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4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 TRABALHOS DA COMISSÃO ESPECIAL DE SISTEMA PRISIONAL, NO

4.2.1 Identificação das ameaças e fraquezas da Comissão Especial de Sistema

Buscou-se, por meio das entrevistas, diagnosticar qual ou quais as ameaças e fraquezas que a Comissão Especial encontrou, e que não colaboraram com o andamento dos trabalhos.

Uma boa parte da literatura compreende que para existir uma democracia solidificada é necessário um Legislativo fortalecido. O sistema representativo é o elemento que diferencia o sistema democrático. O Congresso norte-americano é apresentado como exemplo que um Legislativo forte pode promover a profissionalização de seus membros e disponibilizar a eles recursos para subsidiar tal caminho (AMARAL, 2009).

Do mesmo modo, como roga a literatura, comunga-se da mesma espécie e acolhe-se a ideia de fortalecimento e maior participação do Legislativo nas políticas públicas gerenciadas pelo Poder Executivo na busca da melhor efetivação e atendimento à sociedade.

Nesse sentido, esta pesquisa não poderia se limitar apenas a buscar as iniciativas realizadas e as medidas tomadas. Fez-se necessário, para um bom diagnóstico, encontrar o outro polo e realizar uma triagem do elencado para melhor conclusão dos trabalhos.

Quando os entrevistados foram indagados sobre as dificuldades externas encontradas durante os trabalhos das comissões, responderam o seguinte:

Uma grande dificuldade que o Legislativo tem, quando falamos em fator externo, é a falta de compreensão da sociedade que a execução não é nossa (Legislativo) (ENTREVISTADO A1).

A falta de informações com mais clareza por falta do governo do estado. A Comissão não só se reuniu em Natal, também esteve em Mossoró, indo e levando, ou seja, interiorizando os debates e as ações. Agora eu acho que faltou, na época, talvez, mais clareza por falta do governo (ENTREVISTADO B1).

A Comissão tem encontrado algumas dificuldades na obtenção e coleta de dados para subsidiar os trabalhos na Comissão (ENTREVISTADO D1).

Olha, o RN, todos sabemos, está enfrentando uma séria crise financeira que diminui a possibilidade de aporte de recursos para ampliação do debate periférico dos assuntos do Poder Legislativo. Nós, temos no passado, muito mais facilidade para levar a discussão em fóruns regionais nos temas de interesse de discussão do estado. E é evidente que a crise financeira tira a possibilidade de dar maior dinamismo aos trabalhos de investigação de análise para se chegar a conclusões finais (ENTREVISTADO E1). À época, o Secretário Estadual de Segurança não compareceu aos convites iniciais (ENTREVISTADO F1).

[...] a dinâmica da reunião era muito restrita a ouvir os representantes do governo e não ia gerar uma discussão maior, eu me afastei (ENTREVISTADO G1).

Com base no que foi citado acima pelos entrevistados, o Quadro 8 traz uma visão resumida das respostas apresentadas.

Quadro 8 – Ameaças na visão subjetiva dos entrevistados.

Entrevistado A1 [...] é a falta de compreensão da sociedade que a execução não é nossa (Legislativo). Entrevistado B1 A falta de informações com mais clareza por falta do governo do estado.

Entrevistado C1 Na busca pelos dados exatos da crise. Entrevistado D1 [...] na obtenção e coleta de dados [...]

Entrevistado E1 [...] todos sabemos, está enfrentando uma séria crise financeira que diminui a possibilidade de aporte de recursos para ampliação do debate periférico dos assuntos do Poder Legislativo. Entrevistado F1 [...] o Secretário Estadual de Segurança não compareceu [...]

Entrevistado G1 [...] a dinâmica da reunião era muito restrita a ouvir os representantes do governo e não ia gerar uma discussão maior, eu me afastei.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Nota-se que três dos entrevistados responderam que uma grande dificuldade aos trabalhos da comissão foi à falta de dados, a clareza dos dados e o desencontro de informações por parte do Poder Executivo. Ou seja, atribuiu-se ao Poder Executivo a responsabilidade pela falta de transparência dos dados da política pública.

Tal resultado remete à lição de Governo Aberto, defendida por Mandieta e Pereznieto (2014), que se fundamenta em quatro princípios: melhorar a disponibilidade de informações sobre as atividades do governo para todos os cidadãos; apoiar a participação cívica; implementar os mais altos padrões de integridade profissional no governo; e promover o acesso às novas tecnologias, as quais facilitam a abertura e responsabilidade. Além disso, trata-se de uma doutrina política, na qual as atividades do governo e da administração pública devem ser e estar visíveis a todos os níveis possíveis, proporcionando a supervisão eficaz dos cidadãos.

