequenos cubos, a resistência que encontraria o corpo duro que deve ser movido entre esses cubos, derivaria do fato de que os pequenos cubos duros, devido à sua dureza, ou da ligação das suas partes entre si, teriam dificuldade em dividir-se tanto quanto seria necessário para perfazer um circuito de movi-mento, e para preencher o lugar do corpo móvel no momento em que sai do lugar. Entretanto, se dois corpos entrassem ao mesmo tempo por duas extremida-des em um tubo aberto dos dois lados e enchessem a capacidade do tubo, a matéria que estaria neste tubo, por mais fluida que fosse, resistiria pela sua sim-ples impenetrabilidade.

Dessa forma, na resistência de que se trata aqui, deve-se considerar a impe-netrabilidade dos corpos, a inércia, a impetuosidade e a fixação ou ligação. É verdade que, a meu modo de ver, esta ligação dos corpos procede de um movi-mento mais sutil de um corpo em direção ao outro; todavia, como se trata de um ponto contestável, não se deve supô-lo de imediato. Pela mesma razão, não se deve supor também que existe uma solidez originária essencial, que torne o lugar sempre igual ao corpo, isto é: que a incompatibilidade, ou, para falar mais corretamente, a inconsistência dos corpos em um mesmo lugar, é uma perfeita impenetrabilidade que não admite nem mais nem menos, visto que muitos afir-mam que a solidez sensível pode provir de uma repugnância dos corpos a se encontrarem em um mesmo lugar, repugnância que não seria, porém, invencível. Com efeito, todos os Peripatéticos comuns, juntamente com muitos outros, acre-ditam que uma e mesma matéria poderia preencher mais ou menos espaço, o

que denominam rarefação ou condensação, não somente na aparência (como quando, ao comprimir uma esponja, se faz sair a água dela), mas a rigor, como os Escolásticos afirmam com respeito ao ar. Não sou desta opinião, porém não creio que se deva logo supor o contrário, visto que os sentidos sem o raciocínio não são suficientes para estabelecer esta perfeita impenetrabilidade, que conside-ro verdadeira na ordem da natureza mas que não se percebe apenas pela sensa-ção. Alguém poderia pretender que a resistência dos corpos à compressão deriva de um esforço que as partes fazem para se expandir quando não possuem toda a liberdade. De resto, para provar tais qualidades, os olhos ajudam muito, vindo

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em auxílio do tato. No fundo a solidez, enquanto dá uma noção distinta, se con-cebe pela pura razão, embora os sentidos forneçam ao raciocínio material para demonstrar que ela está na natureza.

§ 4. FILALETO — Estamos de acordo pelo menos sobre o fato seguinte: a solidez

de um corpo implica que ele enche o espaço que ocupa, de maneira tal que exclui deste espaço todo e qualquer outro corpo, se ele não puder encontrar um espaço no qual não estava antes; ao passo que a dureza, ou melhor, a consistência, que alguns denominam firmeza, é uma forte união de certas partes da matéria, que compõem ajuntamentos de uma espessura sensível, de sorte que toda a massa não muda facilmente de aspecto.

TEOFILO — [Esta consistência, como já observei, é propriamente o que faz com que seja difícil mover uma parte de um corpo sem a outra, de sorte que quando se empurra uma, acontece que a outra, que não é empurrada e não está na linha da tendência, é todavia conduzida a ir para o mesmo lado por uma espécie de tração; além disso, se esta última parte encontra algum obstáculo que a retenha ou a rejeite, vai para trás, ou então retém também a primeira; isto é sempre recíproco. O mesmo acontece por vezes a dois corpos que não se tocam e que não compõem um corpo contínuo do qual constituam as partes contíguas: e toda-via um deles, se for empurrado, faz o outro deslocar-se sem empurrá-lo, na medi-da em que os sentidos nos podem permitir observá-lo. Exemplos disso constituem o ímã, a atração elétrica e a atração que se atribuía antigamente ao temor do vazio.]

FILALETO — Parece que em geral o duro e o mole são denominações que damos às coisas somente em relação à constituição particular dos nossos corpos.

