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5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

5.3 IDENTIFICAÇÃO DAS ESTRATÉGIAS DE DECISÃO PARA ESCOLHA DE UMA

Neste tópico é abordado a identificação das estratégias de decisão envolvidas nos processos de publicação de livros utilizados pelos autores docentes vinculados à Universidade Federal de Santa Maria, participantes deste estudo.

De acordo com Blackwell et al. (2011), um grupo de consideração é aquele formado pelas alternativas disponíveis para escolha. Devido às características do serviço editorial de publicação de livros, pode-se considerar que o grupo de consideração pode ser muito amplo, tendo em vista que extrapola as fronteiras do Brasil. Ainda assim, como pode ser visualizado em capítulo anterior, observou-se que o grupo de 20 participantes explorou 41 editoras de diferentes perfis para seus 97 livros publicados como autores ou organizadores. Nesse sentido, Payne, Bettman e Johnson (1993) inferem que quando são vastas as opções de alternativas, há a tendência em utilizar estratégias simplificadas de decisão.

Visando atender ao objetivo de identificação das estratégias de decisão utilizadas, baseou-se no modelo cognitivo de tomada de decisão, proposto por Hoyer e MacInnis (2011). Diante do julgamento de que há pouca lealdade atribuída à publicação de livros, pode-se considerar que o processo ocorre de forma preponderante por atributos e não pela marca.

Além disso, no que diz respeito à determinação como modelo compensatório ou não compensatório, pode-se considerar que esse fator é dependente da intenção que o autor pretende para o livro. Para Hoyer e MacInnis (2011), o primeiro modelo envolve custo- benefício, em que características negativas são compensadas pelas positivas; já no segundo, um atributo considerado negativo rejeita a opção. A partir de frases enfáticas observadas no discurso dos entrevistados, o Quadro 12 relaciona os principais argumentos de cada autor com relação ao seu modelo de decisão sobre editoras.

Quadro 12 - Relação argumento e modelo cognitivo de decisão

Modelo compensatório

E02

“Eu já tenho conhecimento de algumas editoras que são mais renomadas no mercado [...] Como hoje tem muita procura, então a gente acabaria indo para outras editoras menores ou, se não menores, mas que tenham tempo para a publicação menor”.

E07

“Como a gente tem recursos originariamente não próprios, através de fomento, e esse fomento requer no mínimo três orçamentos ou outro processor mais demorado – uma licitação ou coisa assim – então a gente vai mais pela questão de preço, de recurso para poder otimizar o recurso”.

E08

“Em geral na nossa área a gente conversa muito com os colegas que publicam livros também, nos eventos e tudo mais e a gente compartilha essas informações. Geralmente os colegas que tiveram boas referências passam a forma como as editoras tratam o cliente, o valor que é cobrado, a qualidade do trabalho, se é uma editora série e não sou uma impressora de livros, uma gráfica, então a gente cuida muito isso. E na nossa área, como trabalhamos na pós-graduação, tem a questão da circulação nos grandes eventos, isso também é muito importante e aí geralmente a gente vai conversando e busca também as informações nos sites”.

E09

“Cumpra os critérios de qualidade da CAPES como o corpo editorial e mais uma série de parâmetros; que preferencialmente tenha um tempo hábil de publicação que não ultrapasse há um ano sob hipótese nenhuma, que hoje em dia com a rapidez que tem as coisas, o material da gente se desgasta, em 3 ou 5 meses ele já fica defasado; e que tenha uma distribuição que tenha pelo menos a opção do e-book.” E10

“Eu procuro que tenha boa qualidade de editoração; a questão de valor também é outro aspecto que pesa na minha escolha; e o tempo de desenvolvimento do projeto até finalização da obra. Então eu levo como critério todos esses itens”.

E11

“Começo pelos livros que me agradam e que eu gostei do suporte físico do livro, da confecção, ou da própria edição, ou que eu acho que tenha uma distribuição boa e que está aparecendo nas livrarias, isso já me interessa e eu já coloco no meu radar e eu converso com amigos também, com colegas”.

E12

“Buscamos uma editora com um impacto maior nas edições nacionais e as editoras das universidades têm mais esse perfil, por terem maior credibilidade e um corpo editorial mais consistente, então têm uma visibilidade e pela própria abrangência dessas editoras”.

Modelo não compensatório

E01

“Submeter a essa editora em função dela ser comercial e assim poder ter uma distribuição nacional do material, que nós queríamos realmente que mais pessoas conhecessem a teoria que estávamos trabalhando”.

E03

“A qualidade da produção que eles oferecem, por exemplo, editoras que não tem revisor eu não gosto, eu prefiro aquelas que tenham um revisor da própria editora que possa ler o original; sem comitê editorial também não é uma boa”.