O Governo Aberto seria uma forma de mostrar a vontade de desenvolver a boa governança, aproveitando as possibilidades oferecidas pela Internet, justificando, assim, o exercício de um poder que tem dificuldade de obtenção de legitimidade através de

rendimentos, como também abordar fenômenos de forte descontentamento, reduzindo, também, as possibilidades de corrupção e abuso de poder. Logo, consiste no principal resultado da consolidação de uma série de ideias, articuladas em discursos, que no momento oportuno funciona como peça-chave no desenvolvimento de políticas públicas. Este tipo de governo tem seus antecedentes em políticas de transparência, que é importante para legitimar políticas e estabelecer a democracia. Para a sua implementação é preciso passar por quatro etapas: 1) uma maior transparência nos dados; 2) melhoria nos níveis de participação do público; 3) melhoria nos níveis de colaboração da sociedade; 4) participação permanente dos cidadãos (MANDIETA; PEREZNIETO, 2014).

Dentre os relatos apresentados, mereceram destaque as respostas dos Entrevistados: A1, E1 e G1. O Entrevistado A1 apresentou como dificuldade a falta de conhecimento da sociedade dos trabalhos e atribuições do Poder Legislativo, já que não é de sua competência a gestão do sistema penitenciário. O Entrevistado E1 identificou como dificuldade a crise financeira que existe no estado e impossibilita o maior debate periférico dos assuntos do Poder Legislativo. Porém, não parece plausível tal justificativa a esta pesquisa, já que nenhum outro entrevistado elencou o problema financeiro como fator de dificuldade para o debate. Já o Entrevistado G1 suscita, mais uma vez, que a dinâmica dos trabalhos da comissão é a dificuldade encontrada e que não iria promover uma maior discussão da problemática do sistema penitenciário do Rio Grande do Norte.

Diante disso, tem-se que a falta de transparência para obtenção dos dados necessários aos trabalhos da comissão especial foi a maior dificuldade encontrada e obstruiu o andamento dos trabalhos. Ressalta-se que não há, nas provas documentais colhidas, elementos que demonstrem que a referida dificuldade foi suprida e que os dados necessários foram fornecidos para a Comissão Especial.

Ainda no que concerne às ameaças, o Entrevistado A1 comentou: “acho que a comissão trabalhou a contento, fizemos o discurso para que os deputados estivessem presentes nas reuniões. Nem sempre estava o número total, mas acho que o esforço superou as dificuldades”. O Entrevistado C1 apontou “a falta de informações ou informações erradas”. O Entrevistado D1 mencionou “as condições do sistema penitenciário”. O Entrevistado F1 apontou a “perda da capacidade do estado de enfrentar organizações criminosas que deixam a população mais preocupada e insegura”. Já o Entrevistado B1 respondeu:

Eu acho que só a negativa de informações ou a informação sem clareza, sem ser completa por parte do Executivo [...] porque os outros poderes colocaram até com muita clareza [...] abriram, os promotores que participaram, os juízes, os próprios

agentes penitenciários, todos colocaram ali, na mesa, todos os problemas na visão deles. O Executivo que ficava reticente em desnudar os problemas. Havia uma angústia muito grande de todos aqueles que eram convidados a participar da reunião da Comissão e a angústia em querer resolver o problema do sistema penitenciário, mas faltavam as condições necessárias para isso (ENTREVISTADO B1).

Sabe-se que as ameaças são características dos ambientes externos e não controladas pela Comissão Especial de Sistema Prisional, e que influenciam em não alcançar o resultado almejado. A literatura assevera que a análise SWOT deve ser formada, preferencialmente, pelos atores responsáveis pelo programa, no caso em análise os trabalhos da Comissão, por serem os que possuem tato com a temática em que operam. Isto, então, coopera para a laboração de uma análise que espelhe a realidade (BRASIL, 2003).

Ante todo o exposto, observa-se que a falta de informações e as informações erradas foram os elementos com maior destaque entre os entrevistados, e que colocam em risco os trabalhos da Comissão em apreço.

Uma vez tratadas as ameaças, é preciso destacar os pontos fracos. Nota-se claramente, conforme os comentários abaixo, uma maior dificuldade dos atores em detectar os problemas internos da comissão. Seguem as explanações dos Entrevistados B1 e G1:

Havia uma angústia muito grande de todos aqueles que eram convidados a participar da reunião da comissão e a angustia em querer resolver o problema do sistema penitenciário, mas faltava as condições necessárias para isso (ENTREVISTADO B1). Eu até me sinto meio impossibilitado de responder porque só participei ali de duas ou três reuniões. A minha intenção era contribuir. Mas quando percebi que a dinâmica da reunião era muito restrita a ouvir os representantes do governo e não ia gerar uma discussão maior, eu me afastei. Sem ter uma discussão mais aprofundada sobre a temática, eu acho que cairia na mesmice da generalidade (ENTREVISTADO G1).

Somente esses dois entrevistados citaram os problemas de âmbito interno da Comissão. O primeiro cita uma falta de condições generalizadas para o funcionamento, e o segundo entendeu que o debate interno seria inócuo pela dinâmica da reunião ser restrita. Analisa-se, assim, uma dificuldade dos membros da Comissão de uma auto-responsabilização e autoavaliação para alcançar o sucesso do projeto.

Uma vez diagnosticada as ameaças e as fraquezas, passa-se a analisar as oportunidades e forças da Comissão Especial.

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