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Capitulo 1 – Envelhecimento

2. Vulnerabilidades associadas ao envelhecimento

2.2. Idadismo

Os mais jovens têm a perceção de que a solidão é um sentimento muito presente nos mais velhos. É também comum fazer-se uma associação direta entre a velhice e a solidão, visto que se considera normal a existência deste sentimento por parte do idoso.

Esta visão espelha muitas das atitudes comuns sobre o envelhecimento, pois, de um modo geral, os idosos são considerados conservadores, inflexíveis, passivos, com doenças físicas e mentais. A generalização reforça os mitos e estereótipos, chegando a verificar-se muitas atitudes discriminatórias que afetam esta camada da população (Butter, 1975, in Freitas, 2011, p. 19).

O Idadismo define-se pela prática de atitudes negativas face a outras pessoas, com base apenas na sua idade, neste sentido, são apresentados dois indicadores da dimensão cognitiva: a valência do estereótipo de idosos e o conteúdo do referido estereótipo (Lima, et al., 2011, p. 11).

No final do século XX verificou-se uma ideologia de ataque e desvalorização das pessoas idosas assente na improdutividade, debilidade e dependência que se considera representar os idosos, sendo que a idade foi sempre um critério definidor de “status” social (Oliveira L. S., 2012, p. 20).

Segundo Cerqueira (2010, p. 70), “a ideologia idadista inclui a presença de estereótipos, preconceitos e atitudes, todos negativos, ou todos positivos, em relação a uma determinada faixa etária”. Além disso, a discriminação pela idade envolve um comportamento inapropriado para com membros de um grupo etário, incluindo a sua exclusão ou inclusão, devido unicamente à sua idade cronológica (Oliveira L. S., 2012, p. 21).

Segundo Palmore (2003, in Oliveira, 2012, p. 22 e 23) existem nove preconceitos principais perante a pessoa idosa e que se traduzem num preconceito negativo, sendo eles: doença, impotência sexual, fealdade, declínio mental, doença mental, inutilidade, isolamento, pobreza e depressão. Tais preconceitos poderão traduzir-se em discriminação efetiva, que se poderá observar, por exemplo, ao nível dos cuidados de saúde e em políticas ligadas ao idoso. Por outro lado, o idadismo pode ter a outra face da moeda, podendo levar a estereótipos positivos face à pessoa idosa.

Segundo o mesmo autor, os principais estereótipos de cariz positivo são: amabilidade, sabedoria, ser de confiança, opulência, poder político, liberdade, eterna juventude e felicidade (Oliveira, 2012, p. 22 e 23).

Na nossa sociedade está muito presente o idadismo, e apesar de este estereótipo não ser correto, é aceite pela sociedade influenciando a relação com os idosos, o trato que recebem e a imagem que é transmitida. Assim e segundo Robert Butler, o Idadismo é uma forma de descriminação das pessoas pelo simples facto de serem mais velhas, acrescentando “…A maioria das pessoas idosas tem uma fraca participação na sua comunidade, o que gera sentimentos de solidão e desvalorização, com repercussões quer ao nível da integração sociofamiliar quer ao nível da saúde física e psíquica”.

Este facto deve-se à forma como os mais jovens menosprezam os idosos sendo de extrema urgência mudar as mentalidades que se referem aos idosos como “ (…) uma pessoa doente, infeliz, improdutiva, necessitada de ajuda, conservadora, igual a todos os outros velhos, sofrendo de isolamento e de solidão” (Fernandes, 2012, p. 31).

Em Portugal, e pese embora todos os esforços no sentido oposto, a sociedade ainda é dominada por este pensamento baseado em mitos e estereótipos, em relação ao idoso, persistindo a ideia de que “as pessoas idosas, mesmo não estando doentes, não são capazes de se desenvolver como indivíduos e de exercer a sua cidadania” (Lemos, 2014, p. 8).

Curiosamente, em Portugal, a percentagem de portugueses que assumem já terem sido discriminados devido à idade é uma das mais baixas da Europa. Mas também, contrariamente à tendência europeia, algumas práticas de discriminação tendem a aumentar com a idade, sendo os idosos o grupo etário onde a gravidade dessas discriminações é mais evidente.

