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Desde o passado que a problemática do envelhecimento tem sido um assunto abordado, primeiramente no âmbito filosófico. O envelhecimento é uma parte natural do ciclo da vida do homem, sendo ideal que constitua uma oportunidade para viver de forma saudável e autónoma o mais tempo possível. Isto implica uma acção integrada ao nível da mudança de comportamentos e atitudes da população em geral, e da formação dos profissionais de saúde e de outros campos de intervenção social. Implica também uma adequação dos serviços de apoio social às novas realidades sociais e familiares que acompanham o envelhecimento individual e demográfico. Um ajustamento do ambiente às fragilidades que mais frequentemente acompanham a idade avançada., de acordo com o Programa Nacional para a Saúde das Pessoas Idosas (2006).

O aumento da longevidade e dos aspectos inerentes a esta, fazem do fenómeno envelhecimento uma questão muito actual, que merece uma reflexão aprofundada, por parte da sociedade. Segundo Berger e Mailloux-Poirier (1995), as atitudes da sociedade face à velhice e aos idosos são sobretudo negativas e em parte são responsáveis pela imagem que eles têm de si próprios bem como das condições e das circunstâncias que envolvem o envelhecimento. A velhice é tida como uma doença incurável, como um declínio inevitável e todas as intervenções empreendidas para a prevenir são votadas ao fracasso.

Simone de Beauvoir, citada por Berger e Mailloux-Poirier (1995,63), exprime bem a noção,

“A imagem sublimada que fazemos deles, é a do sábio, aureolado de cabelos brancos, rico em experiência e venerável, que domina do alto a condição humana; se afastam desta imagem, caiem por terra: a imagem oposta à primeira é a do velho louco que não raciocina e que divaga e de quem os filhos se riem. De uma maneira ou de outra, pelas suas virtudes ou pelos seus objectivos, situam-se fora da humanidade”.

Em todas as sociedades e em todos os tempos, a velhice representou sempre uma realidade, de certo modo, perturbadora. Por natureza, ela implica mudanças significativas na vida das pessoas, das famílias e das comunidades. Basta referir a retirada da actividade profissional, com a perda dos rendimentos do trabalho, a autonomização dos filhos que, entretanto, constituíram as suas próprias famílias e

um certo enfraquecimento das relações sociais ou mesmo familiares. Dá-se uma alteração qualitativa no tipo e no ritmo de vida a que se estava habituado, o que exige certas formas de apoio e protecção.

Nas sociedades tradicionais, de tipo patriarcal e fortemente ligadas à economia rural, que prevaleceram durante séculos, estas consequências humanas do envelhecimento foram facilmente enquadradas em diversas formas de auxílio mútuo. Porém, os efeitos da revolução industrial, designadamente no decurso do século XIX, com profundas transformações económicas, sociais e demográficas, alteraram radicalmente a situação das pessoas idosas em si e no contexto das famílias e das comunidades a que pertencem. Começaram a verificar-se, com mais frequência, situações de pobreza, por insuficiência de rendimentos, de isolamento e de exclusão social.

Perante esse fenómeno, as velhas medidas de tipo assistencial, baseadas em iniciativas voluntárias da sociedade civil, embora meritórias, ficaram ultrapassadas perante a amplitude e a gravidade dos problemas sociais emergentes (Neves, 2002).

Foi nesse contexto que surgiu a ideia de organizar, de forma sistemática e permanente, modalidades de protecção, com carácter geral, por iniciativa e responsabilidade do Estado.

Entretanto, as últimas décadas do século XX evidenciaram a existência de novos problemas, com incidência na protecção das pessoas idosas. O fenómeno do crescente envelhecimento das sociedades mais industrializadas, como as europeias, por força da conjugação do decréscimo da natalidade e do aumento da esperança média de vida trouxe consequências problemáticas, como o aumento continuado dos encargos com as pensões no conjunto das despesas de protecção e dúvidas quanto à suficiência da riqueza gerada pela actividade económica.

De um modo geral, hoje insiste-se, mais do que no passado, no aproveitamento das capacidades das pessoas idosas para se manterem activas, quer no exercício

de actividades remuneradas, quer na realização de tarefas a favor da comunidade, nas associações de solidariedade, nas paróquias, entre outros.

Também tem sido defendida uma maior articulação entre a segurança social e a acção social, tendo em vista facilitar a inserção sócio-familiar e comunitária dos reformados. Ao mesmo tempo, tem-se desenvolvido a ideia de que a protecção social na velhice não deve ser obrigação exclusiva do Estado, mas que as pessoas e as famílias devem assumir uma parte dessa responsabilidade (Neves, 2002).