TEOFILO — [Mas assim muitos filósofos não atribuiriam a dureza aos seus átomos. A noção da dureza não depende dos sentidos, e podemos conceber a sua possibi-lidade pela razão, embora sejamos também convencidos pelos sentidos de que ela se encontra atualmente na natureza. Entretanto, eu preferiria o termo firmeza (se me fosse permitido utilizá-lo neste sentido) ao de dureza, pois existe alguma firmeza mesmo nos corpos moles. Estou aliás à procura de um termo mais cômo-do e mais geral, como consistência ou coesão. Assim eu oporia o duro ao mole, e o firme ao fluido, visto que a cera é mole, mas sem ser fundida pelo calor não se torna fluida e conserva os seus limites; e nos próprios fluidos existe coesão geralmente, como se vê nas gotas de água e de mercúrio. Estou também convenci-do de que toconvenci-dos os corpos têm um certo grau de coesão, como acredito que não haja corpos que não possuam certafluidez e cuja coesão não seja superável: assim sendo, na minha opinião os átomos de Epicuro, cuja dureza se supõe in-vencível, não podem ter lugar, como também não a matéria sutil perfeitamente fluida dos Cartesianos. Todavia, não é aqui o lugar para justificar esta opinião nem para explicar a razão da coesão.

NOVOS ENSAIOS 71 FILALETO — A solidez perfeita dos corpos parece justificar-se pela experiência. Ror exemplo a água, não podendo ceder, passou através dos poros de um globo côncavo, onde estava encerrada, quando se colocou este globo sob a prensa, em Florença.

TOFILO — [Tenho algo a dizer acerca da conseqüência que tirais desta

experiên-cia

e do que aconteceu com a água. O ar é um corpo, tanto como água, e todavia é comprimível ao menos adsensum.6 Os que sustentarem uma rarefação e con-densação exata dirão que a água é já demasiado comprimida para ceder às nossas máquinas, como um ar demasiado comprimido resistiria também a uma compres-são ulterior. Reconheço, porém, que se notássemos alguma pequena mudança de volume na água, poder-se-ia atribuí-la à água que ali está contida. Sem querer entrar agora na discussão, se a água pura não é comprimível ela mesma, como é' dilatável, quando se evapora, todavia partilho, no fundo, a opinião daqueles que acreditam que os corpos são perfeitamente impenetráveis, e que só existe condensação ou rarefação na aparência. Todavia, estas espécies de experiências são tão incapazes de provar, quanto o tubo de Torricelli7 ou a máquina de Gheri-kee são insuficientes para demonstrar um vazio perfeito.

§ 5. FILALETO — Se o corpo fosse rarificável e comprimível a rigor, poderia mu-dar de volume ou de extensão, mas uma vez que isso não ocorre, ele será sempre igual no mesmo espaço: e todavia a sua extensão será sempre distinta da extensão do espaço.

TEÓFILO — [ O corpo poderia ter a sua própria extensão, mas daqui não seguiria que esta seria sempre determinada ou igual no mesmo espaço. Todavia, embora seja verdade que, ao concebermos o corpo, concebemos algo mais do que o espa-ço, isto é, res numeratas, não existem duas multidões, uma abstrata, a saber, a do número, e a outra concreta, a saber, a das coisas numeradas. Podemos igualmente dizer que não se deve imaginar duas extensões, uma abstrata, o espa-ço, a outra concreta, o corpo, visto que o concreto só é tal pelo abstrato. E como os corpos passam de um lugar do espaço a outro, isto é, mudam a ordem entre si, também as coisas passam de um lugar da ordem ou de um número ao outro, quando, por exemplo, o primeiro se torna o segundo, o segundo se torna o terceiro etc. Com efeito, o tempo e o lugar constituem apenas espécies de ordem, e nessas ordens o lugar vacante (que se denomina vazio em relação ao espaço), se houvesse, marcaria a possibilidade somente do que falta com a sua relação ao atual.

Para os sentidos.

Torricelli (1608-1647), afamado físico e geômetra italiano; o "tubo de Torricelli" é o primeiro barômetro

inventado.

• Otto de Gherike (1602-1686), físico alemão, construiu uma máquina pneumática para experimentar os efeitos do vácuo (experiência denominada dos Hemisférios de Magdeburgo).

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FILALETO — Tenho muito prazer em verificar que no fundo estais de acordo comigo num ponto: que a matéria não muda de volume. Parece, entretanto, que íeis longe demais ao não reconhecer duas extensões, e que vos aproximáveis dos Cartesianos, os quais não distinguem o espaço da matéria. Ora, acredito que se existem pessoas que não têm essas idéias distintas (do espaço e da solidez que o preenche) mas as confundem e fazem das duas uma só, não se vê como tais pessoas poderiam entreter-se com os outros. Eles são como seria um cego em relação a uma outra pessoa que lhe falasse do escarlate, enquanto este cego acreditaria que o escarlate se assemelha a uma trombeta.