Existe alguma contradição numa sociedade que discrimina as pessoas mais idosas, nomeadamente no que concerne à sua participação no mercado de trabalho, quando a população se encontra a envelhecer. A saída precoce e não desejada do mercado de trabalho acelera o envelhecimento pessoal, pode favorecer o aparecimento de certas doenças e está, muitas vezes, associada a uma desproteção destas pessoas.

A referida contradição reside em vários fatores que passam pelo baixo nível de escolaridade e de competências tecnológicas, pela não validação e certificação das competências profissionais adquiridas ao longo de uma vida de trabalho, pela falta de uma gestão organizacional que incorpore a dimensão idade bem como por um contexto de crescente desemprego no país, tendo a taxa de desemprego jovem, até 25 anos, atingido os 40% no último trimestre de 2012, enquanto no caso dos jovens até 35 anos a taxa de desemprego subiu para 46%. Os idosos deparam-se assim com dificuldades específicas na manutenção e no acesso ao emprego (Lemos, 2014, p. 9).

Segundo Fonseca (2004, p. 106), as “análises têm confirmado a existência de uma série de mitos, de estereótipos acerca das capacidades dos mais idosos, traduzidos globalmente na ideia e que as pessoas idosas, mesmo não estando doentes, são incapazes de se desenvolverem (pelo menos no sentido que geralmente se atribui ao desenvolvimento e que, não raro, é confundido com crescimento físico”. Acrescentando que a imagem ou mito é, por natureza, uma visão implícita, inconsciente, complexa e multidimensional; vários estudos mostram que a velhice e o envelhecimento estão associados a juízos e interpretações positivos, negativos e/ou neutros, mas, na sua génese, são formulados por rótulos mais negativos e discriminatórios, assumindo-se a designação de idadismo/velhismo. O estudo de Cerqueira (2010) sugere que “A velhice, conceptualizada como o final do ciclo da vida, significa o fim do indivíduo… Uma vez que aqui a velhice é associada ao fim da vida, perspetivando velhice e morte como quase análogas, as manifestações velhistas emergem e perpetuam-se com facilidade (p. 78). … As atitudes velhistas atentam contra as normas éticas e científicas, incorrendo-se em dois grandes riscos” (Lemos, 2014, p. 149).

É necessário que haja uma mudança cultural na nossa sociedade, repensando o papel e potencialidades da pessoa idosa. Lemos (2014 p. 153) conclui que “a representação das pessoas mais velhas como competentes, saudáveis, sociáveis, independentes e

inovadoras deverá diminuir esta perceção de que elas comportam pesadíssimos custos para a economia e para a saúde. Por sua vez, poderá promover também uma maior adoção deste tipo de posturas por parte daqueles que envelhecem contribuindo, assim, para manter esta imagem mais positiva. É importante transmitir aos portugueses a mensagem de que a mudança cultural que necessariamente se avizinha não tem de ser necessariamente má. A diminuição desta ameaça percebida em relação às pessoas idosas deverá ajudar a combater as crenças idadistas enraizadas”.

A conjetura demográfica atual, com um rácio cada vez maior de pessoas idosas por pessoas jovens, poderá fomentar ainda mais esta perceção de ameaça em relação aos mais velhos. Não só o aumento, mas sobretudo o aumento brusco no número de pessoas mais envelhecidas, tem constituindo, ao longo da história, um fator importante de aumento da perceção da ameaça e do preconceito contra as pessoas idosas (Thane, 2005).

Assume-se que esta mudança poderá trazer, para além de pesados custos económicos, ao nível dos gastos na saúde, uma influência no padrão cultural dos países. Esta perspetiva das pessoas idosas como um fardo e como uma ameaça, pode e deve ser combatida.

A UE tem feito esforços relevantes no sentido de promover o envelhecimento ativo e a ideia das pessoas idosas, não como uma ameaça, mas como uma oportunidade. Assume- se que esta mudança é relevante e deve ser realizada não apenas naqueles que ainda não são idosos mas também naqueles que já o são (Marques, 2011). A figura das pessoas mais velhas como “competentes, saudáveis, sociáveis, independentes e inovadoras deverá diminuir esta perceção de que elas comportam pesadíssimos custos para a economia e para a saúde” (Lima, et al., 2011, p. 122).