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A prevenção da criminalidade

Walker e Shinn (2002) definiram a prevenção como “um resultado a atingir e a intervenção como o meio utilizado para atingir esse resultado” (Palma, 2012, p. 23).

Existem vários conceitos para definir o termo prevenção. Para Oliveira (2006, cit. por Rodrigues et al, 2014, p.3) a prevenção é “o conjunto de medidas, cuja intenção é minimizar as infrações, sejam de natureza criminal ou outras e, sobretudo, quando ocorram antes da prática de um ato delinquente”, e pode-se afirmar que a mesma se define por oposição à repressão.

Armando Alves afirma que “prevenir é praticar determinada ação para evitar a ocorrência de algo que não é desejado, normalmente associado à ideia de dano ou perigo”, dai que o maior esforço das FS seja dedicado nas ações com carácter preventivo (Alves A. C., 2010, p. 95).

Marcelo Caetano, define polícia como “o modo de atuar da autoridade administrativa que consiste em intervir no exercício das atividades individuais suscetíveis de fazer perigar interesses gerais, tendo por objeto evitar que se produzam, ampliem ou generalizem os danos sociais que as leis procuram prevenir” (Caetano, 1990, p. 1150).

Ora o objetivo principal da função polícia pode assim assumir-se como o conceito de prevenção, pois está associado à ideia de “evitar que algo de indesejável, desagradável ou danoso venha a concretizar-se” (Alves A. C., 2008, p. 134).

No que respeita à prevenção criminal, e de acordo com as Orientações da ONU para a Prevenção do Crime (2002), deve-se prevenir através do desenvolvimento social ou prevenção criminal social, promovendo o bem-estar das populações e encorajando o seu comportamento de integração social, através da criação de medidas sociais, económicas, de saúde e educacionais, dando particular atenção à população mais jovem e às crianças, enfatizando os fatores de risco e de proteção associados ao crime e às suas vítimas.

Paralelamente deve-se atuar na prevenção criminal local, através do fomento de iniciativas, experiências, competências e empenho dos membros da comunidade, tendo por objetivo mudar as condições nos bairros e áreas metropolitanas que influenciem a prática de atividades antissociais ou criminais, a vitimização e a insegurança (DGAI, 2009, p. 7).

O Conselho da UE criou a Rede Europeia de Prevenção da Criminalidade (REPC) e definiu que a prevenção da criminalidade “abrange todas as medidas destinadas a reduzir

ou a contribuir para a redução da criminalidade e dos sentimentos de insegurança dos cidadãos, tanto quantitativa como qualitativamente, quer através de medidas diretas de dissuasão de atividades criminosas, quer através de políticas e intervenções destinadas a reduzir as potencialidades do crime e as suas causas. Inclui o contributo dos governos, das autoridades competentes, dos serviços de justiça criminal, das autoridades locais e de associações especializadas, de sectores privados e voluntários, bem como de investigadores e do público, com o apoio dos meios de comunicação” (UE, 2001 p. L153/2).

A Estratégia Europeia de Segurança Interna (EESI) dá enfoque a dez diretrizes estratégicas de ação, sendo uma delas “dar destaque à prevenção e à antecipação, com base numa abordagem proactiva e assente nas informações e na obtenção de provas necessárias para o processo judicial”.

Esta diretriz estratégica reflete bem a importância do vetor prevenção, associado à necessidade de antecipar o crime, com base na recolha de informação, obtida através do trabalho que é efetuado junto ao cidadão através da execução de programas de proximidade (UE, 2010 p. 22).

A prevenção da criminalidade abrange assim as ações desenvolvidas pelas FSS para evitar a ocorrência de factos que coloquem em causa a segurança interna, ou seja, que ponham em risco a vida e a integridade das pessoas, a paz pública e a ordem democrática.

Por definição o conceito de prevenção contempla três tipos fundamentais:

 “A prevenção clássica ou tradicional, que visa impedir os potenciais autores da prática de crimes de virem a cometê-los ou de reincidirem na sua prática;

 A prevenção sociológica, que procura reduzir os fatores de natureza socioeconómica ou os estímulos de conjuntura capazes de favorecerem a prática de condutas criminais,

 A prevenção específica, que tem por fim limitar o número de vítimas da prática de crimes, motivando os cidadãos a munirem-se de precauções ou a reduzirem os atos de imprudência ou de negligência que facilitam ou precipitam a ocorrência de condutas criminosas” (SSI, 2009, p. 18).

A prevenção tradicional desenvolve-se através da repressão criminal, isto é, pelo efeito intimidativo das penas; da presença policial (patrulhamento, vigilância, rusgas), ou seja, pelo efeito dissuasor da presença ou da atividade policiais, e da vigilância de pré- delinquentes identificados e reincidentes potenciais.

A análise aprofundada das causas de natureza ambiental e social, passou a ser fundamental na prevenção, deixando de se focar apenas na pessoa do delinquente. Esta análise permite apurar as circunstâncias em que os ilícitos são cometidos e permite intervir

nos fatores que reduzam a sua probabilidade, criando deste modo ferramentas efetivas de prevenção e redução da criminalidade (SSI, 2009, p. 19).

A Lei de Política Criminal (LPC)13 veio orientar a política criminal para a prevenção da criminalidade, conforme o seu art.º 2º e art.º 3º, onde constam os objetivos, gerais e específicos, da política criminal a prosseguir durante o biénio da sua vigência, a “prevenção, repressão e redução do crime, bem como a proteção das vítimas e a promoção da reinserção dos autores dos crimes na sociedade”.

Da mesma forma nas orientações para as FSS, a LPC confere especial importância aos “programas de proteção de vítimas especialmente vulneráveis e ao controlo de fontes de perigo para os bens jurídicos” e na prevenção da criminalidade, prevê também, “programas diferenciados para fenómenos criminais com características específicas e estabelece orientações de cooperação e partilha de meios, serviços e informações entre órgãos de polícia criminal”.

Já quanto às orientações alusivas ao exercício da ação penal pelo Ministério Publico (MP) e à atividade de investigação efetuada pelos órgãos de polícia criminal, estabelece prioridades de acordo com a “gravidade dos crimes, o seu modo de execução, as suas consequências, a sua repercussão social e a relevância dos bens jurídicos postos em causa” (Rodrigues, et al., 2014, pp. 9-10).

Para a concretização do desígnio da prevenção criminal, as FSS devem utilizar os vários instrumentos de prevenção ao seu dispor, tal como determinam os seus diplomas orgânicos, como a Lei Orgânica da Guarda Nacional Republicana14 dispõe no seu Artº 3.º atribuições: “constituem atribuições da Guarda:… Prevenir a criminalidade em geral, em coordenação com as demais forças e serviços de segurança; Prevenir a prática dos demais atos contrários à lei e aos regulamentos; Prevenir e detetar situações de tráfico e consumo de estupefacientes ou outras substâncias proibidas, através da vigilância e do patrulhamento das zonas referenciadas como locais de tráfico ou de consumo; Prevenir e investigar as infrações tributárias, fiscais e aduaneiras, bem como fiscalizar e controlar a circulação de mercadorias sujeitas à ação tributária, fiscal ou aduaneira; …”.

13 Lei n.º 38/2009 de 20 de julho, Lei de Política Criminal. 14 Lei n.º 63/2007, de 06 de novembro, LOGNR.