E04

“O que eu continuo levando em consideração até hoje é esta coisa do conselho editorial e de ter um catálogo na área, o que eu acho que ajuda muito na divulgação do livro a editora ser reconhecida entre os pares”.

E05 “A primeira coisa que eu procuro é ver a inserção no mercado técnico. Então grande parte das pessoas quando vão comprar livros procuram certas editoras específicas”.

E06 “Levei em conta o nome da editora e o tamanho da editora”. E13

“A questão de utilizar a editora da própria instituição é importante para valorizar, quando eu tive a escolha também pensei nisso. Por ter toda minha formação aqui e acreditar no trabalho que é desenvolvido na editora, também seria outro ponto”.

E14 “A gente queria assegurar que ela fosse publicada este ano, acabou que a gente buscou uma editora privada”.

E15

“Já publiquei textos que tinham por objetivo alcançar um público muito maior do que o público específico da área, ou seja, que não fosse um público especialista. Um texto produzido para pessoas que não tem conhecimento da área, que não são profissionais da área, então a natureza dele é diferente, na redação eu tentei fazer isso, e publicar editoras nas quais esse público acessava e esse material ia ficar disponível para um público maior”.

E16

“Certa rapidez e que eu possa interagir, é o caso aqui, se tinha um problema eu ligeirinho ia ali e

conversava com o pessoal, mandava e-mail e estava tudo resolvido. Quando é uma cidade maior, como já me ofereceram para fazer outras publicações, eu já fico com o pé atrás, principalmente pela logística”. E17

“A preferência é por que estamos aqui; e por que houve entraves com essa outra editora – obviamente não haverá entraves com todas as editoras – mas com essa houve o que me fez limitar a buscar somente a nossa editora”.

E18

“Primeiro, se tu tens um texto mais histórico, mais biológico, por exemplo que tu precisa de fotografia, de desenho, aí tu não vai colocar em ‘qualquer editora’, tu vai ter um cuidado de pensar quem é que trabalha com qualidade, por que eu preciso que esse texto permaneça historicamente, durante pelo menos um bom tempo. Mas se tu tens um comércio de ideias, tu vais no comércio livreiro”.

E19 “Se eu for publicar, vai ser ou por uma universidade federal, ou estadual, mas que tivesse uma editora mais forte vinculada à universidade e pública também”.

E20

“Eu acho que eu já fiz isso, já experimentei, mas acho que hoje não. Eu estou num processo pra encaminhar o meu memorial pra titular, que é o último nível da carreira antes da gente se aposentar e eu estou trabalhando muito com isso e eu estou gostando do que eu estou fazendo no memorial e estou pensando que isso merecia uma publicação e eu não enviaria para outro lugar, se eu vier a publicar, eu vou encaminhar para a nossa editora para ver a viabilidade aqui na casa”.

Fonte: Elaborado pela autora (2019).

A partir do Quadro 12, pode-se observar que, no modelo compensatório, foram concentrados trechos de sete participantes da pesquisa. Tais citações se assemelham por evidenciarem uma série de atributos considerados como relevantes para os entrevistados, como: status da editora na área, tempo da publicação, custo para o autor, qualidade do trabalho, presença em eventos, comitê editorial, distribuição; credibilidade. A partir disso, percebe-se que não há a supremacia de um elemento sobre o outro. Desse modo, pode-se considerar que há uma relação de complementariedade, em que o autor busca optar por uma editora que seja medianamente satisfatória em distintos atributos.

Já o segundo grupo, que consiste no modelo não compensatório é constituído por trechos de 13 participantes. Nessa seleção observa-se que foram utilizados elementos determinantes para a tomada de decisão ou que a ausência de um elemento conduziria a exclusão de determinada editora. Destaca-se que cada atributo é decidido conforme o

entendimento do autor sobre sua relevância e sobre sua intenção com a obra. Destacam-se: presença de um revisor e de um conselho editorial (E03), catálogo voltado à área do livro (E04), status da editora no mercado editorial técnico (E05), abrangência editorial da editora no mercado (E01, E06, E15 e E18), vínculo com a instituição de trabalho (E13, E17, E20), tempo da publicação (E14), localização (E16), vínculo com uma instituição pública (E19).

A partir do exposto, pode-se considerar – resguardando-se os limites desta pesquisa – que o modelo não compensatório é dominante em relação ao modelo compensatório para a tomada de decisão em publicação de livros utilizada pelos autores docentes da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Além disso, dos 10 autores que tiveram publicações com o selo da Editora UFSM, oito manifestaram enquadrar-se no modelo não compensatório e, ainda, para quatro houve a observância do vínculo da editora com uma instituição e/ou tal ligação ser com a instituição a qual os autores têm vínculo de trabalho. Entre os demais, a principal característica decisiva percorre o campo de abrangência da distribuição o qual a editora atinge.