Não podemos, no entanto, deixar de ter presente a situação social da maioria das pessoas idosas em Portugal e as condições de vulnerabilidade que as tornam vítimas privilegiadas de situações abusivas e violadoras dos seus direitos fundamentais.

Guimarães (1999) destaca alguns como factores de vulnerabilidade acrescida, sendo eles a insuficiência de rendimentos – provocada pelas baixas prestações pecuniárias dos regimes de segurança social, insuficientes para as suas necessidades alimentares, saúde, lazer, entre outras. A alteração da estrutura familiar – a fragmentação familiar e a promoção de uma concepção nuclear de família, subvalorizam o idoso e o seu papel. O difícil acesso à informação – a pessoa idosa é afastada das modernas tecnologias de informação, o que agrava a sua exclusão e dificulta a sua defesa. Destaca ainda, o baixo poder reivindicativo – as pessoas idosas estão pouco conscientes do seu poder enquanto eleitores, consumidores e membros activos da sociedade, sendo pouco expressivas as iniciativas na área do associativismo e da reivindicação organizada. O isolamento – decorrente da inacessibilidade dos recursos e dos discursos. E por fim, a fragilidade física e psicológica – que fomentam a dependência gradual e se apresentam como factores de erosão da auto-estima.

Rodrigues, Coutinho e Monteiro (2002) referem ainda outros factores importantes, como: as limitações físicas – que levam a um aumento da dependência na satisfação das suas necessidades fundamentais. A cessação da actividade profissional – que leva a uma perda dos papeis sociais, bem como a uma

diminuição da auto – estima. E a solidão – a que são voltados, quer pela incapacidade de resposta familiar, quer pela própria sociedade, que os afasta; o afastamento do seu meio habitacional, quando são internados num lar.

A solidão surge frequentemente como um resultado de alterações e défices relativamente às relações sociais pessoais da pessoa idosa. Assim, não sendo a solidão em si mesma, um problema de saúde, poderá ter potencial para alterar a saúde do indivíduo de uma forma negativa, aumentando o risco de doença.

Para além destes, Domingues (1998) acrescenta outros, aos quais destacamos, a morte – a morte de um dos cônjuges arrasta o sobrevivente para certa desagregação das referências e interesses fundamentais. Os viúvos, em geral, têm dificuldade na inserção na família dos descendentes ou ascendentes, porque perdem o estatuto e autonomia. Os casais idosos dependem muito um do outro. Aquando da morte de um dos membros do casal, o sobrevivente fica, na maioria das vezes, sozinho e isolado.

Assim, o stress de origem social, com baixos recursos económicos ou dificuldades financeiras, podem também conduzir ao isolamento, com diminuição das relações sociais estreitas, seja devido ao aparecimento de sintomas depressivos ou por desconfiança relativamente aos outros.

As rupturas/conflitos de gerações – a falta de comunicação serena e prolongada entre avós, pais e netos, tornou-se um malefício para todo o tecido social, enquanto se perdeu a comunicação e a assimilação da sabedoria do vivido. E a inactividade – gera uma dolorosa consciência de inutilidade e fuga para a solidão. Nas cidades, os idosos sofrem mais os efeitos da inactividade; não só perdem a identificação social, como sofrem dificuldades económicas e representam encargo para as respectivas famílias.

No meio rural, a situação mostra-se diferente, nos dias actuais. Exceptuando uma ou outra situação, os idosos são um grupo homogéneo em que a idade é um valor. Enquanto depositários da tradição são habitualmente, respeitados e ouvidos. Também mantêm algumas funções produtivas e prestam serviços. A mutação nas condições de vida, de vitalidade e de competitividade é um facto. No

próximos, sem perderem a sua própria identidade e gosto pela vida. Há vantagens de vária ordem em que o idoso permaneça no seu meio familiar e social. As rupturas são uma agressão demasiado violenta para essas fases, em que a adaptação é difícil e fonte de insegurança.

Assim, grande número de idosos apresenta dificuldade de integração social constituindo, nesta conformidade, um grupo de risco, susceptível à exploração económica, à marginalização e infantilização, quer nas famílias, quer nas instituições. Existe uma violência, por vezes mascarada, mas sempre dolorosa. Neste cenário, seria importante que as famílias, e não só, também a sociedade, reconhecessem o valor dos idosos e estimulassem o desenvolvimento de actividades que lhes promovam sentimentos de utilidade, que irão resultar num aumento da sua auto-estima.

À medida que a idade avança, como já constatámos, os indivíduos aumentam de uma forma geral, o seu grau de incapacidade funcional, aumentando consequentemente o risco de mortalidade. Quando se pretende realizar uma avaliação na sociedade actual, e o seu status de saúde, há que ter em atenção tanto o seu funcionamento físico como a sua função cognitiva, psicológica e social, uma vez que todos esses domínios estão fortemente interrelacionados.