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3.3 T EMA 3: A VALIAÇÃO P ARA I DENTIFICAÇÃO D AS N ECESSIDADES E DUCACIONAIS

3.3.1 A Identificação

A avaliação psicoeducacional no contexto escolar é condição necessária para o ingresso do aluno na SRM tipo 1. Os alunos que nunca frequentaram os serviços de apoio da educação especial devem passar pelo processo de avaliação psicoeducacional, e os alunos egressos de SRM, classe especial ou escola especial, devem passar apenas por avaliação pedagógica com vista ao plano de atendimento educacional especializado (PARANÁ, 2011).

Segundo os relatos das participantes, quando o aluno é egresso dos serviços de apoio da educação especial nos anos iniciais, o processo é mais rápido. O relatório da sua avaliação de ingresso acompanha a sua transferência e dessa forma o professor especialista realiza somente uma avaliação pedagógica, para verificar suas condições de aprendizagem e formalizar a sua matrícula no serviço.

P1: Existem alunos que já são avaliados nos anos iniciais e trazem o relatório da avaliação.

P2: Quando o aluno já vem avaliado da outra escola eu faço uma nova avaliação pedagógica, mas ele já é matriculado na SRM.

P7: Às vezes o aluno já foi atendido pela classe especial ou pela escola especial [...] P8: Eu recebo alunos que vem com relatórios de outras escolas que já frequentavam a SR, geralmente eles trazem alguma documentação que foi feita nos anos iniciais.

Segundo os dados coletados na pesquisa, 44% dos alunos são egressos dos serviços de apoio especializado e 56% não são egressos, portanto não passaram por avaliação para identificação das NEE. Então, esse processo se efetivou nos anos finais e quem o realizou foi o professor especialista da SRM, com a participação do professor do ensino comum, da equipe pedagógica, dos pais e da equipe multiprofissional.

Tabela 9 - Alunos da SRM egressos e não egressos de educação especial

Condição Nº de alunos Porcentagem

Não egresso da Educação Especial 32 56% Egresso da Educação Especial 25 44% Total de alunos 57 100% Fonte: A autora.

Considerando-se que o número de alunos não-egressos é elevado e chega a ser superior ao dos egressos, algumas questões podem ser levantadas a esse respeito, tais como: por que esse aluno não foi identificado com NEE nos anos iniciais e encaminhado ao AEE? Como obteve progresso acadêmico até o 6º ano do ensino fundamental, sem que se tenha percebido algum indicativo de NEE que o encaminhasse para avaliação? Será que esses alunos apresentaram algum tipo de NEE que os enquadrasse como público-alvo do AEE ou apenas não responderam aos processos de ensino e aprendizagem e não conseguiram obter

êxito escolar? Pode-se considerar que os encaminhamentos para o AEE e o processo de avaliação ocorreram de forma precária?

A maioria dos alunos egressos frequentaram a SR nos anos iniciais, totalizando 76%; 20% frequentaram a classe especial e apenas um aluno, ou seja 4%, frequentou a escola especial.

Tabela 10 - Tipo de AEE que os alunos egressos frequentaram

Tipo de AEE Nº de aluno Porcentagem

Sala de Recursos nos anos

iniciais 19 76%

Classe Especial 05 20%

Escola Especial 01 4%

Total de alunos egressos 25 100

Fonte: A autora.

Esses dados revelaram que os alunos da classe especial e da escola especial não estão sendo encaminhados para o ensino comum e para o apoio especializado. Assim, levantam-se duas hipóteses: uma seria a de que o encaminhamento do aluno da classe especial, na maioria das vezes, estaria acontecendo quando esse aluno tem idade para estar frequentando a educação de jovens e adultos (EJA), e a outra seria a de que os alunos não estariam sendo encaminhados da escola especial, pois essa é muito fortalecida no estado do Paraná e a sua oferta tem sido considerada como o ambiente mais adequado para escolarização desses alunos.

Quando o aluno não frequentou o AEE nos anos iniciais, esse processo se iniciava nos anos finais. A primeira identificação do aluno, na maioria das vezes, seria feita pelos professores do ensino comum. Segundo os relatos das participantes, as principais queixas dos professores do ensino comum referentes à identificação, no seu entender, são a de que os alunos não acompanhavam o ritmo da turma, tinham dificuldade para aprender ou se mostravam diferentes dos outros alunos.

P3: Os professores da sala regular que identificam os alunos [...] P1: O aluno não acompanha e não consegue se desenvolver [...]

P3: Os alunos apresentam uma dificuldade maior e não conseguem acompanhar o ritmo da turma.

P7: O aluno tem uma dificuldade que é maior que o normal [...] P8: Percebem que tem algo diferente [...]

Esses seriam os principais motivos alegados pelos professores do ensino comum. Eles dizem que há algo “diferente” com o aluno, ou que ele “não acompanha o ritmo da turma” e apresenta dificuldade fora da normalidade; na verdade, parecem demonstrar falta de critério e de condições para levantar indicativos de NEE que apontem para uma deficiência ou transtorno. Tais colocações seriam subjetivas e não revelariam motivos suficientes para procedimento de avaliação.

Para Silva (2010, p. 13), “[...] os motivos e as expectativas que embasam os encaminhamentos dos alunos para a SR estão relacionados com a possibilidade de alterar a condição de aprendizagem dos alunos em consequência de se vislumbrar dentro da classe comum pouca possibilidade de fazê-lo”. A fala dos professores participantes da sua pesquisa indicou que se fossem outras as condições nas salas de aula, outra fosse a abordagem as dificuldades inerentes ao processo de apropriação do conhecimento nas classes comuns, os alunos possivelmente estariam em situação mais favorável.

Isso demonstrou o enfraquecimento da sala comum e a dificuldade que se tem de nela realizar o processo de ensino e aprendizagem. Encaminhar um aluno que tem dificuldade de se desenvolver em sala comum para um serviço de apoio especializado seria o mesmo que querer eximir-se da culpa por não conseguir ensiná-lo ou por achar que dessa forma o problema fosse resolvido.