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2 A EDUCAÇÃO COMO DIREITO DE TODOS: ACESSO E PERMANÊNCIA 2.1 A Educação como Direito nos documentos das grandes conferências

4 O PROEJA NO IFPB – CAMPUS JOÃO PESSOA 1 Aspectos históricos do IFPB

4.2. A EJA no IFPB

A experiência em atender no IFPB alunos oriundos da modalidade de Educação de Jovens e Adultos se iniciou em 2003, antes mesmo da oferta do PROEJA, através de Convênio de Cooperação Pedagógica firmado entre a Secretaria Municipal de Educação e Cultura de João Pessoa (SEDEC/JP) e o CEFET-PB (hoje IFPB), por decisão da Direção Geral daquela instituição.

O objetivo do convênio era democratizar e ampliar as oportunidades educacionais, de acesso e permanência no ensino médio noturno, propiciando a inclusão social de alunos da EJA egressos do Ensino Fundamental. Pelo processo seletivo convencional do IFPB, feito através de prova, este público dificilmente teria

acesso ao instituto, pelo nível de conhecimento que certamente que não teria em relação aos demais candidatos oriundos do ensino regular, somando-se ao fato de que eles não poderiam frequentar o turno diurno por serem, em sua maioria, trabalhadores. Este convênio foi reafirmado posteriormente com a implantação do PROEJA, conforme veremos no próximo item.

O processo de seleção para o ingresso dos alunos da EJA no ensino médio noturno do IFPB ocorreu em duas etapas: a primeira sob a responsabilidade da Coordenação de Jovens e Adultos da SEDEC/JP, através do Coeficiente do Rendimento Escolar (CRE), onde foram selecionados 80 alunos, sendo 2 alunos por escola, para o preenchimento de 40 vagas no IFPB. A segunda etapa foi sob a responsabilidade do IFPB, através da Gerência do Ensino Médio e profissionais da prefeitura, através de entrevista, onde se procurou identificar as expectativas e o nível de interesse dos candidatos em cursarem o ensino médio no instituto, buscando, de antemão, já minimizar a evasão tão comum nesta modalidade de ensino.

Segundo depoimento de uma Pedagoga do IFPB que na época participou deste processo de seleção, durante a entrevista os candidatos falavam sobre suas expectativas, a profissionalização tão desejada e o temor em enfrentar seus professores e a grandiosidade física da escola. Para muitos, o IFPB era um sonho inatingível. A maioria dos candidatos nem conhecia as dependências desta instituição de ensino. Ainda neste processo de entrevistas, os candidatos expressavam seu desejo de realizar um curso técnico, mas havia impedimento legal em função do Decreto n° 2208/97 para alunos egressos do ensino fundamental. De acordo com este Decreto, o curso técnico era destinado a proporcionar habilitação profissional a alunos matriculados ou egressos do ensino médio. Para estes alunos a alternativa que havia era, portanto, a de cursarem o ensino médio, sem nenhuma qualificação profissional.

Posteriormente, através de um Termo Aditivo ao Convênio, firmado entre IFPB e Prefeitura de João Pessoa, foi concedido aos alunos que tivessem interesse em continuar estudando no IFPB, o direito de ingressarem sem seleção no Técnico Subseqüente, após concluírem o ensino médio. Assim o período do curso ficou em três anos para o Ensino Médio e mais dois anos para os que optaram em também cursar o Técnico Subseqüente. Desde o período do convênio firmado, foram ofertadas e concluídas três turmas do ensino médio/EJA.

Apesar da importante iniciativa adotada pela instituição em ofertar o ensino médio noturno para uma turma exclusiva de alunos da EJA, através da parceria firmada com a prefeitura municipal, esta experiência não foi tranquila. Na prática não houve uma preparação prévia do IFPB para isto.

Começando pelo currículo, este seguiu modelo do ensino médio regular adotado no IFPB, desconsiderando-se, portanto, as Diretrizes Curriculares para a EJA existentes desde o ano 2000 e as particularidades e necessidades que o público de jovens e adultos requer. Também não havia uma coordenação específica para esta modalidade e os alunos passaram a ter na prática o apoio direto da Coordenação de Apoio ao Estudante – CAEST, através de uma Assistente Social.

Apesar da preocupação da gerência do ensino médio em escolher uma equipe de professores adequada para atuarem com este novo público, muitos sequer sabiam o que era EJA. Não que fossem despreparados em suas respectivas disciplinas, mas faltava o conhecimento das especificidades inerentes a este alunado, em sua maioria, jovens e adultos trabalhadores, com percursos interrompidos em sua vida escolar, com aquela ―falta de base‖ tantas vezes mencionada por parte do professor em relação ao aluno. E isso foi refletido no trabalho em sala de aula, comprometendo o processo de ensino-aprendizagem e o próprio sentimento de pertencimento ao instituto.

Outra dificuldade encontrada pelos alunos foi no tocante ao horário das aulas. Estas iniciavam às 18h20 e terminavam às 22 h40. Com isto muitos dos alunos que saiam do trabalho para virem à escola não conseguiam chegar para o primeiro tempo da aula e ainda tinham de passar no refeitório da instituição para jantar. Além disto, os alunos manifestavam dificuldade em permanecer até o final da última aula, em função do horário para o transporte.

Mesmo com todas as dificuldades aqui apontadas, é inegável a importância da experiência vivenciada tanto pelos professores, gestores e alunos para que a partir dos desafios que foram sendo constatado, o instituto buscasse redimensionar e melhorar o atendimento a esta modalidade, superando os preconceitos, no sentido de garantir o efetivo direito à educação, não só pelo acesso, mas pelas condições necessárias a permanência do alunado e o sucesso em seu processo de aprendizagem.

Importante ressaltar também que através do convênio firmado entre o IFPB e a Prefeitura de João Pessoa algumas ações foram adotadas, no sentido de buscar garantir a permanência do alunado no IFPB, quais sejam:

1. Uniformes para que os alunos se sentissem alunos do IFPB como os demais alunos da instituição;

2. Prevalência na inclusão dos programas de bolsas de "demanda social" devido à comprovação da hipossuficiência econômica desse público;

3. Garantia no atendimento do Refeitório Estudantil;

4. Recebimento de passes estudantis, sem os quais não haveria, por questões financeiras, possibilidade de deslocamento de suas comunidades até IFPB; 5. Outros atendimentos particulares e coletivos, que se fizerem necessários.

Destas medidas, o uniforme (camisa da farda) e as passagens ficaram a cargo da prefeitura. Quanto à alimentação (jantar) a mesma era custeada pelo IFPB, sendo feita no refeitório da instituição.

Desde o período do convênio firmado, foram ofertadas e concluídas três turmas do ensino médio/EJA. No final de 2008, durante solenidade de conclusão da última turma do ensino médio/EJA, o orador da turma fez um pronunciamento em nome dos demais colegas. A seguir transcrevemos parte do mesmo.

Esperamos que esta vitória seja o início de muitas outras conquistas. É enfrentando as dificuldades que ficamos fortes;

É superando limites que crescemos;

É resolvendo problemas que desenvolvemos a maturidade; É desafiando o perigo que descobrimos a coragem!!! As conquistas são adquiridas através de vitória Mas as vitórias são conseqüências de atos corajosos.

Durante o referido pronunciamento pode-se perceber emoção estampada nos semblantes dos formandos, numa demonstração evidente do significado daquele momento para aqueles jovens e adultos, em mais um percurso na trajetória de suas vidas. O pronunciamento completo do orador encontra-se no Anexo C.