TEÓFILO — [Contudo, sustento, ao mesmo tempo, que as idéias da extensão e da solidez não consistem em um não sei quê como a da cor do escarlate. Distingo a extensão e a matéria, contrariamente à opinião dos Cartesianos. Todavia, não creio que haja duas extensões; e já que os que discutem sobre a diferença da extensão e da solidez concordam sobre várias verdades referentes a este assunto e têm algumas noções distintas, podem encontrar ali o meio para superar as suas divergências; assim, a pretendida diferença sobre as idéias não deve servir-lhes como pretexto para eternizar as suas discussões, embora eu saiba que certos Cartesianos, aliás muito versados, costumam entrincheirar-se nas idéias que pre-tendem ter. Contudo, se utilizassem o meio que lhes indiquei outrora para distin-guir as idéias verdadeiras das falsas — assunto de que falaremos também mais

CAPÌTULO V

As idéias simples que vêm por diversos sentidos

FILALETO — As idéias cuja percepção nos vem de mais de um sentido, são as do espaço, ou da extensão, ou da figura, do movimento e do repouso.

TEÓFILo — [As idéias que se diz virem de mais de um sentido, como a do espaço, figura; movimento, repouso, são antes do sentido comum, isto é, do próprio es-pirito, pois são idéias do entendimento puro, que porém têm relação com o exte-rior, e que os sentidos fazem perceber; elas são também capazes de definições e demonstrações. ]

CAPÍTULO VI

As idéias simples que vêm pela reflexão

FILALETO —As idéias simples que vêm pela reflexão são as idéias do entendimen-to e da vontade [pois as percebemos ao refletirmos sobre nós mesmos.]

TEOFILO — [Pode-se duvidar se todas essas idéias são simples, pois é claro, por exemplo, que a idéia da vontade encerra a do entendimento, e a idéia do movi-mento contém a da figura.]

CAPÍTULO VII

As idéias que nos vêm pela sensação e pela reflexão

§ 1. FILALETO — Existem idéias simples que se fazem perceber no espírito por todas as vias da sensação e também pela reflexão, a saber, o prazer, a dor, o poder, a existência e a unidade.

TEOFILO — [Parece que os sentidos não podem convencer-nos da existência das coisas sensíveis sem o auxílio da razão. Assim sendo, acredito que a considera-ção da existência vem da reflexão. Também a consideraconsidera-ção do poder e da unida-de provém da mesma fonte, sendo unida-de uma natureza completamente diferente que as percepções do prazer e da dor.

CAPÍTULO VIII

Outras considerações sobre as idéias simples

§ 2. FILALETO — Que diremos das idéias das qualidades privativas? Parece-me que as idéias do repouso, das trevas e do frio são tão positivas como as do movi-mento, da luz e do calor. Todavia, ao propor essas privações como causas das idéias positivas, partilho a opinião comum; mas no fundo será difícil determinar se há efetivamente alguma idéia que provenha de uma causa privativa, até quan-do se houver determinaquan-do se o repouso é uma privação mais quan-do que o movimento.

TEÓFILO — [Eu não havia pensado que se pudesse ter motivo para duvidar da natureza privativa do repouso; basta, para o repouso, negar o movimento no corpo; para o movimento, porém, não basta negar o repouso, é necessário acres-centar algo mais para determinar o grau do movimento, visto que ele admite essencialmente o mais e o menos, ao passo que todos os repousos são iguais. Outra coisa acontece quando se fala da causa do repouso, que deve ser positiva na matéria segunda ou massa. Acredito que a própria idéia do repouso é privati-va, isto é, consiste apenas na negação. É verdade que o ato de negar constitui uma coisa positiva.

§ 9. FILALETO Uma vez que as qualidades das coisas são as faculdades que elas têm de produzir em nós a percepção das idéias, é conveniente distinguir essas qualidades. Existem qualidades primeiras e segundas. A extensão, a solidez, a figura, o número, a mobilidade são qualidades originais e inseparáveis do corpo que denomino primeiras. § 10. Denomino qualidades segundas as faculdades ou

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